Monthly Archives: October 2022

{#304.62.2022}

São saudades. Tão só saudades. E essas saudades deixam-me assim, melancólica. Mesmo com um dia cheio, sem nada de especial a acontecer mas em trânsito de um lado para o outro, essa melancolia esteve sempre presente. E a cabeça cheia de barulho e muita confusão. Não, não foi um dia mau. Mas também não foi bom. Foi confuso. Foi estranho. Foi o que foi, como há muito tempo não era.

Não, não quero (nem posso!) voltar àquele sítio escuro e desconfortável onde já estive. Conheço-o demasiado bem para saber que, mesmo sendo escuro e desconfortável, é fácil deixar-me ficar por lá. Afinal, já não me é desconhecido. Já lhe conheço todos os truques para me prender. Já lhe conheço todas as manhas. E é tão fácil voltar para lá. E voltar a cair. E voltar a deixar-me ficar.

Não quero (nem posso!) voltar lá. Mas não é fácil silenciar a minha cabeça quando tenho que guardar tudo para mim. Quando não falo com ninguém para além do terapeuta fofinho que agora percebe a importância de outra forma. Falo com ele, mas sei que, por muito que ele se esforce para entender o que sinto, nem toda a gente o entende verdadeiramente. E só há uma pessoa à minha volta que o entende verdadeiramente. Felizmente é alguém com quem posso desabafar facilmente…mas não é suficiente.

Sim, são saudades. Do que não tive. Do que não tenho. Do que não terei.

E são, também, já 4 dias de contagem. De algo que também me deixa com saudades. E que também não me está a ajudar neste momento. Mas aqui irei ter que esperar e aguentar. Não vou (nem quero!) impôr a minha presença. Se me quiserem presente, é presente que estarei. Se me quiserem por perto, sabem como me encontrar. Mas não espero que me procurem. Não para já. Não ainda. Vou dar espaço e tempo. Se tiver que voltar a ser o que era, será.

Sim, são saudades. Tanto num caso como no outro, são saudades. E nem sempre é bom ter saudades. Ou, pelo menos, senti-las da forma que sinto. E ouvir novamente aquele ruído confuso na minha cabeça não me ajuda a lidar com ambas as situações em simultâneo.

É. Não foi um dia mau. Mas também não foi bom. Foi o que foi. Confuso. Acima de tudo confuso. E absolutamente melancólico.

Amanhã? Logo se vê. Mas espera-se que seja melhor. Pelo menos mais tranquilo. As saudades? Hão-de amenizar. Tanto num caso como no outro. E depois logo se vê…

{#303.63.2022}

Domingo. Um dia diferente. Sair da zona habitual e aproveitar o dia bonito.

Mas, mais uma vez, uma situação em que sinto que não pertenço e onde, mais uma vez, podia (devia…) estar o meu filho, aquele que não chegou a ser, mesmo tendo sido por 42 dias. Sim, ainda penso nele todos os dias e sinto-lhe a falta.

Ainda sinto falta daquele colo que não dei, daquele abraço que nunca apertei, daquele sorriso que não conheci.

Há muito tempo que não falo dele, mas nem por isso significa que me esqueci. Há momentos e situações, como hoje, em que lhe sinto demasiado a falta porque o lugar dele seria ali. Uma festa de anos. Uma simples festa de anos. Onde também ele estaria a brincar, a correr, a rir. Mas não está. E nunca estará.

Sim, sinto-lhe muito a falta. E também por isso costumo dizer a quem tem filhos para os aproveitar ao máximo. Com, admito, uma pontinha de inveja. Que me deixa tão desconfortável… Também por esse desconforto ser real e presente não falo dele. Do meu filho e do meu desconforto.

Mas é assim, não posso fazer nada para mudar essa ausência, só posso tentar minimizar o desconforto. A saudade, essa, vai-se moldando. Ao fim de oito anos já aprendi a lidar melhor com ela. Mas depois há dias, momentos e situações como hoje que me levam sempre para aquele lugar escuro e desconfortável onde digo, apenas para mim, que não pertenço ali.

Há dias em que custa menos a ausência. Hoje não foi um desses dias.

Sinto tanto a falta do que não tive…seja um colo, um abraço ou um sorriso. Uma simples presença. E sim, essa ausência ainda dói e pesa.

Mas amanhã será melhor…

{#302.64.2022}

Sábado, aquele dia que, já se sabe, é o dia mais aborrecido da semana. Começou cedo, com uma tempestade intensa lá fora. Mas, e apesar de tudo, serena cá dentro.

