Monthly Archives: March 2016

#day91 out of 365plus1

Contar passos. Porque “um dia atrás do outro atrás do um”, sempre. Mesmo quando o dia não tem história. Ou tem. Daquelas que guardo comigo.

image

#day89 out of 365plus1

Da importância de me chamar Mafalda. Mesmo que não seja esse o meu nome. Mafalda de Quino, essa mesma.

Escrever, ou como tantas vezes lhe chamo “debitar para o éter”, é-me essencial. Faz parte de mim, de quem sou, do que sou, de como sou. Escrevo de mim para mim, não de mim para alguém. Mesmo que, quando o que escrevo, possa ser uma mensagem mais ou menos directa. Mesmo aí é para mim que escrevo, para não deixar nada por dizer ainda que sejam mensagens que, invariavelmente, não chegam ao destino. Ou precisamente por saber que não irão chegar ao destino como um postal que se extraviou.

Escrevo para mim. Releio algumas coisas que vou escrevendo, não agora no imediato. Mais tarde quando o tempo me diz que é Tempo de me reencontrar. E ao reler-me olho para trás, para o que já foi e percebo que o momento já não é o mesmo. E analiso o que o éter me guarda.

Escrevo sem outro propósito que não ser apenas eu. Assim, contestatária tantas vezes, adolescente outras tantas e ainda uma mão cheia de outras coisas e outra mão cheia de coisa nenhuma de fácil definição.

Escrevo. E quando escrevo digo tudo. Até quando pareço não dizer nada. Quantas vezes já te disse que gosto de ti sem o dizer realmente? Quantas vezes já me assumi completamente perdida e sem rumo mostrando uma segurança inabalável? Quantas vezes pedi ajuda dizendo que tudo corre bem?

Escrevo para mim, não mais. E também por isso protesto e reclamo de tanta coisa que tantas vezes não têm importância nenhuma. Faço-o nas vezes daquelas coisas que são realmente importantes e que guardo para mim por não terem lugar aqui, nas palavras debitadas no éter cujo primeiro destinatário sou eu sabendo que existe uma espécie de linhas cruzadas onde destinatários se cruzam com remetentes que se cruzam com outros destinatários.

O que escrevo sou eu. Não será nunca um livro, como já me têm pedido. O que escrevo sou eu. Sem interesse, literário ou o que for. O que escrevo sou eu. Com todos os protestos e celebrações. O que escrevo sou eu. Com tudo o que sinto, da forma como sinto. E sinto sempre intensamente. O que escrevo sou eu. E para não me perder de mim como já antes me perdi continuo a escrever. Para mim.

Não contabilizo leitores. Não os procuro sequer. Sei que existem. Desconheço números. Não procuro nada que não seja o que trago cá dentro no momento em que o éter e eu nos encontramos. Não procuro nada que não seja o poder ser eu.

Não procuro leitores. Não os contabilizo. Não tenho pretensões literárias. Não preciso de críticos de conteúdo. Não preciso que se preocupem com o que escrevo, ou como o escrevo ou sobre o que escrevo.

Preciso que se preocupem, sim, no dia em que deixar de escrever.

Porque é a escrever que me liberto, é a escrever que me encontro, é a escrever que me apaziguo.

E é a escrever que, tantas vezes, recupero o sorriso que momentaneamente se perdeu em palavras que ficaram por dizer. E por isso escrevo. Escrevo-as. Tantas vezes como um postal extraviado que nunca chegará ao destino mas que foi enviado no tempo que era Tempo de enviar.

image

{alguém que me mande ir dormir}

Vá, alguém que me mande ir dormir, por favor.
Que me conte uma história. Que me cante uma cantiga de embalar. Que me leia um poema. Ou um excerto de um livro.
Que me faça um desenho. Colorido ou a preto e branco, não importa.

…o mundo lá fora é feio. E começo a ficar cansada dele.

Alguém que me mande ir dormir, por favor. Aconchegada na minha nuvem. Em noite de arco-íris.

image

#day88 out of 365plus1

Adormecer tarde ainda num registo de horário de Inverno, acordar em pleno horário de Verão, conflito entre relógio interno e relógio imposto. Lado positivo: voltar a sair de casa a horas de acompanhar o nascer do Sol. E já tinha saudades do nascer do Sol.

