Category Archives: {#2024.Dezembro}

{#365.002.2024}

Já sabíamos, à partida, que 2024 seria um ano com um dia extra por ser bissexto. Mas, e a julgar pelo título deste post que é efectivamente o último de 2024, acho que lhe consegui acrescentar ainda mais um dia. Não sei o que se passou por aqui. Escrevo todos os dias, sem excepção, há mais de 10 anos. Mas, e pela primeira vez, alguma coisa aconteceu. Se vou tentar perceber o quê? Não. Fica tal e qual como está a contagem, porque o título de cada post é, de facto, a contagem do número de dias que já passaram seguida do número de dias que faltam no ano assinalado. O que quer dizer que, de acordo com o título do post de hoje, o ano só iria terminar amanhã… Fico com um dia no limbo.

Se todo o ano de 2024 foi estranho na vida lá fora, porque é que não há-de o ser também no blog? Não, não vou mesmo tentar perceber o que se passou. Nos rascunhos não ficou nada por publicar, por isso…não sei. Mas também não me vou preocupar com isso

Faltam muito poucos minutos para encerrar 2024. Poder fechar esta porta e deitar a chave fora. Ainda não escrevi sobre o ano que se mostrou ser uma montanha-russa comboio fantasma que não precisa de moedas. Mas irei fazê-lo. Não sei se no Instagram ou se apenas no blog, será onde me forem saindo as palavras certas.

Mas, com a meia noite mesmo ao virar da esquina, quero muito desejar a TODOS os que estão aí desse lado, que me vão acompanhando mais de perto ou à distância, em silêncio ou reagindo de alguma forma, um 2025 MUITO BOM, MUITO FELIZ. Com os dois ingredientes mais importantes para um dia a dia tranquilo: SAÚDE e AMOR! Havendo esses dois, tudo o resto é possível.

Feliz Ano Novo para todos ❤️ gosto de vos saber desse lado ❤️

{#364.003.2024}

Falar da Margarida leva-me obrigatoriamente a falar dos fabulosos diospiros da ruína que a Margarida me enviou pelo correio e, claro, da sugestão de os comer depois de bem maduros com canela.

A Margarida, atrevo-me a dizer, é uma das coisas boas que 2024 me trouxe. Talvez para contrabalançar o tanto de mau que me trouxe e o muito que eu achava bom que me levou. 2024 trouxe-me um diagnóstico e com ele levou-me pessoas. Várias. Muitas que eu achava que estariam “ali” sempre. Mas não estiveram. E algumas simplesmente deixaram de estar. Mas, ao deixarem de estar, abriram espaço para que novas pessoas chegassem. Como a Margarida.

Não me lembro há quanto tempo chegou, mas lembro-me que, logo no dia da chegada, comentou uma publicação minha em que eu dizia sentir falta de conversar de viva voz. E escreveu “eu estou disponível para conversar”.

Percebi que a Margarida chegou através de contas que ambas seguimos. E da mesma forma que eu me delicio com as fotos do terreno da ruína, a Margarida dispensa do seu tempo para me acompanhar lendo-me.

Nunca vi a Margarida, não lhe conheço o olhar ou o sorriso. Mas isso nunca impediu ninguém de gostar muito de outro alguém. E foi isso que aconteceu com a Margarida.

Hoje, ao fim de vários meses, finalmente falámos ao telefone. Coisa pouca…”só” 50 minutos de conversa. E depois há quem me diga “o que raio conversaram em 50 minutos?”. Ri-me mas percebi que, com a Margarida, mesmo 50 minutos foi uma conversa rápida. E pareceu tanto um hábito recorrente de ligarmos uma à outra e simplesmente Ser. Ser quem e como somos. E todo o assunto que vier à conversa já faz parte do menu, mesmo tendo sido a primeira vez que falámos de viva voz.

A 2024 tenho a agradecer a chegada da Margarida, que para além de ter nome da minha flor favorita, tem um coração do tamanho do Mundo. E, já sei!, estraga-me com mimos ❤️

E quem quiser conhecer o terreno da ruína da Margarida onde as flores são lindas, a terra é fértil e tem um pôr do Sol fabuloso, pode ficar a conhecer na conta dela no Instagram: @margaridaemarnoia

Já agradeci a 2024 ter-me trazido a Margarida. Agora peço a 2025 para a manter por perto ❤️

E à Margarida deixo um abraço gigante daqui até ela.

{#363.004.2024}

Perdida por aí. Os dias a preto e branco, não importa quantas me rodeiam. O som longínquo de uma batida de música que só eu oiço porque, na realidade, essa batida de música não existe, mas na minha cabeça, aos meus ouvidos, é real. E incomoda. Muito. Ao ponto de querer partir para longe onde não oiça essa batida de música que, para os outros, é imaginária mas que para mim é demasiado real ao ponto de quase me enlouquecer.

Sinto-me uma sombra do que já fui. Não sou mais do que uma mera silhueta nos dias a preto e branco. Estão-me a faltar e a falhar os mil tons intermédios: os cinzentos! Que também são cor, que ligam dois extremos tão opostos como o preto e o branco. Que também têm, cada um dos mil tons de cinzento, histórias para contar e coisas para dizer.

Perdida por aí. À procura da cor que já preencheu os meus dias. Deixar de ser uma sombra e voltar a ser o que era, deixar de ser uma mera silhueta nos dias a preto e branco e voltar a ser aquele ponto de luz e cor. Cor de rosa, sempre. Deixar de ouvir aquela batida de música que começo a acreditar ser imaginária porque só eu a ouço…

Há forma de reencontrar o Norte para voltar a ser quem sempre fui…? Não sei…só sei que ando perdida por aí…

{#362.005.2024}

Acordar cedo depois de adormecer tarde não é política, especialmente quando ainda há um caminho a percorrer sujeito à rigidez do horário do autocarro para chegar a horas ao destino: a aula de Yoga.

Mas cheguei a horas graças ao serviço da Uber depois de mais um raspanete da minha mãe que tem toda a razão! E eu tenho que me convencer a mim própria, a mais ninguém!, de que não posso continuar a prolongar os dias pela noite fora, tenha ou não tenha horários a cumprir na manhã seguinte. E, já agora, se insisto teimosa e estupidamente a prolongar os dias pela noite fora, então que seja a fazer alguma coisa que me faça realmente bem! Passar horas e horas sentada no cadeirão na varanda, sozinha, sem ao menos estar a conversar com alguém do outro lado do ecrã, só a fazer scroll e a ver o tempo passar, não me traz nada de bom. Tenho ali tantos livros novos para ler! Tenho tanta coisa que quero estudar e aprender para me reencontrar, para me reconectar…mas nem a isso me tenho dedicado.

E, claro, dormir tarde e acordar cedo também não me traz nada de bom. Felizmente, apesar do sono de manhã, a aula de Yoga correu-me bem e, como sempre, foi muito boa. Mas, aquele bocadinho na esplanada à sombra e ao frio depois da aula, trouxe-me um desconforto desnecessário e demasiado grande. Que só passou já depois do almoço, depois do terceiro café do dia, quando enrosquei no sofá, na companhia das mantas e das almofadas térmicas quentinhas.

E aí ficou provado que, quando o corpo precisa de dormir para descansar e recuperar, não são 3 cafés que o vão impedir de fazer o que precisa!

Tinha muita vontade de ir apanhar Sol à tarde, caminhar até ao paredão e ver o pôr do Sol na praia. Claro que quem me iria acompanhar, a minha mãe, fez o favor de me informar de imediato que hoje não. Ainda ponderei a esplanada grande, onde o Sol espreita por entre as árvores. Mas rapidamente desisti por ser vencida pelo cansaço e pelo sono…

Lá fora o dia estava lindo. Novamente aquele azul intenso do céu totalmente limpo, a fantástica luz do Sol de Inverno que aconchega. Não tive oportunidade de o aproveitar. Mas fiz o que era o mais acertado: ouvi o meu corpo e obedeci-lhe.

