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{#334.033.2024}

If you can dream it, you can do it!
Era tão bom se fosse assim tão simples…

Eu tenho sonhos, muitos, tantos! E alguns deles até são tão simples de realizar. Mas depois tenho um corpo, um corpo doente, que se ri de mim e diz-me assim “pensa lá bem…achas que sim?”…

Já tenho lido muito sobre os efeitos e sintomas que isto que me apanhou na curva pode trazer a cada um de nós. Já tenho lido testemunhos de pessoas iguais a mim. Especialmente sobre o efeito Fadiga. Que não é igual a cansaço, agora entendo…

Não me lembro do que fiz na quinta feira, mas acho que foi nesse dia que tive consulta no Hospital. Exacto! Já confirmei, quinta feira foi dia de consulta no Hospital. Acordei cedo, saí de casa relativamente cedo, fui a Almada ter com a minha mãe, seguimos para o Hospital. E planeei depois de almoço descansar um pouco antes de me preparar para mais uma aula de Yoga. Não me lembro a que horas cheguei a casa nem se passei pelo sofá para descansar ou não. Isto de não me lembrar das coisas também faz parte…é como ter uma tabela de Excel carregada de informação com uma mão cheia de células em branco às quais não consigo aceder… Assim anda a minha memória.

Fui ao Yoga, vim directa para casa, jantei e cama. Tarde, como sempre…

Ontem acordei cedo novamente. Cansada, com sono, com o corpo moído. De tal maneira com sono que adormeci na cadeira do cabeleireiro enquanto me lavavam o cabelo. Eu, que não consigo dormir em lado nenhum que não seja a minha cama ou o meu sofá, adormeci na cadeira do cabeleireiro

Com uma Teleconsulta marcada para as 18h (até às 19h) e um jantar às 20h, ainda com tanta coisa para fazer achei que ia conseguir descansar e recuperar energias para a noite. Claro que não aconteceu o que tinha programado, com tanta coisa a acontecer ao mesmo tempo.

Tive a consulta e, não sei como, consegui atrasar-me para o jantar…! Mas fui ao jantar, socializei, conheci pessoas novas, conversei, soube tão bem.

Cheguei a casa já passava da 1h da manhã. E, ainda sem perceber muito bem como, adormeci pelas 3h.

Esta manhã era dia de Yoga. Consegui acordar a horas de ir, mas o meu corpo riu-se de mim e perguntou-me “achas mesmo?”.

Ainda antes de conseguir sair da cama percebi a mensagem do meu corpo e claro que não conseguia ir a lado nenhum. O meu corpo é que manda e sabe melhor do que eu do que é capaz de fazer em determinado momento…

Mensagem para o Professor Pedro a quem ontem tinha confirmado que lá estaria e assumir que não, não consigo. Eu que, estupidamente, ainda continuo a achar que consigo tudo! Ainda não consegui foi aceitar que a minha cabeça pode até conseguir muita coisa (menos aceder às tais células da tabela de Excel que estão em branco e me fazem esquecer coisas que já aconteceram…e há pouco tempo!), mas o meu corpo esgota a reserva de energia muito rapidamente…

Pequeno almoço tomado às 9h30 e a necessidade e vontade de ir beber um café. À rua. Para acordar para a vida! O primeiro café da manhã aconteceu muito perto das 13h. Porquê? Porque antes disso estive no cadeirão a tentar reunir um bocadinho extra de energia para conseguir ir à rua beber café. Mas fui. E fiquei pela esplanada. Mais tempo do que na realidade pensava que tinha passado.

O sono continuava presente. Tinha programado com a minha mãe uma ida ao Almada Fórum à tarde. Mas o meu corpo continuava a rir-se de mim. “Ok, não vamos a seguir ao almoço, vou esticar-me um bocadinho no sofá, vamos ao fim da tarde”, sugeri. A minha mãe concordou. Acho que ela e o meu corpo têm um qualquer sistema de comunicação entre eles e ela percebeu que eu não estavam só cansada e ensonada…estava esgotada!

Sei que passava muito pouco das 17h quando, finalmente, me estiquei no sofá. Sei também que a minha mãe estava praticamente pronta para sair nessa altura. Sei que procurei um qualquer canal na televisão e ainda tive tempo para pôr os óculos. Como se fosse conseguir manter-me acordada para ver fosse o que fosse!

Sei, sem sombra de dúvida, que assim que me instalei confortável no sofá, com a manta e as almofadas térmicas quentinhas, adormeci de imediato. Não dei pela minha mãe sair de casa, não sei o que se passou à minha volta, sei que fui acordada à força para comer qualquer coisa quase às 21h.

Depois de ter comido, tenho estado numa luta comigo mesma. O meu corpo diz-me “vai dormir!” e a minha cabeça, a mil, responde-lhe “é só mais um bocadinho…”

A verdade é que agora compreendo os relatos de outras pessoas como eu quando dizem que têm que planear muito bem o que vão fazer, especialmente quando aparece um qualquer programa que acaba mais tarde, como um jantar ou uma saída com amigos. Dizem também que, depois dessa saída da rotina se sentem completamente esgotadas. Drained, é o termo que mais tenho encontrado na comunidade internacional com a mesma condição (por algum motivo que desconheço e ainda menos entendo, os portugueses não falam disto, como se fosse um enorme tabunão é tabu! E muito menos é motivo para terem vergonha!). Mas sim, é completamente drained que me sinto! Esgotada é a única palavra que encontro em português para isto, mas que não acho suficiente para descrever esta absoluta falta de energia

Tenho lido várias vezes nessa tal comunidade internacional que, se um dia abusas um bocadinho mais do teu corpo, ele no dia seguinte vai cobrar com juros e a ti só te resta pagar! E eu já percebi que entre quinta feira e ontem devia ter conseguido um bocadinho de tempo para parar, descansar e recuperar. Hoje estou a pagar a conta do excesso de uso da escassa energia, mesmo que esse excesso de uso pareça ser tão pouco para quem está de fora… Mas, só o facto de ontem ter adormecido enquanto me lavavam o cabelo no cabeleireiro, já me devia ter servido de sinal de alarme

Enfim… É muito fácil e muito bonito dizer que “if you can dream it, you can do it!”. Mas não é assim tão simples quanto parece. E agora começo a ver e a conhecer melhor os efeitos que isto que me apanhou na curva tem sobre o meu corpo. E cada vez gosto menos. E assim fica cada vez mais difícil de aceitar este meu novo normal…

{#331.036.2024}

Há uns dias, no Instagram, comentei uma publicação, de uma amiga que veio da blogosfera lá pelos idos de 2003 e permanece até hoje, sobre uma t-shirt que ela comprou e que eu andava há meses a namorar e que já constava da minha wishlist desde a primeira vez que a vi. Achava piada ao boneco, um animal astronauta, mas foi a frase que me prendeu: “Houston, I have so many problems”.

