Category Archives: {#2025.Julho}

{#189.177.2025}

…cada vez me apetece menos porque cada vez me dói mais. A fisioterapia. Os exercícios físicos intensos na marquesa. O trabalho de subir escadas e voltar a descer e ter que enfrentar, na descida, aqueles dois primeiros degraus que o meu cérebro já não consegue processar correctamente e onde tenho verdadeiro medo de cair. Sei perfeitamente que são dois degraus distintos. Sei perfeitamente onde começa e acaba cada um deles. Sei perfeitamente o tamanho de cada um. Mas são os dois primeiros degraus a descer e o meu cérebro teima em transmitir-me uma imagem incorrectamente processada que me leva ao medo. Ao medo que impede o movimento das minhas pernas que demoram a reagir e a dar o primeiro passo para descer…

Mas, mesmo sentindo esse medo que me paralisa os movimentos, mesmo sabendo que aqueles dois degraus que o meu cérebro processa incorrectamente como se fosse um só sabe Deus a que nível, mesmo sabendo que aqueles dois degraus são realmente dois em níveis diferentes e não um só num qualquer nível que não sei qual é, mesmo sentido esse medo, mesmo sabendo que são dois e não um, mesmo que o primeiro passo demore demasiado tempo até acontecer, mesmo que o meu corpo me diga que está cansado de toda essa rotina diária e peça descanso, mesmo tudo isso!, é na fisioterapia que me encontram. Todas as manhãs durante a semana, é lá que me recordo a mim mesma que todo o trabalho que lá faço é para continuar a dar os meus passos. Passos pequenos, inseguros nunca incertos, equilíbrio precário que resiste, força motriz que insiste. É ali que continuo, e irei continuar!, a tomar conta de mim!

Não me apetece ir novamente amanhã. Mas vou. Porque não ir é sinónimo de desistir. E eu não quero isso para mim. Continuo muito perdida de mim mesma. Mas, para me reencontrar, a procura também passa por ali…

Não me apetece ir amanhã. As dores nas minhas pernas dizem, agora, que não querem. Mas, não duvido!, com o tempo irão acabar por me agradecer…

Muito confusa, muito perdida, muito à procura de mim. Foi algures que me perdi de mim mesma. Será algures que me irei reencontrar. Seja lá esse algures onde for. Até pode vir a ser na fisioterapia…

{#188.178.2025}

…mesmo nos dias em que mais me custa, nos dias em que a vontade inicial é desistir, mesmo nesses dias, ou especialmente nesses dias!, se é para ir, vou!

Perdida de mim. Sem mapa ou GPS para me reencontrar. Procuro-me nas pequenas coisas. Procuro-me nas grandes coisas. Procuro-me em todas as coisas! Procuro-me

Não sei exactamente onde me perdi. Não sei exactamente como me perdi. Não sei exactamente o que de mim perdi…

procuro-me. Sem mapa ou GPS. Resta-me confiar na luz das estrelas. Na sabedoria do Universo. Em mim mesma acima de tudo…

{#187.179.2025}

Se é para ir, não hesito. Vou. Em frente, passos pequenos, nunca incertos, equilíbrio precário que resiste, força motriz.

Medo. Percorre o corpo. Paralisa. Força motriz que insiste. Se é para ir, vou. Em frente, sempre. Não hesito. Sem apoio. Sem rede. Com medo. Sempre. Vou.

Pequenos passos. Inseguros, o valor das pequenas coisas, nunca incertos. Equilíbrio precário que resiste ao abalo das ondas. Em frente. Se é para ir, vou.

Não há garantia. De nada. De ninguém. Do amanhã. Tudo muda. Tudo pode mudar. A qualquer momento. A qualquer instante.

Pequenos passos. Inseguros. Nunca incertos. O imenso peso, o enorme valor. Das pequenas coisas num equilíbrio precário. Que resiste. Força motriz que insiste. Não hesito. Se é para ir, vou.

Pequenos passos. Inseguros num equilíbrio precário, resiste ao abalo das ondas. Passos inseguros, nunca incertos. O peso, valor quase sagrado e imenso das pequenas coisas que não dão nada nem ninguém por garantido.

Pequenos passos, inseguros nunca incertos. As pequenas coisas num equilíbrio precário que resiste. Força motriz que insiste. O abalo das ondas que nada garante. Nem ninguém.

Se é para ir, vou.
Agora para que o depois não seja já tarde demais…

————–

Os passos são pequenos. São inseguros mas não incertos. Vou. Vou sempre. Se é para ir.

…mas há um antes e há um depois. E esse depois é agora.

E é esse agora que dói. Dói tanto. Dói ainda mais saber que não é possível voltar ao antes quando eu nem aceito o depois. Esse depois que é agora! Que me agita! Que me revolta! Que me dói! Tanto! Que me grita que preciso, muito!, de chorar! Com urgência!

…não consigo chorar! Continuo a não conseguir chorar! E continuo a engolir em silêncio esse depois que é agora, que me dói, muito, tanto!, que me consome em silêncio e a seco porque as lágrimas teimam em não cair e eu preciso TANTO que elas caiam! Agora! Que é esse tal depois que veio sem licença tomar o lugar do antes!

