Monthly Archives: August 2024

{#243.124.2024}

Ainda funciona, todos os dias úteis, com recolha sempre às 10h30 em ponto a única caixa de correio que substitui os velhinhos (e lindos!) marcos do correio aqui do bairro. Todos os dias a vejo, quando olho para ela, oiço-a a dizer-me “estou à espera que envies mais dos teus postais!”. E eu sei que ela tem razão. Eu é que não estou lá grande coisa para escrever e enviar coisas bonitas para ninguém. Mas sei que ela tem razão…e eu tenho que me reencontrar por aí algures para voltar a fazer coisas bonitas. Como enviar postais.

Hoje o dia não é dos melhores. A manhã começou com uma fantástica aula de Yoga que me afastou da (minha) realidade durante 2 horas. E foi também de manhã que percebi que ainda há pessoas que não conhecemos com o coração do lado certo. Como o condutor do Uber que me levou de manhã até ao Yoga e que, quando chegámos, se prontificou a sair do carro para me ajudar a sair com as mil tralhas que levava comigo. Agradeci, sorri e disse-lhe “não é preciso, eu consigo”.
E, no caminho de regresso a casa, depois da meia boleia, quando atravessei a avenida nos semáforos, a custo, onde ainda me apoiei no pilar antes de avançar para a segunda metade que faltava atravessar, ouvir uma voz “precisa de ajuda para atravessar?”. Era o motorista do autocarro que estava parado no sinal, pronto a sair do autocarro para me ajudar com um sorriso no rosto. Sorri de volta, agradeci e disse que não era preciso só para, logo de seguida, avançar ainda com o sinal verde para mim.

Estas coisas parecem pequeninas. Mas não são. São enormes. Eu insisto em fazer o máximo de coisas possíveis sem ter ajuda. É, claro, uma parte de orgulho a responder por mim e outra parte a não querer desistir de mim.

Mas, às duas pessoas que me aconchegaram esta manhã, só posso mesmo sorrir de volta e dizer “obrigada!”.

E não, o resto do dia não foi fácil e às 22h50 continuava a não ser…

Agora, já de volta a casa, o último sítio onde quero estar, e já depois da meia noite continua a não ser fácil. A cabeça num turbilhão de pensamentos menos bons, vozes que não se calam e ainda se riem de mim e do (mau) estado em que estou e que eu não consigo calar. Já cá as tive antes e foi preciso muito trabalho e muito tempo para as silenciar com a ajuda fundamental do terapeuta fofinho. Agora já não há a presença semanal do terapeuta fofinho. Há um novo psicólogo que vi uma vez há já largas semanas e que voltarei a ver na próxima semana. Tive oportunidade de, na altura, lhe dizer, que tinha muita coisa para trabalhar com ele. Riu-se na altura. Mas nem ele imagina o que trago comigo e que preciso de ajuda para aguentar, arrumar, ultrapassar, resolver, o que lhe quiserem chamar. Mas que, numa só palavra, posso dizer que é para resolver.

Já sei, tenho que serenar, acalmar a cabeça, bater com o pé no chão, afastar de mim todos estes pensamentos menos bons. Mas é fácil? Não. Não é. Porque esses pensamentos reflectem a minha realidade actual. Aquilo que me apanhou na curva e já me trouxe tanta coisa menos boa e em tão pouco tempo. E eu não sei lidar com isto! Não sei o que sentir. Não sei o que esperar. Mas sei que todos os dias são um bocadinho piores que o dia anterior. Seja nas dores, seja na falta de equilíbrio. E hoje foi dia de comunicar à minha mãe o que tenho tentado não comunicar a mim mesma: já uso bengala de apoio à esquerda, é verdade, mas começo a sentir cada vez mais necessidade de ter, em simultâneo, outra bengala de apoio à direita. Porque não dá mais para fingir que não tenho dificuldade em caminhar só com um apoio. E eu não quero nada disto! Mas esta é a minha realidade, que teimo em não querer aceitar!

Por isso, sim!, o novo psicólogo vai ter algum trabalho comigo. E não pode ser uma consulta a cada dois meses. Porque, se for assim, eu não vou conseguir aguentar…

Eu sei que sou muito mais do que isto. Mas está tão difícil de conseguir ser esse tal “muito mais”…

A pergunta que mais repeti esta noite à minha mãe foi “o que é que eu faço à minha vida?”. Ela, claro, não me soube responder. E eu também não…

{#242.125.2024}

De manhã, uma passagem (muito longa) pelo Hospital Garcia de Orta. À tarde, a chamada visita de médico, de tão rápida que foi, ao Hospital de Santa Maria.

A questão da manhã continua a ser seguida no Garcia de Orta. A questão da tarde vem na sequência da pequena cirurgia dermatológica realizada no final do ano passado. O material recolhido foi para análise e já houve consulta marcada para Fevereiro para saber o resultado. Mas, entretanto, o médico responsável foi-se embora de Santa Maria. Reagendamento para hoje, seis meses depois da primeira marcação.

Resultado ao material recolhido? Deu positivo para tumor, sim. MAS tumor NÃO maligno e até bastante comum que surge tantas vezes num simples folículo piloso. Palavra do médico para definir o tumor? Insignificante. Toda a zona adjacente foi retirada com sucesso, portanto não há perigo de coisa nenhuma.

O que é que importa reter daqui? Isto: depois de tanta pancada e tantas rasteiras da vida nos últimos meses, finalmente uma boa notícia!

No autocarro de regresso a casa lá estava ele. SEMPRE de braços abertos para quem chega à Margem Cool, a margem certa. E, ao fim de tantos anos, percebi hoje porque é que gosto tanto de o encontrar assim à chegada à Margem Cool: sinto-me acolhida. Bem recebida. E com um abraço à minha espera. Claro que, abraços na Margem Cool são raros de acontecer. Mas acontecem. Nem que eu tenha que pedir ao fim da noite, à porta do meu prédio, dentro do carro ao P de Presença. Mas, sem ter que pedir, nas últimas semanas começaram a acontecer no fim da aula de Yoga, depois de terminado o relaxamento, quando a aula é dada por terminada. Mas, aí, sou eu que me abraço a mim mesma. Num abraço de conforto. E que, aprendi, me sabe sempre tão bem. E sim, vou continuar a terminar as minhas aulas de Yoga assim: a abraçar-me a mim mesma. Porque me faltam os abraços. E eu tenho sempre dois braços disponíveis para um abraço. Tenho-me é esquecido de mim mesma. Como sempre. Como em tudo. E não posso continuar a esquecer-me de mim…

{#241.126.2024}

O dia, apesar de parcialmente ocupado, felizmente foi mais tranquilo. Mais alguns episódios da novela dos últimos dias, mas nada que não fosse suportável ou demasiado stressante.

Mas foi um dia que me obrigou a dar uso às pernas. 2,140km não é nada, eu sei. Mas as minhas pernas estão no seu direito de discordar. Por causa das dores. E, por falar em dores, não falemos do meu joelho esquerdo que, nos últimos meses tem dado sinais de não estar a 100%. E hoje foi dia de ir buscar o resultado da TAC aos joelhos. E o diagnóstico, que para mim é grego, é uma Entesopatia. Seja lá isso o que for…

Mas isto tudo para dizer: eu sempre soube que era tesa! Daquelas sem um tostão. Nem sequer um tostão furado! Não era preciso gastar dinheiro ao Estado para fazer uma TAC aos joelhos para confirmar! Bastava mostrar o saldo bancário, ou não?!

Eu juro que, se não brincar com estas coisas, acabo por enlouquecer, e hoje, apesar das dores nas pernas e no joelho, só o nome me dá para rir e fazer piadas! O relatório sugere Ressonância Magnética. Está bem. Só que não… Vou pedir à médica de família encaminhamento para Ortopedia, claro. E, no Hospital, se quiserem avançar com a Ressonância Magnética, não me vou opôr, claro. Porque de outra forma não é possível.

É só mais uma queixa para juntar às outras todas. Como aquelas dores horríveis que tenho nas virilhas e que não faço ideia de onde vêm nem porque as tenho. Mas a vontade que dá é trocar algumas peças por outras novas. Infelizmente, não é possível. Por isso, façam-se exames atrás de exames e encaminhe-se para especialidade. E, acontecendo o encaminhamento hospitalar, é desta que eu peço o Cartão de Paciente Frequente com visitas convertíveis em cafés. Não peço muito, na verdade. Mas se o meu objectivo agora é tratar de mim, mesmo já vindo um pouco atrasada, encaminhe-se, examine-se e trate-se.

