Monthly Archives: June 2016

#day181 out of 365plus1

O primeiro passo é sempre o mais difícil. O desequilíbrio, a insegurança do caminho que não se conhece, a vertigem. Há caminhos mais fáceis, mais simples, em solo já conhecido e inúmeras vezes percorrido. De tal forma conhecidos que já se sabe que andam em círculo, que já se conhecem as inclinações e os ritmos e os ciclos. Já se sabe exactamente onde e como se pode, e vai, tropeçar.
Seria mais fácil manter-me nesse caminho sobejamente conhecido. Seria mais simples poder prever com exactidão todos os tropeções e as inevitáveis quedas. Mas nunca sairia do mesmo.

Tomar decisões é fácil. Difícil é enfrentá-las, assumi-las e concretizá-las. E o primeiro passo, enfrentá-las, é o mais difícil.

Não sei o que este novo caminho me trará. Sei, sim, que não será um caminho para continuar a andar em círculo sem nunca chegar a lado algum.

Vou sentir falta das inclinações habituais, das armadilhas já tão conhecidas e onde, mesmo assim, tropecei e caí sempre. Vou sentir falta, claro que vou. Porque é um caminho que, apesar de saber que não iria dar a lado nenhum, gosto por ser como é. Não é um gostar por habituação. É um gostar porque sim, porque gosto, porque se gosta, mais do que alguma vez imaginei gostar. Mais, se calhar, do que devia. E não gosto exactamente do caminho em si, do círculo vicioso. Gosto do que me levou a percorrê-lo tantas vezes, por tanto tempo.

Claro que vou sentir falta. Muita. Já sinto. E é também por isso que dar aquele primeiro passo demorou tanto tempo.

O primeiro passo é sempre o mais difícil. Mas, e porque preciso de seguir um novo caminho, agora que foi dado não posso recuar.

Por mim. Hoje tão apenas e só por mim. Eu, hoje, em primeiro lugar. Finalmente.

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#day180 out of 365plus1

E há um dia, aquele dia, o dia em que percebes o que até então quiseste negar. Aquele dia em que dizes “não dá mais, já chega”.
E nesse dia decides que é tempo de ser um novo Tempo. É Tempo de fechar capítulos, terminando também a história de vez. O livro, o meu, irá permanecer aberto, pronto a receber e viver novas histórias.

Já é Tempo. Mais do que Tempo, aquele que me tenho esquecido que não tenho Tempo para perder Tempo, Tempo de olhar para mim. De olhar por mim. Não me permitir esta constância presa por um fio. Esta coisa que não é coisa nenhuma! Esta coisa que pesa mais para um lado, o outro lado em primeiro lugar sempre. Porque sou eu, sempre eu, quem permite deixar-me em segundo plano. Segundo? Terceiro. Quarto. Décimo! Mas nunca primeiro. Porque primeiro os outros, SEMPRE PRIMEIRO OS OUTROS! Porque não quero incomodar, porque não quero atrapalhar, porque não mereço o primeiro plano mesmo que por dentro grite em silêncio para que me oiças.

Há quanto tempo? Há tanto, demasiado. Não volto a aceitar ser um último recurso. Não volto a aceitar que me digam que não há nada a conversar. Quando existem dois anos em suspenso, comigo sozinha, à espera que a porta se abra quando eu toco à campainha.

Julgava a porta entreaberta. Mas apenas parece entreaberta. Passam correntes de ar que trazem notícias. Correntes de ar em sentido único. Daí para cá. Quando daqui para aí não é permitida a entrada, a menos que seja opção de último recurso.

Não sou último recurso. Sou muito mais. E como tal mereço muito mais do que distância e frio polar. Sou tão mais que opção de último recurso. Sou tão mais do que uma corrente de ar que chega e incomoda e atrapalha. Sou tão mais do que tudo isso que, estupidamente, me tenho permitido ser. Como que em busca de migalhas, de restos, quando não é isso que quero.

Não posso permitir o silêncio permanente. O frio. A distância. Não posso permitir a dúvida, a incerteza. A incerteza em contraste com a certeza que tive quando a porta se abriu pela última vez. Porque vi e senti e não duvidei nem por um segundo do que vi e senti e soube no imediato.

Chega… Por favor, chega. Não é a ti que o peço, é a mim. Porque não é sequer saudável manter a ilusão num jogo de portas entreabertas. Mereço mais do que isso. Mereço mais do que estes dois anos de luta constante, diária, para me manter à tona de água quando a única coisa que preciso é que me oiças. E me olhes e me vejas como sou, quem sou na totalidade. E não apenas uma opção de último recurso.