Esta noite está a ir pelo mesmo caminho da anterior. Mas, felizmente, de forma muito mais serena. E amanhã não há horários para cumprir. A noite já se fez madrugada. Está mais do que na hora certa para ir descansar. E voltar a repetir a mim mesma que tenho que voltar à disciplina de horários de ir dormir mais cedo do que tem acontecido nos últimos tempos…

Não me esquecer: ir dormir mais cedo TAMBÉM É cuidar de mim! E eu tenho que voltar a estar em primeiro lugar para voltar a estar bem e conseguir alcançar o meu objectivo principal: atingir a melhor versão de mim mesma!

E é isso que vou fazer agora: cuidar de mim!

{#361.006.2024}

É possível sentir a cabeça muito cansada sem ter havido esforço mental, cognitivo ou até emocional? Sentir a cabeça extremamente confusa, baralhada e perdida no calendário? Sentir que já não sabes o que fizeste ontem à tarde mesmo que te digam que não fizeste nada? E no dia anterior, sabes o que fizeste? E no início da semana? Onde é que foste? Quem é que viste? Com quem é que falaste? Sabes, de alguma forma, que foste a algum sítio fazer alguma coisa com, talvez, alguma importância. Mas fazer o quê? Onde? Em que dia e em que horário?

Por muito que sinta que hoje é sábado à noite, já sei que não é, já me lembrei que ainda é sexta feira. Sei, porque me lembro, que ontem de manhã houve Yoga, houve conversa e café ao Sol na esplanada, praia logo a seguir enquanto fazia tempo para o autocarro, mas não sei o que aconteceu à tarde até sair para comprar tabaco e beber um café. Sei que, na véspera de Natal, à tarde, fui sozinha de autocarro até à praia ver o pôr do Sol, mas não sei o que fiz de manhã, sabendo que fiz alguma coisa que não me recordo. E a véspera de Natal, percebi agora ao rebobinar as ideias, aconteceu na terça feira. Mas não sei o que fiz durante o dia de Natal até sair para dar um bocadinho de uso às pernas e beber café ao fim do dia. E mesmo depois disso não sei o que se passou.

E só esta tarde percebi, porque mo recordaram, que este ano termina já na próxima semana. E eu ia jurar que seria lá para quinta feira até abrir o calendário e ver que, afinal, termina na terça…

Confusa. Baralhada. Perdida, até. E continuo zangada. Comigo. Apenas e só comigo. Porque na minha cabeça tenho uma tabela de Excel cheia de células apagadas, em branco. E não, sentir isto não é bom. Porque não são apenas as células de memória. São também as células de palavras, de nomes de coisas, que desaparecem ou se confundem enquanto tento uma conversa, enquanto tento tão simplesmente falar normalmente, sendo que é cada vez menos normal o meu discurso e mais normal o desaparecimento ou troca de células com informação que acaba aplicada erradamente. E, até a escrever, as células de informação parecem perder a luz e tornam-se simplesmente ilegíveis.

Estou a perder-me aos poucos. Não vou dizer que tudo isto é normal pelo isolamento desde Setembro de 2023. Pode até ser. A falta de convívio, interacção, rotina. Tudo isso junto pode levar a este estado de confusão, baralhação, esquecimento. Mas, para mim!, nada disto é normal. Não depois do esforço que tenho feito para que a informação na minha tabela de Excel da minha cabeça não se perca, não se baralhe, não se troque, não se apague…

…mas, também sei mas não aceito, pode ser mais um sinal de estrago feito pelo que me apanhou na curva…

Tenho que começar a puxar mais por mim. Organizar-me. Criar horários e rotinas. Para fazer o quê? Não faço ideia! Mas alguma coisa vai ter que acontecer! Alguma coisa eu vou ter que fazer acontecer! Não faço ideia do quê…mas alguma coisa! Porque como está, ou como estou!, não pode continuar!

E todos os dias me perco de mim mesma mais um bocadinho…e não posso. Nem quero! Perder-me de mim é o mesmo que deixar de existir a pessoa que sempre fui, com todas as qualidades e defeitos, e até capacidades! E eu não quero deixar de existir como sempre fui! Nem posso! Dizem que, com isto que me apanhou na curva, nasce uma nova Eu. Mas, percebo agora, essa nova Eu que está a nascer corre o risco de, negativamente, não corresponder em nada à Eu de sempre, que faço questão de manter, mas que sinto a fugir-me das mãos…e eu não sei como impedir essa fuga e essa transformação tão negativa em alguém que eu não reconheço, com a qual não me identifico e que, no fundo, NÃO SOU EU!

………

…um dia de cada vez…e, mais uma vez, a enorme vontade de chorar e não conseguir…

{#360.007.2024}

Manhã de Yoga a uma quinta feira. O suficiente para me baralhar o calendário. Porque o Yoga de manhã acontece ao Sábado. Quinta feira é dia de Yoga ao final da tarde. Mas, calendário baralhado ou não, a manhã foi aquilo a que se pode chamar de tudo de bom.

Aula maravilhosa, com uma energia rara de encontrar. Cada nova postura um desafio. Cada desafio superado é sinónimo de uma pequena grande vitória pessoal.

Percebi só hoje que, mesmo sendo o Yoga já de si uma actividade lenta, ultrapasso mais facilmente as faltas de equilíbrio se me mover de forma ainda mais lenta. E, dessa forma, consegui mais uma vez executar e manter as posturas que já tantas vezes me fizeram cair por falta de equilíbrio.

A energia da aula hoje foi incrível. Tudo fluiu de uma forma plena, consciente, ao mesmo tempo intensa na energia que quase se podia tocar.

No final, no lugar do relaxamento simples, mais uma vez Yoga Nidra. Aquele relaxamento profundo acompanhado de uma meditação guiada e uma nova viagem para nem sei onde. Hoje não foi o Azul. Não me consigo recordar da viagem de hoje. Apenas me recordo de me ter sentido muito bem, de uma forma que só quem pratica entende. Foi bom? Não. Foi melhor do que isso. Como é sempre.

Depois da aula, café na esplanada ao Sol com o Professor Pedro. Ainda um bocadinho fora, voltar destas viagens às vezes demora. Mas cá o suficiente para continuar a sentir a energia a fluir. Sol, café e uma conversa interessante. Era disto que eu andava a precisar: alguém com tempo, disponibilidade e vontade de conversar comigo sobre coisas normais. Soube bem. Muito bem.

Depois do café na esplanada e da conversa que soube bem, fazer tempo para o autocarro, agora sozinha. E a praia logo ali, do outro lado da estrada. Claro que não tinha como não ir até lá. Respirar o ar do Mar, ver o azul do céu riscado pelo branco das nuvens, ouvir o som das ondas daquela maré baixa numa praia sem ninguém. O sossego. A paz. A tranquilidade. O respirar fundo de forma consciente e simplesmente sentir. Desta vez sem música para me distrair e estar realmente ali naquele momento. E, na minha cabeça, a ecoarem as palavras do Professor Pedro: “estamos no Yoga para nos reconectarmos connosco”. E foi aí que confirmei que é exactamente disso que eu preciso: reconectar-me comigo mesma.

Cada vez sinto mais necessidade de me reencontrar com a natureza. Com o mato. A vegetação. As árvores. Enraízar-me. Reencontrar-me.

O último ano tem sido um grande desafio. E tem sido muito difícil manter a certeza de que eu continuo a ser EU. Assumir, aceitar o que me apanhou na curva tem sido outro grande desafio. Daqueles que eu chego a fazer de conta que não existem, que eu não preciso de ultrapassar porque nada vai mudar, eu vou continuar a ser EU, está tudo igual. Quando não é verdade. E eu sei que não é verdade.

Tudo mudou. E até eu estou a mudar de alguma forma. E o Mar, que eu gosto tanto de ter tão perto e de, de vez em quando, ir ver e respirar fundo aquele ar salgado, é perfeito para desconectar. Desligar o chip. Esquecer o que se passa à minha volta. Esquecer o que se passa comigo. Quando, na verdade, o que eu preciso é de me reencontrar. De me redescobrir. De me reconectar comigo mesma.