Falámos um pouco sobre a t-shirt e a loja online de onde veio. Já tínhamos falado anteriormente sobre meias. Sim!, meias! Daquelas giras, originais e diferentes vindas da mesma loja de onde eu também já comprei umas quantas com obras de arte de Van Gogh, Klimt, Münch e Da Vinci. Chegámos ambas à conclusão que a loja é uma perdição e que o meu problema é ter nascido pobre e não herdeira e que estar de baixa médica há mais de um ano a receber 70% do meu salário (mínimo) me obrigava a planear muito bem todas as despesas e, claro, compras online seriam “para quando der”.

Falámos nessa altura e ficámos por aí sobre o assunto. Até que, passados alguns dias, ela me envia uma mensagem: “fica atenta à caixa de correio. Ainda vai demorar uns dias, mas considera um Natal antecipado”, seguido de um link para seguir uma encomenda. Fiquei sem saber muito bem como reagir na altura, não estava mesmo nada à espera de uma mensagem dessas, muito menos de receber uma encomenda da tal loja.

Os dias foram passando e eu, volta e meia, lá ia espreitar por onde andava a encomenda e, ao mesmo tempo, pensava “a rapariga é doida! De certeza que resolveu enviar-me os patos que eu adorei!”. Os patos são, oh espanto!, meias! Que fazem uns patos muito engraçados e que também estão na minha wishlist.

Esta manhã, nova mensagem dela: “vai chegar hoje! Entrega prevista entre as 9h45 e as 12h45!” E, confesso, houve um bocadinho daquela ansiedade boa de saber que algo bom está a chegar aliada à ansiedade da curiosidade!

Foi quando a minha mãe chegou da fisioterapia que me trouxe, da caixa de correio deprimida, duas coisas: um envelope com uma carta e um pacote! A carta? Mais uma convocatória da Segurança Social para Junta Médica. Já estava à espera, nada de extraordinário, mas dispensava porque ali tanto posso ser atendida por seres humanos como por autênticos calhaus! E calhaus não me apetece, sinceramente. O pacote era o tal que eu sabia que ia chegar mas que era demasiado volumoso para ser um simples par de meias. Não sendo as meias dos patos então é que não sabia mesmo o que poderia ser…

Não consegui abrir logo o pacote. Estava a saber-me bem saber que tinha ali uma surpresa para mim. Que não fazia a mais pequena ideia do que esperar. Fui até ao cadeirão beber um café e fumar um cigarro e o pacote ali ao meu lado a olhar para mim à espera de ser aberto…

Dei por mim a sentir-me como uma criança de 5 anos sentada ao lado da árvore de Natal à espera de autorização para abrir as prendas, tal era a ansiedade (da boa) aliada à curiosidade! E há muito tempo que não me sentia assim: entusiasmada! E quis preservar esse entusiasmo por mais um bocadinho. Estava mesmo a saber-me muito bem!

Respirei fundo e disse: “bora lá!” Peguei no pacote, rasguei o plástico, meti a mão lá dentro para tirar o que lá vinha e, assim que espreitei ao mesmo tempo que a minha mão agarrava no conteúdo soltei uma gargalhada como há muito tempo não soltava e comecei a rir sozinha! A rir muito! Porque mesmo antes de tirar o conteúdo já tinha conseguido ver o que era! E ri! Ri muito! E disse à minha mãe “aquela miúda é doida!” E continuei a rir! Já estava muito contente por ter chegado a encomenda, mas depois de ver que era “A” t-shirt de que tínhamos falado, que eu lhe tinha dito que era a minha cara só pela mensagem que tinha impressa, só consegui rir! Rir muito! Rir tanto! Porque estava realmente surpreendida e FELIZ! A t-shirt é linda e ainda vinha acompanhada com uma bolsa a fazer conjunto com a mesma mensagem: “Houston, I have so many problems!”.

Não foi só a t-shirt que me deixou feliz. Foi também o gesto de quem ma ofereceu depois daquilo a que normalmente se chama de conversa banal. Informei-a, assim que o pacote me chegou às mãos, de que já estava comigo. Mas ainda demorei quase uma hora para o abrir. E, depois de aberto e ainda a rir, agradeci mil vezes na mesma mensagem e continuei a rir. Disse-lhe que tinha adorado, claro, como não?! Uma t-shirt que é a minha cara! Que me fez ganhar o dia! Ao que ele me responde: “é só uma coisinha pequena para animar um bocadito mais os dias”. Com’assim, uma “coisinha pequena”? Só pelo gesto, pelo carinho, pela amizade, pela preocupação de me animar um bocadinho é uma coisa GIGANTE! E a verdade é que o ânimo deu uma volta de 180 graus para muito melhor!

…e a esta hora, em que a noite começa a roçar a madrugada, ainda estou incrédula, a rir e extremamente agradecida. Pela t-shirt, claro, mas acima de tudo pelo gesto! Inesperado. E inesquecível! E dou por mim a perguntar a mim mesma o que é que eu fiz para merecer tanto?! Mas depois penso logo a seguir “eu também mereço que me aconteçam coisas boas!” E, no caso dela, só é pena morar na outra ponta do país. Porque se fosse daqui de perto saía rapidamente um abraço gigante mal a encontrasse. E, o mais engraçado nisto tudo, é que nos conhecemos há 21 anos, já partilhámos histórias, já partilhámos experiências, já nos inspirámos uma à outra, temos acompanhado o que cada uma decide depositar no éter. Mas nunca nos vimos ao vivo!

Amizades via Internet. Ainda há quem desconfie desse tipo de relações, aproximações, o que lhe quiserem chamar. Mas depois há exemplos como este que, mais uma vez, me diz: sim!, é possível o que começa na Internet de forma tão ligeira e simples como o nosso caso em que líamos o blog uma da outra, tornar-se em algo forte e verdadeiro.

E hoje, só por causa de uma conversa banal que se transformou num gesto gigante, o dia foi bom! Muito bom, até! E, mais uma vez, digo: eu sou uma miúda de sorte!

{#330.037.2024}

Dia demasiado longo e muito dorido, doído e doloroso.

Último dia do ciclo de fisioterapia que será retomada sabe-se lá quando, mas dificilmente antes de Janeiro.

Sair de lá já com dores. Fazer tempo por aqui e ali para entretanto almoçar e seguir para o Hospital para a consulta que eu esperava e que precisava. Consulta que me provou o óbvio: não é com aquele profissional de saúde mental que vou ficar bem. Nas palavras dele, estou a manipular para ter atenção e se os meus amigos desapareceram todos é porque eu não sei como fazer para chegar a eles. Portanto, a culpa é minha. Não!, não é! Mas se ele acha que sim… Está na altura de escrever um email para o hospital e pedir troca de profissional de saúde mental por pura incompatibilidade com ele. E nem vou falar da incompetência…

Voltar para casa continuou a ser muito doloroso. As pernas a fraquejar, as dores cada vez mais fortes e ainda tanto para caminhar…

A aula de Yoga que não aconteceu no sábado passado foi remarcada para ontem. Sabia que me ia fazer muito bem, por vários motivos. Mas cheguei a ponderar não ir. Não só por ter chegado a casa muito em cima da hora para preparar tudo para chegar a horas à aula e ainda lanchar e conseguir descansar as pernas por uns minutos, mas também porque ainda teria muito que caminhar até ao clube. E eu não conseguia dar um passo por causa das dores… “Vais de Uber”, diz-me a minha mãe a certa altura. Ela sabia, sem eu lhe ter dito nada, que ponderava não ir à aula. Mas fui. E ainda bem que fui!