Gosto de ti “mais do que devia”. Mas hoje percebi que tenho que gostar mais de mim do que de ti. E é por isso que hoje decido pôr-me a mim em primeiro plano. E decido, também, que não vale a pena continuar a fazer de conta. Não vale a pena uma presença que na realidade é apenas aparente. Não vale a pena continuar à espera do que nunca vai ser. Decido cortar com o que me faz mal neste momento. O que, novamente, me faz chorar.

Afasto-me de vez. Se vai ser duro? É como uma droga. Vai doer. Muito. Se vou chorar? Não duvido. Mas choro hoje para poder voltar a sorrir em breve. E por muito que vá doer, por muito que vá chorar, sei que não estou sozinha. Aqui não duvido que tenho quem não me deixe cair.

Não, o dia não termina com um sorriso. Mas ainda assim encontro neste dia motivos para sorrir. Por saber que não me deixarão cair quando, finalmente, fechar a porta, encerrar o capítulo, terminar a história e virar a página.

Porque eu sou tão mais do que o que me tenho permitido ser. Para “não atrapalhar”. Para “não incomodar”. Para “não chatear”. Para “não ser um peso”. Para não ser uma opção de último recurso. Novamente. Tudo palavras minhas. Tudo reflexos de ti.

Chega… Por favor…

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#day179 out of 365plus1

Ninguém disse que crescer era fácil. Mas nem por isso deixo de tentar.

Crescer para ser uma árvore.

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#day178 out of 365plus1

Olhar para cima. Olhar para a frente. Um dia atrás do outro atrás do um. Sem pressa.

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#day177 out of 365plus1

Esqueço-me, demasiadas vezes, que este caminho é para ser feito sozinha. Por muito que me lembre da promessa de não estar sozinha, é sozinha que o tenho percorrido.
Os dias fáceis, tranquilos, passam-se bem. Mas depois há os outros. Aqueles em que a memória me ataca sem dó. E a dor volta. E volta com a dor aquela vontade de a fazer parar de doer. De infligir uma dor maior, ainda que momentânea, para abafar a outra, a que a memória me traz.

Não é só a memória que faz doer. É, também, aquela promessa não cumprida. A de não estar sozinha, de não ficar sozinha. Porque me falha, sempre, a única presença capaz de me acalmar a dor. E falha-me, também, a coragem de gritar por socorro mais uma vez. Por saber que esse pedido, esse grito, já foi ignorado antes, quando mais precisei que tivesse sido atendido.

Quero encerrar capítulos. Preciso de encerrar capítulos. Não quero, nunca quis, ser um peso, um estorvo. Para ninguém. Mas também não quero ser uma aposta de último recurso. Mereço mais e melhor que isso. Mereço mais do que silêncio e ausência quando o que preciso é presença e diálogo para encerrar um capítulo. Que ainda dói.

A memória de calendário, do calendário. Os 42 dias a repetirem-se, a recontarem-se novamente, a reviverem. Não posso avançar nos dias até ao final do Verão. Não é possível fazer de conta que não me lembro, que não revivo, que não sinto hoje a mesma ansiedade que sentia há dois anos.

Dois anos. Como é possível, dois anos? E um capítulo que não se encerra. Que nunca se encerrou por falta de vontade, de disponibilidade? Não sei. Sei, sim, que hoje me falta coragem. Coragem para dar o passo necessário para o encerrar. Porque sei que ao dar esse passo, ao tentar encerrar esse capítulo, vai doer. E vai trazer mudanças. E vai ser um passo definitivo. Porque preciso que o seja. Porque sei que continuarei a lembrar-me, a reviver, a sentir, mas quero poder fazê-lo em paz. Sem ressentimentos de promessas que ficaram por cumprir, sem ausências que me pesam, sem ter medo de ser um peso que nunca quis ser.

Dói a memória. Dói a ausência. Dói o silêncio. Mas dói, ainda mais, a dúvida, a incerteza e a minha falta de coragem para encarar a mudança.

Nunca quis ser um peso. Um estorvo. Um empecilho. Nunca quis incomodar, sabendo que incomodei e transtornei e atrapalhei. Nunca quis nada disso. Porque, como sempre, primeiro os outros, depois eu quando e se for possível.

Esqueço-me, no entanto, que apesar de percorrer este dia sozinha há tanto tempo, não posso esquecer-me do mais importante: de mim.

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#day175 out of 365plus1

Linhas cruzadas de vozes na minha cabeça.
Não são vozes imaginárias, nem são vozes reais. São ecos de memórias, receios, certezas, dúvidas. Que, quando não interrompidas por vozes exteriores, me gritam todas as dores, todos os medos.