E é aí que entra essa necessidade de mato. De vegetação. De árvores. Porque, se o Mar desconecta, se desliga o chip, cada vez mais estou desconectada de mim mesma. E não posso. Preciso de, literalmente, voltar à terra, aos ramos partidos das árvores, às folhas da vegetação que nos fazem sentir que temos raízes profundas para nos tornarem mais fortes. Mais resistentes, resilientes como as árvores. Aquelas que, quando apanhadas no meio da tempestade, vergam mais não quebram…

Sempre disse que, quando fosse grande, queria ser uma árvore. Pela força. Pela resistência. Pela resiliência. Mas também pelos frutos que nascem das flores que brotam das árvores. Resultados de um trabalho interior que não se vê de fora, só os resultados são visíveis. Mas esse trabalho interior existe. É exigente. Mas é possível. E real.

Faz-me falta o verde do mato e das árvores para me reconectar depois de tanto tempo no azul do céu e do Mar que, com o tempo, acabou por me desconectar. De mim mesma.

E é com o Yoga que eu consigo o equilíbrio que me falta para me reconectar comigo mesma, mesmo sem o verde do mato até, pelo menos, à Primavera.

Todos os dias são um desafio. E os últimos dias têm sido uma espécie de momento de reflexão e percepção do quanto me desconectei. De mim mesma, mas também de tudo à minha volta. Da rotina. Do trabalho. Das pessoas. Porque me perdi algures pelo caminho do último ano. E preciso, muito!, de me reencontrar, de me reconectar comigo mesma. E, alcançando essa reconexão que não é imediata, que é um trabalho diário constante, reencontrando-me, reconectando-me comigo mesma, redescobrindo-me neste meu novo normal, aceitar o que me apanhou na curva acaba por acontecer naturalmente. E tudo o resto volta a mudar. Mas para melhor.

Do Yoga: parar para respirar fundo e de forma consciente. Concentrar-me apenas na respiração. Fazer apenas isto por um tempo, breves minutos para começar. Permite-me no final a tranquilidade e serenidade necessárias para voltar a ser EU, o EU que sempre fui mas que se perdeu algures no caminho do último ano. Mas que, curiosamente, com o compromisso que assumi perante mim mesma relativamente ao Yoga, tenho vindo a descobrir em mim, ou se calhar a redescobrir em mim, aquilo que sempre soube que tinha mas que por um tempo esqueci-me: a resiliência. Porque, afinal, há muitos anos que digo que quero ser uma árvore quando crescer. E é aí que me vou reencontrar, redescobrir, reconectar comigo mesma: no Yoga e em tudo o que o Yoga me traz e me ensina.

Parar para respirar fundo e de forma consciente. Concentrar-me apenas na respiração. E, por hoje e porque a noite já passou a madrugada, vai ser assim que vou terminar o dia. Não tenho a certeza de onde saiu tudo o que aqui registei. Mas não duvido que veio de dentro. Mas por hoje já chega. E o Yoga Nidra deixou-me num estado absolutamente relaxado até esta hora. Como deixa sempre, aliás. E, já sei, este estado ainda profundamente relaxado vai proporcionar-me um sono reparador. Como estou a precisar…

{#359.008.2024}

Eu sei…ainda é dia de Natal. Pelo menos por mais meia hora, ainda é aquele dia em que devíamos (…?) estar alegres, felizes, orgulhosos até, em paz, sei lá eu mais o quê.

…mas, ter saído de casa hoje ao final do dia, apesar de mentalmente muito necessário e fisicamente imprescindível para dar um bocadinho de uso às pernas, não me fez tão bem como eu achava que iria fazer…

É verdade que a cabeça arejou um bocadinho, o espírito espaireceu por aí, encontrei um café aberto com esplanada e tive a oportunidade de ficar por lá uma boa meia hora e beber um café enquanto fumava um cigarro. A tentar, na realidade, arrumar a confusão dentro da minha cabeça. Mas o ruído…novamente o ruído!, a deixar-me ainda mais confusa e baralhada, e a cada mota que passava a vontade urgente de simplesmente tapar os ouvidos, tal era o incómodo que o ruído das motas me fez sentir. E não foi nem uma, nem duas, nem três, nem…

Acabei por desistir da esplanada e voltar para casa, atrelada ao braço da minha mãe. Porque, se ontem CONSEGUI ir até à praia sozinha e voltar, hoje nem em casa consigo andar sem me apoiar nas paredes, nas ombreiras das portas, no móvel da sala, na mesa…em qualquer sítio firme o suficiente para eu me apoiar!

Ainda na rua o caminho não foi fácil. Para lá achava que era por ainda não ter andado praticamente nada o dia todo. Mas no regresso……no regresso tive a certeza: alguém me levou, durante a noite, mais um bocadinho (grande) do pouco equilíbrio que ainda me resta e que faço por trabalhar todos os dias! E, quando dei por mim, no regresso a casa já estava no mesmo estado em que estou agora, às 23h30: zangada! MUITO zangada! COMIGO MESMA! Apenas e só comigo!

Porque eu não sou isto. Ou melhor, não era! Mas AINDA não aceitei que sim, isto agora faz parte da minha realidade. Do meu dito novo normal. Que AINDA não consegui aceitar que NÃO TEM retorno!

Zangada! TÃO zangada! Comigo! E sem saber lidar com esta zanga que, todos os dias, cresce mais um bocadinho…

…já é tão tarde e eu ainda tenho tanto para fazer hoje! Sendo que amanhã é dia de acordar cedo. Mas…zangada só me apetece chorar. E CONTINUO a NÃO CONSEGUIR CHORAR!

{#358.009.2024}

Véspera de Natal. Um dia lindo lá fora. Um céu de um azul intenso, o Sol a assumir o domínio de um dia frio de um Inverno recente. E eu sozinha em casa depois de almoço, com uma tarde inteira pela frente para não fazer absolutamente nada. Não me apeteceu ficar presa em casa com o dia lindo que estava lá fora. E desde o final da manhã a minha cabeça fixou a ideia de reclamar a minha autonomia, a minha independência de volta! Ou parte dela, pelo menos. Apesar do risco consciente. Mas é importante recuperar o poder ir sozinha a algum lado, não estar sempre dependente da minha mãe para me deslocar apoiada para além da bengala.

Tenho plena consciência de que o risco de queda existe. A um nível relativamente alto. Tenho noção das eventuais consequências de uma possível queda. Mas não posso, por simplesmente ter medo, desistir de fazer o que (ainda) consigo fazer. Neste caso, simplesmente deslocar-me do ponto A ao ponto B sozinha. E hoje decidi que era o dia certo para o fazer. Sozinha em casa a tarde toda, nada para fazer, um dia maravilhoso lá fora. E a minha cabeça em loop a dizer-me “vai!” E eu fui.

Ir até à praia que fica mais perto de casa implica chegar ao parque, atravessar a imensidão que é esse espaço que adoro, que me transmite uma paz (quase) inexplicável, chegar ao outro lado e atravessar o parque de estacionamento para chegar à rampa de acesso ao paredão e aí então parar, descansar e apreciar a praia. Mas é um caminho lento, demorado e, até, doloroso. E, só pela longa distância e tempo de caminhada achei por bem não insistir em ir pelo parque. Mas ir à praia tinha que acontecer.

O autocarro que me leva até ao Yoga. É o mesmo autocarro que ando há meses a prometer apanhar para ir caminhar na praia. E hoje não havia desculpa. Consultei o horário, planeei o meu tempo, quase não conseguia cumprir o objectivo de chegar à paragem antes da hora prevista para a passagem do autocarro porque, diz-me a experiência, tantas vezes passa mais cedo… Respirei fundo, vesti o casaco, phones nos ouvidos porque sem música não dá, peguei na bengala, inspirei fundo novamente como quem está a ganhar coragem, e estava!, e saí de casa. Sozinha. Só eu e a bengala…

Não me recordo de quando foi a última vez que saí de casa sozinha para ir a algum sítio sem ser o café do costume. Não faço ideia, mesmo. Mas posso arriscar que já foi há uns meses

Desci as escadas do pátio e dei por mim a olhar para o chão à procura do caminho menos acidentado, com menos buracos, menos pedras da calçada soltas. Endireitei-me. Voltei a respirar fundo. Sabia que já passava da hora que tinha programado para sair de casa com tempo para poder ir até à paragem com calma, devagar, ao meu ritmo lento e cuidadoso. Dei o primeiro passo sozinha a medo como dou sempre que saio sozinha para as traseiras do prédio onde o piso de alcatrão é mais certo, mais regular, onde os buracos são mais pequenos e mais fáceis de contornar e onde não há pedras da calçada.

