Monthly Archives: December 2015

#day500

500 dias. De altos e baixos. Altos q.b. e baixos muito baixos.

500 dias. Que coincidem com o final do ano. Um ano que começou negro, à beira do abismo, ou já mesmo no abismo e que tinha tudo para terminar mais cedo.

500 dias. Difíceis. Duros. Doridos, muitos. Doídos, tantos. Mas sempre um dia atrás do outro atrás do um até aqui. 500 dias quando não me imaginei, nunca, a chegar sequer ao 10º dia.

365 dias de 2015. E que 2015! O ano, chamo-lhe, da Fénix. Morrer para renascer. Para aprender. Para crescer. Fortalecer-me. Ser. E aprender, reaprender, a Viver.

Do que me trouxe 2015 não posso destacar só o que foi bom. É-me preciso também relembrar o que não foi tão bom assim. Aqueles primeiros dois meses do ano, negros, doridos, doídos, sem rumo, sem norte, sem chão. E o fim ali tão perto. Que acabou por ser o fim, apenas de forma diferente. Para melhor.

Perceber que mesmo achando que não estava sozinha, o estava de facto. Uma ilusão que se arrastou de 2014 para 2015 mais do que gostaria. Mais do que me era necessário. Ou, se calhar, foi necessária toda essa ilusão para perceber a desilusão e perceber que, afinal, mereço mais. Mereço melhor. Não mereço histórias mal contadas. Histórias que não o são, que não o eram, que não o foram. Histórias de uma ilusão etílica que não é para mim. Não mereço quem me olha sem me ver. Mereço mais. Muito mais que isso. E melhor.

Não preciso de quem usa e abusa. Seja de pessoas, seja de substâncias. Não preciso, também, de quem não entende o valor do que me é mais importante: o Tempo para Viver. O facto de estar cá quando podia não estar. Quem não entende o quão me é precioso estar, de facto, cá. E usando e abusando de pessoas e substâncias por pouco não impediu que cá continuasse. E isso não esqueço.

Não. Não preciso disso. E mereço muito mais que isso.

Se foi tempo perdido? Sinto que sim. Mas sei, também, que quando se aprende algo o Tempo nunca é perdido. E aprendi.

E foi preciso passar por esse uso e abuso para perceber que sou mais, sou melhor, sou inteira, sou plena. E, por isso mesmo, sei o que quero e, acima de tudo, sei o que não quero.

500 dias. 365 em 2015. De transformação. De aceitação. Do que sou, de quem sou. De conhecimento, auto-conhecimento, auto-reconhecimento após tanto tempo sem me reconhecer.

2015 trouxe-me também coisas boas, não apenas ilusões e desilusões de usos e abusos. Trouxe-me novos começos. O Meu novo começo. Não é fácil começar de novo. Mas é tantas vezes necessário. Como foi. E foi, também, necessário perceber que, mesmo que muitas vezes pense que estou sozinha, não o estou nunca. E sou tão grata por isso. Por saber, por confirmar, por me fazerem chegar a mensagem que era para mim apenas e que fez mudar tudo e que me garantiu que não, nunca estou sozinha.

365 dias de 2015 que terminam no dia 500 do meu percurso a que tantas vezes chamei de processo de cura. Que o foi. Tem sido. Não me garanto curada, garanto-me sim tranquila. Em paz. E não uma paz ilusória como durante tanto tempo apregoava a mim mesma. Hoje estou tranquila. Fortalecida. Em crescendo. Aprendi a olhar e a viver de dentro para fora, não apenas de fora para dentro. Continuo a sentir tudo intensamente, faz parte de quem sou, do que sou. Mas consigo hoje perceber o quanto de fora influencia o que está cá dentro e como posso equilibrar-me.

Equilíbrio. Ao fim de 500 dias, equilíbrio. E cor. Cores. Que me foram acompanhando em 2015 começando numa paleta negra e que se foi atenuando depois da queda, depois do fim. Uma paleta que me lembrou que em mim mora o cor de rosa. E que vai continuar a morar. E a fusão do cor de rosa com outras cores só pode trazer cores positivas, bonitas. O cinzento, sei-o já, não o quero. Não preciso. Não é meu. Não é para mim. Venham, pois, as restantes cores. Primárias, secundárias, o que for. Só não mantenho o cinzento. E, mesmo que o cinzento apareça, sei que basta lembrar-me que a magia existe e os pós de fada e os pozinhos de perlimpimpim afastam o que é escuro, o que é feio, o que não quero.

