Monthly Archives: May 2016

#day152 out of 365plus1

Sou uma miúda de sorte. E sou grata por isso.
Sou grata pelos últimos 5 meses em que cresci, aprendi e me surpreendi a mim mesma em tanta coisa.

Sou uma miúda de sorte. E sou grata, também, por quem me rodeia. Pela preocupação do “e agora?” e pelo carinho do “vai correr tudo bem” e pelas palavras, os gestos, os mimos.

Tudo são ciclos. De aprendizagem, de crescimento, de conhecimento. E hoje fechou-se mais um. E, muito importante, em paz.

Tranquila. Segura.

Se deixa saudades? Claro que sim. As minhas guias que desde o primeiro dia me acolheram, os motoristas que fui conhecendo, os seguranças do terminal. Até as horas de despertar de madrugada para ver o nascer do sol no Cais.

Venha o próximo ciclo. De volta às agulhas e linhas e bancas e feiras e ideias e projectos e sonhos. Estou cá. E isso é o mais importante.

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#day151 out of 365plus1

Falo tantas vezes daquela vozinha que me sussurra ao ouvido. Falo mais do que oiço, na verdade. Ou, pelo menos, falo mais do que a atenção que lhe dou.

Já devia saber que quando ela se instala, quando se faz presente, devia prestar atenção, ouvir o que me diz e agir em conformidade. E há já alguns dias que ela me acompanhava. Que me incomodava. Que quase me gritava. Há já alguns dias que ela me dizia que havia um elefante na sala.

Desvalorizei. Assumi que seria cansaço acumulado, apenas. Cansaço acumulado e inseguranças minhas. Medo de falhar. Mas aquela vozinha continuava lá. A sussurrar-me ao ouvido aquilo que eu não queria ouvir.

O elefante na sala existia. O elefante na sala era eu. Que todos viam, menos eu. De quem ninguém falava. E o elefante na sala, eu, lá continuava com uma vozinha a sussurar-lhe ao ouvido e a dizer que algo estava errado.

Tenho pena de não ter, mais uma vez, dado a devida atenção e a devida importância a essa voz. Já devia saber melhor. Já devia saber que essa voz não me mente. O desfecho talvez fosse o mesmo. Mas amorteceria o impacto da surpresa logo pela manhã.

Termina-se um ciclo. Dizem-me que, de algum modo, falhei. Talvez. Mas sei que tentei navegar neste mar, que tanto gozo me deu, da melhor forma que soube.

Termina-se um ciclo. E se ontem dizia que não procurava o Norte por não estar perdida, se de manhã dizia que ia correr tudo bem, neste momento não posso dizer mais do que isto: perdi o pé.

Termina-se um ciclo. Amanhã. Depois? Depois continuarei como sempre: um dia atrás do outro atrás do um. E a prestar a devida atenção ao que aquela vozinha que me sussurra ao ouvido me vai dizendo.

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#day150 out of 365plus1

Há quanto tempo não tinha dois dias seguidos sem horários, sem horas, sem programa? Não me queixo, muito pelo contrário, mas o corpo, esse, ressente-se de horários inconstantes, incertos e sem pausas.

Dois dias sem pressas nem pressões, apenas ser, apenas estar. E sentir, sempre. E construir cenários improváveis para personagens fictícias na minha cabeça, que teimam em querer saltar para o teclado, ganhar vida própria.

Sentir. Mesmo que o ar entre devagar. Mesmo que o corpo pese. Mesmo que a luz magoe os olhos, o som não entre, os cheiros não existam. Sentir sempre. Sejam as borboletas que por cá se mantêm, cada vez mais domesticadas mas prontas a bater as asas no meu estômago a qualquer momento. Seja aquela vontade de estar ali, lá, que não é aqui. Seja aquela vontade de ser. De lá, ali. Sentir, sempre.

Não procuro o Norte, nem busco luz de presença. Já não. Vou seguindo ao sabor dos dias. Sei que sei mais do que admito. Sei que sei mais do que é dito, falado. Porque leio. E sinto. E de novo aquela vozinha ao meu ouvido que me avisa, que me aconselha, que me confirma. Dificilmente se engana, essa voz. E por isso mesmo lhe dou ouvidos. E por isso mesmo espero, quieta. O Tempo há-de ser Tempo no Tempo certo. Já tive dúvidas. Hoje não tenho. Quando for Tempo, será o Tempo no meu Tempo. Espero, mas deixo a porta entreaberta. Já aprendi que não adianta deixá-la fechada à espera que alguém a abra. Fica assim, entreaberta, e no seu Tempo será passada essa porta. De cá para lá? De lá para cá? Não. A meio caminho.