Uma aula de Yoga Restaurativa fabulosa. Dores nas pernas depois da aula? Perto de zero. Profundamente relaxada depois de ter entrado num furacão de emoções à tarde. Mas, ali, voltei a reencontrar-me comigo. Voltei a acertar o ritmo da respiração. Naquela hora de aula, deitada no tapete, era só eu e a respiração. E acalmei as emoções, relaxei as tensões e o Yoga fez o resto.

Voltar para casa não foi tão doloroso. E deitar-me na minha cama teve aquele efeito que é cada vez mais habitual em mim: adormecer com o telemóvel na mão enquanto ainda iria iniciar este post. Que escrevo no dia seguinte porque não quero perder o ritmo diário dos últimos 10 anos. Não quero espaços em branco. Para espaços em branco já me basta quando simplesmente não me lembro de alguma coisa, seja um dia inteiro, seja um momento do dia. Na minha cabeça aparece uma tabela de Excel com células em branco quando há alguma coisa que a minha memória apagou…

Enfim…foi um dia muito longo, doído, dorido, doloroso. E foi também o dia que confirmei o que há meses já suspeitava: em todas as áreas, há bons profissionais, há maus profissionais e depois há “isto” com que me cruzei e que não é a pessoa certa para mim.

{#329.038.2024}

Em Almada, ao meio dia, o Sol escapou de entre as nuvens por uns minutos. O tempo suficiente para poder senti-lo no rosto e receber tudo aquilo que me trazia para além da vitamina D que tanto preciso de receber.


Tirei esta foto e enviei como reflexo de uma foto enviada por ele há dias. Ao que ele me responde “Essa pose tem direitos de autor”. E tem. Esta pose, a sentir o Sol, é o reflexo dele a sentir o mesmo Sol, apenas em dias e locais diferentes.

Aquilo que mais facilmente partilhamos é a mesma Lua, é o mesmo Sol, é o mesmo Céu Azul. E, sendo ele o meu Raio de Sol, que outra pose poderia eu fazer ao senti-lo tocar-me, aquecer-me, iluminar-me e, até, proteger-me?

Partilhamos a Lua, o Sol, o Céu e tanto mais. Até as ondas do Mar da Caparica. Não partilhamos o mesmo local, o mesmo sítio. Não ainda. Um dia, talvez… Mas reflectimos a pose um do outro ao absorver através da Lua, do Sol ou do Céu as mensagens que enviamos um ao outro fora das tecnologias.

Tudo por causa de um simples “Olá” numa qualquer rede social que veio no momento certo. Que trouxe tanto de bom. Que transformou tanta coisa. Para ambos.

E, desde 5 de Junho de 2023, sei que não estou sozinha neste meu percurso atribulado. O meu Raio de Sol faz o caminho comigo, sempre de mão dada. E já me disse “se o caminho se tornar mais difícil, levo-te ao colo“. E nem ele sabe o número de vezes que já me levou ao colo…

O meu Raio de Sol que, ao meio dia, escapou de entre as nuvens em Almada e me envolveu no seu calor. No seu abraço quentinho.

E tudo por causa de um simples “Olá” que valeu tanto. E continua a valer.

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Ir à rua beber um café pouco antes das 19h e sair da esplanada minutos antes das 20h é, agora, sinónimo de dores absolutamente insuportáveis nas pernas. Porque, neste meu novo normal, sinto a humidade e o frio a entranharem-se nas pernas como nunca senti antes.

Já passei muitas horas de Inverno rigoroso de Janeiro naquela esplanada. Nunca, até agora, o frio me atingiu as pernas desta maneira.
Janeiro é conhecido por ser muito frio. Nos tempos de teletrabalho era certo que, perto das 19h, o meu lugar era na esplanada. Ao frio. Sujeita à humidade. Nunca tive dores nas pernas por causa disso. Até que cheguei a este meu novo normal. Que não!, AINDA não aceito. Não aceito que me limite ao ponto de não conseguir dar um passo porque as pernas estão impregnadas de frio e humidade e com dores como nunca senti antes

Ao chegar a casa, tenho ali o tapete de Yoga e os blocos à minha espera para mais 30 minutos de Viparita Karani que me vai ajudar a melhorar a condição das pernas. Um compromisso que assumi com o professor Pedro diariamente até ao Natal, mas que acima de tudo assumi comigo mesma.

Mas, antes de avançar para o tapete, é obrigatório tirar o gelo das pernas ou não consigo, mesmo em casa, caminhar até lá. Por isso, almofadas térmicas de trigo, 2 minutos no microondas e 10 minutos nas pernas. E sinto o gelo a sair das minhas pernas…

Agora, já com as pernas mais aliviadas, vou ali até ao tapete. Sempre soube que o Yoga me ia ajudar muito. Não imaginava que ajudasse TANTO, porque depois dos 30 minutos de pernas na parede já sei que não vou ter dores.

E cada vez mais tenho certeza disto: este meu novo normal não é recomendado a ninguém!

Posso chorar um bocadinho…? Pois…o pior é que continuo a não conseguir chorar

{#328.039.2024}

Aventureiras. Não sei se cabras, se ovelhas. Apenas sei que são aventureiras. E ousadas. No topo da Arriba, com coragem e equilíbrio suficientes para andarem no limite. Às vezes gostava de ser como elas: com coragem e equilíbrio suficientes para arriscar sair daquela zona confortável, de segurança, e arriscar um pouco mais, sem duvidar das minhas capacidades.


Elas, lá em cima, no topo da Arriba, à beira do abismo, com sabedoria suficiente para não darem um passo em falso. Confiantes da sua força. Da sua coragem e equilíbrio. Sem a vertigem do abismo logo ali, à frente delas.
Eu, cá em baixo, com todas as minhas dúvidas e inseguranças, sem coragem para dar mais do que dois passos no passeio sem apoio. Sem o devido equilíbrio, seja ele de que tipo for, para sair da minha zona confortável, de segurança.