2015, 365 dias. O final de 500. Redescobri o mundo mágico dos sonhos e das vontades e das cores e das fadas e feiticeiros e vôos em balão de ar quente e pirilampos e luas coloridas e processos de fusão e entregas e encaixes de peças de puzzles e sorriso em escadinhas e lápis de cor e postais ilustrados e desenhos e rabiscos.

E descobri, redescobri, também um lado meu que teimei tanto tempo em não querer ver. Os meus 4 M’s…

M de Menina. Pequena.

M de Miúda. Pós revolução, dizem-me…a própria da revolução, digo.

M de Mulher.

M de…um M que é meu que ainda não verbalizo. Mas que nem por isso deixa de ser Meu.

500 dias, 365 dias de 2015.

Aos 500, prometi a mim mesma, deixo de contar. E hoje deixo de contar. Porque já não faz sentido. Porque já não preciso de contar os dias. Já há algum tempo que não preciso de os contar. Mas perceber que o dia 500 e o último dia deste ano da Fénix calhavam no mesmo dia fez-me continuar a contagem, para fecho de ciclo.

2016 traz um novo ciclo, e traz também um dia extra no calendário. Traz mudanças, tantas. As que já estão programadas serão, certamente, positivas. As outras, as que acontecem sem pedirmos, sem procurarmos, serão o que tiverem que ser, serão o que 2016 quiser que sejam. Mas sei, hoje, no dia 500, que sou mais, sou melhor, do que era no dia 136.

Grata. Tanto. Por tudo o que 2015 me trouxe. O bom e o mau. Não há bom se não conhecermos o mau. Cliché, de facto, mas verdadeiro.

500 dias. 365 dias de 2015. Plena. Inteira. 4 M’s. Eu. Viva. E a Viver e não apenas a sobreviver.

Deixo de contar este ciclo. Este capítulo. Este livro. Começo nova contagem amanhã. Apenas porque mantenho a máxima “um dia atrás do outro atrás do um”. E faço questão de manter o sorriso em escadinhas.

500 dias. E estou cá. E é tão bom.

Obrigada. A todos. Por tudo. Continuemos sem ter Tempo para perder Tempo.

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#day499

A imprevisibilidade dos dias leva a vôos não programados. Daqueles que fazem sentido e fazem sentir. Sempre. Desde sempre. No seu Tempo. Que é, também, o meu Tempo.

Tão bom.

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#day498

Cabeça a mil. Confusa. Sem motivo.

Tranquila e inquieta em simultâneo.

Mais um dia atrás do outro atrás do um. Sem História e sem histórias.

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{17 de Fevereiro de 2015}

Final do ano é altura de balanço. Não farei hoje o balanço deste ano que foi tão cheio de tudo, bom e mau.

O Facebook já fez o resumo do ano.

O WordPress acabou de me enviar os números do blog ao longo do ano. E diz-me que o dia mais atarefado por lá, em termos de visitas, foi dia 17 de Fevereiro. 100 visitas num só dia. E recorda-me o WordPress que o dia 17 de Fevereiro foi, também, o #day182.

Foi o dia em que percebi que o limite, o meu limite, era ali. Que já não aguentava muito mais. Foi o dia em que bati no fundo com todas as forças que ainda tinha na altura.

Foi o dia de lançar apelos, pedidos de ajuda. Ainda que não completamente explícitos, foram pedidos de ajuda. Nem sempre entendidos como tal, percebi isso. Mas era atingir o limite e pedir ajuda porque a dor pesa e mói e corrói e destrói.

Foi pedir ajuda e receber a resposta “não posso fazer mais nada”, quando podias tudo. Devias? Não sei. Mas podias. Nunca dizeres-me “não posso fazer mais nada”…

Não sei onde encontrei o rumo para chegar ao dia seguinte. E ao outro. E ao outro. Sei apenas que cheguei. E sei também como, poucos dias depois, o meu pedido de ajuda foi, de certa forma, ouvido e atendido. E tudo mudou a partir daí.