Até lá, não me perco. A luz de presença que já não procuro está ali, sempre. E há tanto Tempo que ali está.

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{little did I know}

Little did I know back then.

Faz dois anos que escrevi isto. Não imaginava na altura todos os alarmes e todas as surpresas que me esperavam. Que, afinal, fui eu que de certa forma os pedi.

Little did I know back then.

E hoje leio e releio e percebo que já há dois anos era como hoje. Tanto que aconteceu e tão pouco que mudou. Não tinha noção na altura. Ou talvez tivesse e apenas achasse que não. Aliás, disse-o quando escrevi, mantenho dois anos depois: sou totó o suficiente para não perceber.

Hoje? Hoje acho que percebo. Porque, lá está, tanto que aconteceu e tão pouco que mudou.

As borboletas que fazem flutuar dois palmos acima do chão. Não me lembrava de ter escrito isto há dois anos. Mas têm sido uma constante ao longo de todos estes meses. Sempre pelo mesmo motivo. Sempre.

………e confesso-me tão mas tão totó hoje como há dois anos. Mas hoje totó com mais dois anos de experiência.

{E não, não sou apenas eu a ver e a perceber, pois não? Ou a não ver e a não perceber, sei lá eu…}

#day147 out of 365plus1

Dias que começam cedo e acabam cedo.
Poder, finalmente, dormir sem horários depois de uma manhã tabelada de tours.
Sim, dormir faz falta. Já sei que não dormir o suficiente me tira filtros e algum discernimento. E sei, também, que não posso ser assim.

Mas com filtros ou sem eles, com mais ou menos discernimento, sou como sou e mais uma vez repito toda a manhã para mim mesma: não esperes que os outros sejam como tu.

E no final do dia fica o sorriso. Descansado, tranquilo e só porque sim. E também porque cada vez mais tenho menos dúvidas: há, de facto, um pote de ouro no final do Arco-íris. E sei que esse final do Arco-íris não está tão longe quanto se faz parecer.

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#day146 out of 365plus1

Tenho personagens fictícias na minha cabeça a quererem saltar para o teclado. Terão que esperar, tal como as outras personagens, as reais.
As reais não querem saltar para o teclado. Mas têm passos para dar para lá daquela porta que abri, deixei entreaberta e que hoje não sei como está. Sei apenas que não está trancada, não sei se está de novo fechada ou se está ainda mais aberta do que a deixei.

Preciso de tempo. Preciso de tempo para o meu Tempo, aquele que teimo em dizer que não tenho Tempo para perder Tempo e que sinto a fugir-me. O Tempo é breve. Sinto o meu cada vez mais breve. Assusta-me. E volto a lembrar-me do que um passado Novembro me ensinou: não deixar nada para depois. Porque esse tal depois pode nunca chegar.

Coordenar tempos, coordenar o meu Tempo. Dar um passo em direcção à porta. Respirar fundo e simplesmente apostar no Tempo que ainda é o meu. Preciso de o fazer.

Até lá, tenho personagens fictícias na minha cabeça a quererem saltar para o teclado. A quererem ganhar vida. A quererem contar histórias. Fictícias apenas por não ter ainda dado o passo que preciso dar, com receio que não sejam mais nada do que personagens fictícias. E o Tempo, o meu Tempo, é breve. E esse tal depois pode nunca chegar.

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#day145 out of 365plus1

Como sempre esqueço-me que sou eu quem permite que me façam sentir assim, a descer. Não posso permitir, não posso esquecer-me.

Amanhã volto a ser eu. Mesmo que tentem que seja outra.

Amanhã voltará a ser melhor.
Não hoje. Não ainda.

(E é nestes dias que a vontade de te escrever aumenta. Escrever-te sem filtros, sem dúvidas, sem vacilos, sem barreiras, simplesmente escrever-te. Dizer-te tudo o que guardo comigo há tanto tempo, demasiado tempo. É nestes dias de cansaço acumulado que baixo a guarda, solto-me de filtros e acredito que esta é a hora, o momento. Não é, eu sei. Não é boa ideia fazê-lo sem defesas. No entanto receio nunca vir a fazê-lo. Por falta de tempo. Do meu tempo. Aquele que não tenho Tempo para perder Tempo. E deixo passar mais um dia sem dizer o que não pode ser deixado por dizer.)

