“If you can dream it, you can do it!“
Era tão bom se fosse assim tão simples…
Eu tenho sonhos, muitos, tantos! E alguns deles até são tão simples de realizar. Mas depois tenho um corpo, um corpo doente, que se ri de mim e diz-me assim “pensa lá bem…achas que sim?”…
Já tenho lido muito sobre os efeitos e sintomas que isto que me apanhou na curva pode trazer a cada um de nós. Já tenho lido testemunhos de pessoas iguais a mim. Especialmente sobre o efeito Fadiga. Que não é igual a cansaço, agora entendo…
Não me lembro do que fiz na quinta feira, mas acho que foi nesse dia que tive consulta no Hospital. Exacto! Já confirmei, quinta feira foi dia de consulta no Hospital. Acordei cedo, saí de casa relativamente cedo, fui a Almada ter com a minha mãe, seguimos para o Hospital. E planeei depois de almoço descansar um pouco antes de me preparar para mais uma aula de Yoga. Não me lembro a que horas cheguei a casa nem se passei pelo sofá para descansar ou não. Isto de não me lembrar das coisas também faz parte…é como ter uma tabela de Excel carregada de informação com uma mão cheia de células em branco às quais não consigo aceder… Assim anda a minha memória.
Fui ao Yoga, vim directa para casa, jantei e cama. Tarde, como sempre…
Ontem acordei cedo novamente. Cansada, com sono, com o corpo moído. De tal maneira com sono que adormeci na cadeira do cabeleireiro enquanto me lavavam o cabelo. Eu, que não consigo dormir em lado nenhum que não seja a minha cama ou o meu sofá, adormeci na cadeira do cabeleireiro…
Com uma Teleconsulta marcada para as 18h (até às 19h) e um jantar às 20h, ainda com tanta coisa para fazer achei que ia conseguir descansar e recuperar energias para a noite. Claro que não aconteceu o que tinha programado, com tanta coisa a acontecer ao mesmo tempo.
Tive a consulta e, não sei como, consegui atrasar-me para o jantar…! Mas fui ao jantar, socializei, conheci pessoas novas, conversei, soube tão bem.
Cheguei a casa já passava da 1h da manhã. E, ainda sem perceber muito bem como, adormeci pelas 3h.
Esta manhã era dia de Yoga. Consegui acordar a horas de ir, mas o meu corpo riu-se de mim e perguntou-me “achas mesmo?”.
Ainda antes de conseguir sair da cama percebi a mensagem do meu corpo e claro que não conseguia ir a lado nenhum. O meu corpo é que manda e sabe melhor do que eu do que é capaz de fazer em determinado momento…
Mensagem para o Professor Pedro a quem ontem tinha confirmado que lá estaria e assumir que não, não consigo. Eu que, estupidamente, ainda continuo a achar que consigo tudo! Ainda não consegui foi aceitar que a minha cabeça pode até conseguir muita coisa (menos aceder às tais células da tabela de Excel que estão em branco e me fazem esquecer coisas que já aconteceram…e há pouco tempo!), mas o meu corpo esgota a reserva de energia muito rapidamente…
Pequeno almoço tomado às 9h30 e a necessidade e vontade de ir beber um café. À rua. Para acordar para a vida! O primeiro café da manhã aconteceu muito perto das 13h. Porquê? Porque antes disso estive no cadeirão a tentar reunir um bocadinho extra de energia para conseguir ir à rua beber café. Mas fui. E fiquei pela esplanada. Mais tempo do que na realidade pensava que tinha passado.
O sono continuava presente. Tinha programado com a minha mãe uma ida ao Almada Fórum à tarde. Mas o meu corpo continuava a rir-se de mim. “Ok, não vamos a seguir ao almoço, vou esticar-me um bocadinho no sofá, vamos ao fim da tarde”, sugeri. A minha mãe concordou. Acho que ela e o meu corpo têm um qualquer sistema de comunicação entre eles e ela percebeu que eu não estavam só cansada e ensonada…estava esgotada!
Sei que passava muito pouco das 17h quando, finalmente, me estiquei no sofá. Sei também que a minha mãe estava praticamente pronta para sair nessa altura. Sei que procurei um qualquer canal na televisão e ainda tive tempo para pôr os óculos. Como se fosse conseguir manter-me acordada para ver fosse o que fosse!
Sei, sem sombra de dúvida, que assim que me instalei confortável no sofá, com a manta e as almofadas térmicas quentinhas, adormeci de imediato. Não dei pela minha mãe sair de casa, não sei o que se passou à minha volta, sei que fui acordada à força para comer qualquer coisa quase às 21h.
Depois de ter comido, tenho estado numa luta comigo mesma. O meu corpo diz-me “vai dormir!” e a minha cabeça, a mil, responde-lhe “é só mais um bocadinho…”
A verdade é que agora compreendo os relatos de outras pessoas como eu quando dizem que têm que planear muito bem o que vão fazer, especialmente quando aparece um qualquer programa que acaba mais tarde, como um jantar ou uma saída com amigos. Dizem também que, depois dessa saída da rotina se sentem completamente esgotadas. Drained, é o termo que mais tenho encontrado na comunidade internacional com a mesma condição (por algum motivo que desconheço e ainda menos entendo, os portugueses não falam disto, como se fosse um enorme tabu…não é tabu! E muito menos é motivo para terem vergonha!). Mas sim, é completamente drained que me sinto! Esgotada é a única palavra que encontro em português para isto, mas que não acho suficiente para descrever esta absoluta falta de energia…
Tenho lido várias vezes nessa tal comunidade internacional que, se um dia abusas um bocadinho mais do teu corpo, ele no dia seguinte vai cobrar com juros e a ti só te resta pagar! E eu já percebi que entre quinta feira e ontem devia ter conseguido um bocadinho de tempo para parar, descansar e recuperar. Hoje estou a pagar a conta do excesso de uso da escassa energia, mesmo que esse excesso de uso pareça ser tão pouco para quem está de fora… Mas, só o facto de ontem ter adormecido enquanto me lavavam o cabelo no cabeleireiro, já me devia ter servido de sinal de alarme…
Enfim… É muito fácil e muito bonito dizer que “if you can dream it, you can do it!”. Mas não é assim tão simples quanto parece. E agora começo a ver e a conhecer melhor os efeitos que isto que me apanhou na curva tem sobre o meu corpo. E cada vez gosto menos. E assim fica cada vez mais difícil de aceitar este meu novo normal…