Elas todos os dias fazem do topo da Arriba a sua rotina. Vivem sem pressa. Não perdem tempo a pensar no amanhã, ou no dia que vem depois de amanhã ou de como será daqui a um tempo indeterminado.
Eu? Continuo a tentar aprender a viver um dia de cada vez, digo sempre que é sem pressa mas secretamente desejo voltar ao normal rapidamente. Mas depois lembro-me que esse tal normal é, para mim, todo um novo normal ao qual ainda não me habituei. O qual ainda não aceitei

Elas lá em cima sem a vertigem do abismo.
Eu, cá em baixo, a sentir-me à beira do abismo.
Ainda tenho tanto que aprender com aquelas aventureiras no cimo da Arriba…

{#327.040.2024}

Esta manhã, ao contrário do previsto, não houve aula de Yoga. Fez-me falta, claro, mas a (ir)responsabilidade de uns afecta directamente os compromissos de outros em relação a terceiros e lá os “que parece que mandam” saberão o que andam a (des)fazer sem aviso e sem dar cavaco a quem deviam. Claro que o professor não gostou e com toda a razão. Mas há-de haver uma alternativa e eu lá estarei, como sempre.

Não havendo aula, enquanto esperava pela minha boleia para voltar para casa, decidi ir até ao paredão ver o Mar. E, sendo uma zona do paredão para onde raramente vou, percebi que estava na minha praia dos anos 90. A Praia Nova. E instantaneamente fiz uma viagem de 30 anos na minha cabeça.

Recordei o Bexiga, na sua estrutura azul com letras brancas, com esplanada, casa de banho e balneário. Recordei os encontros e desencontros na Praia Nova, os mergulhos quase forçados porque, ao entrar na água devagar, já com a água pela cintura, me dizem “mergulha! Ou vens para a praia para não molhares o cabelo?!”. As Carlsberg geladas na esplanada. Até os dias de Inverno.

Foi uma viagem no tempo que eu não estava a contar, mas que me soube muito bem.
O que também me teria sabido bem era ir até lá abaixo. Talvez até pôr os pés dentro de água daquela maré baixa de um Mar quase sem ondas. O calor que estava de manhã convidava a isso tudo e muito mais. Mas, sabendo que na areia seca não me consigo equilibrar, estando sozinha não arrisquei.

Mas irei lá voltar o quanto antes para, precisamente, caminhar no areal e seguir as ordens do médico: “andar na areia seca para trabalhar o equilíbrio, na areia molhada para estimular os pés. E, se cair, não é muito grave, já está na areia”.

Tenho a vantagem de ter autocarro quase à porta de casa até à “porta” da praia e o acesso do paredão ao areal é feito por uma rampa de madeira com pouca inclinação e não uma escadaria imensa como a praia aqui em frente, portanto com um acesso muito mais facilitado.

Voltarei em breve à Praia Nova. E, na minha cabeça, ressoa apenas isto: “se a Praia Nova falasse……tinha muitas histórias para contar!”

{#326.041.2024}

Sexta feira. E apetecia-me dizer que tenho tanto para contar. Mas não tenho. E, ao mesmo tempo, também não me apetece dizer nada.

Apenas dizer que as amizades com mais de 30 anos têm um valor extraordinário. Mesmo que durante alguns anos nos tenhamos perdido uma da outra, mesmo que milhares de kilómetros nos separassem durante anos, é tão bom saber que, agora a pouco mais de uma hora de comboio, estas amizades, ou neste caso esta em particular, esta amizade me faz sentir de volta a casa. Ambas crescemos, passámos pelo Tempo, o Tempo passou por nós, demos as voltas que a vida tinha guardada para cada uma de nós, mas continuamos exactamente as mesmas uma para a outra. E isso é tão bom. Sabe tão bem.

Afinal, nem toda a gente desapareceu. Porque quem chegou há mais de 30 anos chegou naquela altura para ficar para sempre.

{#324.043.2024}

Lido por aí hoje, numa qualquer rede social através dele: “nunca desvalorize o poder de um elogio“.

É aquela coisa do reforço positivo. Que nos ajuda a manter a cabeça erguida e a seguir em frente. No sábado tive esse reforço positivo quando o Pedro, professor de Yoga, me disse que, apesar do meu diagnóstico, eu sou capaz de alcançar nas aulas mais do que eu mesma imagino. E soube muito bem ouvir isso, claro que sim. Foi também uma espécie de elogio, penso eu. Pelo menos, é como eu o vejo.

Na fisioterapia cruzo-me com muitas pessoas de diversas idades e condições físicas. E algumas bastante sérias e limitantes. Como a é o caso da Célia. Mais ou menos da mesma idade que eu, com algumas dificuldades parecidas com as minhas, mas com muito mais limitações pelo diagnóstico mais complexo. Foi a Célia que, no dia em que nos conhecemos e sabendo ela já do que se passava comigo porque o encontro não foi casual mas sim programado pela fisioterapia que me sabia tão perdida no meu processo, me disse qualquer coisa como “a vida não acaba com o diagnóstico”. E tenho aprendido, devagar, que é como ela diz. Tem sido uma pessoa que puxa por mim, que me faz acreditar que é possível viver bem e com qualidade apesar do diagnóstico.

Na fisioterapia temos muitos exercícios semelhantes, um dos quais é caminhar entre duas barras paralelas com pequenos obstáculos que nos (re)ensina a andar e a forçar a manutenção do equilíbrio. Já tenho visto a Célia a fazer o seu exercício de barras e é notória a dificuldade maior do que a minha. Ontem foi a vez da Célia me ver a mim a caminhar entre as barras. Neste exercício as barras estão lá para nos podermos apoiar em segurança enquanto caminhamos. Já o conhecia dos tempos de Fisioterapia no Hospital e logo nessa altura eu fazia questão de tentar caminhar sem me apoiar nas barras. Era raro consegui-lo. Tinha que me apoiar sempre, nem que fosse só com uma mão. Mas sempre fiz questão de insistir em tentar largar as barras.

Os resultados da Fisioterapia no Hospital foram muito positivos, saí de lá a caminhar melhor, com um pouco mais de equilíbrio, mais confiante. Com a passagem para a Clínica mantive o objectivo que tinha, mentalmente, definido para mim: não ir pelos caminhos mais fáceis. Neste caso, o mais fácil não me traz grande benefício. Por isso, sempre que vou às barras, insisto em tentar caminhar sem me apoiar. É verdade que a distância é muito curta, não sei se chega sequer a 2 metros, mas é o suficiente para me desequilibrar logo no primeiro passo se não me apoiar.

Tenho insistido muito em não me apoiar nas barras. E tenho conseguido o meu objectivo: ir de uma ponta à outra, ultrapassando os obstáculos que estão no chão, sem me apoiar. E ontem, ao observar-me no exercício das barras, a Célia viu aquilo a que eu chamo de pequena conquista: fazer o percurso várias vezes sempre sem me apoiar. E, quando viu que eu consegui, começou a bater palmas e genuinamente a puxar por mim, feliz por mim. Se isto não é um reforço positivo, não sei o que será. Soube muito bem perceber que não estou sozinha, que há quem torça por mim e fique feliz comigo com as minhas pequenas conquistas.