Voltarei a conseguir silenciá-las. Até lá, convivo com elas numa luta constante por um bocadinho de silêncio. De sossego.

Nem a noite me traz silêncio, porque elas, as vozes, continuam em linhas cruzadas até que o cansaço me vence e finalmente adormeço. Aí as vozes transformam-se. Em imagens que não quero repetir mas que todas as noites me visitam. Imagens de memórias que me perturbaram o sono durante longos meses, transformando uma única, e dolorosa, imagem real num pesadelo constante que tantas vezes me acordou a chorar. Ou imagens que sinto como memórias mas que nunca tiveram lugar. Imagens de um parto que não aconteceu. De um nascimento que não chegou a acontecer. Mas sou eu, ali, naquelas falsas memórias, a trazer ao mundo uma criança. Uma menina, dizem-me as vozes. Que é minha, que nasce de mim, que acompanho todo o processo, todo ele tão real, tão nítido como se realmente de uma memória se tratasse.

E as vozes repetem-se na minha cabeça, repetem-me a frase “sim, és tu ali”, repetem-me convictas “sim, é tua”. E as outras vozes, cruzadas, riem-se. Umas em riso escarninho, de puro gozo e crueldade. Outras riem-se felizes como se de uma memória se tratasse. Outras há que apenas produzem ruído de fundo. E outra, a minha, que tenta gritar mais alto para que todas se calem.

As vozes, as imagens, não consigo desligá-las. Procuro vozes exteriores que se sobreponham às vozes na minha cabeça. Mas, no fundo, procuro respostas às perguntas que as vozes na minha cabeça fazem e procuro entender as mensagens de todas aquelas imagens de falsas memórias.

Um dia. Talvez. Talvez um dia encontre essas respostas. Até lá, convivo o melhor que posso e o melhor que sei com essas linhas cruzadas de vozes na minha cabeça.

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#day174 out of 365plus1

Não me apetece escrever, pouco ou nada tenho para lançar para o éter.
Não me apetece falar, mas apetece-me, muito, conversar.

De volta a uma espécie de terapia, daquelas em que por algumas horas não penso em nada pensando em tudo. Ou penso em tudo não pensando em nada? Não sei. Sei que me acalma, sei que me desacelera e que, de certa forma, me limpa a cabeça.

Apetece-me, muito, conversar. Falar de tudo ou de nada, sempre sem pressas e sem horários. São as melhores conversas, essas. Sem pressas e sem horários mas com o ritmo de quem partilha em palavras o que traz lá dentro.

Não me apetece escrever. Não me apetece falar. Apetece-me, muito, conversar. Cara a cara. Olhos nos olhos ou olhos no céu, nunca no chão porque aí não os pousarei novamente.

Apetece-me, tanto, conversar…

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#day173 out of 365plus1

Um dia atrás do outro atrás do um. Tanto e tão pouco que é imenso.

Um dia. Não hoje. Mas um dia. Até lá, sempre um dia atrás do outro atrás do um.

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#day172 out of 365plus1

São as vozes, sempre as vozes no telhado. São as vozes que ainda me assustam…

{Lua Cheia. Solstício de Verão. A vitória da Luz sobre a escuridão. Vai correr tudo bem.}

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#day170 out of 365plus1

O que é que te inspira?

O mar?
O céu?
As flores?
O amor. O amor por ti, o amor por mim, o amor por todos.

O verde. O vento. O sol.
O som. Da tua voz, do teu beijo.

O ritmo das cores. O formato do Arco-íris. A sombra. Das árvores. Das nuvens.

O toque da tua pele, do teu abraço, do teu respirar.

O olhar, o luar, a estrela do Norte. O meu Norte. O teu Norte.
A Sul a vertigem. Do sonho. Do desejo. Da vontade de ser e estar. Voar sem asas, sonhar sem chão. Sorrir.

Ser. Amar. O mar…

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{há tanto tempo que não escrevia no papel…}

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#day168 out of 365plus1

Da importância das meias às riscas.

Não que tenham, de facto, importância relevante. Mas as meias às riscas recordam-me, sempre, que são mais divertidas por serem às riscas do que lisas com apenas uma cor.

Um bocadinho como as pessoas. Muito mais divertidas aquelas de várias cores do que as outras, lisas, que invariavelmente apostam no clássico: preto, cinzento, azul escuro ou castanho. Aborrecidas, desinteressantes, monótonas. Sem grandes pormenores interessantes para partilhar.