Não tinha, ainda, lido o #day182. Aconteceu hoje porque o WordPress mo recordou. Li. Reli. E doeu-me reler-me. E doeu-me reencontrar aquela que eu era há 10 meses. E doeu-me a dor dela. A dor de quem atingiu o limite e esteve prestes a desistir. De vez.

Digo tantas vezes que podia não estar cá. E, ao ler o que escrevi naquele dia 17 de Fevereiro e ao lembrar-me de cada um desses dias de Fevereiro antes e depois de dia 17, sei que não estaria se naquela manhã de sábado não tivesse recebido a mensagem que recebi, a ajuda que pedi.

Sim. Podia hoje não estar cá. Mas estou. E ainda bem que estou! E estou grata, tanto, por estar.

Não. Não quero regressar a 17 de Fevereiro de 2015. Mas preciso, tantas vezes, de olhar para trás e confirmar de onde vi e onde já cheguei.

Obrigada a quem, ao longo deste caminho, se mantém ao meu lado. Foi duro. Mas estou cá. Quando podia não estar cá.

#day497

“Então é assim, os indivíduos estavam ambos os dois na morada acima indicada e derivados da temperatura exterior, tipo, muito baixa, constiparam-se em simultâneo ao mesmo tempo.”

Rir em escadinhas. Sempre. Com o que pode parecer não fazer sentido. Mas faz. E faz sentir também.

Falta muito para terminar a página da esquerda e começar a colorir a da direita?

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#day496

Domingo com sabor a Domingo. Dormir até tarde. Ronha no sofá enrolada na manta.

Sair para um café e um bocadinho de ar.

Rir em escadinhas.

Regressar ao sofá e à ronha.

Trovoada lá fora.

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#day495

Cansada. Muito. Tanto. Ainda.

Se o dia podia ter terminado mais cedo? Podia. Mas uma decisão de última hora levou-me em jeito de surpresa aos Meus Tudo.

“És linda. E fofinha!” diz-me os Meu Dois agarrado às minhas pernas.
“Agora já sei, a tia é uma senhora linda mas má porque não gosta do pai, não gosta do Pipo, não gosta de mim, não gosta da avó, não gosta do Gaspar, não gosta de ninguém!” diz o Meu Um a rir-se como sempre para rematar com “mas adorei a surpresa de vires cá”.

Cansada. Muito. Tanto. Ainda. Mas aconchegada com os mimos dos Meus Dois.

Cansada. Muito. Tanto. Ainda. E o tempo a correr. A voar. E a precisar, eu, de descansar. Muito. Tanto. Ainda.

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{21 anos}

um ano escrevia sobre há 21 anos.

21 anos já. Como se tivesse sido ontem, lembro-me de tudo. Até dos bilhetes que na véspera tinham ficado esquecidos em casa dos meus tios.

Mantenho o que dizia há um ano. Hoje faria tudo novamente. Mudaria do comboio para o avião. Voaria e faria de conta que a aterragem não custa nada. Custa sempre, por muito que se antecipe a aterragem. Por muito que nos preparemos para ela.

21 anos depois já não tenho DocMartens nos pés nem a mochila às costas. Mas mantenho os sonhos de amores adolescentes e acredito naquela magia que faz da distância uma barreira que não existe.

21 anos depois e pouca coisa mudou. Quando é que parte o próximo vôo?

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#day494

Natal é poder estar com os Meus Dois, os Meus Tudo. É poder ver-lhes os olhinhos a brilhar porque o Pai Natal também passou por aqui para lhes deixar prendas. É vê-los, e senti-los, vibrar enquanto rasgam os papéis coloridos e descobrem surpresas e magia.

Natal é poder abraçá-los, apertá-los, mimá-los e dizer-lhes que gosto deles, muito.

Natal é, finalmente, isto. Pela primeira vez. Os Meus Dois, os Meus Tudo. Os meus Presentes.

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#day493

Oiço dizer muitas vezes “sou faz falta quem cá está” e nunca consegui concordar. Porque falta mesmo fazem os ausentes, os que não estão. Como hoje.
Os que não estão porque já não é possível estarem, os que não estão porque não lhes foi permitido estar, os que não estão porque não eram para estar. E todos eles me fazem falta hoje. Tanta.

Quem cá está aconchega, claro. Quem está é Presente, como eu me faço Presente, Sou Presente.

Mas fazem falta os ausentes.

