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De um corpo exausto

De um corpo que pede descanso. Que me exige que páre, que durma, que abrande. Um corpo que me diz, que me grita, que chega de tanta ansiedade que dói e mói e corrói. Que precisa de dias e dias e dias sem horários, sem histórias futuras, presentes e passadas.

Um corpo que vai gerindo tudo o que deve ser digerido e não gerido. Que aguenta os embates emocionais, as faltas de cuidados quase básicos como abraços e beijos e carinhos. E carícias. Delícias. Deliciosas malícias também, porque não?

Um corpo dorido. Pesado. Que se movimenta quase sozinho porque a mente, essa, está em tantos outros sítios ao mesmo tempo, em tantos tempos diferentes, presente, passado, futuro. Constantemente a tentar focar-se no aqui e agora e sem conseguir porque o passado está presente, o futuro marca presença também e cada vez mais certo. Ou errado. Ou apenas incerto.

Há um corpo a precisar de descanso. Tanto, tanto. De abraços, de carinhos, de beijos e carícias. De pernas entrelaçadas, de dedos no cabelo, de palavras ditas em silêncio, de olhares que falam claramente, de lábios que se tocam sem trocar palavras porque as palavras não são precisas, apenas os beijos como sopros de vida.

Há um corpo a precisar de parar e olhar para a Lua, a 50% como está hoje. A Lua, porque o corpo, esse, já vai num estado de quase Lua Nova, a não existir, ou a não se deixar ver. Um corpo que procura regressar à Lua Cheia, iluminado em força, reflexo apenas do Sol, é certo, mas cheio de Luz. Da Luz que guia o caminho para um corpo que não sabe para onde se dirigir para ingerir esses cuidados básicos que são os beijos, os abraços, as carícias, os sopros de vida.

Há um corpo tão cansado. Que não dorme por estar a digerir uma ansiedade alucinante que dói e mói e corrói, criada numa mente que não vive o aqui e agora mas que já começou a largar o passado e se foca cada vez mais no futuro. O futuro certo. Ou errado. Ou apenas incerto. Não sei, sei lá. Sei lá se é certo, se é errado, se é incerto, se é sequer!

Mas o corpo, esse que está exausto, dá sinais. Auto-regula-se enquanto pode, desregula-se quando começa a não aguentar mais. Como agora. Os sinais estão lá, a desregulação é óbvia e a mente, essa, acompanha o desregular e viaja para outras paragens. Para o que é, o que não é, o que sabe lá se é ou não é.

Há um corpo. O meu. Tão cansado. Quase tão cansado como a minha mente. Há um corpo, o meu, que pede, quase implora, que o deixem descansar. Parar um bocadinho para conseguir dormir quando tem que dormir, obrigando a mente a desligar do que é, do que não é, do que sei lá se é ou não é e do que pode ser ou pode não ser.

Há um corpo, aqui acompanhado por uma mente, ambos meus, que pedem descanso das emoções dos últimos longos meses, dos embates frios e violentos. Não no corpo directamente, mas na mente. Que se reflectem agora no corpo, claro. Há um corpo, aqui acompanhado por uma mente, ambos meus, que pedem emoções mais leves, mais suaves, mais quentes, que envolvam tanto o corpo como a mente em carícias, em beijos de mel, ou de sal, ou de chocolate, mas em beijos, podem até ser de vinho ou de café. Beijos sopro de vida. De aqui e agora e amanhã quem sabe, logo se vê.

Há um corpo exausto. Há uma mente confusa. Há uma ansiedade doida que dói e mói e corrói. Noutra escala que não aquela que não deixa respirar. Mas na escala que não deixa dormir e não deixa parar de pensar “e se…?” e nunca “e se não…?”. Porque o “e se não…?” é tão mais simples de encarar e avançar do que o “e se…?”.

{e depois dou por mim a pensar em ti e a sorrir um sorriso quieto e quase tímido, daqueles apenas ao canto da boca mas que está lá, e a pensar na tradução do que fazes, fizeste, será que vais fazer. Nem tudo precisa de tradução, nem tudo tem tradução. Tanta coisa é apenas porque sim, sem mais. Mas penso em ti, mais do que gostaria de admitir e sim, solto um sorriso. Pequenino. Tímido, quase. E nem o corpo nem a mente, que estão exaustos, me dizem outra coisa que não apenas que era aí que me apetecia estar agora. Valendo o que vale. Ou não valendo nada. Mas sim. Era aí. Agora. A ver a Lua. A sentir o cheiro do mar que hoje me invadiu como há muito não o fazia. A ouvir o som das ondas das noites de Verão. Numa noite de Meia Lua, perfeita na proporção. Era aí. Era aí que este corpo exausto queria agora repousar, enquanto a mente divaga no sabor dos beijos de sal.}