Uma moeda por um café. Um café que se queria quente e que arrefeceu em menos de nada numa manhã fria de Março. Uma moeda que deu troco do qual só me lembrei várias horas depois e já longe do Cais.  Lado positivo: ofereci um café a alguém. E aposto que sorriu.

Autocarros fora de horário que conseguem, ainda assim, cumprir horário. E ainda bem. Lado positivo: aprendi e dificilmente me esqueço.

Ritmo lento no escritório. Trabalho adiantado. Lado positivo: navios preparados até ao fim da semana, tempo livre para conhecer e estudar companhias, navios e tours.

E, ao mesmo tempo, cabeça dispersa por vários campos. Uns que me vão mantendo tranquila, outros que me preocupam. Dos que me preocupam há o campo que me sai por natureza, por laços se assim quiserem, campo do qual fiz questão de me afastar há muito tempo. Mas que volta sempre. Laços, dizem. E por muito que diga que não quero saber, que quero manter-me distante, preocupo-me ainda assim. Sabendo que pouco ou nada posso fazer porque não me compete, porque já fiz demasiado, porque já não jogo esse jogo.
Há, também, o outro campo, aquele que surgiu por acaso, do nada, de ontem ou de sempre, não importa. É o campo do Outro. Porque, sei, ponho sempre os outros em primeiro lugar quando devia pôr-me a mim. E aqui não me afasto quando, muito provavelmente, já o deveria ter feito. Aqui mantenho-me mesmo sabendo que pouco ou nada posso fazer. Não que me compita, porque também não me compete de facto. Mantenho-me sabendo que pouco ou nada posso fazer simplesmente porque essa sou eu. E preocupo-me sem laços. Ou, se calhar, com outro tipo de laços. Preocupo-me e estou onde sempre souberam encontrar-me.

Preocupo-me, estou aqui. Mas decidi que o meu lugar é aqui, assim, quieta. Não vou mais mergulhar atrás de navios num mar que, sei, não me levará muito longe da costa. Prefiro-me Cais. Porto de abrigo. Aqui. Presente. Nas coordenadas já conhecidas. Presente para quem quiser atracar, ou simplesmente precise de abrigo.

Prefiro-me Cais. Ou até mesmo Ground Control. Mesmo correndo o risco de perder os sistemas de comunicação.

image

#day87 out of 365plus1

Novamente as pequenas coisas. Um café, uma esplanada, um Sol bom de Primavera, um mar agitado, uma conversa de miúdas.
Um bocado de tarde. Um pouco de Domingo. Daqueles com sabor a Domingo. Um momento de aqui e agora.

Não posso continuar a esquecer-me das pequenas coisas. O mar aqui tão perto, o Sol. Um café, uma esplanada, uma conversa de miúdas.

image

#day86 out of 365plus1

Quando 39 e 14.245 são exactamente a mesma coisa.

Não fazer planos. Deixar, simplesmente, fluir.

Chuva ou sol. Lágrimas ou risos. Não importa.

São 39. São 14.245. Com os presentes, com os ausentes.

Cabeça erguida, sempre. Mesmo que um dia que não é igual aos outros acabe por ser, precisamente, só mais um dia igual aos outros.

Grata por quem esteve, ainda que só do outro lado do ecran. Grata por quem fez questão de estar, todo o dia, do outro lado do ecran.

Mais um dia. De 14.245. Só mais um dia de tantos.

Começo o caminho de despedida dos “intas” em direcção aos “entas”. E daqui a um ano será melhor. Sem planos, sem expectativas, sem nada. Só mais um dia igual aos outros, ainda que não sendo.

image

#day85 out of 365plus1

Falar. Falar até começar a perder a voz.
Conversa de miúdas. Conversa de mulheres.

Às vezes é preciso falar sem pressa, sem olhar para o relógio. Despejar tudo. E ouvir.

Falar até começar a perder a voz. E falar era tudo o que era preciso. Entre lágrimas e risos, tudo é possível. Tudo é válido.