Hoje o tratamento foi mais reduzido, mais limitado porque as dores que tinha ontem à noite ainda estavam presentes nas minhas pernas esta manhã. Não houve caminhar nas barras para repetir o não me apoiar. A fisioterapeuta apostou apenas na manipulação das pernas e pés para aliviar do esforço das últimas semanas. E eu agradeço esse intervalo. Ainda tenho mais 4 sessões até terminar este ciclo de tratamento. Mas tenho que ouvir o meu corpo e obedecer-lhe.

As pernas hoje continuam com dores. Mais ligeiras que ontem, mas as dores continuam a incomodar. Amanhã de manhã logo se vê como estarei e como será o tratamento. Mas, saber que o reforço positivo está lá, é meio caminho andado para correr bem.

{#323.044.2024}

Depois do nevoeiro da manhã, o céu de um azul intenso como há muito tempo não o via. O Sol quente. O regresso da Arriba Fóssil ao lugar que lhe pertence.

E, o que regressou também, igualmente de forma intensa como há algum tempo não acontecia, foram as dores. Nas pernas. Dos joelhos para baixo. Dores que não me deviam pertencer, não deveria haver lugar para elas em mim. Dores de uma intensidade impossível de descrever…
Já doíam ontem. Mas nada comparado com o que doem hoje. Já doíam de manhã. Mas nada comparado com o que doem agora…

Os exercícios da fisioterapia moem-me os músculos das pernas, é verdade, mas não estes músculos. Porque na fisioterapia o que sinto mais trabalhado são os músculos dos joelhos para cima. Mas aí só os sinto moídos. E com a manipulação da fisioterapeuta aliviam bastante e não chegam a doer. Mas dos joelhos para baixo…

Ingenuamente cheguei a pensar que as dores eram resultado de mais uma noite pouco dormida e que, se descansasse no sofá com as pernas esticadas, as dores iriam passar. Fui tão ingénua

Adormeci no sofá. Foram 2 horas e meia em que desliguei do Mundo. E, quando acordei, as dores… As dores mais fortes, mais intensas, quase insuportáveis. Ainda assim, novamente ingenuamente, decidi ir à rua beber um café. E foi a caminho do café que percebi: as dores. Piores do que as sentia em casa. E dar um simples passo em frente esteve muito perto de se tornar impossível.

Ainda não sei bem como, mas consegui chegar ao café. Sentei-me na esplanada do costume. Bebi o café. E, ao levantar-me para voltar para casa…as dores. O esforço imenso para fazer 150 metros. A vontade de chorar de dores. Mas as minhas lágrimas secaram e foram substituídas por palavras, apenas.

Não faço ideia de como estarei amanhã de manhã para ir à fisioterapia. Mas sei como estou agora para ir do cadeirão até ao sofá. E as dores são de tal forma fortes e intensas que chego a duvidar se vou conseguir sair da varanda para a sala.

Se isto faz parte daquela coisa que me apanhou na curva? Não faço ideia. Sei que as dores são muito perto de serem insuportáveis de tão fortes e intensas que estão hoje.

E eu não aguento mais…

{#322.045.2024}

Segunda feira. Aquele dia em que todos os outros que não eu retomam a rotina do trabalho. Sair de casa cedo, enfrentar o trânsito em veículo próprio ou transporte público. Entrar à hora certa. Cumprir funções. Cumprir horário. Sair do trabalho à hora de sempre ou, em tantos casos, mais tarde do que o horário no contrato dita. Voltar a enfrentar o caminho, desta vez de regresso a casa. Eventualmente ir ao ginásio ou ao supermercado. Tratar do jantar. Tratar dos miúdos quando os há. Olhar para a televisão sem realmente assistir a alguma coisa. Preparar o dia de amanhã em que tudo repete no mesmo horário, no mesmo ritual, no mesmo ritmo.

Tenho algumas saudades dessas rotinas diárias. Não tenho saudades de sair de casa ainda de noite para sair do trabalho já de noite. Mas tenho saudades de acompanhar o nascer do Sol no caminho para Lisboa. Atravessar a ponte. Ver o Sol à direita na ida para lá e ainda a acabar de nascer.

Não tenho saudades do autocarro, nem do trânsito, nem do barulho da cidade logo cedo. Mas sinto falta do segundo pequeno almoço do dia naquele café que adoptei e onde sempre fui bem recebida, bem tratada e bem servida. Tenho saudades do café cheio, intenso e sem açúcar na esplanada a ver os pombos a entrar no estabelecimento e os funcionários a apressarem-se a tentar expulsá-los.

Não tenho saudades do caminho que fazia enquanto fumava aquele que seria o último cigarro nas próximas horas. Mas tenho saudades das montras das lojas onde nunca entrei nem perdi um segundo que fosse a ver o que as montras promovam.

8h50. Passar o cartão, abrir a porta e entrar naquele espaço amplo e quase asséptico onde não é permitido haver um mínimo sinal, fora do horário entre as 8h30 e as 19h, de que quem ali trabalha são, de facto, pessoas. E, mesmo no horário de trabalho, os sinais de que ali estão quase 100 pessoas a pôr uma imensa máquina a mexer têm que ser mínimos.

Não tenho saudades de me sentir apenas um número ou peça de engrenagem numa máquina que precisa dessas quase 100 pessoas para funcionar de forma célere, correcta e satisfatória. Tenho saudades de me rir com os colegas localizados mais perto, mesmo que esses momentos de riso sejam escassos, rápidos porque há clientes para atender ao telefone.

Tenho saudades de fazer atendimento telefónico ao cliente, conhecer o processo em questão, responder às questões que posso responder, resolver o que tenho autonomia para resolver, ser prestável, educada, correcta, amável. Dar o melhor de mim para um atendimento de qualidade. Não tenho saudades das análises mensais de resultados em que, mesmo tendo excelentes resultados em 3 de 4 factores, há sempre um onde falho porque me é exigida a quantidade quando eu dou prioridade à qualidade.

Não. Não tenho saudades de ser um número. Pressionada para ser uma máquina de trabalho e não aquilo que sou: um ser humano. Mas sim!, tenho saudades de rotinas certas e horários que sejam mais do que apenas ir à fisioterapia durante 15 dias úteis para depois ficar novamente sabe-se lá quanto tempo novamente à espera de vaga para retomar os tratamentos. Cumprir 1 hora e meia, se tanto, de exercícios que têm como objectivo recuperar um pouquinho do tanto que já perdi.

Tenho saudades de me sentir útil. De ser aquela miúda do atendimento telefónico ao cliente prestável, educada, correcta, amável e que nas auditorias de qualidade não raras vezes passava dos 90%. Até mesmo dos 95%.