Esforço-me por continuar sossegada, quieta e calada no meu canto. Volto a contar os dias, são agora 2. Mas se longe que me querem, será longe que me têm.

Se é fácil? Para mim, borderline, estas coisas nunca são fáceis. É, outra vez, a sensação de perda, o medo do abandono.

A contagem vai continuar, não sei até quando. Mas não quero chegar outra vez aos 21 dias. Não quero…mas não posso, nem quero!, impôr a minha presença. Especialmente quando sei que não é desejada.

É o que é. Odeio esta frase. Mas é o que é. E não posso mudar nada. Solto e deixo ir. Não é fugir. É não pôr pressão. Repito isto todos os dias para não me esquecer de que, por vezes, é necessário soltar e deixar ir o que não nos pertence.

Um dia a contagem é interrompida. Não sei quando. Não sei por quem. Mas um dia acontece. Até lá tento aguentar tranquila com aquilo que me corrói cá dentro: o medo.

Dois dias. Amanhã? Logo se vê…

{#301.65.2022}

Sexta feira e decisões difíceis. Tomadas ainda ontem, mas com repercussões já hoje.

Decidi dar espaço. Afasto-me. Não sei até quando, sei apenas que não foi uma decisão fácil. Mas foi, é, necessária. Não só por quem precisa desse espaço, mas também por mim. Sei que a minha presença não é desejada neste momento, se é que alguma vez foi. Mas especialmente agora sei que não é. Vou voltar à contagem dos dias de ausência e silêncio. No Verão foram 21 dias. Agora não faço ideia quantos serão.

Afasto-me, solto e deixo ir. Não é fugir. É não pôr pressão. E pressão é tudo o que não é preciso agora. É dar espaço a quem precisa. É dar tempo a tudo, até a mim. Quando a contagem parar, logo se vê. Para já ainda só vai no dia 1. Mas não me admiro se ultrapassar os 21 do Verão.

Medo. Claro que tenho medo. De tanta coisa que esse afastar-me possa trazer. Mas tenho que aceitar que é o melhor a fazer neste momento. A mensagem que tinha a passar foi passada ontem. Se foi entendida? Não faço ideia. Não houve reacção, claro, porque haveria?, e retorno também não existiu.

É altura de aceitar o meu lugar: longe. Aceitar e seguir o meu caminho. Sem rituais habituais, matinais ou nocturnos. Sem notícias. Sem nada, no fundo. E esse nada custa tanto…

Mas, e aprendi a detestar esta frase, é o que é. Se um dia voltar ao que era, estou cá. Se não voltar, hei-de aprender a dar um passo de cada vez novamente.

Agora dou espaço. E dou tempo. Porque é só o que me é permitido dar. Amanhã, um amanhã lá mais para a frente? Logo se vê…

{#300.66.2022}

Dia 300 do ano. E, depois de ter atirado o barro à parede ontem, hoje tive a resposta. Não a que queria, claro, mas a que adivinhava desde o primeiro momento. E, mesmo sabendo o que sei, nada me tira da cabeça o que insisto em pensar e que ninguém valoriza: o denominador comum. Que sou eu…

Nada me tira da cabeça que sou eu o motivo para a resposta que já adivinhava. Sei que existem outros factores de peso. E entendo-os porque os conheço na primeira pessoa. Sei o peso que têm. E podem, sem dúvida, ter pesado na resposta. Mas depois há o tal denominador comum, que sou eu. E ao fim de cinco anos já devia saber qual o meu lugar neste jogo…

Cinco anos hoje desde aquele momento em que dei por mim a pensar “já foste…”…e fui mesmo. Lembro-me do momento exacto naquela esplanada em mesa para dois, depois de um dia de trabalho, ainda antes do jantar, das risadinhas nervosas, do jeito de mãos que se procuravam ocupar sem sucesso, das primeiras partilhas. E foi aí, nesse momento, que “já foste” se tornou num ponto sem retorno.

Estava calor nessa noite. Nada como hoje, em que já choveu e está frio. Calor para t-shirt no fim de Outubro e para, depois de um bom jantar, terminar a noite à beira da praia. E boa conversa desde o primeiro momento. Como ainda hoje acontece.

Cinco anos hoje em que “já foste” não me sai da cabeça. E, ao contrário do que eu gostaria, foi só mais um dia igual aos outros. Em situações normais teria desafiado para um novo jantar ou um simples café. Provavelmente não iria acontecer à mesma. Mas este momento não é de uma situação normal. E isso preocupa-me. Claro que preocupa. E muito.