Eu sei, a idade não perdoa. Mas escusava era de me cair tudo em cima ao mesmo tempo. Afinal, eu sou só UMA! E já me bastava esta coisa que me apanhou na curva e que eu ainda não consegui aceitar.

Mas seja. Amanhã é dia de acordar cedo, de manhã um Hospital, de tarde outro. Vai ser um dia muito longo e cansativo, um verdadeiro desafio de resistência para as minhas pernas. E para o meu joelho. E para a minha cabeça. E para a minha paciência. Mas bora lá! É só mais um dia e, desta vez, não vai ser um dia igual aos outros.

O que me tem safado, ou seja, me tem ajudado a manter um mínimo de sanidade mental, ainda é o Yoga. E é também aí que vou descobrindo que há coisas que me doem em posturas básicas e não deviam doer. Mas, sim, é o que me faz aguentar o resto. E cada vez mais sinto ali uma espécie de rede de apoio. E isso não só é bom e sabe bem como é muito importante. E já sei que, naquele grupo, estou perfeitamente integrada, com bengala ou sem ela. Desde o professor Pedro às minhas colegas, estão lá todos para me ajudar. Não existe relação fora do Yoga, é verdade. Mas naquele período sei que posso contar com a ajuda de todos.

Agora já passa largamente da meia noite e o despertador amanhã toca muito cedo. E hoje podia continuar para aqui a divagar e conseguir a proeza de não dizer nada de jeito. Mas não posso. Estou cansada. E o dia amanhã promete ser duro para além de longo. Por isso, que se dê o dia por terminado. Amanhã? É devagar, devagarinho, mas chegar a horas às consultas é muito importante. Por isso, cama! Já! O resto? Logo se vê.

{#240.127.2024}

É impressionante como é que, depois de tantos anos com consultas semanais com o terapeuta fofinho em que todos os (meus) temas foram abordados, de repente, e em simples trocas de mensagens com quem me permite desabafar e descarregar o que trago cá dentro, as fichas me estão todas a cair.

Na semana passada foi sobre o meu pai, tema que durante anos não consegui entender, aceitar, processar. Depois sobre os meus irmãos e as relações que não existem com nenhum dos três e que, já percebi, dificilmente serão recuperáveis.

Hoje? Foi sobre a minha mãe e a dificuldade que tem em dar-me aquilo que, neste momento, mais preciso. O apoio da minha mãe, desde sempre e em tudo, sempre foi incansável e incondicional. Mas, neste momento em que ainda estou a tentar aceitar o que me apanhou na curva, e apesar de nunca me falhar ou faltar, percebo que não há, há muito tempo, o que mais falta me está a fazer agora: o apoio emocional. Que preciso tanto nem que seja para poder dizer que já sei que sexta feira me vai ser um dia duro com duas consultas hospitalares em hospitais distintos que me vão obrigar a caminhar demasiado e as dores vão fazer-se presentes em força. Poder dizer isto sem ser imediatamente criticada por ser “tão negativa”, por só “pensar no lado mau”, por me queixar, no fundo.

Não duvido que também ela tenha sido apanhada de surpresa, claro que foi. E também não é fácil para ela lidar com o que se passa comigo de forma neuro-degenerativa e progressiva e que assusta qualquer um. Ela também não saberá como lidar com isto. Mas eu também não! E esta seria a altura certa de ambas aprendermos! Mas, para isso, preciso muito do tal apoio explícito que me está a faltar: o apoio emocional.

E, de repente, percebo porque é que, tendo tanta gente à minha volta com palavras de apoio e mãos estendidas prontas para não me deixarem cair, me sinto sempre tão sozinha. Porque sinto a falta do mais importante: o apoio emocional da minha mãe

Eu sei que, para ela, exprimir emoções é difícil. Guarda tudo para dentro. E não pode! Não lhe faz bem nenhum! Não faz a ninguém… E sei, também, que não é agora que ela vai mudar. Faz parte da maneira de ser dela. Da maneira de sentir dela. E eu sou completamente o oposto… Não existe um ponto de equilíbrio entre nós. E era tão importante que existisse.

Eu preciso da minha mãe agora mais do que nunca. Não só para ir aqui ou ali. Eu preciso do apoio emocional da minha mãe. E esse está-me a faltar…

{#239.128.2024}

Das coisas que tenho aprendido (à força!) nos últimos meses: quando o teu corpo diz que é para parar, tu páras! Mesmo que tenhas acordado tarde, mesmo que o simples tomar banho te tenha deixado cansada, mesmo que só tenhas ido “já ali” à rua beber café na esplanada do costume a 100 metros de casa e te tenha levado o resto de energia que ainda tinhas. Ou seja, mesmo que não tenhas feito absolutamente NADA e só tenhas andado 200 metros para ir ao café e voltar para casa, se o teu corpo diz “PÁRA!” tu ouves e obedeces.

Portanto, sofá! E em menos de nada tinha a certeza que estaria a dormir. Porquê? Porque quem manda é o meu corpo e a mim só me resta obedecer-lhe…

Dizem que “faz parte” disto que me apanhou na curva. E que o stress dos últimos dias não ajudou em nada. Por isso, é tempo de pensar em mim, tratar de mim, ouvir o meu corpo e obedecer-lhe.

Se eu queria os meus dias reduzidos a isto? Não! Não queria mesmo! Mas é o que se pode arranjar. Agora é ir aprendendo um dia de cada vez, mesmo que cada dia seja sempre diferente do anterior e esta coisa não seja linear, simples e/ou previsível…

E acabaram por ser, novamente, três horas completamente apagada no sofá. Para acordar ainda cansada e com sono. Ainda não são 23h30 mas, ao contrário das outras noites, é a caminho da cama que vou agora.

A noite passada foi mais uma daquelas, uma já de muitas, de adormecer com o telemóvel na mão e Spotify a bombar a noite toda. E não pode continuar a ser…por isso, cama já!

Amanhã? Logo se vê como será. Mas se o dia for tranquilo como foi hoje, sem telemóvel a tocar para mais um episódio da novela actual, já será um dia muito.

{#238.129.2024}

Ontem à noite, numa inesperada conversa de raparigas com desabafos de ambas as partes, quando falei do que me apanhou na curva e do que preciso de fazer para recuperar o recuperável e manter o que ainda vou tendo, do outro lado disseram-me (e com muita razão!) “a Catarina está a precisar de um abanão!”. Estou, eu sei. Não tenho dúvidas nenhumas disso. O que eu não estava a contar era que esse abanão chegasse às 5h11m da madrugada com uma magnitude de 5.3 na escala de Richter!

Foi um senhor tremor de Terra! Daquelas coisas que eu mais pavor tenho! Que me acordou sobressaltada, assustada e que me levou a ter a única reacção que poderia ter: chamar pela minha mãe! A minha mãe que estava à janela, na varanda, com tantos outros vizinhos e todos a tentar entender que som horrível foi aquele que os acordou.

A minha mãe não sentiu nada a abanar ou a tremer, mas ouviu o som da Terra em actividade e que, quem já ouviu, diz ser horrível e verdadeiramente assustador.

Três horas depois do susto, sem sinais de réplicas nem alerta de Tsunami apesar da proximidade do Mar, voltei a dormir. Não sem antes pintar o pior cenário na minha cabeça e concluir: eu não tenho como sair daqui num estado de urgência…não tenho como nem consigo!

Acordei poucas horas depois para confirmar o que já sabia: ao fim de semana nada mexe, nada acontece, nada funciona. Mas, logo após o almoço começou o telemóvel a tocar: agência funerária a informar que já havia autorização do Ministério Público para a cremação desejada, a advogada do meu pai de férias na Suécia e que só regressa a Portugal amanhã à tarde a querer saber o que se passou e a informar-nos do que nem suspeitávamos, os advogados da Associação que, por sua iniciativa e conta, vão avançar com o processo crime que é mais do que correcto neste caso.

Era preciso e urgente enviar um email. Um simples email. Mas com recibo de leitura. Que o Gmail não tem… Um pedido de ajuda online, uma resposta concreta e, três horas depois, conseguimos enviar o email. Agora, mais uma vez, é esperar. E eu só quero que este filme termine. Rapidamente! Vi o estado da minha mãe no fim de semana. O estado físico de um corpo de 72 anos que gritou para parar a bem. Porque, caso contrário, não duvido que o corpo acabaria por ceder e parar à força. O desgaste psicológico foi muito forte durante toda a semana e reflectiu-se, claro, no corpo físico.