É Natal, dizem. Seja isso o que for para os outros. Para mim é reunião de família como há muitos anos não acontecia. É mesa preenchida de gente, é azáfama na cozinha, é perguntar se falta muito tempo para a meia noite a cada quinze minutos. É papel de embrulho. É cheiro a açúcar e canela. É risos e gargalhadas e conversas e conversetas.

É cansaço. Muito. E querer muito esconder-me debaixo das mantas e dormir até amanhã sem horários para acordar.

Nem me escondo nem durmo sem horários.

Mas estou, Sou, Presente. E continuam a faltar-me os ausentes. Os que já não podem estar, os que não tiveram permissão para estar, quem não era para estar.

Feliz Natal.

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#day492

De hoje: já tive dias melhores. Já tive dias piores também.

Descansar, preciso. Muito. Rapidamente.

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{de voar}

Lembro-me da primeira viagem de avião. Um vôo de duas horas e pouco com destino à Alemanha. Lembro-me do medo, do pânico de voar.
Lembro-me de, muitos anos antes, ter trocado 2 horas e pouco de avião por 27 horas de comboio rumo a Bruxelas ao sabor de um Amor adolescente, uma paixão de Verão que o comboio, em detrimento do avião, permitiu prolongar até ao Inverno.

Sempre tive medo de voar. Mas a ida à Alemanha não permitia trocar o vôo pelo deslizar dos carris e não podia deixar passar a oportunidade que, sabia, era única.

Recordo a ansiedade galopante nas semanas que antecederam o vôo. As noites mal passadas pouco antes da data da partida. Recordo o medo, que não sabia explicar apenas, sabia que sentia.

Muita gente tentava acalmar-me, dizendo que era seguro, até mais seguro que o comboio, e que “lá em cima não sentes nada, não dás por nada”. Que levantar vôo era engraçado e dava alguma comichão na barriga. E que “o que custa mais é a aterragem”.

Lembro-me da aterragem em Bona. A descida foi, aparentemente, tranquila. Mas, assim que tocámos a pista, assim que regressámos a Terra, o medo voltou. Porque o avião continuava a deslizar na pista, a pista cada vez mais curta, o avião a continuar a deslizar.
Embora inexperiente em vôos e aterragens, percebi que não tinha sido uma boa aterragem. Assustou. Gelou. A tal comichão na barriga à partida transformara-se num murro no estômago, daqueles que cortam a respiração.

Não me lembro da aterragem em Lisboa. Sei apenas que foi mais tranquila, provavelmente por isso mesmo não me lembro. Mas não me esqueço de Bona.

Nunca mais voei. De avião, pelo menos. Nem de qualquer outro meio de transporte aéreo. Mas sei que, de todos os vôos, até mesmo daqueles que não são feitos em meio de transporte aéreo, o que custa mais é sempre a aterragem. Mesmo que se esteja preparado para ela, nunca estamos realmente. Mesmo que se saiba antecipadamente o destino e a hora estimada para a chegada, o pior é sempre a aterragem. E o murro no estômago depois da comichão na barriga.

Mantenho o medo de voar. Mas vou voando. Mantenho o medo de voar não pelo vôo, mas sempre pela aterragem, seja ela imprevista ou previamente programada. Como agora.

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#day491

A última vez que cortei o cabelo foi há 488 dias. Se alguma vez tinha contado o número de dias sem cortar o cabelo? Não. Mas também nunca antes tinha contado os dias fosse do que fosse.
O número de dias sem cortar o cabelo seria irrelevante, para mim ou para qualquer outra pessoa, se não fosse também parte da contagem dos meus dias. Destes dias todos que são já 491 e que em breve deixarei de contar.
Ter cortado o cabelo há 488 dias foi, também, um novo começo. E esse percurso de 488 dias, o tamanho do cabelo após 488 dias sem o cortar, o comprimento, os danos, os sinais do tempo, relembram-me, ou relembraram até hoje, o meu percurso. Cresci ao mesmo tempo que ele. Fui acumulando danos, sinais do tempo. E fui deixando crescer o cabelo enquanto me permitia crescer também.
Não, não foi nenhuma promessa como me chegaram a perguntar. Foi só isso mesmo: crescer e deixar crescer. E nunca o tinha deixado crescer tanto. E nunca me tinha permitido crescer tanto também.