Não sei se o alvo da minha preocupação tem noção do que me preocupa. Não tem, de certeza. Até porque neste momento tem mais em que pensar. Tem que pensar em si. Antes dos outros. E não o sabe fazer. Mas está a querer aprender. Está a receber orientação nesse sentido. E espero que não deixe de receber o que precisa.

E eu, querendo puxar para cima, talvez não esteja a ajudar. E por isso acho que está na altura de voltar a soltar e deixar ir. Não é fugir. É não pôr pressão. E pressão é a última coisa que é precisa aqui. Vai-me custar horrores. Mas vou ter que soltar e deixar ir. Dar tempo. Dar espaço. É só o que posso fazer. Mas, claro, tenho medo. Muito. De perder alguém pela distância imposta.

Cinco anos. E hoje vou conhecendo o lado vulnerável de alguém que sempre conheci de sorriso fácil. Não é fácil conhecer esse lado porque não sei como agir. Mas não é mais difícil para mim do que para quem se está a conhecer também.

São dias conturbados. E se a minha presença não ajuda, talvez a minha ausência o faça. Por isso decido afastar-me. Vai custar horrores. Mas tem que ser.

Amanhã? Logo se vê. Por hoje já foi o que tinha que ser. E nem posso dizer que tenha sido bom ou mau. Foi só o que foi: mais um dia igual aos outros.

{#299.67.2022}

Quarta feira, dia do meio, dia nim, nem não nem sim. Trabalho e pouco mais, ou mesmo nada mais. Para variar…

Estou um bocadinho cansada deste “pouco mais, ou mesmo nada” de sempre. Isto não é nada. É viver para trabalhar. E não pode ser. Tem que haver mais do que apenas isto. Seja lá isto o que for…

Gostava, muito, de ter uma agenda mais preenchida. Nem tinha que ser todos os dias. Mas algo que me fizesse sentido e me ajudasse a valorizar o fim de semana, que é sempre algo que me incomoda. O fim de semana é o culminar de tempo livre que, percebo agora, tenho em demasia. Quando devia ser o tempo de descanso depois de uma semana preenchida. Mas não é o que acontece. E começo a ficar um bocadinho farta de dias vazios e tempos mortos.

Quarta feira. E o dia em que voltei a atirar o barro à parede. Lancei um desafio para o ar, reforcei em jeito de desafio novamente, não obtive resposta. Então hoje decidi que não é um desafio, é uma pergunta que carece de resposta. Que ainda não chegou. E, desconfio, está a ser evitada…

Vou aguardar mais um bocadinho. Mais uns dias, mas não muitos. E vou pedir resposta, como pedi hoje. Mas vou querer resposta. É um desafio? Pode ser encarado como tal. É uma tentativa de quebra de rotina? Sim. É algo que faria bem a cada um de nós? Sem dúvida. Mas percebo que não haja muita vontade…por vários motivos, mas, como sinto sempre, acima de tudo por ser comigo.

É a minha insegurança também a falar? Claro que sim. Mas desconfio que sei a resposta. Não será a que queria. Mas, mais uma vez, é o que é. E sou eu.

Quarta feira. Dia do meio, dia nim, nem não nem sim. Mais um dia, vazio, igual aos outros. E o silêncio. A falta de retorno. A ausência de resposta. Já devia estar habituada a isto. Mas, por muito tempo que passe, não consigo habituar-me. E acho que nunca conseguirei. Entendo a necessidade de tempo e espaço, aceito por conhecer demasiado bem essa necessidade. Mas, ao mesmo tempo, custa…

Enfim. É o que é. E sou eu. Sempre o denominador comum, eu. Embora, desta vez, o problema principal não seja eu. Mas sou eu que estou a ser evitada. E isso custa.

Mas, amanhã, pode ser que haja uma resposta. E, não havendo livremente, vai ser pedida. É o mínimo. Depois? Logo se vê.

Por hoje dou por terminado mais um dia igual aos outros, vazio e sem qualquer sentido. Amanhã será igual, de certeza. Mas será um dia mais perto das férias. Depois logo se vê.

{#298.68.2022}

Terça feira, que não duvido que o seja!, e novamente perdida no calendário com a sensação de que amanhã é sexta. Não entendo este desnorte, mas é cada vez mais frequente…

Com vontade de voltar a atirar o barro à parede. Prometi a mim mesma que só o faria quarta feira. Mas a vontade é de fazê-lo já hoje. Acredito que sei qual será a resposta. Mas ainda tenho esperança de estar enganada. Quem sabe? Amanhã terei a resposta. E, seja ela qual for, está tudo bem na mesma.