Segunda feira. Aquele dia em que todos os outros que não eu retomam a rotina do trabalho. Eu? Para já mantenho a rotina de sair de casa com o Sol já nascido, apanhar o autocarro que, por vezes, como hoje, falha e não aparece, sair no centro de Almada com tempo mais do que suficiente para beber café com calma na esplanada que, mesmo no Verão, me gela o corpo mas cujas colheres de café são muito giras. Terminado o café, inicia-se a fisioterapia. Terminada a fisioterapia, fazer o caminho de volta a casa. Se o autocarro aparecer. Não sei o que se passou hoje com o autocarro, mas para lá falhou um, para cá falharam dois.

E do que eu não tenho mesmo saudades, porque acontece todos os dias, é ficar a ver o tempo passar. A sentir-me inútil. Continuo educada, prestável dentro do que me é possível fazer, amável com quem me recebe bem.

Do que eu também não tenho saudades, e cada vez tenho menos!, é de ter à minha volta blocos de tijolo e cimento, vulgarmente conhecidos como prédios. Fazem-me sentir ainda mais enclausurada e quase sem conseguir respirar. São blocos de prédios com gente dentro, com vida a acontecer no interior, mas que só nos mostram as paredes exteriores todas mais ou menos parecidas, com uma ou outra excepção, já elas onde não se vê ninguém, como se fosse tudo um amontoado de caixotes de tijolo e cimento.

Sim, eu sei que tenho um parque maravilhoso praticamente à porta de casa e que depois do parque está a praia. Tanto um como o outro me fazem bem, permitem-me respirar, sentir-me um bocadinho mais viva. Mas não é só disso que estou a precisar. E não é de hoje que penso nisto, que sinto isto. Começou antes do Verão a vontade, praticamente a roçar a necessidade!, de ter, ao meu redor, não blocos de tijolo e cimento, mas sim o verde de árvores e as imensas cores da natureza no seu estado não agredido, não derrubado onde, em troca, se encontram os tais blocos de tijolo e cimento.

Preciso, muito!, de campo. Árvores. Flores. Bichos. Grandes, pequenos, o que for. Preciso de algum sítio onde ninguém me conheça, onde ninguém me faça perguntas e simplesmente me deixe estar, me deixe ser, me deixe sentir o pulsar na natureza, onde me permitam tocar em árvores, senti-las, e porque não abraçá-las?, onde possa respirar fundo.

E aí podia criar uma nova rotina qualquer. Porque a rotina faz(-me) falta. Mas não aquela rotina de segunda a sexta, de passar o dia a correr de um lado para o outro para um dia perceber que essa é a rotina de quem apenas sobrevive, também por não ter tempo para muito mais, e não de quem realmente vive! E eu quero viver, não apenas sobreviver. E não quero ser apenas um número ou uma peça de uma qualquer engrenagem onde me é exigido o que não consigo dar, mas onde dou aquilo que deveria ser realmente importante e com muito bons resultados.

Sim. Segunda feira. Dia de regresso à rotina. E eu? Também tenho uma rotina, embora não seja a melhor opção para uma rotina minimamente saudável: todos os dias, sem excepção, ver o tempo passar…apenas e só, ver o tempo passar.

{#321.046.2024}

Ontem escrevi sobre o efeito das palavras. As que nos doem e (quase) nos destroem e as outras: as que nos suavizam as dores, as que nos ajudam a crescer, as que nos fazem olhar para nós próprios com maior segurança e, até, com mais e melhor confiança.

A estas últimas, as que realmente nos fazem bem, chamo de reforço positivo. E o que me foi dito ontem foi exactamente isso: um reforço positivo! Que tanta falta faz quando sentimos tudo a desmoronar em nós. E um reforço positivo não é, nunca foi, nunca será!, um “dar na cabeça“. Para abrir os olhos. Para olhar para e por mim.

Não! Não é disso que eu preciso, de levar na cabeça. Estou cansada de levar na cabeça por tudo e por nada! Estou cansada de levar na cabeça por toda a gente. Lamento, mas comigo levar na cabeça não funciona. Nunca funcionou, na verdade.

Se teve algum efeito em mim, crescer a levar na cabeça por ser quem e como sou? Teve. Aquele efeito negativo de hoje não me saber valorizar. De achar sempre que fiz alguma coisa mal. De sentir que não pertenço a lado nenhum. De sentir que não sou suficiente. De sentir que sou um fardo para todos.

Cresci a levar na cabeça por ser quem e como sou porque sempre foi mais fácil dar-me na cabeça do que tentar entender-me. Mas, para tentar entender-me, seria preciso primeiro conhecer-me realmente. E cada vez mais percebo que, quem diz que me conhece, é quem menos sabe de mim. Quem sou realmente. Porque é que sou como sou. Porque é que sinto tudo como sinto. Até as palavras. Todas elas são sentidas por mim como algo com poder. Poder de destruição e/ou poder de crescimento.


E eu prefiro sentir as palavras com poder de crescimento. As tais que são o reforço positivo. Porque as palavras com poder de destruiçãocresci com elas, já fizeram o estrago que tinham a fazer. Não quero mais. Não preciso de mais!

Neste momento, em que me vejo a regredir em tanta coisa por causa disto que me apanhou na curva, o que eu mais preciso é de reforço positivo. De palavras com poder de crescimento. Porque é nessas que vejo e sinto o apoio que mais preciso.

Mas, infelizmente, dar-me na cabeça sempre foi o caminho mais fácil. Como esta manhã, que me estragou o resto do dia e até da noite…

{#320.047.2024}

Há palavras que nos doem. Que nos magoam. Que (quase) nos destroem. Mas depois as outras. As que nos suavizam as dores. As que nos ajudam a crescer. As que nos fazem olhar para nós próprios com maior segurança. E até com mais e melhor confiança.

Às vezes temos que estar atentos ao que nos é dito. E filtrar. Deixar no coador as palavras que nos doem para não nos afectarem e deixar fluir as outras. Deixá-las entrar em nós, deixá-las ter em nós aquele efeito positivo que, por vezes, nem nos apercebemos que precisamos.

E hoje ouvi palavras dessas, das que não sabia que precisava de ouvir mas que entraram em mim e têm ecoado na minha cabeça o dia todo. E as palavras que hoje ouvi são daquelas que me fazem olhar para mim mesma com mais segurança. Com muito mais confiança.

As aulas de Yoga fazem-me muito bem, não apenas pelo Yoga em si mas também por quem está lá. Como o professor Pedro que, desde o primeiro dia, se mostrou uma pessoa que nos ouve e nos vê. E que, tantas vezes, nos diz as palavras certas. Como hoje.

No final da aula, naquele momento em que já estamos a arrumar as coisas para ir embora e já toda a gente se foi embora menos nós, já nem sei do que falávamos em concreto. Até que ele me diz “tu, apesar da doença que tens, fazes aqui coisas que acho que nem tens noção que consegues“.

E isto, estas palavras, trouxeram-me aquela confiança em mim mesma que me tem faltado e a segurança mais do que suficiente para não desistir. Nem do Yoga e muito menos de mim.