…do que EU era antes…que não era assim…que conseguia chorar quando a dor era maior do que eu…

O que era EU antes…tenho saudades desse EU de antes…que não volta mais…e esse não poder voltar dói. Muito! Tanto…!

…e eu de agora, desse depois do que era antes, preciso MUITO de descongestionar o que não me deixa chorar! Porque eu não consigo chorar…!

…e preciso tanto de o fazer…

(…e sussurro, baixinho, um urgente pedido de ajuda que ninguém parece ouvir…………)

{#186.180.2025}

Pequenos passos. Inseguros, mas com a certeza do valor das pequenas coisas. Equilíbrio precário que resiste ao abalo das ondas.

Não deixar nada por dizer. Não deixar nada por fazer. Não deixar nada para depois. Se é para ser, é agora. Não deixar para quando já for tarde demais.

Não dar nada por garantido. Não dar ninguém por garantido. Tudo muda. Tudo pode mudar a qualquer momento. Não há garantia de nada. Nem do amanhã. Especialmente do amanhã…

Pequenos passos. Inseguros. Pequenas coisas que ganham uma enorme dimensão num equilíbrio precário que resiste ao abalo das ondas.

Esta sou eu. Esta também sou eu!

………se até o Mar se recolhe na maré vaza, se até o Mar procura o conforto do confronto………

Pequenos passos. Inseguros num equilíbrio precário que resiste ao abalo das ondas. Passou Inseguros, nunca incertos. O valor imenso das pequenas coisas que não permitem dar nada nem ninguém por garantido.

Um Tsunami originado por um Terremoto com epicentro longínquo. Ondas de choque não garantidas. Réplicas não desejadas…

Pequenos passos, inseguros nunca incertos. As pequenas coisas num equilíbrio precário que resiste. O abalo das ondas que nada garante. Nem ninguém.

Não deixar nada por dizer. Não deixar nada por fazer. Agora para que o depois não seja já tarde demais…

Eu, assim. No conforto do confronto…

{#185.181.2025}

Cheguei a casa, à hora de almoço, e na televisão, em directo de Gondomar, o Primeiro Jornal da SIC acompanhava os preparativos para os velórios de Diogo e André. Os velórios que ninguém queria com aquelas idades, 28 e 25 anos…

Depois de contarem os percursos de Diogo e André no futebol, nacional e internacional, uma ligação a Liverpool. Ao estádio onde tantas vezes se cantou “His name is Diogo” e para onde agora os adeptos se dirigiam. E a certa altura o repórter refere a quantidade de camisolas e cachecóis que os adeptos iam deixando em homenagem a Diogo. E, estupidamente!, dou por mim a pensar “mas porque é que deixam camisolas e cachecóis…?” para, subitamente, levar um daqueles estaladões que não se vêem e ouvir a minha própria versão aos 13 anos a gritar com a minha versão dos 48 e a relembrar “TU TAMBÉM DEIXASTE O TEU LENÇO DOS ESCUTEIROS NO CAIXÃO DO RICARDO!“…

foi há 35 anos. Continua a doer hoje como doeu aos 13 anos. E sim, no dia do funeral, aproximei-me do caixão do Ricardo, tirei o meu lenço de Júnior, investidura há tão pouco tempo, e deixei-o em cima daquele corpo que, para mim, já não era o Ricardo. Deixei o lenço simplesmente porque o senti na altura. E hoje percebi porque o fiz. 35 anos depois, percebi.

A morte do Ricardo, aos 13 anos, levou também um pouco de mim. Um pouco de nós todos. E, por isso mesmo, deixei com ele o lenço de escuteira que, por insistência dele, voltei a ser 3 anos depois. Eu deixei o meu lenço. Tantos de nós deixaram também. Lenços. Bóinas. Facas de mato. Pedaços de cada um que ficaram ali, parados no tempo de uma morte inesperada. Que nos marcou a todos. A ferro quente. Porque não é suposto perdermos ninguém com aquela idade. Naquela idade. Um vizinho. Um amigo. Um irmão. No meu caso um namorado

Percebi então a entrega de camisolas e cachecóis dos adeptos no estádio do Liverpool pelo Diogo. Porque, com o Diogo, com o André, também cada um daqueles adeptos perdeu um pouco de si.

Hoje fez-me sentido. 35 anos depois. Fez-me sentir

35 anos depois ainda dói. Muito…

{#184.182.2025}

Não, o dia hoje não foi fácil…
Parecia estar a correr normalmente, apesar de ter perdido o autocarro, mas segui o meu caminho no autocarro seguinte até Almada para a Fisioterapia, tranquilamente de phones nos ouvidos a ouvir o programa da manhã da rádio como em todos os dias normais. Bem disposta, a rir sozinha com o que me chegava nos phones. Uma equipa sempre bem disposta e bem humorada, muita rebaldaria que hoje parecia mais aguçada, muita risota, muitos disparates para começar bem mais um dia de muito calor. Parecia, portanto, mais um dia normal.