Desejosa por que chegue sexta feira (que não é amanhã!) às 18h para entrar de férias. Mesmo sem planos, vai ser bom. É só uma semana? É. Mas é uma espécie de estágio para a segunda metade de Novembro.

Entretanto, o silêncio. A falta de retorno. Nunca gostei disso, mas agora gosto ainda menos… Eu sei, dar espaço, dar tempo, isso tudo. Mas nem por isso me preocupo menos…

Enfim…ainda haverá o ritual nocturno de aconchego. Espero que continue a ser bem recebido. Mesmo sem retorno. Mas fica a mensagem que se repete há 5 anos. E vale o que vale. Mesmo que seja nada…

É o que é. E aprendi a detestar esta frase. Mas é o que é. Amanhã atiro o barro à parede e depois logo se vê. Mas hoje ainda deixo o meu aconchego. Porque, parecendo que é pouco, se bem recebido é muito. E é o pouco que posso dar quando queria dar tanto mais.

Siga! Amanhã será melhor. E depois logo se vê. Entretanto, é encolher os ombros, sorrir e acenar. Amanhã logo se vê.

{#297.69.2022}

Segunda feira e começar a semana a sair do trabalho mais tarde. Estando a trabalhar em casa não me custa tanto. Mas aquela última hora, hora extra, é sempre a mais difícil de passar. Porque parece que nunca mais passa. E hoje não foi excepção.

Acordar antes da hora prevista e lutar para não me virar para o outro lado. Era certo que dormia pela manhã dentro se me deixassem.

E, de repente, lembro-me que as férias estão quase aí. Pelo menos a primeira parte das férias. Não tenho planos absolutamente nenhuns, tirando um dia dedicado a dentista de manhã e rastreio à tarde. De resto, vai ser uma longa semana sem nada para fazer…

Vai dar para descansar. E vai dar para pensar demais. Em nada e em tudo em simultâneo. Vai dar asneira tanta coisa na minha cabeça e sem nada para me ocupar.

Logo se vê.

Para já tento não pensar. Tento não me preocupar. Preocupando-me, claro. Mas vou fazendo por saber aos poucos como as coisas estão. Quando a vontade é sentar e conversar. Sem ter nada para dizer, mas muito para ouvir. E simplesmente estar lá.

Não vai acontecer, claro, e não me posso esquecer que é preciso dar espaço e tempo. É isso que farei.

Até lá, às férias ou essa conversa sem dizer nada, deixo passar um dia de cada vez. Sem pressa, como sempre. Mas sentindo sempre tudo. O bom e o menos bom. Mesmo que neste momento não saiba muito bem o que sentir ou, sequer, o que sinto.

É dar espaço. É dar tempo. E não me importar com a falta de iniciativa do outro lado.

Amanhã? Logo se vê. Por hoje chega. Recolho e descanso. De resto, um dia de cada vez.

{#296.70.2022}

Domingo. Acordar cedo, antes do despertador tocar, mas não demasiado cedo. Consulta de manhã com o terapeuta fofinho. Voltar para a cama e conseguir dormir. Descansar, portanto.

Não foi, ao contrário do que parece, um dia perdido. Foi um dia necessário. Para repôr energias para a semana que aí vem. Não foi, claro, um dia muito interessante. Mas os meus fins de semana são sempre muito pouco interessantes. E este foi só mais um. Que começou com céu azul, teve chuva, teve apenas nuvens. E uma conversa rápida logo pela manhã. Que, para variar, me soube a pouco.

Mas teve também, ao final do dia, um novo toque de “estou aqui” numa imagem que não desperta interesse por aí além, mas que vejo como um sinal de apoio. E isso sabe muito bem.

Gostava tanto de dizer que o meu gut feeling teimoso tem razão. Porque, e apesar de tudo que já é tanto, continua a dizer que sim, um dia as coisas mudam. Não quero dar-lhe demasiada atenção. Especialmente não agora. Agora não é, de todo, o momento para as coisas mudarem. Porque, ao mudarem agora, será uma ilusão apenas. E não é isso que quero. Quero uma mudança sincera, consciente e tranquila. Por isso deixo que o tempo faça o seu trabalho.

Não tenho pressa. Deixei de ter pressa seja para o que for há muito tempo. Por isso mantenho a minha presença e a postura de sempre. E, se me permitirem, dar-me-ei a conhecer um pouco mais. Depois? Será o que tiver que ser.