Por isso, Pedro, muito obrigada por tudo desde o primeiro dia, mas especialmente por estas palavras que me deram exactamente o que estava a precisar.

O Yoga é um desafio constante. Mas é daqueles desafios que, quando superados, nos trazem tanto mais do que aquilo que é visível. E saber que, apesar do que me apanhou na curva, alcanço aquilo que nem eu tenho noção de que consigo, só me dá mais força, ânimo, coragem e confiança para continuar o meu caminho. Com mais ou menos dificuldade, é possível continuar e chegar . Seja esse “” onde for. Mas que para mim é chegar à melhor versão de mim mesma, em todos os aspectos.

E que bom foi saber filtrar e deixar fluir só as palavras que fazem bem.

{#319.048.2024}

Uma hora e meia de fisioterapia todos os dias a começar às 9h30 da manhã. Requer alguma disciplina de horários, coisa que eu não tenho. A disciplina de me deitar cedo, pelo menos.

Sendo que acontece todos os dias, é normal uma pessoa chegar a sexta feira cansada. Especialmente depois de uma aula de Yoga à quinta feira ao final do dia que me atrasa os horários ainda mais do que nos outros dias. Mas não é por isso que vou desistir do Yoga. Seja à quinta feira ou seja a que dia for.

Voltando à fisioterapia: ir aos tratamentos é, literalmente, (re)aprender a andar. Dou por mim muitas vezes a recordar-me do microsobrinho quando aprendeu a andar. Agarrado, ia a todo o lado. Como eu agora, desde que tenha a bengala comigo, vou. E se tiver quem me dê o braço, ainda vou mais longe e mais depressa. Não muito mais depressa, mas pelo menos mais segura.

Um dia o microsobrinho percebeu que, largando os apoios e uma vez que já dominava o equilíbrio, podia ir sem medos onde quisesse. E foi.

Eu gostava de conseguir fazer como ele: dominar o equilíbrio, largar os apoios e simplesmente ir. Não vai acontecer. Mas posso (e devo!) trabalhar o equilíbrio o mais possível e (re)aprender a dar passos mais seguros. O apoio da bengala é para ficar. Mas o equilíbrio e o caminhar (mais) segura e sozinha são para reconquistar. Um dia atrás do outro. Sem pressa e sem pressão.

O resto do dia foi para recuperar. Mas como é que se recupera das saudades que temos de alguém? Não sei…

À noite falamos de sonhos. E assumo que foi com ele e por causa dele que reaprendi, recordei, seja lá o verbo que for!, que é possível sonhar. E também por isso continuo a escrever todos os dias. Porque não é só o poeta que sonha e escreve, que escreve e sonha. E deixar de sonhar não pode acontecer. Assim como, para mim, também não pode acontecer deixar de escrever

A noite hoje não se vai alongar. Não pode. Estou cansada. Moída. Dorida. Amanhã é dia de Yoga logo de manhã cedo. E, apesar de tudo, dou por mim a sonhar ao mesmo tempo que vou escrevendo. Porque, se um dia eu deixar de acreditar no poder dos sonhos, deixo também de acreditar na força da palavra escrita. Seja em prosa ou poesia.

{#318.049.2024}

Dia sem grande História ou histórias. Manhã de fisioterapia para reaprender a andar com equilíbrio, à tarde Yoga para me reencontrar a mim e ao meu equilíbrio interior.

Horários desencontrados e 135km de distância resultam em muitas saudades. Minhas dele. Dele minhas. Nossas de nós.

Mas nem isso nos afasta.

Amanhã? Reaprender a andar de manhã. Depois? Logo se vê. Provavelmente será adormecer no sofá. Mas com ele logo ali à distância de um clique.

{#317.050.2024}

Com tanto cá dentro. Para sentir. Para expressar. Para exprimir. Para digerir. Para gerir. Tanto cá dentro.

E não me sai nada…

{#315.052.2024}

Gosto de livros. Em papel. Os digitais não me seduzem minimamente. Falta-lhes o toque. A textura. Até o cheiro!
E gosto (muito) de livros em 2• mão. Em feiras de velharias a única coisa que me interessa são os livros (e os botões, vá, mas isso são outros 500) e na já extinta Feira da Chincha em Cacilhas fiz belíssimas aquisições de livros em 2• mão. 1984, por exemplo, foi uma delas.

Hoje não fui a nenhuma feira de velharias nem a nenhum alfarrabista. Não sei se fui eu que encontrei Vitorino Nemésio sozinho ali em cima de uma caixa de electricidade ou se foi ele que, sabendo que eu ia passar por ali, ficou à minha espera. Bem, na verdade o Universo deve ter alguma coisa a haver com isso, porque na realidade eu ia fazer o meu caminho no passeio oposto, mas ao passar junto à passadeira que nem era suposto atravessar um rapaz no seu carro acelerado travou bruscamente e fez-me sinal para passar. Agradeci e atravessei a estrada. Afinal, o passeio oposto por onde eu tinha pensado ir ia dar exactamente ao mesmo sítio, só tendo que usar a passadeira mais à frente.

Atravessei conforme o jovem condutor me fez sinal para fazer e, poucos, muito poucos passos mais à frente, lá estava a caixa de electricidade e Vitorino Nemésio à minha espera.

“Limite de Idade”, assim se chama o livro. Uma edição da Editorial Estúdios Cor. Ainda não consegui perceber de que ano é esta edição, sei que a primeira foi em 1972. E esta, que de acordo com o carimbo que consta no interior foi oferta, não deve andar muito longe de 1972.

É um livro de poesia. E, pelo que já li pelo Google, dedica-se, mas não exclusivamente, ao humor negro. Tem tudo para ser bom, portanto!

E, pelo que já folheei, a minha visão dupla quase constante, não vai atrapalhar a leitura. Por isso, este encontro inesperado, veio na hora certa para me iluminar os dias. E, sendo um livro de poesia, é para ir lendo. Sem pressa. Exactamente naquele registo em que me encontro agora: sem pressa.

Aquela travagem brusca daquele jovem condutor junto à passadeira que eu nem ia atravessar, afinal, trouxe alguma coisa boa. E, mesmo não fazendo ideia de quem era o condutor, só lhe tenho a repetir o que lhe disse antes: obrigada!

{#314.053.2024}

Entesopatia no joelho esquerdo? Check ✔️

E o que é a Entesopatia? Bem…vamos decompor a palavra para percebermos melhor.

Ora então, diz-nos o Priberam:

  • patia

elemento de composição

  1. Exprime a noção de doença ou sofrimento (ex.: frenopatia; psicopatia).

Ou seja, o sufixo patia sugere-nos que se trata de uma doença. Já o início da palavra, ENTESO, sugere o óbvio! Uma Entesopatia é uma doença dos TESOS! Daqueles que, de cada vez que vão à farmácia, ficam ainda mais tesos! A contar os tostões todos. Ou os cêntimos, vá! Já não se usam tostões.

