E há um dia, aquele dia, o dia em que percebes o que até então quiseste negar. Aquele dia em que dizes “não dá mais, já chega”.
E nesse dia decides que é tempo de ser um novo Tempo. É Tempo de fechar capítulos, terminando também a história de vez. O livro, o meu, irá permanecer aberto, pronto a receber e viver novas histórias.
Já é Tempo. Mais do que Tempo, aquele que me tenho esquecido que não tenho Tempo para perder Tempo, Tempo de olhar para mim. De olhar por mim. Não me permitir esta constância presa por um fio. Esta coisa que não é coisa nenhuma! Esta coisa que pesa mais para um lado, o outro lado em primeiro lugar sempre. Porque sou eu, sempre eu, quem permite deixar-me em segundo plano. Segundo? Terceiro. Quarto. Décimo! Mas nunca primeiro. Porque primeiro os outros, SEMPRE PRIMEIRO OS OUTROS! Porque não quero incomodar, porque não quero atrapalhar, porque não mereço o primeiro plano mesmo que por dentro grite em silêncio para que me oiças.
Há quanto tempo? Há tanto, demasiado. Não volto a aceitar ser um último recurso. Não volto a aceitar que me digam que não há nada a conversar. Quando existem dois anos em suspenso, comigo sozinha, à espera que a porta se abra quando eu toco à campainha.
Julgava a porta entreaberta. Mas apenas parece entreaberta. Passam correntes de ar que trazem notícias. Correntes de ar em sentido único. Daí para cá. Quando daqui para aí não é permitida a entrada, a menos que seja opção de último recurso.
Não sou último recurso. Sou muito mais. E como tal mereço muito mais do que distância e frio polar. Sou tão mais que opção de último recurso. Sou tão mais do que uma corrente de ar que chega e incomoda e atrapalha. Sou tão mais do que tudo isso que, estupidamente, me tenho permitido ser. Como que em busca de migalhas, de restos, quando não é isso que quero.
Não posso permitir o silêncio permanente. O frio. A distância. Não posso permitir a dúvida, a incerteza. A incerteza em contraste com a certeza que tive quando a porta se abriu pela última vez. Porque vi e senti e não duvidei nem por um segundo do que vi e senti e soube no imediato.
Chega… Por favor, chega. Não é a ti que o peço, é a mim. Porque não é sequer saudável manter a ilusão num jogo de portas entreabertas. Mereço mais do que isso. Mereço mais do que estes dois anos de luta constante, diária, para me manter à tona de água quando a única coisa que preciso é que me oiças. E me olhes e me vejas como sou, quem sou na totalidade. E não apenas uma opção de último recurso.
Gosto de ti “mais do que devia”. Mas hoje percebi que tenho que gostar mais de mim do que de ti. E é por isso que hoje decido pôr-me a mim em primeiro plano. E decido, também, que não vale a pena continuar a fazer de conta. Não vale a pena uma presença que na realidade é apenas aparente. Não vale a pena continuar à espera do que nunca vai ser. Decido cortar com o que me faz mal neste momento. O que, novamente, me faz chorar.
Afasto-me de vez. Se vai ser duro? É como uma droga. Vai doer. Muito. Se vou chorar? Não duvido. Mas choro hoje para poder voltar a sorrir em breve. E por muito que vá doer, por muito que vá chorar, sei que não estou sozinha. Aqui não duvido que tenho quem não me deixe cair.
Não, o dia não termina com um sorriso. Mas ainda assim encontro neste dia motivos para sorrir. Por saber que não me deixarão cair quando, finalmente, fechar a porta, encerrar o capítulo, terminar a história e virar a página.
Porque eu sou tão mais do que o que me tenho permitido ser. Para “não atrapalhar”. Para “não incomodar”. Para “não chatear”. Para “não ser um peso”. Para não ser uma opção de último recurso. Novamente. Tudo palavras minhas. Tudo reflexos de ti.
Chega… Por favor…