Monthly Archives: October 2024

{#304.063.2024}

Resumo do dia de hoje:

  • – Acordar com o despertador às 6h30 com uma notificação do próprio telemóvel a informar que a minha estabilidade a andar continua muito baixa e existe o risco real de queda nos próximos 12 meses. Não nego a cada vez mais fraca estabilidade a andar e o risco real de queda, por isso termino todos os dias a celebrar comigo própria o facto de ter conseguido ainda não cair. Por pouco em algumas situações (ainda hoje…), é verdade. Mas tenho conseguido evitar a queda. Mas se tenho medo das possíveis consequências de uma queda? Tenho. Muito.

  • – Demorar mais de 1 hora para chegar, de autocarro, à paragem mais próxima da consulta. Claro que cheguei lá com 55 minutos de atraso. Mas telefonei e avisei. “Não tem problema, a Doutora espera.

  • – Consulta com boas notícias. As análises que não foram feitas há dois dias acabaram por não ser necessárias porque, no meu processo, constam os resultados das análises que fiz uma semana depois da toma da medicação intravenosa e os valores que a Dra. queria saber também foram registados nessa altura. A função hepática melhorou. Continuo sem qualquer efeito secundário, seja do antibiótico diário em jejum da terapêutica preventiva, seja da medicação intravenosa de há umas semanas para travar a progressão disto que me apanhou na curva.

  • Aquele pastel de nata que acompanha o café sempre que vou à consulta ali. Não falha. E é demasiado bom para dizer que não. Seja como for, só como pastel de nata com açúcar e canela, sempre!, quando vou ali. E já só volto lá em Janeiro, por isso, é tranquilo.

  • Muito cansada quando cheguei a casa. Muito sono que, confirmou-me hoje a médica, afinal faz parte dos efeitos da medicação. Disse-lhe, claro, que “muito sono” é o meu nome do meio. Mas, pelo menos, agora já entendo ao que se deve.

  • – Depois do almoço, café e tratar de algumas burocracias online para, logo após as 16h, aterrar no sofá e morrer para o Mundo até ser acordada às 20h30 para jantar. Foi impossível manter-me acordada. Muito cansada e com muito sono, bastou o aconchego da manta e o calor da almofada térmica e depois de me aninhar não me lembro de mais nada.

  • – Uma saudade imensa dele. Que amanhã será igual ou ainda maior porque vai estar menos disponível.

  • – É Halloween. Nunca lhe achei piada. Já me tocaram à campainha. Levaram uma nega, claro. Assim como levou nega o grupo que encontrei na entrada do prédio quando voltei do café e perguntou se sabíamos de alguém que abrisse a porta para entregar doces. Conhecendo (pouco) os vizinhos que tenho, respondi que ninguém iria abrir a porta. Coincidência ou não, apesar de ainda ouvir pela janela os grupos que andam por aí, a campainha não voltou a tocar. E ainda bem.

E assim se passou mais um dia. O sono? Continua em barda, por isso hoje não vou ficar pelo cadeirão muito mais tempo. Vou fumar mais um cigarro e a cama é o próximo ponto de paragem. Agora já com edredon e a companhia habitual da almofada térmica quentinha é o lugar perfeito para se estar. E adormecer vai acontecer muito rapidamente.

Quanto a amanhã, é o que vier. E depois logo se vê. A única certeza que tenho é que vou ter muitas saudades e sentir muito a falta dele. O resto? É só mesmo isso: o resto.

{#303.064.2024}

Hoje foi dia de parar. Simplesmente parar. Para recuperar dos últimos dias e preparar-me para amanhã sair de casa antes das 8h para mais uma consulta. Só mais uma. Outra vez. Fazer o quê? Ir, mesmo que não tenha o resultado das análises que não foram feitas ontem no Hospital por causa da greve dos técnicos de diagnóstico. Não interessa. Se é para cuidar de mim, vou. Ponto final. Vai-me custar, claro, sair de casa tão cedo, mas desde que não esteja a chover já não é mau.

O dia de hoje estava pensado para ser um bocadinho mais mexido. De manhã um céu azul perfeito e o Sol a brilhar. Cheguei a pensar em ainda ir beber café à esplanada para aproveitar essa manhã bonita. Mas, sozinha em casa, não quis arriscar.

Andei entre o sofá e o cadeirão. Mas sempre a pensar em sair de casa mais perto do final da tarde. Ir de casa até ao parque. Aí voltar a largar a bengala e o braço da minha mãe e trabalhar o equilíbrio. O objectivo final seria, claro, chegar ao paredão e, mais uma vez, esperar pelo pôr do Sol na praia.

Não aconteceu. São Pedro não colaborou, trouxe as nuvens, tapou o Sol e ainda deu ordem de chuva, ainda que pouca e fraca, que as nuvens cumpriram. Acredito que tenha sido uma qualquer espécie de sabotagem para me obrigar a ficar quieta e sossegada e descansar.

Claro que, depois de várias horas no cadeirão, assim que cheguei ao sofá poucos minutos depois das 18h, adormeci de imediato, com o telemóvel na mão enquanto escrevia uma mensagem. Mais uma vez. Já começa a ser habitual, coisa que nunca foi normal em mim…

Dormi e descansei. Pelos vistos estava a precisar mais do que pensava.

Todo o dia foi passado em câmara lenta, tudo muito devagar, devagarinho. Mas, e como sempre, com a presença dele. A quem disse que tinha escrito algo que gostava que ele lesse. E leu.

E posso garantir que o ponto alto do meu dia foi, precisamente, a reacção dele. Que, mais uma vez e talvez até nem fazendo ideia disso, me confirmou que sim!, ele é, de facto, a outra metade de mim que eu não sabia que me faltava.

E as palavras que me deixou depois de me ler não deixam dúvidas de nada. E ficam guardadas comigo, bem fundo cá dentro. E, sempre que precisar de algum conforto, algum aconchego, sei que elas estão guardadas em mim.

Agora, é com um sorriso no rosto que vou aninhar e enroscar na nossa conchinha de bichinho de conta. Porque, mesmo que haja uma distância de 135km entre nós, ele está sempre comigo e é aconchegada nele e por ele que todas as noites adormeço. E hoje não será excepção.

Quanto ao dia de amanhã? Logo se vê. Não me apetece pensar nisso agora. A única coisa que tenho a certeza sobre amanhã é que ele vai estar presente, como está sempre. Desde o primeiro dia. E isso é o que importa. O resto é só mesmo isso: o resto.