Portanto, confirmo: depois do Burnout no ano passado, do diagnóstico que me apanhou na curva no início deste ano, da falta de equilíbrio a caminhar, só me faltava mesmo agora andar coxa do joelho esquerdo por, sabe-se lá como!, ter a doença dos tesos! Se algum dia me encontrarem no Metro com uma latinha, não se esqueçam de deixar uma moedinha. Obrigada desde já!

[Agora falando mais a sério, uma Entesopatia é uma inflamação daquilo que liga os tendões aos ligamentos ou aos ossos, já não sei nem me apetece ir procurar outra vez. O que sei é que dói para caracinhas. O que não sei é como é que isto apareceu. Tratamento? Gelo, Diclofenac (vulgo Voltaren) em pomada e repouso. O que, sendo num joelho e ter que trabalhar a marcha e o equilíbrio na fisioterapia é para rir. Mas também sempre ouvi dizer que mais vale rir que chorar! E, seja como for, ando há praticamente 2 anos a dizer que não consigo chorar, por isso siga! É rir para não enlouquecer, pronto!]

{#313.054.2024}

Esta tarde o telefone tocou. Era aquela chamada que nunca sabemos, tirando as datas de aniversário, quando vai acontecer, mas que realmente acontece.

“Quero saber de ti, o que é que se passa contigo?”

Esta é uma daquelas amizades que existem há mais de 20 anos, que começou a nível profissional com ela a ensinar e eu a aprender. E posso dizer que muito do que sei hoje (se não praticamente tudo) a nível de seguro automóvel o devo a ela. E, arrisco dizer, o clique entre as duas foi imediato.

Entretanto, cada uma seguiu o seu rumo profissional e o seu caminho. Mas, mais uma vez, as redes sociais nos trouxeram de volta, embora nunca se tenha perdido totalmente o contacto.

Não é daqueles telefonemas que acontecem todos os dias, todas as semanas ou todos os meses. Nem tem que ser para que a amizade, carinho e preocupação que temos uma pela outra se mantenha firme. Houvessem mais amizades assim…

A pergunta bateu cá dentro. Falámos sobre como estou, sobre o que se passa comigo. Como se ela não soubesse, como se ela não lesse o que escrevo.

E fica uma pergunta no ar: “mas porquê?“. Seguida de uma afirmação “não consigo compreender…!”.

Nem eu, Fernanda. Nem eu. Mas a verdade é que a Fernanda, e não seria de esperar outra coisa vinda de si, foi a única a fazer aquilo que mais ninguém faz: ligou e quis saber. O que se passa comigo. Como estou. Porque é que está a acontecer comigo aquilo que nenhuma de nós entende.

E ficou a pergunta no ar: custa assim tanto enviar uma mensagem que demora 30 segundos a ser enviada?

Quem souber que responda. Mas não me venham, mais uma vez, com promessas que nunca se quiseram cumprir nem dizer coisas só por dizer. “Havemos de ir beber café” é uma dessas coisas. Quando começa com “havemos de“, já sei que não irá acontecer. É dizer por dizer. Para ficar bem na fotografia? Não sei.

Mas, lá está: não sei, Fernanda. E também eu não entendo, mesmo que todos os dias pergunte “porquê?“… Acho que nunca saberemos a resposta a isso.

E à outra questão também não devemos ter resposta: “custa assim tanto enviar uma mensagem que demora 30 segundos a enviar?”

E, se não souberem sequer o que dizer, podem sempre começar com um simples “Olá.” Dizem que não custa nada. E faz bem. Aos dois lados…

{#312.055.2024}

Há muito tempo que deixei de fazer planos. Já sei que acaba sempre por acontecer alguma coisa que impede que os planos se realizem. Mas não deixo de programar coisas. E, depois do dia fisicamente puxado de ontem, com fisioterapia de manhã cedo e Yoga ao final do dia, novamente fisioterapia hoje cedo, só havia um programa possível para a tarde: sofásana, aquela postura de Yoga que, na verdade, não existe mas que eu tenho adoptado como a minha favorita. Para ajudar, tinha recomendações da fisioterapia: gelo no joelho e almofada térmica quentinha na lombar. Assim um misto de frio e quente estranho, mas necessário.

Depois do almoço ainda tive energia para vir ao Jardim da Depressão beber um café, fumar um cigarro e pisgar-me daqui para o sofá. E, ao chegar ao sofá, quase não tive tempo de pôr o gelo no joelho e a almofada na lombar. E, se bem me lembro (mas não garanto), nem cheguei a pôr os óculos para ler as legendas na televisão. Foi kaput imediato.

Mas antes de tudo isso ainda consegui comentar uma publicação de uma rapariga escocesa, doente crónica e no espectro do autismo, que publicou um poema com o qual eu me identifiquei na totalidade. E, em resposta ao meu comentário, chegaram-me respostas a assegurar-me aquilo que os meus amigos não me asseguram: que não estou sozinha! Porque existe uma enorme comunidade online de doentes crónicos, com Esclerose Múltipla como eu ou não, que se apoiam mutuamente. Porque se entendem uns aos outros. Porque se ACEITAM uns aos outros, tal como estão e TODOS se recordam que são MUITO MAIS do que a doença que carregam.

Curiosamente (ou não…), tem sido nessa comunidade online espalhada pelos quatro cantos do Mundo e composta por pessoas que eu NÃO CONHEÇO que tenho encontrado mais apoio. Raramente interajo com as publicações, mas reconheço-me em cada dificuldade, cada dor, cada cansaço extremo, cada partilha, cada palavra.

Como não ter nas redes sociais o garante da minha saúde mental se é nas redes sociais que ENCONTRO apoio? E esse apoio pode ser um simples post, uma simples resposta a um comentário, mesmo que seja a dizer-me que também passaram pelo afastamento e abandono dos amigos e que a responsabilidade não é nossa

{#311.056.2024}

A melhor forma de apaziguar os meus monstros e os meus demónios que me acompanham diariamente e se fazem mais presentes à noite assumindo o papel de vozes negativas e intrusivas a ecoar na minha cabeça é, sem dúvida, moer o corpo…

Fisioterapia de certa forma intensa logo de manhã, um início de tarde estranho e cansativo, uma caminhada inesperada e feita a muito custo porque um autocarro não apareceu seguida de uma aula de Yoga que, como acontece sempre, foi desafiante.

Dói-me o corpo, especialmente as pernas. E o joelho que piora todos os dias. Mas esta noite não há ecos na minha cabeça.

E soube muito bem terem-me dito “fazes bem em manter uma espécie de diário digital, ajuda-te”. E sim, o escrever no éter, especialmente no blog e, mais recentemente, no Instagram, é a minha ferramenta terapêutica de eleição. O que escrevo pode até nem interessar a ninguém. Mas é o meu momento de reflexão e, tantas vezes, o meu momento de catarse.

Por isso, sim!, irei continuar a fazê-lo.