Descansou bastante no Sábado e no Domingo, recuperou. Mas hoje, segunda feira, depois de dois dias em que nada mexe, nada acontece, nada funciona, recomeçou a pressão…e eu, claro, tenho medo por ela.

Foi um dia de tal forma estranho que só agora, largamente depois das 23h, consigo ter um bocadinho de tempo SÓ para mim. Aquele meu momento de esplanada para desligar e mudar o chip na esplanada do costume só está a acontecer agora… E, mais uma vez, a minha vontade é a de ter um colo e um abraço e conseguir chorar.

Hoje nem para ele consegui ter tempo. Hoje nem para nós consegui ter tempo. E o que eu precisava TANTO dele agora. O que eu precisava TANTO de nós agora…

Dia tão confuso que demorou a passar e que passou tão depressa! Não gosto de dias assim. Mas também não gosto de telenovelas e menos ainda de filmes de terror surreal sem data prevista para terminar…

Só quero fechar um capítulo. Fechar a porta e deitar a chave fora de uma vez. Está difícil de acontecer. Mas, quando finalmente acontecer, só peço tempo e espaço para mim e para a minha mãe. Especialmente para ela. Para respirar. Para descansar. Para recuperar.

Agora é hora de desistir da esplanada do costume e voltar para casa. Vim sozinha. Volto sozinha. E aposto que, quando entrar em casa, a minha mãe já terá adormecido. Portanto continuarei sozinha até acordar novamente amanhã, seja a que horas for. Só não quero ser novamente acordada à força de abanões, sejam eles de que magnitude forem…

{#237.130.2024}

Hoje convidei a minha mãe para almoçar fora. E, coisa rara!, ela aceitou!

Estamos, as duas!, a precisar de sair de casa, apanhar um bocadinho de ar, desligar do filme dos últimos dias onde fomos enfiadas e ainda não tem data para terminar. Eu chamo-lhe filme de terror surreal de muito longa metragem e com várias sequelas cinematográficas. A minha mãe chama-lhe telenovela da TVI com 500 mil temporadas que, quando achamos que uma acabou, de imediato começa a temporada seguinte. E enrola. E enrola. E enrola… Já lhe perguntei se é nesta temporada da telenovela que aparece a terceira gémea! Ainda não me respondeu. Nem ela sabe, já, o que esperar disto tudo. Mas acredito que já nós as duas esperamos por qualquer coisa, sem saber o quê. Mas QUALQUER COISA mais.

Precisávamos as duas de sair de casa. Por minha vontade, até podíamos ir dar uma volta ao paredão e ver o Mar. Afinal, já estamos no parque e o Mar está “já ali“. Mas esse “já ali“, para mim, não dá. De casa até ao parque foram 400 metros feitos a MUITO custo, com muitas dores e muito pouco equilíbrio, até menos do que já é habitual. Por isso, vou continuar com vontade e saudades de ver o Mar. O importante, agora, é aproveitar o tempo com a minha mãe fora de casa e numa pausa do filme de terror surreal de muito longa metragem.

O café depois do almoço era para ser em frente ao parque. Foi “” caminhar até à passadeira, atravessar a estrada e chegar à esplanada, toda ela coberta de árvores. Fresca e ainda longe da hora de ponta do atendimento.

Enquanto eu me fui sentar num local fresco da esplanada, a minha mãe foi tratar de ir pedir o café. Não foi preciso esperar muito tempo para a minha mãe regressar. E o café? “Há um problema com a máquina. Não há café.”

Respirei fundo ao lembrar-me do caminho de regresso a casa: pouco mais de 400 metros totalmente ao Sol. O chapéu estava na cabeça, tudo bem, o problema não estava aí… Tenho café em casa, também não era esse o problema. O problema eram as muitas dores nas pernas por causa do calor e os pouco mais de 400 metros à torreira do Sol até casa! Que, de facto, foram feitos! À estonteante velocidade de fazer pouco mais de 400 metros em meia hora! Não me apetece fazer contas para saber a velocidade exacta a que vim, mas vim o mais depressa que esta coisa que me apanhou na curva me permite! Por isso, sim!, a coisa ESTÁ assim tão má! E eu estou farta disto! E de saber que, apesar de ter tratamento, não tem cura e eu CONTINUO À ESPERA da medicação que, no dia 10 de Julho, me foi prometida (garantida?) para “muito em breve”. Percebi já que não sei qual é, de facto, a noção de brevidade do médico, mas Agosto está a chegar ao fim e, para mim, o “muito em breve” já passou há muito tempo.

Estou zangada! Revoltada, comigo mesma, com isto que me apanhou na curva e com a falta de tratamento garantido pelo médico que só preciso de saber para quando! Por mim, era para ontem!

Já percebi que o calor é o meu pior inimigo no momento. Que me faz ter demasiadas dores que comprimido nenhum resolve. Que caminhar é uma aventura. E que o equilíbrio é um bem escasso. Por isso, deixem-me vomitar no éter aquelas palavras que, cá em casa, se recusam a ouvir!

Se “isto” se vê? Não. Se é contagioso? Não! Letal? Hell no! Só acontece aos mais velhos? É que nem de longe nem de perto! “Isto” apanhou-me a mim. Na curva. Sem eu prever nada ou, sequer, estar preparada! Coisa que nunca ninguém está… Mas, em menos de um ano!, já fez estragos suficientes. E eu estou cansada. E farta. “Disto“!…

{#236.131.2024}

Diz quem viu que eu, hoje, tenho olhos chorosos mesmo que não chorem. E é verdade, as lágrimas continuam a insistir em não cair. Apesar do peso de todas as fichas que me têm caído nos últimos dias. E hoje caiu-me mais uma: não é a ausência de quem morreu que me entristece. É a ausência de quem está vivo e não quer saber. E essa tristeza dói. Muito.

Vim à esplanada do costume às 20h, voltei para casa pouco depois das 21h. A minha mãe, exausta do peso da última semana, adormeceu. E eu quero MUITO que ela durma até amanhã à hora que for.

Voltei às 22h para a esplanada. Vim sozinha. Hei de voltar sozinha para casa. E vou estar sozinha na esplanada do costume. Como estou sempre. Como estou todos os dias. Como NÃO devia estar AGORA.
Porque os olhos chorosos podem não conseguir verter as lágrimas. Mas, por dentro, é a chorar que estou. E, como sempre, sozinha.

Não, não é a ausência de quem morreu que me entristece ou dói. É a ausência de quem está vivo e não quer saber que me dói. Demais…

{#235.132.2024}

Tenho (tantas) saudades dos meus dois (meio-)irmãos mais novos…e só hoje me caiu a ficha de que os perdi. A vida fez o favor de nos afastar. E os problemas que o meu/nosso pai criou, e que prejudicou tanta gente, incluindo eu e um deles, veio cortar a ligação (ténue pela distância geográfica mas forte pela ligação desde o primeiro momento) que existia.

Se há alguém que não teve culpa de nada, fomos nós, os filhos. Os 4 filhos. Todos eles (muito) prejudicados por quem nos devia ter protegido. E foi preciso o meu/nosso pai morrer para me pôr a mexer no sentido de os informar e, de alguma forma, saber deles e recuperar o tempo perdido que a distância ditou. Sei que, sem dúvida, também eu me devia ter mexido mais cedo. Mas a vida acontece todos os dias e acabamos por ir deixando coisas para trás. E, de facto, nesse ponto é verdade que tenho alguma culpa da distância. Mas agora quero muito encurtar essa distância, quero recuperar o tempo perdido, quero conhecer quem eles são aos 21 e aos 38 anos.

Já sei que um deles, aos 38 anos, não quer sequer ficar com o meu contacto. Não quer qualquer aproximação. Cortou-me da sua vida da mesma forma que eu cortei o meu/nosso pai da minha. Aquele bebé que me surgiu de surpresa uns dias antes de eu ter 9 anos e por quem me apaixonei de imediato. Que fui vendo crescer. Que me ensinou a mexer no ICQ e no MIrc por telefone e que passou a fazer parte dos meus contactos online durante algum tempo. A quem apareci, de surpresa e a convite da mãe dele, na festa dos 18 anos. Que tantas vezes e tanta gente nos tomou por gémeos apesar dos 9 anos de diferença, principalmente na sua fase de cabelo comprido.

Que me apresentou, de forma completamente inesperada, o meu/nosso irmão há 21 anos atrás. Irmão esse com quem consegui falar para comunicar o que já sabia. Que me pareceu ter recebido bem o meu telefonema, mas que não posso garantir que assim tenha sido. A quem disse para guardar o meu contacto e que não faço ideia se o terá feito ou não. Que o deixei à vontade para ligar quando e SE quiser. Mas que eu duvido que ligue.