{#302.065.2024}

Hoje, e ainda muito cansada do dia de ontem, foi dia de análises marcadas no Hospital para controlar valores, dada a toma diária e em jejum de um antibiótico que se vai manter presente até Fevereiro como terapêutica preventiva para a tuberculose latente, em que os valores da função hepática têm que ser verificados todos os meses. No mês passado os resultados já mostravam alguma alteração dos valores da função hepática. Não sei se é possível fazer alguma coisa do meu lado para evitar essas alterações. Sei, sim, que se os valores continuarem alterados ou até se tiverem piorado existe a possibilidade de trocar de antibiótico. O que não pode mesmo acontecer é interromper esta terapêutica, que é preventiva, na tentativa de eliminar o bacilo que carrego comigo e que apanhei sabe-se lá como. E, estando latente, é um risco demasiado elevado para quem, como eu, neste momento está sem sistema imunitário. O bacilo está a ser combatido. E, estando latente, não pode acordar! Acordar o bacilo da tuberculose, desenvolver a infecção, neste momento sem sistema imunitário? Não pode acontecer!

O que também não pode acontecer são as alterações da função hepática, mas essas são de mais fácil resolução. Acho eu… É uma questão de trocar o antibiótico e esperar para ver. Porque essas alterações também podem trazer complicações graves.

E é por isso que, todos os meses, vou até ao Hospital recolher sangue para verificação de valores. Como fui hoje. Mas hoje, e tendo a consulta marcada para depois de amanhã para se falar dos valores actuais, não houve recolha de sangue… Os técnicos de diagnóstico estiveram em greve. Que não contesto, que apoio, que concordo. Já ontem estiveram de greve também. Mas hoje…só eu sei o que me custou sair da cama de manhã ainda cansada de ontem…

Mas, cansada ou não, foram dois autocarros para lá chegar, tirar uma senha com 32 pessoas à frente e esperar. Não para ser chamada para recolha de sangue porque só os doentes oncológicos estavam a ser atendidos, o que é compreensível. Foram 2 horas de espera unicamente para remarcação das análises…

Liguei, claro, para o CDP para remarcar a consulta de quinta feira às 8h30, uma vez que não havia análises para ver e ainda tenho medicação para mais uns dias para lá da consulta. “Não estamos autorizados a fazer remarcações até ao final do ano“, foi a resposta que me deram, “se tem consulta marcada tem que vir na mesma“…

Está bem, quinta feira às 8h30 lá estarei. Felizmente amanhã não tenho nada marcado, não tenho horário para acordar, vou finalmente poder descansar. A ideia, quando voltei do Hospital, era almoçar, beber o meu café em casa e aterrar no sofá. Cheguei a casa às 16h30. Almocei depois das 17h. Fui para o cadeirão beber o meu café, fumar o meu cigarro e já não consegui ir para o sofá…

Não só não tinha coragem para sair do café por causa das dores nas pernas e no quanto me custa levantar e conseguir caminhar até ao sofá. Mas também porque, à distância de um clique, estava ele. E estar com ele, mesmo a 135km de distância mas sempre presente à distância de um clique, é sempre a melhor parte do meu dia.

É a minha paz. A minha tranquilidade. A minha segurança. Podia dizer que é o meu porto de abrigo. Mas seria insuficiente para descrever tudo aquilo que ele (me) é. É aquela metade de mim que me estava a faltar. E (re)encontrá-lo a 5 de Junho de 2023 foi a melhor coisa que me aconteceu. E que todos os dias melhora mais um bocadinho. E sabê-lo sempre , sempre presente, sempre comigo, mesmo que não o veja, não o sinta, não o cheire, não prove o sabor do seu beijo nem o calor do seu abraço que me acolhe, aconchega e protege, não tem preço.

E ninguém imagina, nem ele próprio imagina!, a força que todos os dias me dá para enfrentar seja o que for com que eu me depare.

Não há explicação para o que existe entre nós. Quero dizer, há! Mas é uma explicação que poucos entendem ou aceitam. Mas ninguém tem que entender ou aceitar. É uma coisa só nossa, que ambos aceitamos e entendemos. Mesmo que, às vezes, ainda perguntemos “como é que é possível?”. A intensidade. A verdade. O que ambos sentimos. O que ambos queremos. O que ambos vivemos. Todos os dias desde aquele dia 5 de Junho de 2023 em que um simples “Olá” abriu as portas àquilo que eu chamo de reencontro. Porque ambos sentimos que nos conhecemos, que nos pertencemos desde sempre. Outros tempos? Outras vidas? Essa é a única coisa que, realmente, não sabemos explicar. Mas desde aquele dia que sabemos que aquele não foi o primeiro dia, o primeiro encontro.

Sim, ele é aquela metade de mim que me estava a faltar. Disso não tenho dúvidas. E sabê-lo, senti-lo, vivê-lo!, é uma coisa extraordinária. Que nunca pensei experenciar. Saber. Sentir. Viver! Nunca pensei que tivesse essa oportunidade. Não sei porquê. Sempre me achei não merecedora disto. Mas depois lembro-me que fui eu quem, numa qualquer rede social, sem qualquer outra intenção que não apenas dizer “Olá” a quem me acompanha, fui eu quem abriu aquela porta para o Mundo. E não sei como, talvez porque o Universo estava atento, ou se calhar estava à espera que eu abrisse essa porta!, poucos minutos depois recebo uma mensagem privada em resposta ao meu “Olá”. E lá estava ele. A única pessoa que me respondeu, na verdade. Porque, e cada vez acredito mais nisso, aquele “Olá” estava destinado apenas para ele. Só ele leu o “Olá”. E, de alguma forma, encontrou a tal porta aberta e chegou até mim. Até ao destino? Não sei. Sei que, logo no primeiro momento, o reencontro foi intenso. E, nas palavras dele há poucos dias quando conversámos mais uma vez sobre aquela publicação, o meu “Olá” foi, para ele, avassalador. E isso é tão bonito.

Hoje, mais de um ano depois, continua a ser avassalador. Não só o “Olá” mas todo aquele amor intenso que temos um pelo outro mesmo que nunca nos tenhamos visto ao vivo. Nunca tenhamos estado juntos. Nunca tenha sido sentido aquele abraço. Nunca nos tenhamos tocado. O beijo que nunca existiu. O cheiro que nunca tenhamos incorporado em nós.