Até que, antes das 9h15m, aquela voz que nos habituámos a ouvir a conduzir o programa, que nem maestro, entra no ar num tom sério com a notícia que ninguém quer dar: morreu Diogo Jota. E o irmão André Silva. 28 e 26 anos respectivamente. Dois miúdos, portanto.

O Diogo e o André não me eram nada. Não me eram família. Não me eram amigos. Não me eram nada. Eram “só” jogadores de futebol que me entravam em casa pela televisão muito de vez em quando. Não me eram nada. Mas passaram a ser aquele abanão que, de vez em quando, preciso.

Aquele abanão que me relembra que o “Depois faço”, o “Depois digo” pode tão rapidamente transformar-se em “Agora é tarde demais…”…

Em 2013 tive um abanão desses. Nessa altura adoptei o lema “Não tenho tempo para perder Tempo” e prometi a mim mesma priorizar o “Aqui e Agora“. Mas o tempo vai passando e acabei por me desleixar com essa promessa. Encostei-me não sei bem onde. Dei demasiadas coisas por garantidas. E a notícia desta manhã do Diogo e do André foi o tal abanão que estava a precisar…

Foi um choque. Pelas idades, por tudo o que acabou ali. De forma completamente aleatória e absolutamente injusta.

Pensar nisso dói-me. E, também por isso, fiz questão de reforçar junto dele o que trago cá dentro. Que ele já sabe, mas que eu faço questão de repetir. Tantas vezes quantas me apetecer. Porque há 2 anos ele é o meu farol nos momentos escuros, é o meu porto seguro nas minhas tempestades.

Não deixo nada por dizer. Porque não vou dar a hipótese a um “Depois” de se tornar um “Tarde demais”…

É uma merda… É.

É uma grande merda…

{#183.183.2025}

Depois de mais uma noite com pouco mais de 3 horas dormidas por causa daquela estupidez de dor que aparece à noite e se intensifica com o calor para desaparecer quando aplico a placa de congelação, hoje foi dia de regressar à Fisioterapia.

E na Fisioterapia fiquei a saber que o Zé, o Fisioterapeuta, tem uma fama que o precede. Fama de ser violento na manipulação das pernas de quem trata. E, a rir-se, diz-me que a culpa da fama que tem é minha. Porque, quando as velhotas assistem à manipulação das minhas pernas, começam em coro a dizer “coitada da miúda! Ele dá cabo da miúda!”. E acabei eu a rir também, claro. E assumo a minha parte da culpa. Porque, já sei, ao levantar uma perna mantendo a outra esticada consigo uma abertura bem para lá dos 90 graus. Digamos que tenho uma abertura um bocadinho obtusa em termos de graus. E elas, como os outros Fisioterapeutas da clínica, ficam de boca aberta a assistir à violência dos tratamentos com o Zé. Já eu e Zé rimos. Muito! E qualquer dia estamos os dois no Cirque du Soleil por causa da minha abertura de mais de 90 graus. E continuamos a rir os dois. E rimos bastante à conta do coro.

E foi também com o Zé que hoje percebi um pouco mais do que é este raio desta dor no meu braço. É uma dor neuropática causada pelos fios descarnados que deveriam conduzir a informação do meu cérebro para os nervos do meu braço mas que se cruzam pelo caminho e fazem curto circuito. Que dói. Muito! Demais, até!

Para chatear mais um pouco, a diplopia, também conhecida por visão dupla, não me larga e está a bombar. Quero ler. Mas, sem aquela pala num olho, vejo as letras a dobrar numa autêntica sopa de letras, o que torna a leitura impossível.

Com isto tudo, estou cansada, claro. Muito cansada. Tenho dores. Tenho calor. Tenho sono. O sofá é demasiado quente para o que eu consigo suportar. Por isso, já tenho os meus cuddle buddies em cima da cama à minha espera. E o mais provável é adormecer ainda antes de colocar a pala no olho e pegar no livro…

…e quem diria que, com esta idade, iria assumir o novo look de pirata? Não tenho perna de pau, mas quase. Também não tenho olho de vidro. Já cara de mau…tem dias!

{#182.184.2025}

Mensagens por responder? Tenho. Eu sei que tenho. Mas também tenho um calor de ananases, daqueles que não se aguentam. Mas isso, já sabemos, temos tido todos. Eu é que entrei em modo “Sobrevivência” ainda no final da semana passada e não dou para tudo. Até a fisioterapia está à minha espera desde a semana passada. Por isso, não me levem a mal. Eu não sou de não responder a mensagens, especialmente quando são daquelas boas de receber e que sabem tão bem. Essas sem dúvida que merecem ter resposta. E vão ter!

Entretanto, e para tentar refrescar um pouco, hoje foi dia (ou noite, vá…) de café depois de jantar na esplanada do costume. Aquela onde eu teimo em voltar porque…sei lá eu porquê!

Agora é hora de voltar para casa. Por incrível que possa parecer, está frio! Depois dos 35 graus de máxima, temos agora uns ventosos 21 e estou…a gelar! Nunca pensei ser possível dizer que tenho frio depois de um dia estupidamente quente, mas a verdade é que tenho! Por isso, com licença! Vou para casa!