A perda do meu pai eu já tinha assumido há muito tempo. Mas a perda dos meus irmãos nunca me tinha ocorrido…até que, mais uma vez, a realidade fez o seu trabalho. E só hoje, ao partilhar toda esta história com ele, me caiu a ficha dos 38 anos e levantei a dúvida dos 21. E foi nesse momento, nesse momento, que percebi as saudades que sinto de ambos. E, percebo agora enquanto escrevo, que existia uma barreira entre nós, que de alguma forma contribuiu e muito para essa distância: o meu/nosso pai.

Mas agora essa barreira já não existe. Faz-me sentido a tentativa de recuperar o tempo perdido, se é que alguma vez esse tempo perdido possa ser recuperado. Mas quero voltar a conhecê-los! Saber quem são! O que fazem! Onde estão!

Infelizmente parece-me que só a mim faz sentido. E, não nego, isso dói. Muito! Mais uma herança dolorosa de quem me deixou para trás há tanto tempo. E eu só quero ter os meus dois (meio-)irmãos de volta.

São meus irmãos! De mães diferentes, todos eles! E depois? Não deixam de ser meus irmãos!

A vontade é de chorar. Não pela perda de quem me deixou para trás há tanto tempo, mas pela perda da presença destes meus dois irmãos na minha vida. Mas, e apesar de doer demasiado, se é essa a sua vontade, só tenho que aceitar e respeitar. Por MUITO que me custe, por MUITO que me seja doloroso. Aceitar e respeitar.

Mantenho a esperança que a curiosidade dos 21 anos ainda exista, que resistam ainda memórias que o deixem com vontade de guardar o meu contacto, pelo menos isso.

E espero que, um dia, não sei quando sabendo que não tem que ser já amanhã, os possa abraçar a ambos. E dizer-lhes pessoalmente que tenho muitas saudades deles

…e se não choro é unicamente porque não consigo chorar

{#234.133.2024}

Desde que o filme de terror surreal iniciou no Sábado passado, ainda não tinha tido oportunidade de parar para respirar. Tão simplesmente respirar. Aquele respiração profunda, completa e consciente que ajuda, e muito!, a desligar a cabeça e relaxar. Porque enquanto estou concentrada na respiração completa, profunda e consciente não estou a pensar em mais nada. E eu precisava tanto disso! E hoje tive essa oportunidade na aula de Yoga, como tenho todas as quintas feiras e sábados.

É verdade que esse simples exercício que é respirar profundamente e de forma consciente posso (e devo!) fazer em casa todos os dias. Basta tirar uns minutos para isso. Mas esta semana ainda não tinha tido tempo para mim. para mim. Para respirar e tratar de mim. Mas a aula de Yoga estava lá, à minha espera, para parar e finalmente respirar.

O stress dos últimos dias tem sido demasiado intenso, quase extremo. Aquele tipo de stress negativo que não faz bem a ninguém mas que, na minha condição que continuo a não conseguir chamar de doença, não é nada recomendável, não traz nada de bom e ajuda à progressão do que se pretende travar. Mas hoje foi dia de parar para respirar fundo e parar. Tratar de mim.

Finalmente parece haver uma luz ao fundo do túnel para, de uma vez por todas, conseguir encerrar o capítulo, fechar a porta e deitar a chave fora. Segunda ou terça feira, algures por aí.

E, mais uma vez, a confirmação de que há amigos, e depois há Amigos. Não com A maiúsculo mas sim com A gigante. E se houver algo maior do que gigante é aí que estão classificados.

Custa, claro, pedir ajuda a alguém para encerrar um assunto que não lhe diz respeito de maneira nenhuma mesmo que esse alguém se tenha prontificado para ajudar desta forma “se for preciso”. E, efectivamente, foi preciso. É preciso. Tive que, obviamente, pôr o orgulho de lado e dizer “eu preciso dessa ajuda”. Não é fácil, claro que não. Mas, por outro lado, sem essa ajuda, não seria possível encerrar o assunto da forma que tem que ser encerrado: com dignidade.

Agora? Estou muito cansada. Demasiado cansada. De quê? De nada e de tudo em simultâneo. Está mais do que na hora de dar o dia por terminado e ir descansar e dormir. Eu preciso de dormir. As últimas noites têm sido miseráveis no que diz respeito ao número de horas dormidas e esse é outro factor que, juntando ao stress extremo e intenso, não me traz nada de bom. Por isso é hora de desligar.

Amanhã é mais um dia. Que se espera e deseja que seja mais tranquilo. Agora com luz ao fundo do túnel para finalmente conseguir encerrar o capítulo, já só peço mesmo um dia tranquilo. Que, acho eu, não é pedir muito.

Por isso, por hoje chega. E amanhã logo se vê como será…

{#233.134.2024}

Cansada. Demasiado cansada. A vários níveis: físico, mental e emocional. Desde Sábado que tem sido uma espécie de teste à minha resistência. E à minha resiliência.

Do cansaço físico ainda é o mais fácil de recuperar. É verdade que tenho adormecido muito para lá da hora que era suposto. Ontem, por exemplo, passava das 4h da manhã. E todos os dias tenho acordado cedo, ou porque tenho coisas marcadas a acontecer de manhã ou porque simplesmente acordo.

Hoje, depois de adormecer para lá das 4h da manhã, foi dia de acordar cedo. Junta Médica a meio da manhã, onde felizmente encontrei técnicos que provaram ser seres humanos e empáticos e deram o seu aval para continuar de baixa.

Depois, foi voltar para casa à hora de almoço. Um calor abrasador que não contribui em nada para o meu bem estar físico, um caminho doloroso a percorrer, devagar, devagarinho. E muito lentamente.

Almoçar e, pela primeira vez desde Sábado, ficar sozinha em casa. Um bocadinho de sossego e tempo para mim e que eu tanto estava a precisar. Foi esticar-me no sofá às 17h, apagar lá pelas 17h30 e só voltar a acordar já depois das 21h. Estava a precisar disto. Era urgente parar para descansar e tentar recuperar um pouco, pelo menos o lado físico. O mental e o emocional vão precisar de mais tempo. Mas, como sempre, é um dia de cada vez. E, acima de tudo, sem pressa e sem pressão. Porque, de outra forma, eu não aguento…

Está a custar-me horrores o peso do que está a cair em cima da minha mãe e tenho que conseguir poupá-la ao máximo. Mas todos os dias há mais uma surpresa ao virar da esquina à espera de nos cair em cima… Já bastava tudo o que se está a passar comigo desde que fui apanhada na curva. Já era peso mais do que suficiente para ela. Agora só faltava mesmo isto e todos os coelhos que todos os dias vão saindo de novas cartolas e que nunca trazem nada de bom. Quero mesmo muito poupá-la, mas às vezes não sei como…e sim, isso preocupa-me. Muito.

Amanhã é mais um dia. De preferência sem surpresas. Já sabia que tudo tem de ser levado um dia de cada vez. Mas, neste caso, acho que já é mesmo uma hora de cada vez…

A única coisa que quero, no meio disto tudo, é que acabe depressa! Preciso de fechar este capítulo rapidamente. Fechar a porta à chave e deitar a chave fora. De uma vez por todas! É o que eu quero! Mas parece que, com isto tudo, o filme vai ser uma extremamente longa metragem…

Já não posso ouvir a frase “Está quase!“. Porque, porra!, ainda falta o quase! Oiço muito essa frase quando estou a caminhar para algum sítio, normalmente no regresso, que é quando já estou com muitas dores e cansada. E depois dizem-me “Está quase!“…mesmo que o quase seja já ali, continua a faltar o quase! E esse quase custa-me demasiado. Dói a sério. Seja numa simples caminhada curta ou seja neste filme que eu ainda não sei qual é o escalão mas que anda ali entre o surreal e o terror. Ou, se calhar, e ainda é o mais provável, é uma mistura absurda dos dois.

Só quero fechar um capítulo e seguir em frente com a minha vida tal como ela é, mas de preferência de forma mais tranquila. Por favor!

Claro que, entretanto, o relógio continua a contar o tempo que passa. E eu já devia estar na cama a dormir, a descansar o corpo. Mas não vai acontecer tão cedo. Ainda tenho coisas para fazer hoje que têm que estar preparadas para amanhã. Mas, felizmente, amanhã não tenho nada a acontecer de manhã, portanto não preciso de acordar a horas pré-definidas.