Percebi, mais uma vez, que corria o risco de não chegar a tempo à paragem. Mas avancei, ainda assim. A medo, à procura do meu ponto de equilíbrio que nunca sei onde encontro e fiz-me ao caminho. Não sei como o fiz, mas fui a um ritmo mais acelerado do que aquele ritmo cuidadoso e cauteloso habitual. Acho que, por momentos, consegui esquecer, ou pelo menos ignorar, aquilo que me apanhou na curva e me trouxe tantas dificuldades para caminhar sozinha.

Perdi a conta aos pontapés no chão, sempre com o pé esquerdo, as vezes que a bengala bateu nos altos da calçada provocados pelas raízes das árvores ou simplesmente porque o braço esquerdo não estava a colaborar com a minha pressa e não levantava a bengala o suficiente para não bater em nada no chão.

Há muito tempo que deixei de ter pressa e aceitei e assumi um ritmo mais lento. Mesmo antes de sequer existir uma suspeita de que alguma coisa errada se passava comigo. Dizia sempre que não tinha pressa para nada, a não ser cumprir horários, especialmente se fosse o horário do autocarro. E, até nesse caso, mesmo assim…

Cheguei à paragem 5 minutos antes do horário previsto para a passagem do autocarro. Mas eu não confio aquelas previsões…quantas vezes ele não passou já 10 minutos antes da hora…? Sentei-me. E comecei a esperar. E a esperar…e a questionar-me se já teria passado ou não. Até que, finalmente e atrasado, o autocarro chegou.

O autocarro pode ter mil motivos para se atrasar, seja o trânsito, sejam as pessoas a entrar e/ou a sair. É compreensível e, de certa forma, até aceitável. Mas eu tinha uma hora certa marcada. 17h21m. Aquelas horas marcadas que não temos como alterar. Se chegar antes da hora, não tem qualquer problema. Espera-se um bocadinho e pronto. E eu queria mesmo chegar antes da hora. Mas se chegar 1 minuto que seja depois da hora marcada, já não há nada a fazer.

Da minha paragem até à praia que eu queria são apenas 3 paragens, o mesmo que dizer que são 7 minutos de viagem. O autocarro chegou atrasado uns minutos, é verdade. Mas as 3 paragens da viagem, os 7 minutos, fizeram-me chegar mais do que a tempo.

Saí do autocarro e percorri sem pressa os 200 metros até à praia. E lá estava ele naquele imenso e intenso céu azul a preparar-se para mergulhar na linha do horizonte: o Sol a preparar-se para se pôr. E o que eu queria, o que eu quis o dia todo, ia acontecer! Ia, finalmente!, voltar a ver o pôr do Sol na praia!

Aquela que foi a minha praia da adolescência é agora a praia que eu quero para ver o pôr do Sol. E também para ir caminhar na areia, como recomendou o neurologista: na areia seca para trabalhar o equilíbrio, na areia molhada para estimular os pés. Ainda não foi ontem que descalcei as botas e fui até à areia. Mas sei que, em dias menos frios, é a praia ideal para o que preciso de fazer. E, tendo o autocarro tão à mão, não pode haver desculpas!

O Mar estava como há algum tempo não o via: praticamente sem ondas, a lembrar a estabilidade de um lago ou albufeira. Calmo. Muito tranquilo. Como se soubesse que eu estava a chegar. O céu a começar a mudar de cor, mas o azul sempre presente, sempre intenso. E o Sol a descer também ele sem pressa apesar da hora certa marcada para o mergulho na linha do horizonte.

Deixei-me ficar ali sentada no banco a ver, a olhar, a observar. Mas, acima de tudo, a sentir. A paz. A tranquilidade. O sossego daquele lugar que me conta histórias de há mais de 30 anos. Mas, apesar de ter ido sozinha, não estava só. Como nunca estou!

À distância de um clique, ele. Aquele presente de Natal que eu mais queria ali comigo naquela hora marcada para o mergulho na linha do horizonte. Fui partilhando aquele Mar sem ondas que ele conhece. Fui partilhando também o Tsunami que, para ele, sou eu. E aquele mergulho na linha do horizonte a dar ao céu cores que eu há muito tempo não via e que partilhei com ele como se ambos estivéssemos ali, de mão dada comigo ou envoltos num abraço só nosso.

Há muito tempo que não assistia a um pôr do Sol na praia tão bonito como este. E aquele momento em que o Sol desaparece por completo, aquele último pedacinho que, ao mergulhar na linha do horizonte, solta um rápido brilho diferente e especial… Acho que foi a primeira vez que verdadeiramente me emocionei com o pôr do Sol. Na praia ou onde seja, nunca me aconteceu ficar sem palavras com aquele momento. É só um momento. Acontece depressa. Mas mais do que apenas um momento, é um espectáculo emocionante. E, desta vez, não sei se por estar sozinha mas não só, teve um brilho diferente, especial.

Sol posto. E o azul do céu mais intenso. Mais bonito. Mais……mais tudo! E tê-lo partilhado com ele, mesmo à distância de um clique, foi tão bom.

Mas a hora de voltar para casa estava a chegar. Fiz o caminho de regresso à paragem do autocarro, agora do outro lado da estrada. Devagar naquele caminho de chão de madeiras incertas até alcançar o passeio. Atravessar a estrada calmamente e ainda a tentar interiorizar aquele espectáculo que tinha acabado de presenciar. E que espectáculo maravilhoso!

Autocarro mais uma vez atrasado. 2 minutos apenas, nada de extraordinário. Mas a vontade de voltar para casa era zero. É noite de Natal, aquela noite em que a família se reúne. E a minha vontade era passar a noite de Natal na praia. Com ele, claro.

Novamente 3 paragens de autocarro, novamente 7 minutos de viagem. E, ainda na minha cabeça, aquele espectáculo maravilhoso. Aquele espectáculo que, enquanto a minha memória não me trair, não vou esquecer tão cedo. E, a vontade de voltar para casa, nula…

Sair do autocarro e perceber que o café dali ainda está aberto e com a esplanada disponível. Beber um café e fumar um cigarro. Afinal, ninguém em minha casa precisava de mim. Estava tudo tratado e arranjado para o jantar, o meu irmão dormia no sofá, a minha mãe sempre de um lado para o outro e a certeza de que, mesmo que eu estivesse em casa, não seria de grande utilidade…

Enfrentar o caminho de regresso. Agora de noite, sem perceber muito bem o estado da calçada, confiando na experiência de já ter feito aquele caminho tantas vezes. Mas agora a uma velocidade mais lenta e mais segura. E, no caminho de regresso a casa, perceber que, para mim, o Natal já estava feito…

Perceber que, apesar dos meus sobrinhos ausentes, apesar da distância dele que eu queria tanto que estivesse e fosse (sempre) presente, a maior e melhor de todas as prendas de Natal que eu poderia receber fui eu mesma que me ofereci: o desafiar-me a mim mesma a ir sozinha ver o pôr do Sol na praia e ter aceite o desafio que foi superado sem quedas nem sustos nem acidentes! Simplesmente a minha cabeça insistiu em dizer “vai!“. E eu fui. E não só fiquei emocionada com o espectáculo do pôr do Sol na praia como também fiquei feliz e orgulhosa da pequena grande conquista de ter ido sozinha e voltado em segurança. Aquilo que, para mim, foi a prova de que eu consigo! Posso ter algumas dificuldades e/ou limitações, mas, querendo muito, eu consigo!