São 135 km de distância. Não é muito, é verdade. Não é impossível percorrer a distância. Mas a vida também sabe não ser justa e as circunstâncias que existem são o que são. Mas não tenho dúvidas nenhumas: não será por isso que o nosso amor vai terminar. Somos dois? Não. Somos um só. Ele lá. Eu aqui. Mas sempre presentes um no outro. E a caminhar de mão dada. Nos dias bons. Mas especialmente nos dias menos bons. Ou até mesmo maus.

Sem ele comigo o Mundo é um lugar estranho. E com ele sempre comigo, sempre em mim, a metade de mim que me estava a faltar, tudo é tão mais bonito, tudo é tão mais simples, tudo é tão mais fácil

não me imagino sem ele. E, claro, tenho medo por ele. Porque, se lhe acontecer alguma coisa, eu dificilmente saberei. Mas provavelmente sentirei. E não será nada bom…

Sim, já não me imagino sem ele. Porque ele faz parte de mim. Aquela metade que eu não sabia que me faltava. Com ele, estou inteira, completa. Sem ele…? Provavelmente seria apenas nada

{#301.066.2024}

Das coisas que ainda não aprendi. E que dificilmente vou aceitar. Eu já não sou, porque não posso ser, a mesma de, por exemplo, há um ano.

Sair de casa antes das 8h da manhã para regressar às 19h e passar o dia de um lado para o outro há um ano ainda se fazia bem. Chegava a casa moída e cansada, claro. Mas não era nada por aí além.

Hoje, sair de casa antes das 8h da manhã para regressar às 19h, tendo ido a vários sítios mas nem tanto tempo assim em cima das pernas, com excepção de quando decidi vir da vila a pé com paragem longa no paredão para matar saudades do pôr do Sol na praia seguida de passagem pelo parque até casa? Asneira! Foi chegar a casa sem força nas pernas e com demasiadas dores ao ponto de não conseguir sequer andar quando já em casa.

Não, ainda não aprendi a ser comedida nos esforços da marcha. Não, não aceito o estado a que cheguei a casa. O não conseguir andar. Porque andar era algo que eu sempre dei como garantido desde que aprendi a andar.

E não aceito sequer a possibilidade, não sei se remota ou não, daquela solução que tenho visto em pessoas como eu.

Continuo a não conseguir aceitar nada disto. Continuo a não conseguir chorar. Continuo zangada, revoltada, frustrada.

E continuo a aprender a lidar com isto. De uma forma que nem eu sei bem como. Mas sei que um dia aprendo.

Agora? Hora da Cinderela que já devia estar a dormir. Amanhã é dia de Hospital, felizmente a uma hora mais simpática que não obriga a madrugar. Mas já sei que o meu corpo se vai ressentir de hoje.

Felizmente a tarde está reservada para o sofá. Ou não, ainda não sei. Sei, sim, que hoje foram 3,2km que me derrubaram. Quando há relativamente pouco tempo não faziam mossa.

Seja. Amanhã, quando voltar do Hospital, logo se vê se a tarde fica ou não reservada para o sofá. Por hoje já chega

{#300.067.2024}

Meus amigos, a Depressão é uma doença mental filha da mãe. É aquela que dói e corrói por dentro, mesmo que por fora pareça que está tudo bem. Felizmente tem tratamento. E cura. Mas é muito fácil voltar a cair nela.

Lido com ela há tantos anos que já não me lembro quando foi confirmada pela primeira vez. Mas já perdi a conta aos terapeutas que me acompanharam.

Em 2016 tive a sorte de começar a ser seguida pelo terapeuta fofinho. Que, na primeira consulta, me disse “tu estás agora perdida numa floresta escura e assustadora, mas eu vou estar aqui como uma luz para ajudar a encontrares o mapa e fazeres o teu caminho“.

Posso dizer que foi ele que me salvou a vida.

Agora, no Hospital, quando preciso muito de ajuda, tenho um psicólogo que NÃO me ouve, nem quando lhe dou um sinal de alerta extremo: sim, faço algo como auto-punição.

Consultas de 30 minutos servem zero. Intervalos de mês e meio ainda servem menos. Especialmente quando se precisa de ajuda para ontem!

Mas depois há linhas de apoio. Como a linha SNS24 que agora também tem apoio psicológico. Funciona 7 dias por semana, 24 horas por dia.

E eu, com ausência de ajuda, seja de um bom psicólogo ou dos amigos, vou ligar agora para lá.

808242424, opção 4. Porque sim!, eu PRECISO DE AJUDA!

E fica a pergunta no ar: se até o neurologista na consulta em que só via o meu olhar percebeu que “essa depressão não vai bem, pois não?“, como é que no dia seguinte o psicólogo não viu?!

Não sei. Sei que pedir ajuda é necessário. E não é vergonha nenhuma, nem é dar parte fraca. Mas às vezes o peso do Mundo é demasiado para o carregarmos sozinhos…

{#299.068.2024}

Eu disse, esta tarde, que queria ir à rua. Dar uso às pernas que bem precisam de ser usadas e trabalhadas diariamente. Mas a verdade é que, claro, no sofá com duas mantas, uma gata e uma almofada térmica quentinha, só podia acontecer o que acabou por acontecer: adormeci. Que é o que agora mais faço porque estou cansada de nada.

Mas acabei por ir à rua. Espairecer um bocadinho, respirar ar fresco para me aliviar das alergias que tomaram conta do pessoal cá de casa. Mercearia e depois a esplanada do costume para comer uma tosta para o jantar. E, posso garantir, o serviço na esplanada do costume está cada vez melhor. Só que não…

Fui acompanhada pela minha mãe, claro. Conversámos, mas já não me lembro sobre o quê…

O frio estava agressivo e de repente lembramo-nos que estamos no final de Outubro! É normal que esteja frio. Mas nem por isso chateia menos.

Voltámos para casa e, para mim, ir dormir está fora de questão. Demasiado agitada, demasiado inquieta. Com tanta coisa a correr na minha cabeça. Não necessariamente coisas agradáveis. Claro que, mais uma vez, me sinto cansada. Quero obedecer ao que o meu corpo exige, mas a minha cabeça não deixa…

E para ajudar (só que não) vou consultar os resultados deste Sábado e confirmo: hoje dei uso às pernas. Foram 220 metros, 317 passos. Vergonhoso, portanto…

Tenho que combater isto. Não sei como, mas tenho. Não posso permitir que o sono, o frio, a chuva me façam parar no sofá todos os dias. Não. Eu PRECISO todos os dias de dar uso às pernas, mas mais do que 220 metros.