Felizmente, amanhã é dia de Yoga. E aí a parte mental vai ser obrigada a, pelo menos, desacelerar. E vai fazer-me bem. Para desligar um bocadinho e recuperar do desgaste dos últimos dias. O corpo vai ser trabalhado, é um facto, mas de uma forma que, no final, também vai poder relaxar.

Enfim…é um dia de cada vez. E o de hoje já terminou. Agora é hora de fazer o que falta para amanhã (que é coisa rápida) e depois é dormir até quando for! E amanhã? Logo se vê. Um dia de cada vez. Só peço que, amanhã, seja mais sossegado e tranquilo.

{#232.135.2024}

O dia resume-se a isto: furacão de stress quando tudo podia ser tão simples e sem confusões. Mas não…

O stress intenso é daquelas coisas que o que aquilo que me apanhou na curva dispensa. Mas, vindo de quem vem, não seria de esperar nada de tranquilo. E o dia tudo menos tranquilo.

O dia todo em casa, a cabeça muito baralhada, muito confusa, sair de casa para acalmar e aclarar as ideias era obrigatório. Ter aquele que chamo de o meu momento. O café ao fim do dia na esplanada do costume, aquele tempo em que nada mais existe e em que estou só comigo mesma. Era o que estava desesperadamente a precisar. Mesmo sem ter ainda jantado e não tendo ainda parado um pouco, às 21h o café foi servido na minha mesa favorita da esplanada do costume. Nem 5 minutos depois e o telefone tocou…acabou-se o meu momento que não chegou, sequer, a começar.

Do outro lado da linha, a minha prima. E depois das questões normais sobre o funeral que tarda em acontecer, uma conversa que, eu sei, já podia ter acontecido há mais tempo. E uma espécie de puxão de orelhas em que ela tinha toda a razão no que me ia dizendo. Daqueles puxões de orelhas a que eu só podia mesmo responder “Eu sei…“. Porque, estupidamente, eu sei mesmo. Mas esse saber refere-se apenas à teoria porque, passar à prática, é a parte mais difícil e não sei mesmo como se faz e também não há manual de instruções. Mas a verdade é que ela tem toda a razão. E eu sei que sim! Perdi a conta ao número de vezes que repeti essa frase que parece tão simples de concretizar mas que consegue ser de uma dificuldade enorme: “Eu sei…

Se tiver que fazer um resumo da conversa, vindo de mim que não sei fazer resumos, faço-o desta forma: quatro horas e meia ao telefone…!

Com isto, jantar às 2h da manhã deve ser a hora certa para jantar num qualquer outro fuso horário…

Agora, quase 4h da manhã, está mais do que na hora de dar este estranho, confuso e stressante dia por terminado. E ir dormir a correr porque amanhã é dia de acordar cedo com Junta Médica a acontecer a meio da manhã…e o que tiver que ser, será. Mas só posso pedir que corra bem. Porque não, eu não estou bem. E a medicação para o que me apanhou na curva tarda em chegar até mim…

{#231.136.2024}

“É um processo.” É. E cada processo é individual, pessoal.

E, os próximos dias, serão dedicados ao meu processo.

E, já sei, terei ao meu lado, do meu lado, um P de Presença. Um Amigo, que eu já sabia que o era com A maiúsculo. E que, a partir de hoje, é um Amigo com um A gigante!

“Já sabes que está sempre tudo bem. E, quando não está, a malta empurra até estar novamente.”

É um processo. E, os próximos dias, serão o meu processo. Mas será um processo passado um dia de cada vez. Ou, se me vir muito aflita, uma hora de cada vez.

Faz parte. E os Amigos também.

{#230.137.2024}

Misto de emoções. Na verdade, uma verdadeira explosão de mixed feelings

Há muitos anos que dizia que era órfã de pai vivo. Hoje digo que sou órfã de pai morto.
O meu pai morreu. Não sei ainda se hoje de manhã, se durante a noite, não importa. O meu pai morreu. Ontem ou hoje? É indiferente.

Nunca foi um pai perfeito. E há mais de 30 anos, praticamente 40 na verdade, sempre foi um pai ausente. Distante. Daqueles que, a partir de determinado momento, só se aproximou porque queria alguma coisa em troca pelo seu papel de pai.

Soube há pouco tempo que estava muito ofendido comigo porque eu não uso o apelido dele. Na verdade, não uso apelido nenhum. Gosto muito da combinação dos meus dois nomes próprios. E ele nunca aceitou isso. Como também nunca aceitou tanta coisa…

Mas, mal ou bem, era meu pai. E o meu pai morreu hoje.

Estou num verdadeiro estado de mixed feelings. Acho que ainda não me caiu a ficha…

Se vou ao funeral? Como filha, devia ir. Mas já estava órfã há tantos anos, mesmo que com o meu pai vivo.

Mas hoje o meu pai morreu. E eu não sei o que sentir, nem o que pensar ou fazer…

Hoje o meu pai morreu. Fecha-se um ciclo. Depois? Logo se vê…

——-

Não, a ficha ainda não caiu. E não, ainda não consegui responder a todos os que, de alguma forma, me estenderam a mão.
A ficha há-de cair. Não sei como nem quando. Só sei que um dia vai cair.

Ainda irei agradecer a todos, um por um, o terem-me estendido a mão. Não sabem o valor que isso tem para mim.

Já decidi que quero estar presente no funeral. Nem que seja a única dos 4 filhos a lá estar. Nem que seja a única pessoa a lá estar. Não sei, ainda, quando vai ser. Nem onde vai ser. E, mais importante!, seja lá onde for o funeral COMO é que vou para lá…não tenho carro, não sei se tenho boleia (o que duvido), se for para ir de transportes públicos como é que vou fazer para conseguir. Mas é preciso fechar um capítulo. EU preciso fechar um capítulo.


De resto, continuo a dizer: a ficha ainda não caiu. Um dia acabará por cair. E, nesse dia, logo se vê. A única coisa que eu sei é que o meu pai morreu hoje. E a ficha teima em não cair… E, percebi esta tarde, tenho 2 processos de luto para fazer. O luto referente ao período em que eu era órfã de pai vivo. Luto que nunca fiz. E, agora, o verdadeiro luto de uma filha a quem o pai morreu hoje. Eu, oficialmente órfã de pai. E o meu pai, que morreu hoje

——-

E as horas vão passando, nem sei se rápido ou devagar. Sei apenas que estou muito confusa. Não sei o que sinto, nem sequer sei se sinto alguma coisa. E não percebo este vazio que subitamente se instalou em mim. E o sentir-me perdida e sem chão… E só me ocorre perguntar “como assim, perdida e sem chão por causa de alguém que me deixou para trás há mais de 30 anos e que, quando se reaproximou, foi apenas e só para pedir algo em troca do seu papel de pai, que nunca soube cumprir!, e prejudicar tanta gente à sua volta, incluindo eu?!

Confusa. Muito confusa. Tão demasiado confusa. E em luta comigo mesma porque teimo em não querer ir para a cama. São 3h da manhã, acordei às 7h, caiu-me isto no colo. E a única coisa que eu precisava agora era de um colo para deitar a cabeça e respirar fundo para organizar as ideias. O colo dele onde eu pudesse deitar a cabeça, ficar em silêncio, respirar fundo e sentir os dedos dele pelo meu cabelo. Era só isso que eu precisava neste momento para serenar e aceitar que tenho que descansar, tenho que ir dormir. Mas ele não está aqui…está sempre comigo, é verdade, sinto-lhe a presença quando aninho e enrosco para dormir. Mas ele não está aqui. E tudo seria tão mais fácil de enfrentar nos próximos dias com ele a caminhar de mão dada comigo.

Não está aqui. Está a 135km. Ou à distância de um clique. Mas, não estando aqui, o importante é que está sempre lá.

Mas, o que fica do dia de hoje, é só isto: o meu pai morreu hoje

{#229.138.2024}

Sexta feira que me soube demasiado a Sábado (sem Yoga) ou Domingo. Ou até a feriado que, afinal, foi ontem. Mas soube demasiado a um dia que não útil.

Ao mesmo tempo não soube nada bem. Calor. Demasiado calor. Mesmo dentro de casa com a ventoinha ligada. Sair de casa? Durante o dia, impensável. Eu e o calor? It’s a no-no. Já passa das 23h e agora sim, estou na esplanada do costume. Vale-nos o vento fresco para refrescar depois de um dia fechada em casa para escapar ao imenso calor. Mas o barulho que aqui está a esta hora está a dizer-me que está mais do que na hora de voltar para casa. Até porque amanhã é dia de acordar cedo, há Yoga às 9h e a boleia chega pouco depois das 8h30.