{#357.010.2024}

Dias como o de hoje às vezes também são precisos: dias de não fazer rigorosamente nada. E adormecer no sofá demasiado perto da hora de jantar. O que só foi possível por estar sozinha em casa. Não sei quanto tempo depois a minha mãe chegou. Sei, apenas, que acordei muito perto das 11h da noite. Duas torradas e um iogurte no lugar do jantar. O descafeinado do costume está bebido. É hora de ir para a cama.

Do que fica do dia de hoje: as tatuagens na memória. As loucuras e devaneios partilhados. O que é que isso significa? Isso guardo para mim.

Amanhã é outro dia. Que calha também ser a véspera de Natal. Vão ser mais os ausentes do que os presentes. Uns que, não estando amanhã, estarão depois. Outros, como ele, que estão longe fisicamente mas, ao mesmo tempo, sempre comigo, ao meu lado, de mão dada comigo em todos os momentos.

E assim foi aquele dia em que não se fez rigorosamente nada, excepto novas tatuagens na memória. E essas ficam. Para sempre.

{#356.011.2024}

Natal já ali quase ao virar da esquina. Não estando a família toda reunida nas noite da Consoada como há 30 anos acontecia, encontram-se data’s alternativas. Como hoje.

Dia de receber so meus tios para almoço de Natal e respectivas troca de prendas que apenas serão abertas na noite certa.

O meu tio, como sempre, a series o meu super tio. Fez questão de trazer todos os ingredientes para fazer, para o almoço, aquilo que ele sabe que euro adoro, que é tão bom, que me sabem sempre tão bem e que é tão simples quanto umas posta de bacalhau acompanhada com grão! Nada mais simples do que isso. E que, já sei, seja em que altura do ano for, seja eu a ir lá ou electric a vir cantar, há sempre bacalhau com grão para a sobrinha! Sou ou não sou uma miúda cheia de sorte?

O almoço, numa versão mais reduzida em número comparando com há 30 anos, não deixou de ser um almoço de Natal em família. E, às vezes, sinto-lhe a falta.

Sei bem das discussões que houve com a minha mãe em alguns Narais porque nem eu nem o meu irmão queríamos ir para casa dos meus tios. Tínhamos os nossos motivos para não querermos ir. Para não gostarmos de ir. Que, soubemos mais tarde, a minha mãe entendia perfeitamente. Mas não nos ia deixar sozinhos casa, dois irmãos que se odiavam de forma visceral, perigosa. E, sem nós, ela também não iria a lado nenhum. Mas passarmos o Natal em nossa casa, apenas os 3 quando podíamos estar a criar memórias em família, nunca seria opção.

Não me lembro em que ano a tradição de irmos, e nesta altura já só eu e a minha mãe porque, por qualquer motivo que desconheço, o meu irmão deixou de estar presente, deixou de acontecer. Sei que a distância mudou, para mais longe. Talvez tenha sido nessa altura que a tradição caiu…

A vida, claro, sempre a acontecer no seus carrossel de curvas e contra-curvas e cambalhotas também contribui para o fim da tradição adolescente agora já em idade adulta. Mas, também a vida tal como ela é e tal como ela acontece, a fazer prova de que, haja o que houver, aconteça o que acontecer, de bom ou mau!, estamos sempre presentes uns para os outros. E isso é o mais importante de tudo.

Este ano, o Natália será muito provavelmente a duas: a minha mãe e eu. Os meus sobrinhos este ano passam a noite de Natal com a mãe, o ano passado foi com o pai mas não me lembro de terem estado cá em casa na noite certa… Não interessa. Será uma noite normal a duas. Mas, admito, tenho saudades de sentir a noite certa com o espírito certo.

Durante muitos anos, teimei em dizer que não ligava ao Natal. Agora, ao escrever sobre o almoço de Natal em família e ao recordar outros tempos, percebo que, afinal, ligo mais do que pensava…

{#355.012.2024}

E o resumo do dia de hoje é muito fácil de fazer:

  • o mega trambolhão matinal na aula de Yoga ao tentar alcançar uma postura de equilíbrio (catrapum!, no meio do chão! Não foi a primeira vez, não será a última! Mas esta doeu! Cair de rabo no chão é tranquilo, mas cair literalmente para o lado e bater com a coxa no chão dói! E o que é que eu fiz a seguir? Repeti a postura, claro! E sem cair!)
  • o alto desprezo da afilhada felina de seu nome Mia, pois claro (sempre que a chamo, vai a correr para a janela, dou-lhe festas em troca de sessões de acupunctura com aqueles dentes no lugar das agulhas, agarra-me a mãos com as patas, morde-me os dedos, eu sei lá! Hoje? Veio quando a chamei mas ficou do lado de dentro da janela a espreitar-me de vez em quando num total desprezo pela presença da madrinha! Não faz mal, enquanto ali estive o Sol aqueceu-me o suficiente para descongelar depois do gelo da esplanada!)
  • chegar a casa, mudar de roupa, comer qualquer coisa ligeira e rápida, beber um café e fumar um cigarro, aninhar no sofá com a manta e as almofadas térmicas quentinhas e…dormir até às 19h…!

Sábado, o dia mais aborrecido da semana, também pode ser isto! E não é nada mau!

{#354.013.2024}

Ainda desta coisa dos lugares reservados: hoje foi dia de exame ao joelho em Lisboa. Saímos de casa relativamente cedo em direcção ao Centro-Sul para apanhar o autocarro 753 que nos deixaria muito perto da clínica. Chegámos à paragem e, como sempre, uma fila imensa de gente para entrar. Esperei pela minha vez até que um jovem me fez sinal para passar à frente dele. Agradeci e subi para o autocarro.

Depois de validar o passe, virei-me para o corredor e vi que todos os lugares já estavam ocupados. E, os lugares reservados, ocupados por quem não precisava de estar naqueles lugares. Parei e disse, alto o suficiente para o motorista me ouvir e os passageiros dos lugares reservados também: “então agora eu sento-me onde? Em pé é que eu não posso ir!”

De imediato, uma senhora dos lugares reservados se levantou e me fez sinal para me sentar. Agradeci e, a custo, sentei-me no lugar ao qual tenho direito. E, à minha frente, sentado num lugar reservado sem necessidade, um senhor pouco simpático que, a única coisa que disse, foi: “antes, estes lugares eram dos velhos. Agora é o que se vê!”

Respirei fundo. Olhei para o autocolante informativo e fiquei com vontade de lhe perguntar se sabia ler. Não deveria saber, de certeza. E, ao pararmos na paragem das Amoreiras, levantou-se e saiu sem qualquer dificuldade. Portanto, não!, não tinha que estar a ocupar um lugar reservado. E um lugar reservado não é “o lugar dos velhos”. E nem ele era de idade assim tão avançada que se pudesse auto-intitular de velho…

Cada vez tenho menos paciência para estas coisas do meu novo normal…mas depois também encontro, como ontem, pessoas como o Rúben. Quem é o Rúben e o que fez? Já vos conto…

De ontem, e o dar às coisas, aparentemente pequenas, o devido valor. E quem diz coisas, diz pessoas. E quando digo pessoas, digo o Rúben.

Ontem, dia de Yoga, dei por mim já sem tempo de apanhar o autocarro que me leva até ao Grupo Amigos da Costa, local onde são as aulas e normalmente conhecidas como GAC.

Desci até à porta do prédio e chamei um Uber. A app trouxe-me o Rúben. 30 e poucos anos, talvez, simpático, fizemos os 11 minutos de viagem a conversar. Sobre o que eu tenho, como estou a reagir a tudo, a importância do Yoga para trabalhar o equilíbrio.