Estou perfeitamente consciente que a perda da mobilidade é uma realidade possível. Mas eu não a quero para mim. E tenho as ferramentas todas necessárias para combater isto. Tenho pernas mais ou menos cansadas e doridas mas funcionais! Tenho um parque de 14 hectares praticamente à porta de casa com o chão regular e perfeito para caminhar, trabalhar a marcha e o equilíbrio. Com um relvado imenso à espera que os meus pés descalços o pisem.
E, logo ao lado, tenho 3 km de um paredão junto à praia, onde posso respirar o ar do Mar que está logo ali.

Tenho tudo. Até uma bengala para me apoiar e a minha mãe para me acompanhar. E não o faço…por pura estupidez. E, talvez também, alguma falta de incentivo. Eu sei que o tal incentivo tem que partir de mim. E na minha cabeça ele está muito bem definido. Sei exactamente tudo o que posso e quero fazer. Mas não sei por onde começar nem onde e o que procurar…

Resumindo: não, não está fácil. Nem física nem mental e muito menos emocionalmente. Estou completamente na merda. E se o digo é porque, de facto, o sinto. E dizerem-me que este discurso não ajuda nada e que eu tenho que ser mais positiva ajuda ZERO!

É exactamente o mesmo que me dizerem que tenho que ser forte quando forte é tudo o que tenho sido nos últimos anos. Se não o fosse, tenho a certeza que hoje não estaria cá para contar a História. Que é a MINHA História. Que tem sido de luta desde que me conheço.

Por isso, não!, não tenho que ser mais positiva, mais forte, mudar o discurso que é um discurso de quem está cansada de tudo o que tem passado, tudo o que tem lutado e que, de repente, com a excepção da família, com a excepção dele que está sempre à distância de um clique que fica a 135km, está completamente sozinha.

Não procurei nada do que já passei. Decididamente não procurei isto que me apanhou na curva. E também decididamente não fiz nada para, quando mais preciso de quem diz que gosta de mim, não ter ninguém por perto, nem para beber um simples café!

Enfim…alguma coisa devo ter feito de errado. Só não sei o quê…

{#298.069.2024}

Há dias que são simplesmente dias “Não“. Não quero dormir, não quero acordar cedo, não quero sair de casa, não quero que o telefone toque, não quero ouvir ninguém, não quero ver ninguém, não quero falar com ninguém. Sendo ele a excepção óbvia.

Hoje foi um desses dias…

Devia ter saído de casa para dar uso às pernas? Sim, devia! Assim como devia fazê-lo TODOS OS DIAS.

O ideal? Era ter, em casa, uma daquelas bicicletas fixas que tanta gente tem em casa arrumada a um canto a servir de cabide. Garanto que, em vez de ficar aqui sentada no cadeirão sem me mexer, iria pedalar todos os dias várias vezes por dia. E depois ia até ao parque caminhar um pouco.

Estou preocupada com a minha marcha, para já nem falar do equilíbrio, e pondero inscrever-me num ginásio. Que já tive essa fase há uns anos, ginásio TODOS OS DIAS depois do trabalho e que aprendi a abominar.

Não faltam ginásios aqui no burgo, mas só de passar à porta e ouvir aquele barulho ensurdecedor de música que deixa a desejar, só de passar à porta!, a vontade é de fugir!

Procuro a piscina que toda a gente diz que existe mas ninguém me sabe explicar onde. Não seja por isso, em último caso tenho a piscina de Corroios.

O importante, mesmo, é trabalhar as pernas. Não posso, NEM QUERO perder a mobilidade! Que, aos poucos, está cada vez mais difícil.

Os dias “Não” também têm que ser combatidos se começarem a ser regulares. Podem acontecer uma vez por outra. Mas, com regularidade? Não!

Resumindo e baralhando: continuo muito perdida, pouco assistida, nada acompanhada e à espera do regresso à fisioterapia a 6 de Novembro.

E deprimida? Claro que sim. O neurologista viu isso no meu olhar por cima da máscara. O psicólogo não viu, não ouviu, não quis saber.

E assim vão seguindo os dias por aqui. Um atrás do outro. E todos iguais. A ver o tempo passar…

{#297.070.2024}

A ideia inicial era clara: hoje não saio de casa! Estou cansada, apesar de ter que trabalhar a marcha e o equilíbrio, a ideia era descansar. Os últimos dias têm sido algo movimentados e as minhas pernas ressentem-se. Mas acabei por contrariar a ideia inicial e apostei naquilo que sei que tenho que fazer todos os dias: dar uso às pernas. Nem que fosse só ir até ao café e voltar.

Fui à rua, beber café na esplanada do costume. Que é já ali. É perto. Acessível.

Fui. Fiquei. Telefonei a quem fez anos há quatro dias e que eu nunca mais me lembrei.

Depois? Dar um bocadinho de uso às pernas aqui mesmo no bairro. Nada longe. E, no regresso, perceber que tenho que fazer algo com urgência para manter a marcha. Porque eu recuso a alternativa.

Não, a marcha não está boa. E o equilíbrio também está cada vez pior. Por isso amanhã é dia de procurar soluções. Não posso, nem quero!, perder a capacidade de simplesmente caminhar…sei que essa possibilidade é real. Mas eu quero fazer tudo para que não aconteça! A fisioterapia só recomeça a 6 de Novembro. Ainda falta algum tempo. E já sei que, apesar de ser importante, não é suficiente. Por isso, vou procurar soluções!

Agora que a noite já se fez madrugada é hora de descansar. Amanhã? Logo se vê…

{#296.071.2024}

Ainda muito zangada com a situação de ontem com a consulta de Psicologia. Cabeça a mil, o que fazer, o que não fazer, como fazer, sei lá eu que mais.

A isto a própria Psicologia chama de ruminação, que o Priberam explica:

“Pensar muito ou durante muito tempo numa mesma coisa.”

É uma das minhas características, também suportada pelo diagnóstico de Perturbação de Personalidade Borderline.

Se me faz bem? Nenhum. Mas também não consigo evitar. Pelo menos até fazer alguma coisa. Procurei informação. E encontrei o que precisava no site da Ordem dos Psicólogos Portugueses:

“(…)As sessões com um/a Psicólogo/a devem durar, por norma, cerca de 45 a 50 minutos. A duração das primeiras sessões deve normalmente ser superior, podendo ser de cerca de 60 minutos. (…)”

Consultas de 30 minutos são aplicáveis a crianças, podendo até, se necessário, atingir os 60 minutos.