Além de aborrecidas, as meias lisas de cores clássicas são também uma espécie de camuflagem. É mais difícil encontrar as imperfeições. Não é tão nítido o calcanhar desgastado. Os primeiros sinais de buracos passam despercebidos até ser demasiado tarde. Tal como as pessoas. Aquelas pessoas que se pintam de cores clássicas, que classificam outras cores como “não cores” acabam sempre por esconder imperfeições, calcanhares desgastados e buracos a abrir.

Não gosto de meias de cores clássicas. Assim como não gosto de pessoas que são como as meias de cores clássicas. Gosto, muito, de meias às riscas, de várias cores, de todas as cores porque, para mim, todas as cores são cores. E as cores, nas meias por exemplo, fazem muito mais sentido quando em conjunto. Alternadas em riscas.

Da importância das meias às riscas. Ou, como repito todos os dias para mim mesma: não esperes que os outros sejam iguais a ti. E por isso mesmo gosto tanto de meias às riscas.

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#day167 out of 365plus1

Os pesadelos. Novamente os pesadelos. Sempre sobre o mesmo, sempre a mesma imagem, as mesmas imagens, o mesmo sentimento.

Os pesadelos. Os mesmos que me acompanharam durante meses desde o início deste meu processo que sempre chamei de cura. A mesma imagem, as mesmas imagens. O sentimento sempre o mesmo.

Os pesadelos. Aqueles que me visitam à noite e me acompanham durante o dia. Que abrem gavetas na minha memória que sei que estão longe de estarem arrumadas. É verdade que as consigo fechar temporariamente. É verdade que dificilmente serão arrumadas de forma permanente. Porque os pesadelos voltam para me lembrar de tudo.

Não quero os pesadelos. São visitas indesejadas, mas não as consigo expulsar. Não posso fingir, fazer de conta como sei fazer tão bem, que nada se passou. Que não aconteceu nada naquele Verão de desnorte. Que foi só mais um Verão igual aos outros.

Os pesadelos. Novamente os pesadelos. Que, como desde o primeiro dia, guardo para mim, comigo, em mim.

Os pesadelos que me fazem recear o sono. Outra vez. Que me fazem não querer dormir deixando-me vigilante até altas horas da madrugada. Outra vez. Que me fazem reviver tudo. Todos os pormenores daqueles dias que demoraram a passar até mergulhar no sítio mais escuro onde alguma vez mergulhei. E onde durante meses visitei e voltei a visitar até me cruzar com o momento certo para querer sair.

Os pesadelos que me acompanham durante todo o dia, à hora que for, a fazer seja o que for, onde for. Aquelas imagens sempre presentes, todas elas, mas aquela… Aquela imagem! A pior de todas é a mesma que mais me acompanha. Que mais se faz presente. Nunca esteve ausente, na verdade. Mas durante algum tempo consegui conviver com ela de forma mais serena. Não necessariamente pacífica, mas serena. Até voltar a visitar-me à noite enquanto dormia e voltar a tornar-se um pesadelo.

Os pesadelos. Novamente os pesadelos. Não os quero. Mas ninguém os pode levar de mim.

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#166 out of 365plus1

Manter o foco.

Nada acontece por acaso. Nem quando, inadvertidamente, se confundem horários acabando por me levar exactamente ao ponto que me é certo. Não arriscaria sair da zona de conforto tão cedo conscientemente. Porque, mais uma vez, “não é para mim” ou “não é o momento”.

Manter o foco.

O caminho faz-se caminho, dizem por aí. O caminho, o meu, faz-se respirando. E lembro-me demasiado bem que, nem há tanto tempo assim, respirar não era possível.

Manter o foco.

Respirar num caminho de crescimento. Interior. Respirar num caminho de conhecimento. Meu.
Respirar.

Manter o foco.

O meu caminho é, também, por aqui.

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#day165 out of 365plus1

Dou por mim tantas vezes a pensar no mesmo. Todos sabemos que um dia o tal amanhã não irá chegar. Mas continuamos a dá-lo por garantido mesmo que a nossa história nos recorde, todos os dias, daquela manhã de Novembro.

Também eu me acomodei ao amanhã, ao deixar para depois, ao agora não é Tempo, ao é melhor deixar para dizer depois porque agora não é altura. Os cafés adiados, as idas à praia que não aconteceram, as visitas que não fiz, os jantares que não partilhei, as conversas que não tive. A conversa que não aconteceu.

Agora não, é melhor dar tempo. Agora não, não é a melhor altura. Agora não, sem motivo por que não.