Por isso, o dia de hoje pode resumir-se a duas simples palavras: demasiado calor.

Amanhã as temperaturas vão continuar muito altas. Mas, depois de voltar do Yoga, volto a fechar-me em casa com a ventoinha a dar o seu melhor.

Por hoje chega. Vou para casa, preparar as coisas para amanhã e ainda tentar um tempo de Viparita Karani. Que, já sei, devia fazer todos os dias. Mas todos os dias encontro um motivo (uma desculpa?) para não fazer.

Amanhã logo se vê como será o dia. Que vai ser em casa depois do Yoga já sei. O resto logo se vê.

{#228.139.2024}

Quinta feira, dia de Yoga. Sendo feriado, e com um Festival a gerar o caos nos trânsito (como se não fosse suficiente o tradicional trânsito rumo à praia em pleno Agosto…), a aula foi antecipada para as 9h. Nem que fosse às 8h como muitas vezes, na brincadeira, o professor Pedro sugere! Não, faltar ao Yoga não está nos meus planos. Mas, sendo feriado, o autocarro que agora preciso de apanhar para percorrer a vila até à outra ponta não tem horário para mim… Na aula de sábado, quando se marcaram as 9h da manhã para hoje, verifiquei de imediato o horário, vi que não havia autocarro, referi esse ponto na aula e de imediato se resolveu: quem me dá boleia em dias de aula de regresso a casa de imediato se ofereceu para me vir buscar. E assim foi.

Ontem à noite, por causa das dores nas pernas, ainda pensei em dispender de uns minutos para o Yoga: Viparita Karani, ou deitar-me no chão com as pernas na parede. Não aconteceu. Estava demasiado cansada, já era muito tarde, tinha muito sono e hoje era dia de acordar cedo. Todos os dias o despertador toca às 7h da manhã para tomar o antibiótico, a minha boleia estava prevista para as 8h40, só posso tomar o pequeno almoço uma hora depois do antibiótico, tinha ali uma boa janela temporal para pôr as pernas na parede 15 minutos.

Às 7h da manhã o despertador tocou, acordei, tomei o antibiótico e preparei tudo para aqueles 15 minutos que tinha prometido a mim mesma. Tapete estendido, encostado à parede, telemóvel prestes a começar a contar os 15 minutos. A custo, não nego, sentei-me no chão em cima do tapete, pus-me em posição para me deitar de costas no chão e levantar as pernas…

Ainda me deitei e foi ao deitar as costas no chão que percebi o quanto as costas me doíam! Não estive deitada mais do que três minutos. Dores impossíveis de aguentar, daquelas que só não me trouxeram lágrimas aos olhos porque eu não consigo chorar, mas que me puseram a transpirar como se tivesse feito uma aula completa.

Desfazer a postura, iniciar a compensação e as dores nas costas a dizerem-me “não!“… Ainda tentei a postura que a fisioterapeuta chama “do gatinho”, cujo nome original em sânscrito desconheço mas que em português é a postura do Gato-Vaca e que o professor Pedro garante ser uma óptima massagem para as costas. E é, de facto. Mas não foi o suficiente para acalmar as dores.

Sei que cheguei à aula muito aflita com dores. De imediato expliquei ao professor Pedro o que se passava e ele, também de imediato, encontrou a solução certa para mim. Não iria fazer nada da aula como as minhas colegas, mas com bolsters, blocos e algumas mantas teria o sítio certo para o exercício certo: alongar e relaxar as costas. E assim foi durante duas horas. De vez em quando ele vinha ver como eu me estava a sentir, ajustar a posição e relembrar-me de respirar. De forma profunda e consciente como em qualquer aula de Yoga, respiração que eu me habituei a levar sempre comigo para todo o lado.

Duas horas depois, desfazer a postura, com a ajuda dele, claro. Mas a verdade é que as dores de costas tinham passado, com excepção da lombar de que me estou sempre a queixar há muito tempo. E o que ficou combinado foi que as próximas aulas serão novamente para alongar e relaxar a coluna, com incidência na lombar, e também tratar pernas na mesma base que as costas.

Senti logo no primeiro dia, já há mais de um ano, que estava bem entregue ao professor Pedro. E já há muito tempo que o tinha confirmado. Hoje? Reforcei essa confirmação e a confiança que, desde o primeiro dia, depositei nele. As aulas são sempre um desafio, sejam mais ou menos suaves, mas sempre muito boas. E, desde o primeiro momento em que eu soube daquilo que, inicialmente, era só uma suspeita, ele está a par do que me apanhou na curva e vai-me acompanhando na progressão das minhas dificuldades. Está, inclusivamente, a preparar um plano de posturas para eu ir fazendo nas aulas quando não consigo fazer as outras. E o tratamento de hoje foi muito bom. Sábado lá estaremos novamente às 9h da manhã, novamente com boleia para lá e regresso. Até porque o próprio professor Pedro faz questão de garantir que eu tenho sempre transporte.

Enfim…eu sabia que o Yoga me ia fazer bem. Mas nunca pensei que dali iria nascer uma rede de apoio daquelas que eu preciso tanto. Mas a rede está lá. E eu sou tão grata por ela.

Depois do Yoga foi chegar a casa, almoçar e aterrar no sofá. Sozinha em casa depois do almoço, sem rigorosamente nada para fazer, cansada sei lá eu do quê, rapidamente adormeci. De óculos, claro, provavelmente para ver melhor os sonhos. Mas a verdade é que durante três horas não estive acessível para ninguém. E o acordar foi muito estranho ao ponto de pensar que já estava a acordar amanhã. E, a primeira dúvida que tive ao acordar, a primeira pergunta que quis fazer: já tomei o antibiótico? Percebi pouco depois que, afinal, ainda era hoje, quinta feira, feriado.

E, no telemóvel, mensagens dele à minha espera. E acordar com mensagens dele, seja logo de manhã cedo como hoje com mensagens que ainda eram de ontem à noite, “hoje vou tomar conta do teu sono” para me deixar saber que estava de serviço e me aconchegar antes de adormecer mas que já só vi esta manhã, ou seja acordar à tarde e saber que também ele apagou no sofá, ou foi fazer uma caminhada, ou outra coisa qualquer, não importa, sabe sempre tão bem.

Assim como também sabe bem ler a poesia que sai daquela alma que reconheci de outras vidas, de outros tempos, sabe-se lá como, aquela poesia, aquelas palavras onde, de vez em quando, me encontro. E hoje…hoje não só me soube bem ler, como me encontrei nas palavras, como me reconheci como destinatária daquela mensagem que me confirmou o que eu já sabia: meu por inteiro.

Por momentos a respiração falhou-me, o ar faltou-me. Li. Reli. Voltei a ler. Não sei quantas vezes o fiz. Mas não é importante o número de vezes que li, reli e voltei a ler. O importante é que, a cada nova leitura, a respiração falhava-me, o ar faltava-me e tudo o resto se confirmava e reforçava.

E só me saía uma palavra para tentar descrever o que aquelas palavras provocaram em mim: FODA-SE! Porque não encontro nenhuma palavra bonita que tenha tanto impacto ou demonstre tanta força como esta. Desta forma. Toda em maiúsculas. Com o respectivo ponto de exclamação! Porque…FODA-SE! Já o leio há mais de um ano, já me encontrei nas palavras dele algumas vezes, mas nunca me tinha falhado a respiração com as palavras dele, nunca o ar me tinha faltado ao lê-lo. Nunca nada do que ele tinha escrito até hoje tinha tido o impacto que teve hoje.

Assusta quando a respiração nos falha? Assusta. Assusta quando nos falta o ar? Claro que sim. Mas não assusta ler aquelas palavras, que tanta gente acha que simplesmente nascem da alma de um poeta, mais ou menos inquieto, sabendo a quem se destinam porque está lá tudo o que é preciso saber.

Teu por inteiro“. E eu sei que sim. E é por saber que sim que volto ao poema todas as vezes que sentir a tua falta, todas as vezes que sentir saudades tuas. E é também por saber que sim que o meu sorriso está sempre presente desde há mais de um ano e os meus olhos brilham de outra forma. Mesmo nos meus momentos mais difíceis. Porque contigo aí eu sei, desde muito cedo, que não me vais deixar cair e o caminho vai ser feito de mão dada contigo. Sempre. E é também por isso, mas nunca exclusivamente por isso, que te amo de uma forma e com uma força e uma intensidade que não sei, não consigo!, explicar. Até porque isto que sinto não é para ser explicado. Apenas sentido. Vivido. Por mim. E, claro, por ti.