Para já concentro-me no meu trabalho diário, concentro-me no que posso ir fazendo com o que vem de outros tempos, concentro-me em estar presente se me quiserem presente. De resto, logo se vê.

Amanhã? Tirando o facto de ser segunda feira e sinal de que o fim de semana acabou mesmo, será melhor. Não tenho pressa. E o que tiver que ser, será. Quando tiver que ser.

{#295.71.2022}

Sábado, aquele dia aborrecido da semana. Começou cedo, claro. E pouco depois retomou-se a conversa com quem vê mais além quando já não esperava que acontecesse. E ainda há muito trabalho a fazer. Que tenho que ser eu a fazer e tenho boicotado. Mas tenho que mudar essa atitude. Sei que o que é preciso fazer depende apenas de mim e de nada adianta ter alguém a estender-me a mão para caminhar se eu continuar a recusar dar um passo em frente. Tenho que fazer melhor para poder estar (e ser…) melhor.

Depois de uma manhã de muita chuva, voltar para a cama e conseguir dormir. Foi tão importante. Foi necessário. Foi preciso para ter coragem para me enfiar num centro comercial o resto da tarde. Em busca de algo que, pelos vistos, não existe…um simples casaco de Inverno que não aparece em loja nenhuma. Mas, pelo menos, o sábado foi diferente. Menos aborrecido. Mais ocupado. Com nada de especial, é um facto. Mas, pelo menos, saí de casa.

Sei exactamente o que queria fazer em vez de me enfiar num centro comercial. Sei onde queria estar. E, especialmente, com quem queria estar. Nada disso acontece, no entanto. Não me posso esquecer da nega que levei sem sequer ouvir a palavra não. E é também por isso que os meus sábados continuam a ser o que são: aborrecidos.

Continuo preocupada. E com vontade de ajudar. De fazer mais. De estar . Sei que não posso fazer muita coisa, ou mesmo nada. A não ser dar espaço. Não impôr a minha presença. Mas caramba…não deixo de me preocupar.

Sei que tudo acaba por passar. Mas também sei que, até passar, o caminho é longo, tortuoso e dorido. E é isso que me preocupa. E é isso que me faz querer fazer mais. Sem poder fazer nada.

Enfim…ninguém disse que ia ser fácil. Mas volto à velha máxima: um dia de cada vez.

Amanhã? Chova ou não, será melhor. Será um dia bom. Porque eu quero que seja. E se puder fazer do dia um dia bom para alguém, então será melhor ainda.

Por hoje chega. Não foi um dia mau. E só por isso já é muito bom.

{#294.72.2022}

Sexta feira e mais um dia igual aos outros. Tirando as cores fabulosas de final de dia com um céu a roçar a perfeição e aquela hora e quarenta e três minutos de conversa telefónica com quem, quando eu mais precisei, me telefonava todos os dias depois do trabalho só para saber como eu estava.

Não foi um dia mau. Trabalho, olhar para cima, conversar e rir. Não, não foi mau. Só falta mesmo referir que é sexta feira, finalmente.

Voltei a atirar o barro à parede. Lancei um desafio há dias, relembrei-o hoje. Não devo ter sorte nenhuma, porque não houve qualquer reacção ou resposta. Mas não vou desistir. Daqui a alguns dias volto a repetir o desafio. Será a última tentativa. Mas não desisto até ter uma resposta.

Agora recolho e enrosco. Recorro ainda ao ritual nocturno. Só porque sim. Amanhã posso, finalmente, dormir um bocadinho mais, se não acordar espontaneamente demasiado cedo. Mas é fim de semana, e só isso importa.

Amanhã será um dia bom. Porque eu quero que assim seja. E só isso importa. Depois? Logo se vê.

{#293.73.2022}

Quinta feira e a semana quase no fim. É só trabalho e pouco (ou mesmo nada…) mais. Quando a vontade é de fazer acontecer, estar presente, ser mais do que isto. Seja lá isto o que for, que nem eu sei definir. Mas, acima de tudo, vontade de estar presente.

Ainda de ontem que soube hoje: fico muito contente e feliz pelos outros. Sabê-los bem e aconchegados aconchega-me a mim. E hoje, sabendo de ontem, foi assim que me senti: contente, feliz e aconchegada. Não podendo eu fazer mais, fico feliz por saber que há quem o faça.

De resto, mais um dia igual aos outros. Trabalho e nada mais.