Chegámos à morada e eu digo que fico já ali em frente ao edifício branco que está do outro lado da estrada. “Ah! Vai para o GAC? Eu dou a volta ali à frente para ficar à porta e não ter que atravessar, não venha aí um maluco qualquer!” Agradeci e, enquanto fazia a manobra, perguntou-me “quer que eu a leve lá acima?”. E, na confusão da minha cabeça respondi que o carro não sobe escadas… Riu-se e disse “não, que eu vá consigo! Ok, eu vou ajudá-la a subir as escadas e levo-a lá acima!”. Ainda tentei recusar, mas o Rúben estava decidido! Ele conhece aquelas escadas sem corrimão e sabe que custam a subir.

Parou o carro à porta, saiu, deu a volta, abriu-me a porta, ajudou-me a sair do carro, carregou a minha mochila e o tapete e estendeu-me o braço esquerdo dobrado para que eu me apoiasse. “Diga-me se estou a fazer bem. Tenho um grande amigo que é cego e já estou habituado a dar o braço”. Disse-lhe que estava perfeito e, mais uma vez, agradeci e sorri por baixo da máscara.

Iniciámos o caminho até à escada, devagar, devagarinho. Subimos os dois com calma e cuidado. E o Rúben sempre simpático, sempre prestável e preocupado. Chegámos ao cimo da escada onde está a entrada estreita para o corredor de acesso às salas. Agradeci novamente e disse que tinha chegado ao destino, embora a sala ainda estivesse um bocadinho mais à frente. “Não! Diga-me qual é a sala e eu deixo-a lá!” Apontei para o banco corrido ao lado da porta fechada onde ainda decorria uma aula de dança de crianças. O Rúben, sempre de braço dado comigo, só me largou quando me sentei no banco.

Fizemos a subida das escadas sempre a conversar, como tínhamos feito na viagem de carro. E pude perceber que Rúben é daqueles que há poucos. Educado. Bem formado. Preocupado. Prestável. Sensível às necessidades do outro. E bem disposto.

Pela milionésima vez agradeci. Por tudo! Desejei-lhe tudo de bom. O Rúben merece. E ainda lhe disse “pode ser que nos encontremos novamente num próximo pedido de Uber meu”. Ele sorriu e disse “espero que sim”.

A minha vontade, quando finalmente nos despedimos, foi dar-lhe um abraço sincero. Porque o que o Rúben fez ontem foi muito mais além do que ser motorista TVDE. Foi um ser humano completamente altruísta. E cada vez há menos desses.

Por isso, sim!, ontem um Uber levou-me ao Yoga até literalmente à porta da sala num primeiro andar! E eu senti-me, novamente, uma miúda cheia de sorte!

{#353.014.2024}

Quinta feira, já se sabe, é dia de Yoga. Hoje não foi excepção.

As posturas habituais, os desafios habituais para o corpo e para a mente. E que, a mim, seja num caso ou no outro só me fazem bem.

A nível mental é o desafio de aquietar as ideias, muitas delas parvas, calar as vozes que tantas vezes ecoam cá dentro. O corpo responde a todos os desafios propostos e se não consegue à primeira repete as vezes que forem precisas até conseguir. É também uma boa forma de me mexer e fazer exercício. Há quem já me tenha dito que “Yoga não é desporto porque não se transpira“…obviamente que quem me disse isto nunca na vida fez uma só aula experimental…

Hoje, depois da aula e a complementar o relaxamento, fizemos o que não fazíamos há muito tempo: Yoga Nidra, que é o mesmo que dizer relaxamento profundo acompanhado de meditação guiada. E já tinha saudades.
E o Yoga Nidra, para além do relaxamento profundo, quando bem guiado por quem sabe, proporciona viagens maravilhosas até onde a nossa mente nos levar. E hoje o professor Pedro guiou-nos até ao Azul. O azul do céu. Quando sentes que sais do teu corpo porque estás de tal forma relaxado que o teu corpo deixa de ter peso e simplesmente vai. E fomos às nuvens. Flutuámos entre elas. Vimos a Lua. O cintilar das estrelas ali tão perto.


Não sei se todas fomos. Eu sei que fui. E ir ao Azul é provavelmente a minha viagem preferida. O Pedro não viu por causa da minha máscara, mas nesta minha segunda viagem ao Azul o meu sorriso era enorme. E tive que fazer um esforço grande para não começar a rir de felicidade por aquela maravilha de viagem que gosto tanto e que faz tão bem.

A pior parte do Nidra é quando temos que regressar. Voltar a encaixar, o que se soltou por aí, naquele corpo estendido no chão. Voltar a sentir peso no corpo. Voltar a movimentar os dedos das mãos, os dedos dos pés, as mãos, as pernas…enfim, voltar a encaixar a leveza num pacote pesado. Esta é a parte mais difícil. Pelo menos para mim que tantas vezes não tenho vontade de voltar. E o reencaixar no meu corpo chega a ser doloroso…mas a viagem é fabulosa.

E já depois da aula terminada, já em casa, ainda aquele sorriso e leveza de quem foi ao Azul

{#352.015.2024}

Dia estranho. Ou montanha russa de emoções e estados de alma. Ou, ainda, perceber que há dias que, por algum motivo que desconheço, roçam o meu limite. Não o físico, porque aí já percebi até onde posso ir. Mas a nível mental e, até emocional, não percebi bem o que se passou comigo hoje…

De manhã, acordar tarde mas ainda cedo o suficiente para, à distância de um clique, partilhar com ele um acordar daqueles que ficam tatuados na memória.

Depois do almoço, sair de casa já depois da hora prevista. Dia de renovar a baixa médica, mais 30 dias e já deixei há muito tempo de contar os dias sem trabalhar por indicação médica.

Café e uma espécie de lanche e um momento de descanso numa esplanada abrigada antes de apanhar o autocarro de volta para casa. E aqui o barulho começou a incomodar-me. As vozes na outra mesa, num volume demasiado alto, fizeram disparar um qualquer gatilho na minha cabeça…Se já me sentia algo confusa e baralhada, a partir daí foi sempre a piorar…

Apanhar o autocarro de volta para casa. Não dei pela viagem. Vinha fixada no telemóvel. Não me lembro se a escrever mensagens para ele com o resultado da consulta com a médica e a necessidade das vacinas fora do Plano Nacional de Vacinação mas altamente recomendadas para imunodeprimidos…como eu. Sei que tudo me incomodava, mas especialmente o uso da máscara. Que me impedia de respirar correctamente, que me incomodava bastante, mas que não me atrevia a retirar com tanta gente dentro do autocarro. Não retirei a máscara mas passei de uma máscara FFP2 de alta segurança para uma simples máscara cirúrgica onde respirar era mais fácil, mas ainda assim sentia falta de respirar livremente…

Assim que cheguei à minha paragem e saí do autocarro, imediatamente retirei a máscara e respirei profundamente. Fiz várias inspirações profundas, livres e senti, finalmente, o ar fresco a entrar e a chegar aos meus pulmões!

Voltar para casa era a última coisa que eu queria. Não estava frio. Decidi ficar na esplanada do costume por um bocadinho. Precisava muito do meu momento, aquele momento comigo mesma. Para acalmar a cabeça e tentar organizar o que estava confuso e baralhado. A esplanada não tinha ninguém, estava perfeita para estar ali. Por outro lado, e já desde Almada que o tínhamos percebido, o chão estava perigoso por causa da humidade. Chão escorregadio como manteiga. Um risco acrescido para mim…

Combinei com a minha mãe que lhe telefonava quando quisesse ir para casa para minimizar o risco de queda. E logo aí começou a pressão da minha mãe. Porque queria jantar cedo. Porque já era tarde. Porque eu não podia demorar. Porque…porque…porque! Quando o que eu queria e precisava era ter o meu tempo. Sem pressa. Sem pressão. Sem horários!