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#day144 out of 365plus1

Não tenho problemas em reconhecer quando falho. Reconheço e assumo os meus erros. E peço desculpa. Não resolve nada, eu sei, mas peço desculpa precisamente por reconhecer que falhei. E farei o meu meu melhor para que não volte a acontecer.

Tenho alguma dificuldade em aceitar quando me atiram as minhas falhas com total falta de razoabilidade. Por muito que o erro tenho sido meu, e tendo prontamente assumido a minha falha, não consigo aceitar argumentos que não são verdadeiros. Não me custa admitir a razão do outro lado. Quando a há. Não havendo, rebato. Quando estou em posição de o fazer. Quando não estou resta-me reconhecer que sim, falhei, e ouvir e calar.

Não me peçam o que não posso dar por não o ter.

Não, o dia não começou bem. Não, tenho poderes sobre-humanos.

O cansaço acumulado das últimas semanas com o culminar do último fim de semana já pesa. Muito. E a falta de razoabilidade abana. E novamente sinto que não pertenço. Ali, aqui, onde for. Não pertenço, não encaixo, não me enquadro.

Novamente e cada vez mais a vontade de me isolar, de me fechar. Talvez tornar-me um autómato em horário laboral. E mesmo fora dele. Dizem que os autómatos não sentem. Também não pertencem, não encaixam, não se enquadram. Mas cumprem a função para a qual foram programados. E não importa que o número de horas de trabalho seja largamente superior ao previsto, quando o sinal do nível de bateria se aproximar de um nível baixo basta ligar uma bateria externa até recarregar novamente. E até lá a função continua a cumprir-se sem quebras. Não sentindo absolutamente nada, nem dores, nem o peso do corpo moído nem a falta de alguém que se quer perto, mais perto e mais presente. Não tendo função na memória para reconhecer cheiros e aliá-los a momentos, a pessoas.

Fechar-me. Isolar-me. Não é viver, sei-o tão bem. Bem demais. Automatizar-me não é solução por não ser possível. Porque não tenho capacidades sobre-humanas, porque sinto. Sinto dores, sinto as palavras que me dirigem, sinto as faltas das ausências, sinto arrepios na pele e borboletas na barriga, sinto sono por aumento da dívida de horas à minha cama, sinto “mais do que devia”, sinto a vertigem causada pelo cheiro na minha roupa que me activa a memória e me leva de imediato para onde queria realmente estar agora.

Não. Hoje não foi um dia bom. Não foi um dia fácil. Mas terminar este dia longo e difícil com a presença daquele cheiro que me leva onde queria estar torna tudo mais simples.

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#day143 out of 365plus1

Fato preto e camisa branca, lenço de farda. Pasta, listas, horários, grupos.

Horas longas, fusos horários alternativos.

Turnaround, debark, embark, aboard, ashore.

Acompanhar, comunicar, coordenar, ajudar.

Que dia tão longo, este. Tão estranho por repetir navios sem repetir, na totalidade, experiências.

Que dia tão estranho, este.

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#day142 out of 365plus1

Dizem que não há amor como o primeiro. Aplica-se, também, a navios em turnaround.

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#day141 out of 365plus1

Se um dia te disserem “pode dar-me a mão só um bocadinho?”, não hesites. Dá a mão, estende o braço, serve de apoio, acompanha nesses menos de 50 metros em mais de 20 minutos. Não é Tempo perdido. É Tempo ganho.

Porque um dia foste tu a pedir a mão para manter o equilíbrio. Porque um dia foste tu a precisar de um braço estendido. Porque um dia foste tu a precisar de um ponto de apoio para percorrer os teus menos de 50 metros em mais de 20 minutos.

Deixaste um sorriso genuíno. Devolveste em igual medida a uma senhora que podia ser tua avó. Que sabes que se chama Constança e tem dos sorrisos mais bonitos que encontraste nos últimos tempos. Perguntou-te se lhe davas um beijinho quando finalmente a deixaste bem entregue. Não deste um, deste dois. E sentiste, quando te ajoelhaste à sua frente, já sentada e notoriamente cansada, sentiste um bocadinho daquele mimo de avó que há tantos anos não sentes. E, tal como em conversa de avó e neta, ralhaste e fizeste-a prometer que não repetia a aventura. Riste com ela quando te disse envergonhada que prometia. E tiveste vontade de a abraçar quando te foste embora como se abraça uma avó.