Sinto-me um bocadinho inútil por não fazer mais nada dos meus dias. Gostava de fazer mais. Mas não sei o quê…

Enfim…é o que é. E aprendi a detestar esta frase. Mas não deixa de ser o que é. Se sou mais que isto? Sou tanto mais…só preciso de saber para onde direccionar o tanto que sou. Porque sou tanto mais…

Um dia descubro o que fazer. Hoje ainda não é o dia. Mas um dia descubro…

{#292.74.2022}

19 de Outubro. 2022, cinco anos depois de 2017 e daquela primeira mensagem a que só respondi na manhã seguinte em jeito de risada e que, no trânsito para casa, pensei “deixa cá dar uma hipótese”. Hoje, cinco anos depois, agradeço ter dado essa hipótese.

Ganhei mais do que perdi, se é que perdi alguma coisa. E todos os dias continuo a ganhar mais um bocadinho.

Há cinco anos não sabia, ainda. Mas ganhava um amigo. Que, para mim, é mais do que simplesmente um amigo. Mas é o que é. Aprendi a detestar esta frase, mas foi com ele que me habituei a ela.

Hoje, cinco anos depois daquela mensagem, sorrio. Continuo a rir quando me lembro da mensagem, porque foi a única reacção possível na altura e, se fosse hoje, seria igual. Mas sorrio porque tem sido um tempo muito bom. E é raro termos uma amizade em que, ao fim de cinco anos, ainda haja vontade de falar praticamente todos os dias. Mesmo que, por vezes, o retorno não seja imediato.

Nos últimos meses tem havido, especialmente da minha parte, algumas dúvidas. Alguns altos e baixos. Alguns baixos muito baixos. Que doeram bastante. Que me atiraram para baixo. Mas que uma simples conversa, que demorou a acontecer, me trouxe de volta ao lugar de sempre.

São cinco anos. Não, a história não fica por aqui. Não sei o que o amanhã reserva, mas sei que uma amizade é para manter por muitos e bons anos.

Amanhã? Logo se vê. Hoje, dia do meio, dia nim, nem não nem sim, não foi mau. Sei exactamente onde gostaria de estar. Mas sei também que, apesar de tudo, não é lá que devo estar. Não hoje. Quem sabe um dia…

{#291.75.2022}

Mais um dia que passou, igual a tantos outros, trabalho e mais nada. E perceber, há poucos minutos, que não, hoje não é quinta feira. É terça…

Ainda o silêncio. A ausência de retorno. E eu sempre preocupada, claro. Mas entendo. E aceito. Sempre com receio, claro. Mas é o que é…

Amanhã? Será melhor. E por hoje ainda não desisto. Atiro o barro à parede mais uma vez antes de desligar e enroscar. Depois logo se vê.

Só quero que, no meio do desconforto, esteja tudo o melhor possível…

{#290.76.2022}

Segunda feira. Começar o dia de trabalho com reunião com o chefe para analisar resultados. Nem tudo é mau, mas há um ponto importante a melhorar. Já o sei desde sempre e continuo sem conseguir fazer melhor. Não depende só de mim e é também por isso que não melhora. Depende também, e muito, de quem está do outro lado da linha. E, das duas uma: ou o atendimento é rápido e a avaliação é baixa, ou o atendimento é mais lento com uma melhor avaliação como é agora. E eu continuo a preferir a segunda hipótese. Enfim…pode ser que, com o tempo, esse ponto da minha avaliação do trabalho fique melhor. Vamos ver.

Segunda feira típica. Difícil de começar. E difícil de prosseguir sem ter retorno. Sei, porque já lá estive, que há momentos em que não nos apetece falar. Com ninguém. Entendo isso tão bem. E aceito. E faço por respeitar. Porque, lá está, já estive nesse lugar.

Mas, apesar de entender e aceitar, não deixo de me preocupar. Se já antes me preocupava, agora preocupo-me ainda mais. E, claro, tenho medo. Não sei exactamente do quê, sabendo tudo o que receio. Preocupo-me, pronto. E muito. Mas fico, agora, quieta e calada no meu canto, sossegada até ter notícias. Até ter um sinal de vida. Um simples “estou aqui” é suficiente.

Vamos ver. Espero que, dentro do possível, esteja tudo bem. Não sei como lidar sabendo que pode não estar. E, de certa forma, sei que não está. E isso deixa-me com aquela sensação de impotência que não gosto. Tenho tentado não ser demasiado intrusiva nem afastar-me demasiado, tentando manter os rituais diários de presença de manhã e aconchego à noite. Mas não ter retorno custa sempre. Assim como custa a quem não está bem estar disponível. Não tem que estar, eu sei disso. Mas só peço um pequeno sinal. Uma reacção que seja.