Hoje cortei o cabelo. E quero com esse corte cortar o que ficou para trás ao longo destes 488 dias sem cortar o cabelo e todos os outros que vieram antes desse dia. Quero cortar com o que já não é, ou até mesmo nunca foi. Quero cortar com o que me fez doer, tanto como nunca pensei ser possível algum dia. Quero cortar com tanta coisa que aconteceu pelo meio e que também, de uma forma ou de outra, me deixou marcas, sinais do tempo, danos. Quero cortar com tudo isso sabendo que, mesmo cortando, o cabelo e o que me fez doer, cresço um pouco mais todos os dias. Porque fui aprendendo que não posso ser de outro modo se não em crescendo.

Há tanta coisa nova à minha espera. Um ano inteiro todo ele novo, com 366 páginas em branco à espera de ser preenchido com cor. Cores. Todas. As minhas e as dos outros. Sejam primárias, secundárias, sejam o que for. Desde que não cinzentas. Ou, mesmo que sejam cinzentas, sei hoje que a cor, as cores, estão sempre lá. Basta saber olhar. E com tanta coisa nova à minha espera corto com o que fui e assumo-me como o que sou: Eu, Plena. Não importa, na verdade, o comprimento do cabelo. Não sou Sansão, não é daí que vem a minha força. Sou apenas Eu, assim como sou. Cor de Rosa, com dias de sombra, com dias de luz, cada vez mais dias de luz e com dias de sombra que já não permito que permaneça.

Olho para trás. Tantas vezes. E o que está para trás é lá que tem que ficar. E vou deixando que fique. Aos poucos. Ou cortando de vez o que é para cortar. O que me doeu. O que me doeu fica para lá atrás mesmo que possa visitar-me de tempos a tempos. Quando o cansaço, como o de hoje, me deixa mais vulnerável. Me deixe, mais uma vez, a precisar de um colo. Não para me erguer, apenas para me aconchegar, apenas para poder, para conseguir, descansar.

Tão cansada…um cansaço acumulado natural desta recta final de todos os anos onde o trabalho aperta e o tempo escasseia e me deixo de parte para descansar depois, quando tiver tempo. Tão cansada…um cansaço que me deixa vulnerável a memórias, a ausências que se queriam presentes, a saudades do que foi não sendo, do que não foi sendo e, até, do que chegou a ser e foi quando e enquanto pode ser.

Um cansaço que me prende os movimentos mas que me solta as palavras. Mas que, ainda assim, não saem por não poderem sair, por não poderem chegar lá. Por não poder, mais uma vez, dizer o que não deve ficar por dizer.

Um cansaço que me pesa no corpo, que me pesa nas lágrimas que me vencem e me visitam hoje mais uma vez.

Cansaço. Tão simplesmente cansaço. Porque sei que sou mais do que isto. Melhor do que isto. Mais forte do que isto. Tão menos vulnerável, já, do que isto. Mas falta-me o aconchego, aquele que faz respirar, que me diz que vai ficar tudo bem, seja de que cor for, mas acima de tudo vai ficar tudo bem na minha cor. Que é minha e será sempre. Primária.

E o cansaço que me lembra que o tempo continua a correr, sem esperar por ninguém. E eu que digo sempre que não tenho Tempo para perder Tempo e não consigo, não consigo, não consigo simplesmente alcançar tudo o que o meu Tempo me dita. Porque o meu Tempo é composto de tantos tempos. E não consigo chegar a todos, nem todos conseguem chegar ao meu, ou simplesmente acabou o tempo ainda mesmo antes de acabar, quase antes até de começar.

Tão cansada………tão cansada de correr, de tentar preencher todo esse Tempo que é o meu de todas as formas que tinha idealizado preencher. E não consigo………

Let it go. Deixa ir. Deixo. Solto. Deixo voar. Vejo partir. Vejo partir o que atracou pelo Tempo que tinha que atracar. E, mais uma vez, olho para trás. E decido, já tinha decidido, decido deixar ir. As marcas, os sinais do tempo, ficam cá. Sem danos. Sim, sem danos. Mas com tantas certezas.

Let it go. Deixa ir. Deixo. Solto. Deixo voar. Vai. Sê. Sou também. Vou também. Vôo também. Sem danos, desta vez. Apenas com as marcas, os sinais do tempo. Tempo que foi o tempo que tinha quer ser no tempo em que tinha que ser Tempo.