Deixei-me ficar na esplanada. Eu, a música e mensagem para ele. E pesquisa na Internet sobre os valores das duas vacinas que tenho que apanhar. E que me preocupa como as vou conseguir pagar…

A cabeça cada vez mais confusa, mais baralhada, cada vez mais sensível ao mínimo ruído. E ali não havia ruído em demasia. Mas mesmo assim… E sentir que o ruído não só me incomodava como me deixava profundamente enjoada. Não foi a primeira vez. Já há uns dias que sinto que, quando o ruído me incomoda, fico muito enjoada, muito mal disposta…

A minha mãe resolveu que estava na hora de eu voltar para casa e foi ter comigo. E aqui já eu estava demasiado inquieta, irritada sei lá com o quê, alterado o meu tom de voz já demasiado impulsivo. E uma breve discussão entre as duas. Sem necessidade. Apenas porque já eu estava alterada sei lá porquê…

Respirei fundo. Tentei acalmar a confusão na minha cabeça, a baralhação, e voltámos para casa. E eu prestes a rebentar. Porque voltar para casa com pressa, pressionada a cumprir horários e metas que não são o que quero, era a última coisa que eu queria…

De imediato percebi porque não queria vir para casa… Na esplanada havia aquilo que eu precisava: sossego. Em casa, um primeiro andar por cima de um pátio onde se juntam os bêbados do bairro a conversar demasiado alto, a discutir, a usar um palavreado que me incomoda…não era isto que eu precisava!

Cada vez mais intolerante com tudo, mas especialmente com o ruído. De um lado, o som da televisão na telenovela brasileira cujas vozes me incomodam de uma forma que não tem explicação. Do outro lado, o ruído no pátio: os gritos, as ofensas, o palavreado abusivo dos bêbados do costume. E eu cada vez mais confusa. Mais baralhada. A escrever mil mensagens para ele. Porque já não me lembrava se o que ele me disse há dias era para esta semana ou já tinha acontecido na semana passada. Simplesmente não me lembrava se já tinha acontecido ou não! E lá fora os bêbados e o barulho pareciam achas para a fogueira dentro da minha cabeça e eu prestes a rebentar. E, das duas uma: ou ia à janela mandá-los calar ou ligava para a GNR que já os conhece tão bem e já os proibiu de estarem ali a beber e a fazer barulho

Respirei fundo. Tentei abstrair-me do ruído lá de fora. Fui para a sala. Pedi à minha mãe para tirar a telenovela que ela pode sempre ver amanhã novamente. E ao mesmo tempo que cada vez me sentia mais incomodada com o ruído, dei por mim não a sentir-me enjoada mas sim com uma vontade enorme de vomitar… E dei por mim também a não me reconhecer por momentos. Muito confusa. Muito baralhada. Muito intolerante. Muito tão não eu

Acedi a tomar medicação para fazer baixar todos estes níveis de coisas impossíveis de suportar. Jantei com calma, levei o tempo que precisei para comer. Fui começando a relaxar. Mas a cabeça sempre confusa e baralhada

Depois do jantar é sempre o meu momento para beber o meu descafeinado novamente no cadeirão. E percebi que já não havia barulho na rua…

Perdi-me algures no tempo que já estou aqui. Só sei que queria ir dormir cedo. Precisava de ir dormir cedo. Amanhã é dia de vacinação gripe+COVID e tenho que estar cedo no Centro de Saúde. Tenho que acordar cedo para tomar banho com calma. Tomar o pequeno almoço com calma. Sair de casa a horas do autocarro. Mas tem que ser tudo com calma. Já não consigo fazer as coisas de outra forma. Já sei que quando é tudo a correr, acaba por correr mal…

Entretanto, já a noite passou a madrugada. O efeito do comprimido começa a apertar. E eu ainda estou no cadeirão…mas não posso! Por isso, acho que o dia termina aqui. Mais calma, mais ou menos tolerante, não sei se ainda confusa e baralhada, mas sem pressa de nadaE nada disto é bom.

{#351.016.2024}

Cinco horas na rua. Atravessar o parque. Ir ver o Mar mesmo depois do Sol se pôr. Respirar aquele ar perfumados pela maresia.

6.958 passos que se traduzem em 4,66km.

Mas uma manhã plena. À distância de um clique, ele. E eu. Nós.

E adormecer com um sorriso no rosto só porque sim.

{#350.017.2024}

Perderam-se por aí, nos últimos 19 dias, 1450 gramas. Pede-se a quem os encontrar o favor de NÃO mos devolver. Não me fazem falta e muito menos me dão jeito. Não sei onde é que os larguei, deixei-os algures por aí, mas não me apetece nada reencontrá-los. E a nutricionista, assim como eu!, bateu palminhas de contente!

Eu sei que um dos efeitos secundários da infusão que fiz no final de Setembro e repeti no início de Outubro, Ocrevus, é ganhar peso. E a verdade é que sim!, ganhei um bocadinho. Mais do que gostaria mesmo sendo menos do que esperava. Agora é voltar à trajectória certa, que até há uns meses estava no caminho certo e depois inverteu mesmo antes da medicação sabe-se lá pela alma de quem!

Mas ir à balança hoje valeu a pena. A desgraçada da balança que até costuma dar-me mais 1 cm de altura, hoje roubou-me esse centímetro extra e ainda levou mais um de bónus. Mas aí é caso para dizer “está bom, não mexe mais!” Já o peso…ela costuma rir-se de mim, faz piadas do género “toma lá mais 1 cm oferta da casa e, como extra, ainda levas uns kilos a mais!” E ri-se, a desgraçada! Mas hoje fui eu quem ficou a rir! Menos 1450 gramas é o mesmo que dizer menos 1 quilo e 450 gramas. Ou seja, quase 1 kilo e meio! Em 19 dias. Sem dietas parvas. Sem esforço em demasia. Sem nada. É só o meu corpo a adaptar-se à medicação e saber o que e quando comer.

Claro que ficámos contentes, a nutricionista e eu. E ainda a informei que sou adepta do jejum intermitente. Pratico-o todos os dias! E, tem dias, chego a fazer jejum de 12 horas (ou mais…). O meu jejum intermitente vai desde o momento em que vou para a cama até quando acordo e tomo o pequeno almoço! Pumba! Vai buscar!

Percebi pelo ar dela quando lhe falei do jejum intermitente que não é lá grande fã, mas quando lhe expliquei o meu, riu-se e disse que assim podia ser! Portanto, vou continuar a fazer o MEU jejum intermitente. E se continuar a perder gramas por aí, por favor não mos devolvam!

Desde já agradeço a não devolução dos 1450 gramas perdidos algures por aí. Agora vou só ali comer um quadradinho de chocolate preto. A nutricionista deixa! Eu é que nestes 19 dias perdi 1450 gramas mas não deixei o chocolate!

{#349.018.2024}

A esplanada como eu gosto dela: vazia e sossegada. Coisa que só é possível, claro, no Inverno. São 18h41m. No Verão, a esta hora, seria o caos e um barulho infernal. Mas no Inverno, e a pouco tempo de fechar por hoje, é dos meus sítios preferidos para simplesmente estar.

Trago sempre um caderno e uma esferográfica comigo. E já aqui passei algum tempo a escrever. Mas isso ainda foi no tempo em que conseguia vir sozinha. E hoje a vontade era ter passado aqui a tarde a escrever, mas não vim sozinha, claro. E não vir sozinha significa distracções, interrupções e quebras na escrita.

Tenho uma carta (muito) especial para escrever. Pediram-me para escrever uma carta de amor. E, tenho a certeza, será uma carta ridícula. Porque diz Fernando Pessoa, no heterónimo Álvaro de Campos e com razão, “Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas.

De pedido passou a projecto. Mas, se não me engano, esse desafio de projecto já fez, ou está a fazer!, um ano. E a carta ainda não foi escrita. Pelo menos não em papel, porque na minha cabeça não pára de crescer. Mas ainda não inventaram nada para passar as ideias directamente da cabeça para o papel!


Mas não, o desafio não foi esquecido. É, até, impossível de esquecer quando todos os dias escrevemos a dois novas páginas nesta carta de amor ainda não materializada.

Um dia destes encho-me de coragem para vir até aqui sozinha. Só eu e a minha bengala para percorrer o caminho de casa até aqui. E, como sempre, trarei o caderno e a esferográfica. E começo a materializar o que vai na minha cabeça para preencher este desafio que me foi proposto por ele para lhe escrever uma carta de amor. Que, já sabemos, será ridícula. Ou não fosse uma carta de amor.