O resto não interessa. Porque o resto é só isso mesmo: o resto.

Amo-te. E também eu sou tua por inteiro.

{#227.140.2024}

A fisioterapeuta já me tinha dito: “o calor é o maior inimigo do que tu tens”.
O médico especialista já me tinha dito: “não, o maior inimigo é mesmo a doença, mas o calor de facto exacerba os sintomas, até mesmo os que estão adormecidos”.
E hoje confirmei que o calor não é para mim.

Nunca me dei muito bem com ele, costumo dizer que temperaturas acima dos 27• deviam ser inconstitucionais e, depois de hoje, prefiro mesmo passar o Verão dentro de casa. Ou, se por acaso tiver que sair (e vou ter que sair!), vestir saias, calções ou calças curtas e frescas. Sarja como hoje? Eh pah, não, obrigada!

Fui “só ali“, de um edifício ao outro que fica exactamente ao lado. Mas, claro, fui à torreira do Sol porque, ali, não há uma única sombra. E, se fui, também tive que voltar. Novamente à torreira do Sol. E, no regresso, já muitas dores e a dúvida se conseguiria ou não chegar ao destino. Claro que tinha que voltar, não podia ficar ali perdida no meio do caminho, à torreira do Sol, porque o destino era “já ali“. Mas as dores…o calor a fazer aumentar as dores…e eu a pensar que não ia conseguir chegar ao “já ali“.

No total, entre o ir “só ali” e o voltar ao “ ali” foram 1.500 metros. Um kilometro e meio. 750 metros para cada lado. O que não é nada. Porque, de facto, o tal edifício ao lado daquele onde está, é já ali. Já tinha feito este caminho antes. Com Sol, com chuva. Nunca me custou. Até hoje…

O que sei é que, a esta hora que já passa das 23h30, ainda não aguento as dores que tenho nas pernas. E já cheguei a casa às 15h30, já despi aquelas calças que só voltarei a vestir lá para Outubro, vesti os calções, estiquei as pernas no sofá, já fui ao banho e pus água fria nas pernas e continuam a doer. Muito. Faz parte do que me apanhou na curva e que com o calor, pelos vistos, agrava… Vivendo e aprendendo.

Decididamente, o Verão não é para mim

Agora, antes de dormir e para aliviar as dores, vou recorrer ao Yoga. Viparita Karani ou pernas para cima encostadas à parede. E, diz-me a experiência, ajuda MUITO.

Mas, daqui para a frente, só aceito vestidos, saias, calções ou calças curtas. As dores? Quem quiser que as leve, porque nem à base de comprimidos as dores passam…e eu já estou farta disto. Só não tenho é como escapar…

{#226.141.2024}

Primeiro dia sem Fisioterapia…sem Yoga…sem consultas ou análises…ou seja, primeiro dia sem rigorosamente nada para fazer.

É verdade que, entre ciclos de Fisioterapia, já tive vários dias assim: completamente vazios e sem rigorosamente nada para fazer, portanto este não é exactamente o primeiro dia sem rigorosamente nada para fazer. Mas parece… Entrei de tal forma no ritmo diário de sair de casa de manhã que agora sinto-lhe a falta.

Para o dia de hoje havia, de facto, algo previsto que, infelizmente, não foi possível realizar. Mas não duvido que venha a ser remarcado.

E agora é aquela parte em que digo que aproveitei o dia para descansar. E vocês perguntam: mas descansar do quê se há 11 meses que estás sem trabalhar e não fazes nada o dia todo, todos os dias? Pois…Eu própria pergunto o mesmo. Não sei. Apenas sei que, apesar de tudo, me sinto cansada. Se é consequência do que me apanhou na curva? Aquela questão da fadiga? Não sei…ainda não me ensinaram a reconhecer a fadiga, a distingui-la do normal cansaço ou da simples preguiça. Não sei, de facto. Só sei que todos os dias me sinto cansada. Faça o que fizer. Ou mesmo que não faça nada.

Há um cansaço que conheço bem. Que é este cansaço que sinto por causa da (ainda) surpresa do que me apanhou na curva, das dificuldades que (já) me trouxe, da (ainda) falta de tratamento em jeito de medicação. Sim, disto eu sei que estou cansada. E ainda estou no início desta aventura que veio para ficar sem possibilidade de, um dia, passar.

Tento desligar do assunto. Tento esquecer-me. Tento fazer de conta. É só um sonho mau demasiado longo do qual um dia vou acordar. Só que, já sei, não é um sonho mau demasiado longo do qual um dia vou acordar. É a realidade que me bateu à porta. Porta essa que, de alguma forma, foi aberta sem eu saber como e permitiu que essa realidade entrasse na minha vida.

Um dia, sabe-se lá quando, pode ser que aceite. E que aprenda a ver o lado positivo disto, se é que existe. E, com tempo, sem pressa e sem pressão, gostava mesmo muito de mudar o discurso de “porquê eu?” para “e porque não eu?”. Fazer diferente, fazer a diferença, fazer alguma coisa que nem eu sei se posso fazer e, em podendo, como fazê-lo ou o que fazer.

Não sei. Estou muito cansada. Muito confusa. Muito nem eu sei bem o quê. Mas, segundo o que o psiquiatra deixou registado no meu processo clínico a que tanto a médica de família como a Segurança Social têm acesso, “a Catarina está bem da Depressão“. Só que não, não está! Sair de casa todos os dias para ir à Fisioterapia não é sinónimo de não estar deprimida. É tratar de mim, de uma condição que me afecta fisicamente e que eu quero travar ou até reverter, se é que é possível reverter e eu já sei que não é! Ainda sem medicação, resta-me a Fisioterapia e é isso que me obriga a sair de casa todos os dias. E o obrigar-me a sair de casa ao fim do dia para ir à rua apanhar ar, ver o resto da luz do Sol e beber um café também não é sinónimo de não estar deprimida. É, sim, uma ferramenta que aprendi com o terapeuta fofinho para evitar o isolamento. Por isso não!, a Catarina não está bem da Depressão!

E o isolamento, mesmo saindo de casa todos os dias, existe. Não que eu o procure. Porque eu procuro exactamente o oposto. Mas poucos, muito poucos, são os que se fazem presente.

Deprimida. Isolada. Sem rigorosamente nada para fazer. Sem ver ninguém. Sem conversar com (praticamente) ninguém. Sozinha. Completamente sozinha. Mas, se o psiquiatra diz que “a Catarina está bem”…encolho os ombros e penso que depois logo se vê.

Não sei quando será a próxima consulta. Sei, sim, que este psiquiatra, aquele que dispensa título de Doutor e o apelido, só regressa no próximo ano e já encaminhou o meu processo para um colega me acompanhar até lá. Mas quando é que será a próxima consulta? Ninguém sabe…

Sei, sim, que estou cansada. E, mais uma vez, falhei o objetivo de me deitar cedo. A noite já começa a roçar a madrugada e eu, que achava que não tinha nada para escrever hoje, deixei correr a pena e ainda aqui estou…

Mas não por muito mais tempo. O sono começa a apertar. Por isso dou o dia por terminado por hoje. Amanhã, já sei, não tenho rigorosamente nada para fazer, por isso logo se vê como será…

{#225.142.2024}

Segunda feira. E, para já, a semana promete ser longa.

Último dia deste ciclo de Fisioterapia, consulta de avaliação com o Fisiatra. Dia de lhe dizer que não, não estou melhor e que o foco do tratamento não pode ser (só) o reforço do tónus muscular das pernas e alguma marcha, que acho sempre pouca. O foco principal tem que ser o equilíbrio. Foi com foco no trabalho de equilíbrio que saí da Fisioterapia hospitalar a conseguir andar mais a direito e sem necessidade de me apoiar à direita para além da bengala à esquerda. Lembro-me das palavras do Miguel, o último estagiário que apanhei e que trabalhou muito comigo e puxou pelo meu equilíbrio, quando me disse “Catarina, não precisa da bengala para nada!” Treinámos equilíbrio, subida e descida de escadas, marcha de várias formas e velocidades no corredor do Hospital, chegámos a experimentar a marcha no exterior, onde o piso de calçada mais me atrapalha, especialmente quando existe inclinação como houve nessa experiência. E foi depois desse exercício que me disse que não preciso da bengala…

No dia seguinte, curiosa com o que ele me tinha dito, eu e a minha mãe decidimos atravessar o parque até ao paredão. E foi ainda no parque, longe do paredão que lhe disse “hoje levas tu a bengala, vou experimentar ir até ao paredão sem qualquer apoio…”. E consegui! Atravessei o parque sem bengala e sem me apoiar a ela. Atravessei a estrada. Subi a rampa de acesso ao paredão. Andei um pouco por lá para ver como me sentia e como corria caminhar sem bengala e sem apoio. E correu bem.

