2 anos hoje.
Não conto o tempo, mas conto. Como não? Ele passa e o calendário lá está a marcar os dias que passam. Mesmo que não tenha nada anotado, não preciso de anotações para saber dias, horas, locais.
O tempo passa. Ao contrário do que todos me diziam, há dois anos, o tempo não ajuda. Seria de esperar aos dois anos estar muito mais serena do que há um ano…
Não estou. Estou hoje igual ao que estava há dois anos. As únicas diferenças são as dores físicas que não tenho mas que as sinto e o local. E o local, aqui, faz diferença. Porque se há dois anos estava onde e com quem devia estar, hoje estou longe de lá voltar e sozinha.
O tempo ajuda, diziam-me. Disseram-me. Disseste-me. “O tempo que precisares”, repetiste-me. Ainda preciso desse tempo. Desse tempo que parece não ter fim, que parece passar devagar ao mesmo tempo que voa. Como assim, já dois anos? Como é possível se ainda sinto a mesma ansiedade, o mesmo peso, a mesma tristeza, a mesma dor? Não, a mesma não. Já não. Porque há dois anos achava que era uma dor partilhada. Hoje sei que não, é apenas minha. Afinal foi sempre só minha, não foi?
É o silêncio. É a ausência. É a distância. É tudo isso que me diz que sim, que é só minha. Que sempre foi. Se estou errada? Se estou a ser injustiça? O silêncio, a ausência e a distância respondem-me. São os únicos que estão presentes para responder a todas as minhas questões. A todas aquelas questões que ecoam na minha cabeça em jeito de vozes sempre presentes a qualquer hora do dia ou da noite.
Afinal não estou sozinha. Tenho estas vozes. Não me sossegam. Não me serenam. Não me anestesiam a dor que não sendo física dói e corrói. Não fazem nada disso. Por outro lado, também não comparam o incomparável.
Criticam. Julgam. Não aceitam o silêncio que me chega. E por isso mesmo se vão transformando aos poucos em ecos que não quero para mim. Ecos de mágoa. Desilusão. Rancor…… E depois do rancor todos sabemos o que vem. O ódio. E essa não sou eu. Não sei nem quero saber odiar. Mas estou a um passo de começar a fazê-lo.
Já me basta o ódio que tenho, tantas vezes, em relação a mim mesma. A desilusão que sinto por mim. Mas isso lido como sei. E aprendo aos poucos a mudar. O ódio por terceiros não entendo, nunca atendi. E não sei lidar com ele. Mas…como se lida com o silêncio? Com a ausência que me é imposta? Com a distância? Com o frio…?
2 anos e tanto que mudou. Não necessariamente para melhor. Não, de todo. É verdade que aprendi muito. Que cresci. Mas não, não me tornei melhor. Apenas nasceu, neste dia há dois anos, uma outra eu que ainda hoje não conheço. Mas que, isso já sei, tem características que não gosto nem um pouco.
31 de Julho de 2014. No dia em que oficialmente deixei de estar grávida, morreu uma parte de mim para dar lugar a uma outra de quem não gosto particularmente.
E não tinha que ser assim, pois não…?
Sozinha. A reaprender a caminhar sozinha. Há dois anos. Acompanhada apenas pela ausência, pela distância, pelo silêncio. Não por quem me disse “não vais estar sozinha”. Não por ti. E isso faz toda a diferença. Toda.