{#348.019.2024}

Sábado de manhã, jantar se sabe, é dia de Yoga. E hoje, por termos almoço de Natal do grupo, a aula começou mais tarde 30 minutos e entretanto perdi a conta ao tempo de duração, só sei que foi mais longa do que o habitual para terminar mais perto da hora do nosso almoço.

A aula foi daquelas intensas. E, para mim, desafiante. Porque houve muitas asanas onde o equilíbrio era o ponto principal. Bem, o equilíbrio está sempre presente, é verdade, mas há posturas que eu simplesmente não tenho conseguido alcançar. Mas hoje…hoje saí da aula muito contente e muito orgulhosa de mim própria por ter conseguido alcançar todas as posturas que se têm revelado mais exigentes para mim. E sempre que o professor Pedro demonstrava uma nova variação de algum asana já conhecido mas que, desta vez, exigia mais equilíbrio, eu torcia o nariz primeiro, para depois tentar e terminar com um sorriso por conseguir!

É verdade que o ter conseguido hoje não significa necessariamente que o vá conseguir novamente já na próxima aula. Mas significa que, se eu não insistir em tentar, a probabilidade de falhar sempre é muito maior. Por isso é que em cada aula, quando não consigo à primeira, tento novamente as vezes que forem precisas.

Desde o primeiro dia, da primeira aula!, que digo “hoje posso não conseguir, mas vou continuar a tentar até chegar lá”. E os resultados são visíveis nas aulas. E sei que, de alguma forma, também me ajudam no Mundo cá fora.

E o que me também me ajuda, de uma forma tão diferente, é aquele grupo. Não somos demasiadas alunas, é verdade. Hoje, ao almoço, a contar com o professor Pedro éramos 7 pessoas. Para mim, o número certo, o número mágico. Mas é neste grupo, que tem o tamanho certo, que me sinto acolhida independentemente das minhas limitações e dificuldades que ainda não eram tão reais, tão físicas, tão perceptíveis até para mim!, quando lá cheguei em Maio de 2023.

Ali sinto-me bem. Sinto que pertenço a alguma coisa. Ou que, simplesmente, pertenço! Faço parte! Ali estou bem. E não!, desistir do Yoga e deste grupo não está nas minhas opções!

Sei que o professor Pedro está à procura de outro local, com melhores condições apesar da sala onde estamos ser uma sala muito boa, por ser grande e ter muita luz natural por toda ela estar rodeada de janelas. E sei que já tem visto alguns espaços, mas ainda não encontrou o sítio certo dentro da vila. Tem em vista outro espaço mais longe, já fora da vila, que ainda não visitou para conhecer ao vivo as condições. Mas já me disse que para mim é capaz de ficar longe… Não quero saber! Havendo autocarro até lá, é lá que vou continuar! Sei que existem outros espaços por aqui dedicados ao Yoga. Mas não é a mesma coisa…não é o mesmo professor e não é o mesmo grupo! E é com eles todos que faço questão de continuar. Ganharam, todos eles, um lugar especial cá dentro. Por causa do papel que têm tido nos meus dias desde que começou esta minha nova realidade. E agora não estou a falar de Yoga.

O almoço foi o que já se esperava: muito divertido. Só tive pena de não ir até ao paredão ver o Mar, que estava já ali, era só atravessar a estrada. Mas a minha boleia estava com alguma pressa, por isso nem fiz questão de dizer nada, claro. Mas o dia estava bonito, não estava vento, não estava tanto frio como ontem. Ao mesmo tempo, eu estava, como sempre, muito cansada. Adormecer tarde e acordar cedo não me faz bem nenhum nem me ajuda em nada. Por isso, claro que vim para casa. E, depois de mudar de roupa e fumar um cigarro, só tive tempo de aquecer as almofadas térmicas, agarrar na manta e enroscar no sofá.

Passava pouco das 16h quando me enrosquei. Ainda tentei trocar algumas palavras com ele, mas apaguei de imediato. Para acordar às 9h da noite, convencida que eram 9h da manhã e que, de alguma forma, tinha passado por cima do Domingo sem dar por ele e as 9h eram já da manhã de segunda feira.

Foi estranho acordar assim tão confusa…e sem me lembrar que, até à meia noite, ele estava de serviço e à distância de um clique! E só eu sei o quanto me soube bem poder estar com ele até àquela hora. Ter um bocadinho de nós.

Agora, a esta hora tardia em que a noite já passou a madrugada, é hora de ir enroscar e aninhar na nossa conchinha de bichinho de conta que só nós entendemos. Mas que, à nossa maneira, é tão real. Tão física ao ponto de o sentir ao meu lado todas as noites.

Mas descansar é preciso! Posso ter dormido um número absurdo de horas esta tarde, mas tenho muito sono. E amanhã não tenho horário para acordar. Por isso, vou ali enroscar e aninhar naquele abraço quentinho e protector dele e, amanhã, quando acordar…acordei!

{#347.020.2024}

Não, hoje não me apetece escrever. Não sobre nada em concreto. Mas, ao mesmo tempo tenho tantos assuntos, tantas questões, tantas dúvidas a darem-me vários e complexos nós no cérebro que nem saberia por onde começar. Além de que, já sei, iria precisar de muito tempo para falar sobre cada um dos pontos que me estão a dar complexos nós no cérebro, tempo que esta noite, que mais uma vez roça a madrugada, não tenho disponível. Amanhã há Yoga cedo. E eu preciso de descansar e dormir.

Quem sabe se amanhã não páro para tentar desatar cada um dos nós…

Mas, antes disso, vou aproveitar bem a aula de Yoga e o almoço do grupo logo a seguir. É um grupo onde me sinto bem, onde sinto que faço parte e é tão raro sentir isso que o melhor mesmo é saborear. Com um bocadinho de sorte, e se não chover!, ainda vamos ver o Mar logo ali do outro lado da estrada.

Não interessa. Vou estar com boa gente, num bom ambiente. E isso está a fazer-me tanta falta!

{#346.021.2024}

Dia de acordar cedo à espera de uma Teleconsulta que, quando aconteceu, nem foi comigo que falaram, foi com a minha mãe. Mas como era só mesmo para dizer que as análises só acusavam uma muito ligeira alteração da função hepática e que já há data para as análises de Janeiro, está tudo bem. Lembro-me que na última consulta já existia uma coisa muito ligeira, que por sua vez já estava melhor do que nas análises anteriores, por isso quero acreditar que estas ultimas estejam melhores que as anteriores. E, quando chegar Fevereiro e terminar o tratamento, vou querer saber o que fazer se a alteração se mantiver, por muito ligeira que seja.

De resto, o ponto alto do dia chegou depois da consulta. Novas tatuagens na memória. Cada vez mais ousadas. Cada vez mais tresloucadas. Cadastro vez mais…mais!

Foi escusado, à tarde, aninhar e enroscar no sofá…quando finalmente consegui aconchegar um bocadinho, o despertador tocou. Estava na hora de me preparar para o Yoga. E hoje não foi fácil participar na aula. O joelho esquerdo, do qual ando há meses a queixar-me e a sentir a evolução negativa das queixas, hoje está particularmente mal. Muitas dores, seja a dobrar ou a esticar a perna. E muitas posturas, por muito básicas que sejam, não foram alcançadas… É urgente marcar uma ecografia aos ligamentos, perceber o que se passa, iniciar tratamento e recuperação. Porque como está e a piorar rapidamente não pode ser…

E dou por mim a escrever coisas sem interesse. Nem para mim. Mas, acredito, hoje deve-se não sono. Nos outros dias? Não sei. Ou até sei, só não quero falar sobre isso…

Dar o dia por terminado enquanto ainda não é muito tarde. Enroscar e aninhar. Sozinha? Acompanhada à nossa maneira? Não sei. Também não quero pensar nisso agora. Já sei que, com muito sono como tenho agora, não vou pensar em nada de muito bom. Por isso, o melhor é mesmo ir descansar. O corpo e a mente. Amanhã? Logo se vê. Ainda cima sendo sexta feira 13…