Sonhar faz parte do processo de sono. Nem todas noites sonho, ou não me lembro do que sonho. Mas esta noite, algures entre acordar a meio da noite e voltar a adormecer, sonhei. Um sonho repetido que, apesar de não ser um sonho mau, foi mais uma vez um sonho que preferia não ter ou recordar.
Voltei a sonhar que estava grávida. E, desta vez, sonhei também com a presença do pai. Coisa que não aconteceu nas vezes anteriores que tive este sonho. E, ao contrário do que seria de esperar tendo em conta a minha história, foi uma presença positiva e agradável. Porque era uma presença presente, que queria de facto ali estar.
Mas foi novamente um sonho que preferia não ter. Porque ainda custa pensar sobre isso, sendo que falar então é uma questão que não acontece porque não consigo.
Já sei que os sonhos fazem parte do processo de sono. E é algo que não se pode controlar. Mas preferia não me lembrar. Porque nos sonhos também sentimos, e foi, novamente, medo o que senti. Apesar de ter uma presença positiva ao meu lado, foi medo o que sobressaiu.
Mas lembro-me, também, do olhar dele. O pai. Um olhar feliz, sem lágrimas. E as mãos, o toque na minha barriga já grande, e a certeza que houve nesse toque. A certeza de que o lugar dele era ali, ao meu lado, ao nosso lado, meu e do meu filho.
Esta noite voltei a sonhar que estava grávida. Sei que não vai passar disso mesmo, um sonho que nunca será real. Mas tudo o que senti foi real: medo. Como quando realmente engravidei. Nessa altura, foi medo que senti. E, talvez por isso mesmo, talvez por só conhecer esse sentimento relacionado com a gravidez, transferi-o para o meu sonho. Mesmo que a presença do pai me dissesse para não ter medo porque “está tudo bem”.
E essa frase, “está tudo bem”, tem para mim uma importância que não se explica, apenas se sente.
Sei que os sonhos fazem parte do processo de sono. Mas, ainda assim, há sonhos que preferia não ter.
Como este.