……e sinto o tempo, o meu Tempo, a fugir. A fugir-me. E estou cansada. Tão cansada. E falta-me o colo, o aconchego, aquele que me permite respirar, que me permite descansar.

E neste momento já só consigo pensar que falta tão pouco tempo para o último fim de semana do ano. O último fim de semana que posso mais ou menos garantir que será apenas meu. Aquele fim de semana em que durante algum tempo pensei ser possível ter esse tempo. Ser esse Tempo. Que vai ser absolutamente diferente do que me atrevi a pensar, a imaginar, a desejar.

O cansaço. Está cá. Deixa-me, novamente, vulnerável. A ausências, a faltas. Faltam-me sons, faltam-me palavras, faltam-me letras que completam puzzles, que se completam. Faltam-me cheiros, sabores, texturas. O cansaço. E as ausências. E a vulnerabilidade.

E lembro-me de repente que hoje cortei o cabelo. O cabelo que deixei crescer durante 488 dias enquanto eu crescia também. O cabelo marcado pelos danos, pelos sinais do tempo. Como eu. Hoje cortei o cabelo mas sei que continuará a crescer. Hoje, o cansaço derrubou-me e deixou-me, novamente, vulnerável. Mas sei que também eu continuarei a crescer.

E deixo ir o que é de deixar ir. Deixo voar o que é de deixar voar. Deixo partir o que atracou pelo tempo que teve que atracar, tendo-me permitido subir a bordo e não me arrependendo de nada. Deixo ir, sabendo que a vulnerabilidade de hoje, trazida pelo cansaço, amanhã já cá não estará. E não será preciso nenhuma bóia de salvação como tantas vezes precisei.

Agora…? Agora termino o dia mais curto do ano entregando-me à noite mais longa. Amanhã volta a cor, a minha cor. Volta a luz. Volto Eu. Plena.

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#day490

Doze dias. Diz o calendário que é o tempo que falta para terminar mais um ciclo. Doze dias que, como sempre, vão passar a correr. Ou a voar. Provavelmente a voar, sim.

Doze dias que tinha prometido a mim mesma que seriam de descanso e dedicados apenas a mim. Não vão ser, claro. Porque não vale a pena fazer planos.

Não me queixo. Queria muito estes doze dias só para mim, mas não ter esse tempo é bom também.

Apetece-me esta época. De Natal, Yule, Solstício, Prazeres de Inverno, o que lhe quiserem chamar. Chamemos-lhe Natal para simplificar. Esta época que durante tanto tempo cheguei a odiar, que cheguei a pedir que o calendário andasse mais depressa. Aprendi, com o tempo, a não odiar, a apenas não ligar. Hoje, hoje apetece-me esta época.
Apetecem-me os jantares de Natal com amigos, ou apenas colegas de trabalho. Apetecem-me as prendas escolhidas para os outros, os meus. Apetece-me a azáfama na cozinha dos meus tios, o jantar à mesa cheia de tantos que éramos sempre. Que durante tantos anos éramos uns e hoje somos outros. Somos menos ao mesmo tempo que somos mais. Mas seremos sempre menos por muitos que cheguem entretanto.

Apetecem-me as prendas, mas apetecem-me mais os presentes. Os que estão. Apetece-me ser presente. Estar presente. Em casa dos meus tios ou em qualquer outro lado. Estar presente, Ser Presente. Porque estar, Ser, presente fui aprendendo que é a melhor de todas as prendas. Seja nesta data de calendário, seja noutro dia qualquer.

Apetecem-me os presentes. Os que estão. Como uma luz de presença. Daquelas luzes que me acompanham, que me guiam, que me estão, que me São.

Apetece-me o Natal. Apetece-me o Amor. Apetece-me a Cor. Apetece-me o Presente. Dar. Receber. Estar. Ser.

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#day489

Último dia de feiras antes das férias. Ou, pelo menos, estou de férias das feiras. Porque, novamente, não adianta fazer planos e as férias após as feiras que tinha planeado não vão acontecer. Mas as feiras, essas, vão de férias até Fevereiro.