Quanto à frequência, a Ordem é clara:

“(…)frequência das sessões em Psicologia deve variar consoante a necessidade dos clientes, a fase do processo e o contexto de intervenção. Poderão ser necessárias sessões semanais ou suficientes sessões quinzenais. Em algumas circunstâncias, sobretudo numa fase de seguimento, a frequência pode até ser mensal ou até mais espaçada.(…)”

A informação está lá toda. No documento intitulado “RECOMENDAÇÕES DO CONSELHO DE ESPECIALIDADE DE PSICOLOGIA CLÍNICA E DA SAÚDE“.

Para já, serve para o próximo passo. Que queria ter dado hoje. Mas estou demasiado cansada e já passa da 1h45 da manhã e eu tenho que aprender, nem que seja à força de comprimidos que pus de parte há uns meses, a ir para a cama cedo. Até agora, parece que ainda não aprendi

Tirando esta ruminação, baixa renovada por mais dois meses. Mais 60 dias a ver o tempo passar. E eu não sei até quando vou aguentar…porque a Depressão já está instalada, o isolamento criado pelo afastamento dos outros também. E não me esqueço de quando, na consulta, o meu neurologista, que só me via o meu olhar por causa da máscara, fez um diagnóstico correctíssimo: “essa Depressão não vai muito bem, pois não?” Pois não, doutor…pois não. E parece que só o psicólogo não viu isso ontem

Enfim…

Vou tentar dormir, tentar descansar sabendo que amanhã não tenho nada agendado e o despertador vai tocar apenas para o antibiótico. Mas duvido que oiça o despertador. E este antibiótico não tem hora certa para ser tomado, só tem que ser em jejum.

De resto, já não sei nada. Já estou mesmo no registo do logo se vê.

E não me apetece chatear-me muito com mais nada…

{#295.072.2024}

Faltam poucos minutos para a 1h da manhã e alguém já devia estar a dormir há muito tempo. Mas continuo MUITO zangada. Não só comigo mesma, que já estou há muito tempo, mas também com o psicólogo que NÃO SABE ouvir. Que faz consultas de 35 minutos, te deixa falar 15 minutos e os restantes 20 são para MAIS UM TESTE de avaliação. O que é que ele tanto avalia? Não faço ideia, mas logo se vê. Pode ser que, quando tiver os resultados, entenda que eu PRECISO de ajuda. Não só para aceitar o diagnóstico, que continua a ser uma batalha diária ao ponto de não conseguir verbalizar o nome do que tenho nem sequer escrevê-lo (e ainda me pergunta “mas sabe o que tem, não sabe?” como se já não estivesse cansada de o saber!), mas também para lidar com a frustração do diagnóstico e com o peso da SOLIDÃO que, coincidência ou não, começou a ser cada vez mais insuportável desejo o diagnóstico. E, já agora, se não for pedir muito!, não me apontar o dedo quando lhe digo que sinto que deixei de existir e ele diz “acho que está muito zangada. Isso não será uma cobrança?”…

Eu sei que fiquei mal habituada ao fim de 8 anos com o terapeuta fofinho. Porque, desde o primeiro dia!, ele sempre me soube ouvir, sempre soube ler nas entrelinhas, sempre foi a minha luz-guia que me orientou para eu própria encontrar o meu caminho.
Mas com este…desde a primeira consulta em Julho (e esta foi só a terceira) que lhe dei todas as informações necessárias e lhe disse, directa e indirectamente, que PRECISO DE AJUDA! Mas ele não ouve o que lhe digo. Isso ficou explicito logo na primeira consulta.

Por isso, sim!, continuo muito zangada. Nisso ele acertou. Mas agora já não estou zangada só comigo. Estou zangada também com ele! 35 minutos de consulta, sendo apenas 15 aqueles em que pude falar depois de um intervalo de mês e meio desde a última consulta. E mais mês e meio até à próxima.

São consultas só para picar o ponto, está visto. E quando eu digo que preciso de ajuda, é porque PRECISO MESMO!

A Solidão é uma coisa filha da mãe. E quando aliada à Depressão chega a ser perigosa…e eu não vou negar que tenho medo. De regressar àqueles dias em que pensei EM TUDO. E que só a presença da minha mãe conseguiu impedir…

{#294.073.2024}

Ontem foi dia de levar o meu corpo quase até ao limite, não foi? Foi. Hoje foi dia de sentir as consequências.

Já sei, tenho aprendido devagar, que se num dia abuso um pouco, no dia seguinte o meu corpo não perdoa. Hoje não perdoou.

Dia dedicado a descansar e a recuperar. Já lá vai o tempo em que não sentia tanto a necessidade de recuperar energias. Mas hoje não deu para evitar. Felizmente não tinha consultas, exames ou análises para fazer. Mas amanhã é dia de regressar à sala de espera mais deprimida do Hospital. E tentar, em pouco tempo, partilhar com o psicólogo tudo o que tenho passado e sentido nas últimas semanas. E dizer-lhe também que intervalos de mês e meio entre consultas não me ajudam…Em nada.

Eu sei que venho de 8 anos de relação privilegiada com o terapeuta fofinho, em que todas as semanas tinha quem me ouvisse. E, na altura mais crítica, as consultas aconteciam duas vezes por semana. E tantas foram as que duraram bem mais do que uma hora…chegámos a ter consulta durante 3 horas

Sei que a consulta de psicologia em Hospital Público nunca poderá ter estes moldes. E entendo. Mas intervalos de mês e meio, para mim e neste momento, não dá

Agora é hora de descansar. Ir para a cama onde até já podia estar há algum tempo. E ainda não percebi porque é que não estou…

A consulta é só à tarde, mas há tanto que quero fazer ainda de manhã…

Vamos ver. Amanhã preciso de começar por deitar o que me dói cá para fora. E não é só a questão do diagnóstico, do tratamento, das dificuldades e limitações, do não conseguir escrever ou pronunciar o que tenho. O que me dói mais neste momento é a questão que ressoa na minha cabeça há vários dias: será que eu ainda existo? Sei que, para ele, existo. Mas…e para os outros?

Amanhã logo se vê…

{#293.074.2024}

Das coisas para as quais já não há pachorra: pessoas sem noção. De nada. E, por já não ter pachorra para elas, cada vez mais me convenço que não tenho que as aturar. Nem levar com elas quando se sentem ofendidas apenas e só porque, aparentemente, terei falado mais alto do que devia ao indicar o sítio correcto para parar o carro para eu poder sair em segurança, sem me arriscar a levar com um carro em cima.