Vou esperar, claro. Vou dar tempo ao tempo. E vou continuar onde sempre estive: aqui.

Amanhã? Será melhor. Ou então logo se vê. Por hoje mantenho-me onde sempre estive. E a insistir em olhar para cima. Com uma vontade enorme de trocar de lugar. Mas não é possível…

Logo se vê.

{#289.77.2022}

Domingo. E acordar só quando o despertador toca é raro acontecer. Mas este domingo, finalmente, aconteceu. Depois de mais uma noite interrompida, claro.

Manhã de consulta com o terapeuta fofinho, partilha de pequenos apontamentos da semana e também da vontade que surgiu ontem de voltar a partilhar pedaços de mim.

Ao mexer no material que tenho disponível, percebi a quantidade de dinheiro que tenho ali empatado. Ou à espera de ser realizado. E dá-me pena, não pelo dinheiro mas pela qualidade das peças, que esteja ali tudo parado dentro de caixas. Sei que há quem goste do que faço (ou fazia…) e sei da qualidade do trabalho. Por isso decidi reabilitar a loja online e seguir em frente com esse projecto. E porque não? Não perco nada. E ainda posso ganhar por partilhar pedaços de mim.

A tarde serviu também para descansar, antes de me dedicar a esta partilha. Pelos vistos estou mais cansada do que pensava. Mas, depois de descansar e quando me dediquei às minhas peças, senti algo que há muito tempo não sentia. Um grande ânimo. E soube tão bem.

Sei que os próximos dias vão ser de muito trabalho para recuperar a loja online, divulgar cada uma das peças disponíveis, partilhar o que tenho. Mas vai ser bom. E estou animada com isso.

A única coisa que me deixa mais apreensiva nestes dias não tem a ver comigo, mas com quem trago comigo, cá dentro. Sim, estou preocupada, sim, tenho medo. Mas não posso fazer muito mais do que já tenho tentado fazer. Mas mesmo assim sei que é pouco. O ideal, como se fosse possível, era com um sopro fazer passar o que dói. Não é possível, infelizmente. Por isso, dou-lhe tempo e, acima de tudo, espaço.

Claro que os rituais diários se mantêm. Não passo sem eles. E, se antes não me disseram para parar, não páro agora se continuarem a não dizer.

Amanhã é dia de regresso ao trabalho. À rotina. E de acrescentar, ao final do dia, o tempo dedicado a peças que são pedaços de mim. Por hoje já chega. É hora de recolher, desligar e enroscar.

Amanhã? Logo se vê. Mas, se for como hoje, já vai ser bom.

{#288.78.2022}

Sábado. Que, por norma, é o dia mais aborrecido da semana, hoje não foi. Três anos depois foi dia de feira. Voltar a montar a banca, organizar os artigos em exposição, ver reacções e ouvir os comentários.

Em termos de vendas não foi um dia bom. Já ali tive volumes de vendas muito melhores. Mas, desta vez, o objectivo principal não era vender para fazer pela vida mas sim vender para partilhar parte de mim.

Apesar de haver ajuda cá em casa para produzir as minhas peças, sinto-as todas parte de mim. Porque é de mim que nascem, crescem e partem. São pensadas, às vezes desenhadas, testadas. Vêm de dentro. E revejo-me em cada uma delas. Nem fazia sentido se assim não fosse. Isso seria fazer por fazer e isso não consigo.

Foi bom voltar a montar banca tanto tempo depois. Mas foi ainda melhor sentir o apoio dos amigos. Senti-me muito aconchegada a cada nova reacção de apoio. E foram muitas e de diversas formas. E foi muito por sentir esse apoio que decidi que está na hora de tentar libertar as peças que ainda tenho cá por casa. Não faz sentido mantê-las fechadas numa caixa quando podem fazer sorrir outras pessoas. E, por isso, abdiquei de uma tarde de descanso e ronha para me dedicar à apresentação e partilha de peças que são, na realidade, parte de mim.

Foi um bom dia. Soube muito bem fazer o que fiz de manhã. Não sei quando voltarei a repetir. Não é fácil deslocar-me com uma logística tão complicada como um dia de feira exige quando não tenho carro. Mas quem sabe um dia?

Por hoje só eu fui importante. Não me esqueci de ninguém, o outro lado esteve sempre presente e a preocupação também. Mas hoje só eu fui importante.

Amanhã? Logo se vê como será. Dedico-me ainda à partilha de peças alternando com descanso. Para além disso, é o que for. Estou cá para quem me quiser presente. Mas continuarei a ser eu o mais importante.