Novamente um longo dia. Como esperado, como habitual. O último deste ciclo. Longo, dorido, mas um bom dia. De luz, cor, calor, de gente, de memórias da História e de histórias que os reencontros nos trazem.

Corpo dorido, moído, cansado. Muito cansado. Mas de cabeça tranquila, de coração aconchegado.

E, novamente, tanto para dizer que guardo para mim. Não que não o tenha dito já, porque já o disse. Simplesmente porque é de guardar.

Agora? 24 horas, ou menos, de uma espécie de tempo de férias.

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#day488

Cansada de um dia longo depois de uma noite demasiada curta. Um dia cheio e em cheio.
Cheio de mimos. De mim para mim, de mim para os outros, dos outros para mim.

Reencontros inesperados com reacções inesperadas de amizades de mais de trinta anos e que há mais de vinte não se cruzavam. E perceber que, afinal, não era tão outsider assim como pensava. Como penso ainda tantas vezes. Perceber que se recordam de mim não pela cara que lembra alguém mas sim por me reconhecerem no imediato de nome e apelido, de aventuras de infância e início de adolescência onde, inevitavelmente, os caminhos se separaram.

Dia longo, este. Cheio. Em cheio. De coração cheio. Aconchegado.

Cansada, claro. Tanto. Mas grata pelo rumo que há tanto tempo decidi tomar, seja esse Tempo de há muito tempo, ou um Tempo que é quase recente mesmo que lembre um longo outro Tempo. Grata. Muito. Tanto. E sem arrependimentos. Desse Tempo, seja qual tempo esse Tempo for, “Je ne regrette rien”.

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#day487

Outono a chegar ao fim. Outono com sabor a Verão e cheiro a Primavera.
Inverno ao virar da esquina. E a este Inverno, que não tarda no calendário, não terei dificuldade em sobreviver. Não só pela temperatura exterior, mas sobretudo pela interior. A este Inverno, que não tarda no calendário, sei que mais do que sobreviver irei Viver. Sempre um dia atrás do outro atrás do um, mas segura de mim e certa que o meu caminho é por aqui.
Sorriso ao canto da boca, brilhozinho nos olhos, riso em escadinhas. Umas vezes Menina, Miúda, outras tantas Mulher. Eu, viva. Eu, a Viver. E a cantarolar e a saltaricar por aí.

E o Ano Novo, com tantas páginas novas por preencher e outras já pré-preenchidas, a menos de um sopro de magia de distância.

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#day486

Seja o vôo dos pássaros ou o vôo das borboletas, o importante é voar. Voei. Vôo. Continuarei a voar. E a Viver. Já vai longe o tempo que era apenas de sobreviver.

Tranquila. Aconchegada. Apenas cansada da correria dos dias.

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#day485

Dias como o de hoje: estranho.
Ansiedade a querer voltar. Ou, por outra, a querer instalar-se, porque já voltou há algum tempo. Não, não a quero. Nem de volta nem instalada.

Novamente uma vozinha que me confunde. Que faço por não lhe dar ouvidos por não saber se me sussurra palavras acertadas ou se está só a querer aproveitar-se de fragilidades que ainda existem. Aproveitar-se da memória, a minha. As minhas memórias. E daquela certeza de que a História tem tendência para se repetir. Assim como as histórias. Mas faço por acreditar que não, nem a História nem as histórias se estão a repetir. Porque já é tempo, e Tempo, de histórias novas em páginas completamente novas para continuar a escrever a História, a minha.

Cor de Rosa. Mantenho o foco em mim. Na minha Cor. Porque não perdendo o Cor de Rosa, não me deixando absorver pelo cinzento, não me perco de mim.

Mais um dia atrás do outro atrás do um e aquele friozinho estúpido no estômago que nada tem a ver com borboletas na barriga que aquecem e aconchegam. Um friozinho estúpido no estômago, uma vozinha parva que me ri sem sorrir, uma ansiedade a instalar-se de mansinho e que não quero. Nem a ansiedade, nem a voz, nem o frio.

Quero, apenas, certezas. E a Cor. A minha.

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#day484

Entre o vôo dos pássaros e o vôo das borboletas, escolho o vôo das borboletas. São elas que espalham, por aí, a magia dos pós de fada.

E eu continuo a preferir a magia. Das fadas, das borboletas, das cores. Da Cor. A minha, que são duas, que é uma só.

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