Foi o suficiente para estalar o verniz, logo pela manhã, e ouvi-la dizer que não admite que lhe falem naquele tom. Sei que continuou a barafustar enquanto eu saía do carro. Devagar, como agora saio sempre. Mas eu deixei de ouvir ali, no “não admito“.

Porque, assim que o ouvi, me lembrei que também eu não admito tanta coisa que partiu sempre dela. Como, há pouco tempo, ao telefone comentar que tinha chovido de manhã. Apenas respondi “não dei por nada” para de imediato ouvir “TIVESSES IDO TRABALHAR!” Respirei fundo e disse o que digo sempre: quem me dera estar em condições de ir trabalhar. Ela continuou a bater na mesma tecla. Calei-me para não me chatear.

Sei que ela não acredita no meu diagnóstico e desde o primeiro dia sempre desvalorizou as minhas dificuldades e limitações que o diagnóstico justifica. Mas que ela acha que não.

Também me lembrei daquela frase que ela me atirou, em 2014 no “Verão que não o foi“, poucos dias depois de ter perdido o meu filho. “Se não aconteceu não é para ser falado!” Também me lembrei do que me disse quando confrontada com essa frase: “Isso é mentira! Eu NUNCA disse isso!Negou. Voltou a negar. E aposto que, se fosse confrontada hoje, 10 anos depois, continuaria a negar a barbaridade cruel que me disse, entre outras pérolas que ouvi da boca dela naqueles dias.

Conhece-me há 47 anos. Desde que nasci, portanto. Viu-me crescer. Sempre de muito perto. Mas continua a não acreditar que eu estou doente. E estou!

E não!, eu não tenho que continuar a levar com isto. “Já sabes que ela é mesmo assim”, diz-me a minha mãe. Está bem, que continue a ser, então. Mas, preferencialmente, longe de mim. Não tenho paciência nem preciso de pessoas assim. Porque, ao contrário dela, eu não me esqueço. De nada. Ela? Já não posso dizer o mesmo…

{#292.075.2024}

Se eu conseguisse desligar a cabeça… Se tivesse um botão de ON/OFF para aqueles pensamentos que incomodam mas que, por vezes, nos levam a questionar porquê…

Há já algum tempo que digo que estou farta disto. Sendo “isto“, pensava eu, o último ano de suspeita, posterior confirmação de diagnóstico e a longa espera pela medicação. Mas todas essas fases já foram ultrapassadas. E eu continuo farta.

Mas farta de quê? Ontem percebi de quê. Ontem soube a resposta dada por mim mesma. Eu estou farta de MIM…e não sei como deixar de o estar. Especialmente quando hoje surgiu uma nova questão…

Tenho falado muito da Solidão. Aquela que sinto todos os dias. Aquela que VIVO todos os dias. Aqueles dias em que, à excepção dele, percebo que não há ninguém a dizer “estou aqui”. E, quando digo ninguém, refiro-me aos que se dizem meus amigos, aos que dizem que se preocupam comigo, aos que dizem que gostam de mim. Porque são esses que deixaram de dizer “estou aqui“.

Deixaram de dizer seja o que for. E, também por causa disso, hoje dei por mim com uma dúvida. Uma questão que parece ter uma resposta tão clara.

A minha dúvida? A minha questão? É simples: será que eu ainda existo? A resposta clara diz-me que não. Já não existo. Pelo menos não para esse que já referi. Deixei de existir não sei quando, não sei porquê. Mas não, já não existo.

A excepção é ele. Que me relembra todos os dias que sim, EU AINDA EXISTO. Pelo menos para ele não tenho qualquer dúvida que existo. Mas para os restantes…para os restantes deixei de existir, simplesmente. E acho que isso resume a Solidão que vivo todos os diaseu deixei de existir. E ninguém me avisou do meu próprio funeral…

{#291.076.2024}

Estou cansada de fazer de conta. Fazer de conta que está tudo bem. Quando não está…

Hoje fizeram-me uma pergunta que há muito tempo ninguém fazia e que é tão simples de fazer: “Como estás?

Podia ter feito de conta e respondido aquilo que toda a gente quer ouvir: está tudo bem. Só que não está. E eu não quero continuar a fazer de conta. E, neste caso concreto, não ia fazer de conta a quem se faz P de Presença. Por isso, e mesmo não sabendo fazer resumos, dividi a resposta em três:

FISICAMENTE estou bem;

MENTALMENTE muito confusa;

EMOCIONALMENTE muito perdida.

E, basicamente, consegui fazer um resumo sem fazer de conta.

A única coisa que não lhe disse é que, para além de estar farta disto, dei por mim a sentir e a verbalizar que estou farta de mim

Por isso, não!, não vou continuar a fazer de conta. Que está tudo bem. Que vai correr tudo bem. Que eu estou bem. Porque não é verdade. Não está tudo bem. Não sei se vai correr tudo bem. Eu não estou bem. E tudo isto aliado ao sentimento de solidão é perfeito para me afundar a uma velocidade que até a mim está a assustar. Porque eu já estive aqui antes. E sei que este lugar não traz nada de bom.

Por isso não!, não vou continuar a fazer de conta. Estou cansada desse jogo em que nada é real. E vou mostrar-me como sou e como estou neste momento: na merda!

Já percebi que, mesmo fazendo de conta, a solidão se faz presente. Por isso, se é para lidar com a solidão, nada como ser eu própria, tal como sou e como estou. Mostrar a minha versão real.

Mas, ao mesmo tempo, sinto que devia continuar a fazer de conta. Porque nisso eu já sou perita. Mas não quero. Sozinha por sozinha, então que seja a eu real.

Enfim…

A verdade é que a solidão dói para caraças. E, claro, continuo a achar que a culpa é minha. Porque me isolo. Porque me afasto quando não estou bem. Porque sei lá porquê! Mas, claro, a culpa é minha…e, também por isso, estou farta. De mim

{#290.077.2024}

Mais uma voltinha, mais uma viagem. Mais uma ida ao Hospital, desta vez para análises pós-medicação.

Mas ainda não foi hoje que me deram o cartão de Utente Frequente para converter as visitas em cafés…e isso, meus amores, eu achindecente!

Mas, por hoje, já está. Ao Hospital de Dia, para análises e toma de medicação, só volto em Abril. Sendo certo que, para a semana, pico o ponto no Hospital outra vez, para outra visita à sala de espera mais deprimida do Hospital.