Obrigada.

image

#day84 out of 365plus1

Da série “a influência da agitação marítima na vida dos pinguins de Madagascar”.

Correndo o risco de me repetir, retenho esta frase. Porque sim. E para me lembrar que posso não pertencer a alguma situação. Mas nem por isso deixo de fazer parte.

image

#day83 out of 365plus1

Por muito estranhos que sejam o dias, e hoje foi, não posso esquecer-me disto: é-me fácil sorrir. E todos os dias há motivos para sorrir. Mantenho o sorriso comigo. Crio-o em mim. Já não o busco nos outros.

image

{fica difícil não ter medo}

Do medo:

fica difícil não ter medo. Fica difícil não ter medo quando chegas à estação do comboio e percebes que as ruas à volta estão cortadas pela Equipa de Prevenção e Reacção Imediata da PSP. O acesso ao metro também está cortado.
Ainda não entraste na estação e tens, na tua entrada, 2 PSP de metralhadora. Entras e encontras outros dois. Sobes ao primeiro piso e várias equipas duplas percorrem o átrio. Todos de metralhadora, coletes à prova de bala.

Fica difícil não ter medo. Já me habituei à presença das EPIR à saída da estação de manhã. E não todos os dias. Já as encontrei na plataforma. Não liguei.

Hoje ligo.

Fica difícil não ter medo.

Um Cais é como um aeroporto. Claro que é. É, no fundo, um porto. Uma porta de entrada e de saída. Fica difícil não ter medo quando olhas para o lado e vês uma EPIR a chegar. Quatro motos. Caras inicialmente tapadas. Coletes. Metralhadoras. 2 elementos entram no terminal com aquele que tu sabes que é o responsável máximo de segurança. O mesmo que te deu formação de procedimentos no terminal nem há dois meses. A teoria arrepia. A prática congela. E assusta. Os outros dois elementos da EPIR mantêm-se. Ao pé de ti. Armados de metralhadora. Coletes à prova de bala. Acabam por entrar no terminal mais tarde.

Fica. Fica difícil não ter medo. Mas seja aqui, Bruxelas, Paris, Istambul, onde for, o medo não pode condicionar movimentos. Não pode condicionar rotinas.

Amanhã há, de novo, Cais pela manhã e comboio de manhã e ao final do dia. Fica difícil não ter medo. Mas é preciso continuar a rotina.

#day82 out of 365plus1

“Há sistemas para todas as coisas que nos ajudam a saber amar. Só não há sistemas para saber amar.”

E a 4 dias dos 39 anos dás por ti, ao final do dia, na esplanada a comportares-te como uma adolescente. Não aquela adolescente das borboletas na barriga. A outra. Aquela que sente tudo intensamente, que vive o que sente, que sente simplesmente. Que sente e questiona o que sente, porque sente, como sente. Passam os dias, um dia atrás do outro atrás do um, e o que se sente fica. Altera-se. Magoa. Dói.

Percebo, mais uma vez, que há coisas por resolver. Não mal resolvidas, porque não as quero assim. Quero-as simplesmente resolvidas. E é por permanecerem tanto tempo depois não resolvidas que me comporto assim, como uma adolescente, ao frio numa esplanada de um qualquer café, no final de um dia longo, dorido, confuso. Não a adolescente das borboletas na barriga. A outra. A que tem vontade de bater na mesa de uma vez e perguntar “o que é?!” mas não o faz por…por…não o faz por qualquer motivo que eu própria, a tal adolescente que não a das borboletas na barriga, a outra, eu a 4 dias dos 39 anos não confesso nem a mim mesma.

image

#day81 out of 365plus1

Contrastes. Sol, chuva. Calor, granizo. Céu azul, negro. Um escaldão na cara, sol quente; calças molhadas da chuva, mãos geladas do frio.
Um mesmo céu, tantas cores. Azul. Branco de algodão. Negro. Laranja fogo. Rosa malva.
 