{#287.79.2022}

E a sexta feira aconteceu. Tudo como previsto. A consulta de manhã, a ida a Lisboa pela tarde, mas acima de tudo o almoço.

Novamente, momentos de partilha. Que são sempre bons, ainda que se refiram a outros tempos menos positivos. Mas não deixam de ser momentos de partilha.

E, novamente, a vontade de fazer passar o que está mal, transformar em algo melhor. Um ombro, uma palavra, mas acima de tudo um abraço. Que, novamente, ficou a faltar.

Tenho plena consciência do risco de me magoar. Mas custa-me saber o que sei, ver o que vejo, porque já estive lá. Sei o que dói. E sei, também, que o caminho é longo. E penoso.

Mas estou aqui. Se precisarem de mim, se me quiserem presente, é presente que estarei. Sempre. Sem olhar para trás, sem pensar duas vezes.

Não posso, claro, esquecer-me de mim. E proteger-me. Mantendo-me sem expectativas. Sempre sem expectativas. Só assim previno uma futura dor. Mas, por agora, penso também no outro lado. Que, também ele, merece melhor. Mas, se calhar, está a passar por algo que devia passar. Não sabemos. Sabemos, sim, que vai levar o seu tempo, mas vai melhorar. Eu, pelo menos, sei que sim. E, no que puder ajudar, ajudo.

Agora descanso. Mas a vontade era continuar o momento de partilha que teve que terminar por haver obrigações e horários a cumprir. Deixo, no entanto, a porta aberta à possibilidade de novos momentos. Sejam eles quando forem.

{#286.80.2022}

Sexta feira à quinta, ou o fim de semana a começar um dia mais cedo. Amanhã será um dia preenchido, mas sem trabalho. De manhã a consulta para mostrar os exames menos bons, à tarde uma ida a Lisboa para a vacina da gripe. Mas à hora de almoço…

Bom, à hora de almoço já sei que vai ser um pouco desconfortável. Para ambos os lados. Mas pelo menos vai acontecer. Já está confirmado e a ser combinado. Agora é acalmar a ansiedade e não permitir a expansão das borboletas na barriga. Sei que não as controlo, mas não posso permitir que me tragam expectativas. Não quero, nem posso!, ter expectativas.

Se vai ser fácil a confusão entre o desconforto e as borboletas na barriga? Já sei que não. Mas vou tranquila. No meu papel de alguém disponível para ouvir, para falar ou simplesmente ficar em silêncio.

Sim, amanhã vai ser um dia preenchido. Mas será um dia bom. Venha o que vier da consulta, corra como correr o almoço, seja como for a ida a Lisboa, não vou permitir que o meu dia seja alguma coisa que não seja boa.

Só o almoço e a companhia vão valer por tudo. O resto? O resto é o resto e logo se vê.

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Quarta feira, dia do meio, dia nim, nem não nem sim. Passou a correr. E sexta feira está quase aí. Já confirmada, mas ainda não combinada, parece que vai mesmo acontecer.

Amanhã, último dia de trabalho esta semana. Que passe também a correr para que sexta feira chegue rápido. São vários os motivos que me deixam ansiosa por sexta feira, já os citei todos ontem. Mas, claro, há um que me deixa um bocadinho mais ansiosa.

Mas, com a ansiedade, aprendi que não adianta ter pressa. Ansiedade é viver em função do futuro. E eu sei lá se lá chego sequer. Por isso vou vivendo um dia de cada vez, uma hora de cada vez, um momento de cada vez. Sem pressa. Sempre sem pressa. Mas sem perder tempo.

Sim, não foi um mau dia. Foi praticamente só trabalho. Pouco tempo de esplanada depois do trabalho porque o frio se fez presente. Mas ainda houve, ao longo do dia, possibilidade para trocar algumas palavras. E confirmar o que, do outro lado, não está esquecido. E fico contente por não estar.

Mas por hoje já chega. Dou o dia por terminado, mas só termina de facto depois do ritual nocturno de aconchego de fim de dia. Custou-me muito aquele período em que não me dedicava a esse aconchego. Porque era a mim que faltava…

Enfim. Enquanto fizer sentido, continuarei. É um aconchego que ser dois lados. E a mim sabe muito bem fazê-lo.

Amanhã? Estarei mais perto de sexta feira. E se até os planetas distantes se fazem perto, sexta feira também está já à vista.

O resto? Logo se vê… Um dia de cada vez. Uma hora de cada vez. Um momento de cada vez…e sexta feira a chegar.