Aproveitei para fazer algumas perguntas à Enfermeira Elisabete, que é uma querida e sempre disponível. E sim, é perfeitamente normal ter morrido para o Mundo no dia a seguir à toma da medicação. Afinal, é o meu corpo a ajustar-se à medicação. E sim, para que a medicação faça o seu trabalho durante 6 meses, é uma dose pesada e algo violenta para o organismo. Mas, verdade seja dita, tirando o dia a seguir à toma da segunda meia-dose da medicação em que morri para o Mundo, não houve qualquer manifestação por parte do meu organismo quanto a efeitos indesejados. Nem uma má disposição para contar a história, nem nada de nada. Agora com as análises pós-medicação feitas é esperar que não me telefonem do Hospital por causa dos resultados. Não seria bom sinal…

Lá para Março, está prevista (mas ainda não marcada) nova Ressonância Magnética completa, ou seja Craneo Encefálica, Cervical e Dorsal para comparar com a de Janeiro passado e servir também de referência futura para acompanhar o trabalho da medicação. Sei que as lesões no cérebro e na espinal medula não irão desaparecer, não é sequer possível que tal aconteça. Mas, se se perceber que, com o tempo, não existem novas lesões ou que são poucas e/ou ligeiras, então é sinal que a medicação está a cumprir o seu papel.

Claro que, ao voltar para casa, ficou combinado com a minha mãe que, depois de almoço iríamos descansar um pouco para depois irmos beber um café e seguir para o parque. Não aconteceu. Não sei bem o que aconteceu, mas para quem acabou de almoçar antes das 14h e só conseguiu parar no sofá às 16h, é porque alguma agitação surgiu. Na verdade foram só telefonemas, nada de extraordinário, mas o suficiente para me fazer chegar ao sofá à hora que queria estar a sair para o parque…

Não conseguia, por muita vontade que tivesse, e tinha!, de ir ao parque, sair sem descansar. Especialmente sem esticar e aliviar as pernas. Não que tivesse andado muito de manhã, porque não foi assim tanto. Mas estavam cansadas e doridas. E, confirmei também com a Enfermeira Elisabete, o cansaço nisto que me apanhou na curva é bastante normal. Aquele cansaço que também é conhecido por fadiga. Por isso, é estupidamente normal que, assim que me estiquei no sofá com o aconchego da manta, tenha adormecido em menos de nada. Passava pouco das 16h. E lembro-me que, quando me estiquei no sofá, queria enviar uma mensagem para ele. Não enviei…mas não sei se não terei adormecido, mais uma vez, com o telemóvel na mão…

Enfim, duas horas e meia depois fui acordada. Não tivesse a minha mãe tido a vontade de me acordar para lanchar acho que teria acordado, muito provavelmente, amanhã

Mas a verdade é que agora a noite já começa a roçar a madrugada e eu ainda não me deitei. Apenas e só porque a minha cabeça está uma confusão. Sinto-me como se estivesse a haver uma enorme discussão dentro da minha cabeça. Não sei ao certo o motivo da discussão, mas desconfio que está relacionada com as dúvidas que me têm perseguido nas últimas noites sobre quem sou eu a nível mental…

Mas não quero dar demasiada importância a essas dúvidas. Podem ser só resultado da minha hipocondria aliada ao demasiado tempo livre que tenho nas mãos… Porque isto de estar sem trabalhar há mais de um ano por estar doente, que estou!, deixa de ser engraçado quando te leva a pensar coisas que não fazem sentido. Ou será que fazem…? Já não sei. E é isso que se discute na minha cabeça neste momento…

Estou cansada. Tenho sono. Começo a divagar no que vou escrevendo. Olho para o relógio e confirmo: já devia estar a dormir há muito tempo… Por isso é melhor parar por aqui. Não deixar que a confusão e a discussão na minha cabeça tomem conta do que escrevo. Vou ter que, rapidamente, começar a ir dormir cedo. A fisioterapia está quase a recomeçar. E, desta vez, será bem cedo, não vai dar para continuar a ir dormir tão tarde todas as noites sabendo que vou ter que sair de casa tão cedo…

Posto isto, vamos dar o dia por terminado. Chega. Tenho muito sono. Vou ali enroscar com ele, mesmo que ele esteja a 135km daqui e à distância de um clique. Não interessa, porque todas as noites enroscamos. De uma forma que só nós entendemos, que só a nós faz sentido.

Por hoje já não dá para mais… Amanhã? O objectivo é ir ao parque. Depois? Logo se vê…

{#289.078.2024}

Não estava previsto, mas hoje fui ao parque. Não fui muito longe, embora a vontade fosse ir até lá ao fundo, atravessar o estacionamento e só parar no paredão. Um dia destes faço isso. Mas tem que ser com calma ou corro o risco de não conseguir voltar para casa decentemente…por isso, se todos os dias fizer mais um bocadinho do caminho, rapidamente vou chegar ao paredão.

Os corredores do parque têm, para mim, uma coisa boa: o piso de alcatrão não está mal tratado, tem estabilidade suficiente para eu poder andar. Sem apoios. Sem a bengala. Sem o apoio do braço da minha mãe. E foi isso exactamente que experimentei fazer hoje: caminhar sem apoios. Trabalhar o equilíbrio no alcatrão porque a relva estava, claro, demasiado húmida por causa da chuva.

Não devem ter sido muito mais de 200/250 metros. Mas, lá está!, tenho que começar devagar. E, um dia destes, quando der por isso vou até ao paredão sem apoios. Não seria a primeira vez, fiz o mesmo no final de Abril como resposta a um desafio do fisioterapeuta. E, na altura, correu muito bem.

É verdade que já não faço fisioterapia há algumas semanas, tantas que já não me lembro quando foi a última vez. E dar uso às pernas não tem acontecido muito. Por isso é que tenho que começar devagar.
Mas, um dia de cada vez, um passo atrás do outro, sem pressa e sem pressão.

O importante é que fui ao parque e experimentei caminhar sem apoios. E não correu (muito) mal. Só era escusado ter começado a chover, o que me obrigou a voltar para casa e apanhar uma valente molha. Bem, desde que não me tenha constipado, está tudo bem.

Amanhã o dia começa cedo no Hospital de Dia para análises pós-medicação. E, quando voltava para casa, percebi que tenho um montão de perguntas para fazer às enfermeiras. Queria ter escrito todas para não me esquecer de nada. Claro que só me lembrei há pouco que tinha perguntas para fazer. Mas já não me lembro quais são…
Amanhã logo se vê.

O que importa é o que guardo do dia de hoje na gaveta da memória. Uma manhã bonita com ele e um fim de tarde promissor.

