500 dias. De altos e baixos. Altos q.b. e baixos muito baixos.
500 dias. Que coincidem com o final do ano. Um ano que começou negro, à beira do abismo, ou já mesmo no abismo e que tinha tudo para terminar mais cedo.
500 dias. Difíceis. Duros. Doridos, muitos. Doídos, tantos. Mas sempre um dia atrás do outro atrás do um até aqui. 500 dias quando não me imaginei, nunca, a chegar sequer ao 10º dia.
365 dias de 2015. E que 2015! O ano, chamo-lhe, da Fénix. Morrer para renascer. Para aprender. Para crescer. Fortalecer-me. Ser. E aprender, reaprender, a Viver.
Do que me trouxe 2015 não posso destacar só o que foi bom. É-me preciso também relembrar o que não foi tão bom assim. Aqueles primeiros dois meses do ano, negros, doridos, doídos, sem rumo, sem norte, sem chão. E o fim ali tão perto. Que acabou por ser o fim, apenas de forma diferente. Para melhor.
Perceber que mesmo achando que não estava sozinha, o estava de facto. Uma ilusão que se arrastou de 2014 para 2015 mais do que gostaria. Mais do que me era necessário. Ou, se calhar, foi necessária toda essa ilusão para perceber a desilusão e perceber que, afinal, mereço mais. Mereço melhor. Não mereço histórias mal contadas. Histórias que não o são, que não o eram, que não o foram. Histórias de uma ilusão etílica que não é para mim. Não mereço quem me olha sem me ver. Mereço mais. Muito mais que isso. E melhor.
Não preciso de quem usa e abusa. Seja de pessoas, seja de substâncias. Não preciso, também, de quem não entende o valor do que me é mais importante: o Tempo para Viver. O facto de estar cá quando podia não estar. Quem não entende o quão me é precioso estar, de facto, cá. E usando e abusando de pessoas e substâncias por pouco não impediu que cá continuasse. E isso não esqueço.
Não. Não preciso disso. E mereço muito mais que isso.
Se foi tempo perdido? Sinto que sim. Mas sei, também, que quando se aprende algo o Tempo nunca é perdido. E aprendi.
E foi preciso passar por esse uso e abuso para perceber que sou mais, sou melhor, sou inteira, sou plena. E, por isso mesmo, sei o que quero e, acima de tudo, sei o que não quero.
500 dias. 365 em 2015. De transformação. De aceitação. Do que sou, de quem sou. De conhecimento, auto-conhecimento, auto-reconhecimento após tanto tempo sem me reconhecer.
2015 trouxe-me também coisas boas, não apenas ilusões e desilusões de usos e abusos. Trouxe-me novos começos. O Meu novo começo. Não é fácil começar de novo. Mas é tantas vezes necessário. Como foi. E foi, também, necessário perceber que, mesmo que muitas vezes pense que estou sozinha, não o estou nunca. E sou tão grata por isso. Por saber, por confirmar, por me fazerem chegar a mensagem que era para mim apenas e que fez mudar tudo e que me garantiu que não, nunca estou sozinha.
365 dias de 2015 que terminam no dia 500 do meu percurso a que tantas vezes chamei de processo de cura. Que o foi. Tem sido. Não me garanto curada, garanto-me sim tranquila. Em paz. E não uma paz ilusória como durante tanto tempo apregoava a mim mesma. Hoje estou tranquila. Fortalecida. Em crescendo. Aprendi a olhar e a viver de dentro para fora, não apenas de fora para dentro. Continuo a sentir tudo intensamente, faz parte de quem sou, do que sou. Mas consigo hoje perceber o quanto de fora influencia o que está cá dentro e como posso equilibrar-me.
Equilíbrio. Ao fim de 500 dias, equilíbrio. E cor. Cores. Que me foram acompanhando em 2015 começando numa paleta negra e que se foi atenuando depois da queda, depois do fim. Uma paleta que me lembrou que em mim mora o cor de rosa. E que vai continuar a morar. E a fusão do cor de rosa com outras cores só pode trazer cores positivas, bonitas. O cinzento, sei-o já, não o quero. Não preciso. Não é meu. Não é para mim. Venham, pois, as restantes cores. Primárias, secundárias, o que for. Só não mantenho o cinzento. E, mesmo que o cinzento apareça, sei que basta lembrar-me que a magia existe e os pós de fada e os pozinhos de perlimpimpim afastam o que é escuro, o que é feio, o que não quero.
2015, 365 dias. O final de 500. Redescobri o mundo mágico dos sonhos e das vontades e das cores e das fadas e feiticeiros e vôos em balão de ar quente e pirilampos e luas coloridas e processos de fusão e entregas e encaixes de peças de puzzles e sorriso em escadinhas e lápis de cor e postais ilustrados e desenhos e rabiscos.
E descobri, redescobri, também um lado meu que teimei tanto tempo em não querer ver. Os meus 4 M’s…
M de Menina. Pequena.
M de Miúda. Pós revolução, dizem-me…a própria da revolução, digo.
M de Mulher.
M de…um M que é meu que ainda não verbalizo. Mas que nem por isso deixa de ser Meu.
500 dias, 365 dias de 2015.
Aos 500, prometi a mim mesma, deixo de contar. E hoje deixo de contar. Porque já não faz sentido. Porque já não preciso de contar os dias. Já há algum tempo que não preciso de os contar. Mas perceber que o dia 500 e o último dia deste ano da Fénix calhavam no mesmo dia fez-me continuar a contagem, para fecho de ciclo.
2016 traz um novo ciclo, e traz também um dia extra no calendário. Traz mudanças, tantas. As que já estão programadas serão, certamente, positivas. As outras, as que acontecem sem pedirmos, sem procurarmos, serão o que tiverem que ser, serão o que 2016 quiser que sejam. Mas sei, hoje, no dia 500, que sou mais, sou melhor, do que era no dia 136.
Grata. Tanto. Por tudo o que 2015 me trouxe. O bom e o mau. Não há bom se não conhecermos o mau. Cliché, de facto, mas verdadeiro.
500 dias. 365 dias de 2015. Plena. Inteira. 4 M’s. Eu. Viva. E a Viver e não apenas a sobreviver.
Deixo de contar este ciclo. Este capítulo. Este livro. Começo nova contagem amanhã. Apenas porque mantenho a máxima “um dia atrás do outro atrás do um”. E faço questão de manter o sorriso em escadinhas.
500 dias. E estou cá. E é tão bom.
Obrigada. A todos. Por tudo. Continuemos sem ter Tempo para perder Tempo.