Na hora de regressar a casa, fazer novamente o percurso até ao parque, atravessar o parque, atravessar a avenida, vir pela rua de sempre e rumar até casa. Sempre sem qualquer apoio. Foram 3 km que me deixaram cheia de orgulho pelo resultado do trabalho de muitas sessões, de muitas horas de trabalho intenso e sempre focado no equilíbrio. No dia seguinte o Miguel já não estava no Hospital, já tinha terminado o estágio. Mas estava a fisioterapeuta responsável pelos estagiários e que me acompanhou nas últimas sessões. E partilhei com ela os 3 km de sucesso e orgulho. Porque também foi ela que me ajudou no processo, também por ser ela a responsável pelos estagiários. Foi, no fundo, um bom trabalho de equipa. E eu estava feliz com a possibilidade de largar de vez a bengala. Mas também me lembro de, quando fui à última consulta de avaliação com a Fisiatra do Hospital, ela me ter dito que, com as lesões que apresento, largar de vez a bengala vai ser praticamente impossível…

Ouvi e, calada, aceitei. Mas sempre a pensar que, se calhar, com muito trabalho, talvez pudesse largar a bengala. Por muito difícil que pareça dado o desequilíbrio que sinto e, pelos vistos, dada também a lesão que tenho, de facto, no cérebro.

Duas ou três semanas de pausa, sem qualquer trabalho de natureza nenhuma à espera de uma vaga na Clínica de Fisioterapia. E, logo depois de ter iniciado o primeiro ciclo, o calor abrasador à hora de almoço, à torreira do Sol no caminho até ao autocarro. 1,5km sem qualquer sombra nem ponto de repouso. E comecei a sentir-me a regredir. Não só pelo calor mas também por perceber que não havia qualquer trabalho de marcha ou equilíbrio… No ciclo seguinte a mesma coisa. Tónus muscular das pernas e movimentação dos membros inferiores. Até que o ciclo foi interrompido porque o meu corpo decidiu pregar-me uma partida de dia da criança num sábado aborrecido e sem planos.

Mais um período de tempo à espera de nova vaga, noutro horário agora já com autocarro a 450 metros de casa. Mas o trabalho? Igual…

Em nova consulta com o Fisiatra falei na questão da marcha e do equilíbrio. Continuou o tónus muscular como trabalho principal, mas inserindo agora (algum) trabalho de marcha. Equilíbrio? Nada

Esse último ciclo terminou hoje e na consulta de avaliação com o Fisiatra reforcei a urgência de trabalhar o equilíbrio. Já sei que vou ter que esperar uma a duas semanas até ter nova vaga para tratamento. E estou muito curiosa com o que vai acontecer com o trabalho de equilíbrio…

Hoje saí de casa mais cedo para chegar a casa mais tarde do que o habitual. Sozinha, fui a todos os sítios que tinha que ir depois da Fisioterapia e da consulta de avaliação. Caminhar custou-me horrores. As dores nas pernas, com o calor infernal que está, intensificam-se e caminhar é doloroso. Mesmo agora, tantas horas depois de chegar finalmente a casa, as dores nas pernas estão presentes e incomodam bastante.

Mas, com ou sem dores, com mais ou menos desequilíbrios, está na hora de descansar. Dar o dia por terminado e ir dormir. Amanhã, ao contrário do que estava previsto, vai ser mais um dia igual aos outros. Quem sabe não vá até à praia. Não aquela que me obriga a atravessar o parque, mas outra onde o autocarro me pode levar e onde não existe escadaria de acesso à praia. Vamos ver. Agora o urgente é ir descansar. Amanhã? Logo se vê. Por hoje o dia está dado como terminado. E foi longo, difícil e doloroso

{#224.143.2024}

Domingo. Aquele dia de dormir até mais tarde e não fazer nada. Dormir até mais tarde não aconteceu, muito pelo contrário. Afinal, todos os dias dos próximos meses o despertador toca às 7h da manhã para tomar o antibiótico em jejum. Hoje já não me recordo a que horas acordei para, de facto, tomar o antibiótico, sei que foi mais tarde do que era suposto, mas este não obriga a hora certa, só obriga ao jejum. E assim foi.

Uma hora depois, o pequeno almoço. E, mais uma vez, a constatação de não ter absolutamente nada para fazer…e é isso que me tem custado mais nos últimos meses. É ficar a ver o tempo passar sem ter nada para fazer. É verdade que nos últimos meses tenho tido diariamente a fisioterapia a meio da manhã. Que à hora de almoço está terminada. E o resto do dia? Tirando o Yoga à quinta feira ao final do dia e ao Sábado de manhã, nada

Tenho noção de que deveria encontrar alguma coisa para fazer. Mas não faço ideia do quê. Ler não é opção, ou porque estou em fase de visão dupla ou porque simplesmente não consigo concentrar-me para o fazer. Tenho um desafio que aceitei e que foi designado de projecto por Ele: escrever, à mão, uma carta. Mas não uma carta qualquer. Uma carta daquelas especiais que se escrevem para pessoas especiais. Uma carta de amor.

Não me lembro de alguma vez ter escrito uma carta declaradamente de amor. Sei que já escrevi muita coisa mais ou menos apaixonada, mas raras foram as que chegaram às mãos de alguém. Provavelmente por não serem, de facto, cartas. Apenas desabafos meus, registos de algo que sentia no momento e que não sei dizer se era amor ou outra coisa qualquer. Mas agora, neste momento, sei. Sei que é amor e que escrever essa carta faz todo o sentido.

Ainda não comecei a escrever no papel, mas na minha cabeça a carta todos os dias se desenvolve mais um bocadinho. Todos os dias há mais alguma coisa a acrescentar, a dizer, a querer deixar registado. Porque, e já lhe disse hoje, o que está escrito fica para sempre. Mas o que é dito de viva voz tem outro peso embora também fique para sempre guardado na memória…

Voltei para a cama depois do pequeno almoço. Nada para fazer, uma carta de amor para escrever e sem saber por onde ou mesmo como começar, corpo cansado sei lá do quê, voltei para a cama. Adormeci rapidamente e, como já começa a ser hábito, com o telemóvel na mão… Este é aquele escape de quem não quer ficar de braços cruzados a ver o tempo passar. Ou seja, é o meu escape. E o tempo passou e eu não me preocupei em simplesmente vê-lo passar. Fiz o que o meu corpo pediu: dormi.

Acordei com a gata a chamar por mim. Estávamos as duas sozinhas em casa. Não sei ao certo o que ela queria. Mas, ao acordar e pegar no telemóvel, vi que tinha uma mensagem de voz. Dele. E, mais uma vez digo, o que é dito de viva voz tem outro peso. E, nessa mensagem de voz, com o peso que uma mensagem de viva voz tem, lá estavam as palavras todas, as palavras certas. As palavras que eu queria tanto ouvir mesmo já as tendo sentido todas, todos os dias, a todas as horas…

Domingo é o dia de não fazer nada. E eu não fiz, de facto, grande coisa. Ao final da tarde ainda fui à rua beber um café, andar um pouco, apanhar ar, ver o céu azul, encontrar a Lua que olha por mim e que conhece todos os meus segredos e a quem peço que entregue um beijo meu a quem me desafia a escrever uma carta de amor e que está a 135km daqui ou à distância de um clique. Sim, Domingo é dia de não fazer nada e eu não fiz grande coisa. Apenas me apaixonei mais um bocadinho depois daquela mensagem de voz que esperava por mim quando acordei. E só isso já é tanto e tão bom.

A esta hora já tardia em que a noite começa a roçar a madrugada está mais do que na hora de ir descansar. Ir dormir. Amanhã é o último dia deste ciclo de fisioterapia, portanto é dia de acordar cedo e sair de casa cedo. Por isso dou o dia por terminado. Mas é um dia que termina com um sorriso no rosto porque o que é dito de viva voz, as palavras todas, as palavras certas, tudo isso tem outro peso. E esse peso é o do sorriso que trago no rosto e no olhar. E amanhã o sorriso continuará presente para quem o quiser ver. O resto? Logo se vê, como sempre.