Agora é hora de descansar. E acreditar que também mereço coisas boas. E, no caso do equilíbrio, lembrar-me que há muito trabalho para fazer.

{#288.079.2024}

Ontem quis ir ao parque. Dar uso às pernas e caminhar um pouco. Não fazia questão de ir até ao paredão, embora gostasse de rever o pôr do Sol.

Não, a vontade ontem não era ir ao paredão. Bastava-me o parque. E, chegando lá, o que eu queria mesmo era descalçar-me e caminhar no relvado. Tenho saudades de sentir a relva nos pés. Também seria, claro, um bom exercício de equilíbrio. Mas, com mais ou menos equilíbrio, o que eu queria mesmo era andar descalça na relva!

Não fui, claro. Porque sozinha não me arrisco a grandes percursos e a minha companhia estava demasiado cansada.

Hoje chove. Muito. Também não vou. Mas a vontade continua a ser andar descalça na relva. E até chapinhar com os pés nas poças. Rodopiar de braços abertos e olhar para cima e rir e sorrir porque sim e porque também! Claro que esta última parte já só o consigo fazer em sonhos e deixa saudades. Mas quero muito caminhar descalça na relva

Hoje dificilmente irei sair de casa. Não faz mal. Não fico sozinha. Enrosco no sofá e, já sei, à distância de um clique está ele. Que, não duvido nem um bocadinho, também iria rodopiar comigo descalço na relva, de braços abertos e a olhar para cima e rir!

Rir porquê? Porque, sabe-se lá bem como e/ou porquê, nos (re)encontrámos nas curvas da vida. E, já lhe disse, estou tão feliz com esse (re)encontro. Porque faz todo o sentido. E sei também, já ele mo disse, que faz o caminho de mão dada comigo. E, quando caminhar for difícil, leva-me ao colo.

Lá fora chove. Não convida a sair de casa. Mas não faz mal. Porque, à distância de um clique, está ele. E pouco mais importa neste momento.

O Universo e as curvas da vida mexem-se de uma forma muito estranha, é verdade. Mas, no fundo, tudo acaba por fazer sentido. Para mim. Para ele. Para nós.

Lá fora chove. E ainda não é hoje que vou andar descalça na relva. Mas não interessa. Porque o caminho é para ser feito um dia de cada vez. E se, durante esse caminho, tiver alguém de mão dada comigo, tudo fica mais fácil. E eu tenho.

{#287.080.2024}

Hoje…?

Completa e absolutamente perdida.

Por aí…

Não. Não estou bem. Não. Não está fácil.

………e já não sei qual é o caminho para ficar bem, ou pelo menos melhor………

{#286.081.2024}

Domingo foi, há já muitos anos, instituído cá em casa como sendo o Dia de Santo Pijama. Aquele dia em que se dorme até mais tarde, toma-se o pequeno almoço à hora de almoço, almoça-se quando for e, noutros tempos, o jantar de garfo e faca era quase opcional. Mas o que era quase obrigatório era não sair do pijama o dia todo. Ou seja, não sair de casa o dia todo. Há muito tempo que não celebrava o Dia de Santo Pijama na sua plenitude, porque sentia sempre necessidade de sair de casa um bocadinho para espairecer, apanhar ar, beber café.

Mas hoje, mesmo não tendo café em casa desde sexta feira (ou quinta? Já nem sei…) e estando a esplanada do costume fechada ao Domingo, não saí do pijama o dia todo. Banho? Vai ficar para amanhã quando acordar. Hoje, depois de mais uma noite inquieta e tardia, não houve sequer coragem para sair do pijama e do sofá…

Ainda tinha pensado em ir até à praia seguir as indicações do médico: “caminhar na areia seca para trabalhar o equilíbrio e na areia molhada para estimular os pés. E, se cair, não faz mal! Já está na areia!”.

Pensei em ir, consultei a beachcam para confirmar o estado das praias e das marés, conversei com a minha mãe sobre a eventual ida até à praia também para aproveitar o dia que esteve bonito e não esteve frio. Até adormecer no sofá, com o telemóvel na mão enquanto escrevia numa publicação para o Instagram cujo texto a certa altura deixou de fazer sentido mas que ainda consegui, não sei como, carregar em Publicar. E publiquei, de facto. Não sei como, só sei que já tinha apagado no sofá quando o fiz…

Adormecer com o telemóvel na mão à noite, já na cama, é cada vez mais frequente. E sempre com o Spotify a dar-me música. Mas no sofá foi a primeira vez…

A fadiga faz parte desta coisa que me apanhou na curva. Não tenho que ter feito nada de especial. Ou até mesmo nada de nada! Para ficar esgotada como hoje? Bastaram as noites tardias. E, sim!, é esgotada que me sinto! Não faço nada o dia todo, é verdade. Há mais de um ano que não faço nada que me canse. Mas, todos os dias, me sinto esgotada. Sem energia para nada. Por isso, aquela ida à praia que eu queria para hoje, não aconteceu.

Em situações normais, bastaria um curto período de descanso para repôr energias e recuperar. Mas agora? É preciso aprender a viver com a fadiga, que é diferente do simples cansaço, e eu ainda agora estou a começar a conhecer este sintoma. Vou ter que aprender a auto-regular a energia dispendida para perceber como é que isto funciona…

Mas é horrível e percebo agora quando dizem que a fadiga pode ser incapacitante

E, por hoje, não quero ter uma noite tardia novamente. Quero descansar. Do quê? Não sei. Mas estou esgotada. E amanhã começa tudo outra vez. E, por isso mesmo, logo se vê. O que é urgente agora é ir dormir, descansar (de nada, eu sei!) e tratar de mim. E amanhã logo se vê.

{#285.082.2024}

Há pouco, ao escrever uma mensagem para ele, disse que ia fazer um telefonema. Ou, pelo menos, tentar. Para um daqueles números que, cada vez mais, raramente me atendem. Não o vou fazer. Decidi que não. Se é para, mais uma vez, não me atenderem a chamada, enviar mensagem a dizer “Já te ligo” e, cinco meses depois, ainda não ligaram, então não vale a pena.

Além do mais, com menos de 8% de bateria, vou é desligar o Spotify e esperar a “boleia” da minha mãe para ir para casa. Depois de ligar o carregador, vou continuar a não fazer telefonemas. Estou cansada de chamadas não atendidas e de “Já te ligo” em que o “” é sinónimo de longos meses de silêncio ensurdecedor.

Obrigada e boa tarde.