Se um dia te disserem “pode dar-me a mão só um bocadinho?”, não hesites. Com essa mão dada pode vir um bocadinho de magia daquela que só as avós sabem ter.

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#day140 out of 365plus1

Há dias em que o sorriso não é tão fácil. Há dias em que a dor, aquela física, fica quase insuportável. Cada passo, cada movimento, por mais ligeiro, dá vontade de parar e chorar. Dá vontade de ficar quieta até deixar de doer.

Respiro fundo. Repito. Aguento. Suporto. Não é fácil. Mas também esta dor constante, física, acabará por passar da mesma forma que chegou: sem aviso.

Até lá aguento. Suporto o insuportável. E abro o sorriso ainda assim, ainda que a cada novo passo a vontade seja chorar.

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#day139 out of 365plus1

Um dia volto a escrever-te. Não me lês, eu sei, mas voltarei a escrever-te um dia. Não um dia longínquo, daqueles que podem nem acontecer. Mas um dia daqui a poucos dias, um dia daqueles mais calmos de volta a horários regulares. Em que consiga parar sem me preocupar com o despertador a tocar ainda de noite para regressar a casa já com o Sol a despedir-se.

Um dia volto a escrever-te. Não me lês, eu sei, mas voltarei a escrever-te o tanto que quero contar-te. O tanto que quero dizer-te. Nada que não saibas já, mesmo que não me leias. Nada que te seja completamente novo. Mas voltarei a escrever-te. Sobre dançar à chuva, rir sem pressa e quase sem motivo. Sobre a Lua que me acompanha ainda que tu acompanhes o Sol.

Tenho vontade de te escrever. Um dia volto a escrever-te. Não me lês, eu sei. Mas voltarei a escrever-te. Um dia.

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#day138 out of 365plus1

Vontade de parar. Só por um bocadinho. Parar e conversar e rir e sorrir e apenas estar, apenas ser, apenas sentir.

Vontade de ver o tempo passar. Mesmo que não tenha Tempo para perder Tempo, quero senti-lo e vivê-lo.

Vontade de ser. Vontade de estar. Vontade de sentir. Vontade de Viver.

Vontade. Tanta de tanta coisa tão simples.

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#day137 out of 365plus1

Uma espécie de jogo das diferenças. Onde pormenores mínimos marcam a diferença em cenários idênticos.
O que mudou? Não mudando nada, mudou tanto. Não tudo, o cenário mantém-se. Mas os detalhes, por muito pequenos, quase ínfimos, dizem-me tudo.

Se posso estar errada? Claro que sim. Quero acreditar que não. Porque há pequenas coisas que não se conseguem fazer passar pelo que não são. Mesmo que sejam pequenas, são demasiado grandes para serem outra coisa qualquer.

Jogo o jogo das diferenças. Observo. Sou surpreendida. Detalhe atrás de detalhe. Pormenor atrás de pormenor. E percebo que esses detalhes, esses pormenores, se calhar apenas estiveram escondidos no desenho observado.

Não há vencedores nem vencidos no jogo das diferenças. Há, apenas, surpresas. E o dissipar de dúvidas, ainda que possa estar absolutamente enganada e esses detalhes sejam apenas isso mesmo: detalhes. Sem importância.

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#day136 out of 365plus1

“I see in blue, I see in blue, I see in blue
Oh, when you see everything in red
There is nothing that I wouldn’t do for you
Do for you, do for you
Oh, cause you got inside my head”

E ela lá em cima, a minha Lua, que não desilude. Entre portas entreabertas ou apenas mal fechadas que acabam por abrir, ela. Sempre presente.

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#day134 out of 365plus1

Sol em dias de chuva. Chuva sem abrir o chapéu. Chuva no rosto, saltar poças. Só porque sim. Só porque faz bem sentir a pele molhada.

Gosto. De Sol em dias de chuva. De madrugadas serenas, manhãs intensas e chuva no rosto.

E gosto de ti assim, nascente por entre nuvens, sobre águas que correm nos dias de todos os dias.

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