E se um dia o amanhã não chegar? Chega, claro que sim, não sejas parva. Sei que é a resposta pronta. Mas e se o amanhã nunca chegar? Seja o meu, seja o teu, seja o dela ou o dele. Ficam palavras por dizer mesmo que sem demasiada importância, ficam gargalhadas por dar, ficam sorrisos por despontar, ficam cafés por tomar. Ficam conversas por se ter, assuntos por resolver. Fica o vazio de não se poder voltar atrás um dia que fosse para não deixar pontas soltas quando o amanhã não chegar.

Penso demasiado nisto. Porque todos os dias vejo mais um dia cortado no calendário, menos um dia no meu contador. E vejo o tempo a passar e tudo permanece igual porque hoje não é o melhor dia, porque agora estou demasiado ocupada, porque é melhor deixar para depois.

Não tenho Tempo para perder Tempo, repito para mim mesma há dois anos. Mas perco-o a cada dia que deixo passar em branco sem te dizer que gosto de ti, ou o quão importante tens sido tu nos últimos tempos, ou ainda tu que apesar do silêncio sei que estás aí e ainda não te agradeci.

Perco tempo, aquele tempo que não tenho Tempo para perder Tempo, sem te dizer que estavas certo naquele dia, que só eu não quis ver por, oh ironia!, não ser o Tempo certo de ver. Perco tempo ao tentar deixar-me ficar quieta por não querer incomodar, por não querer ser um estorvo, por não querer ser mais um peso. Perco tempo deixando-me sossegada no meu canto por acreditar que seria um incómodo, iria atrapalhar e também por ter aquela estúpida ideia de não ter direito a ter esse tempo, de não merecer esse tempo, ou de mereceres tu passar esse tempo de forma melhor, não desperdiçado comigo e com a minha vontade de não deixar nada por falar, por dizer.

Todos os dias penso, quieta no meu canto, que amanhã é dia certo. Que é amanhã que avanço, me faço presente e volto a bater na porta que deixei entreaberta. E o amanhã chega e volto a adiar para o outro amanhã.

Fico à espera. De um sinal? De um alarme. Que, sem surpresas, me diga que amanhã é, de facto, o dia certo no Tempo certo. Mas…

…e se o amanhã nunca chegar…?

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#day164 out of 365plus1

Esquecer Junho. Esquecer, um bocadinho, o Mundo lá fora. Cada vez mais feio.

Esquecer Junho. Esquecer-me de Junho.

E, de novo, a memória. As memórias à flor da pele.

Esquecer Junho. Esquecer, um bocadinho, o Mundo lá fora.

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#day163 out of 365plus1

Deita-te, respira, relaxa. Fixa um ponto no tecto por cima de ti. Diz-me o que pensas, diz-me o que sonhas, diz-me o que sentes.

Respira, relaxa. São apenas palavras que te peço. Palavras que traduzem o que não te sei ler. Palavras que me falam o que pensas, que me relatam o que sonhas, que me sussurram o que sentes.

Respira, relaxa. Fixa um ponto no tecto por cima de ti. Cruza as mãos no peito. Cruza os pés. Deixa-te ficar, assim cruzado em linhas de conversas fora de horas, sem pressa, sem rumo, sem horários ou destino. São apenas palavras que te peço. Cruzadas e entrecruzadas, do que pensas, do que sonhas, do que sentes.

Respira, relaxa. Não faças planos, não quero planos. Fala-me apenas do que vês nesse ponto fixo no tecto por cima de ti. De que cores o pintas, que desenhos lhe traças, que palavras lhe deixas. Como numa tela, conta-me os detalhes de cada traço, o pormenor de cada cor, o foco de cada ponto de fuga.

São apenas palavras. Respira, relaxa. Deixa-te levar por esse momento. Esse momento que é teu e desse ponto fixo no tecto por cima de ti. A quem falas, com quem partilhas o que vês, o que sonhas, o que sentes. Só tu e esse ponto. Como um ponto de fuga que guia e marca a perspectiva.

Não sou eu esse ponto fixo no tecto por cima de ti. Não sou essa tela. Não sou mais do que eu mesma, assim, como me sabes, como me conheces.

Mas sou eu quem te pede: fala-me do que vês, diz-me o que pensas, diz-me o que sonhas, diz-me o que sentes. Em troca das tuas palavras deixo-te um ponto fixo no tecto por cima de ti. Porque também eu, também tu, todos precisamos de um ponto de fuga. Para respirar. Para relaxar.

Deita-te, respira, relaxa. Fixa um ponto no tecto por cima de ti. E sê, simplesmente. Tu igual a ti próprio, com o que pensas, com o que sonhas, com o que sentes guardado para ti.

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