…e percebo, de repente, que me tenho esquecido do meu caminho. Que me tenho esquecido de manter os olhos no horizonte. Não os tenho no chão, mas perdi algures o foco. Um dia atrás do outro atrás do um, sempre. Mantenho. Mas tenho-me esquecido que cada dia conta, que cada dia é único, que em cada dia há pequenas coisas que importam. Nem que seja o poder olhar para o céu e perceber a chegada das nuvens. Brancas, que lembram molhos de algodão, que dão vontade de mergulhar. Acompanhar o seu percurso, o seu ritmo, e perceber a mudança no céu. A transição das nuvens brancas de algodão onde apetece mergulhar para o tom metálico que escurece o dia e traz a tempestade.
 
As pequenas coisas, as que realmente importam. O Sol de fim de dia, aquela luz dourada e quente depois de mais uma chuvada fria. O arco-íris reflectido no rio, um arco perfeito a unir o norte e o sul. Nuvens cor de rosa depois das brancas e cinzentas. O pôr do Sol em laranja fogo num azul indigo de céu e mar.
 
As pequenas coisas. Não importa se frio ou calor, se mais ou menos sono, se mais ou menos luz.
 
As pequenas coisas que, às vezes, me fazem sentir novamente que não pertenço para, de imediato, me receberem de braços abertos porque estou onde devia estar no momento em que devia estar. Sem comparações que apenas servem para roubar o ânimo porque não há que comparar.
 
Estou onde devia estar no momento em que devia estar. Quando podia nem sequer cá estar, mas estou. Estou e sou eu e não os outros.
 
As pequenas coisas. Tão pequenas como entrar no café de manhã e depois de almoço e não ser preciso pedir e ser recebida, sempre, com sorrisos de toda uma equipa com quem me cruzo há pouco tempo. Sorrisos não de circunstância mas de boa disposição, seja na calmaria do pequeno almoço ou na tempestade do almoço.
 
As pequenas coisas. São as pequenas coisas que fazem cada dia valer a pena, cada dia contar. Sempre um dia atrás do outro atrás do um. Sem voltar a esquecer-me do foco, o meu foco. Que é já ali à frente, no dia seguinte. Sem pressa. Mas sem me acomodar ao ritmo da rotina, e já me acomodei mesmo não me apercebendo. Sem me acomodar ao ritmo da rotina que dita como são os dias, como se os dias nos fossem todos garantidos. E tenho-me esquecido do que aprendi à força, que não, os dias não são todos garantidos. Ontem já foi, amanhã quem sabe sequer se lá chego? Não posso continuar a esquecer-me. Porque o que importa são as pequenas coisas. Que acontecem aqui e agora. E teimo em cair no erro que amanhã tudo continua e segue o seu ritmo e o seu Tempo como se fosse certo o amanhã. E vou perdendo Tempo. Aquele que, durante tanto tempo repeti que não tinha Tempo para perder Tempo.
 
Porque o céu pode ser pintado de tantas cores, tão diferentes e em tão pouco tempo. Não posso manter-me acomodada a uma rotina que me faz perder Tempo. Aquele Tempo que eu não tenho Tempo para perder Tempo.

image

#day80 out of 365plus1

Os fins de semana deviam ter três dias. Ou 72 horas em cada dia.

Guardo os sorrisos, as gargalhadas, as brincadeiras, os abraços, as festinhas, os beijinhos, o colo, as histórias antes de apagar a luz, as mãos dadas, as conversas.

Soube a pouco. Soube a tanto.

image

#day79 out of 365plus1

“Tia! Gosto de ir à tua casa!”, diz-me com os olhos brilhantes e um sorriso rasgado quando entramos no supermercado.
“Ah, sim? E porquê?”, pergunto-lhe. “Porque tu brincas comigo!” responde-me com o mesmo sorriso e o tom de voz a aumentar.
“E quando fores a casa da tia, o que é que queres fazer?”, pergunto-lhe, certa que me vai falar no parque com “os baloiços muito altos! Gosto dos baloiços lá muito alto! Tu também gostas? Quando eras pequenina também gostavas?” e do escorrega ainda mais alto, o mais alto de todos os escorregas ou a praia “mas eu tenho medo das ondas, o mano é que não.” Vejo-o na outra ponta do corredor, o rosto a iluminar-se ainda mais, os olhos e o sorriso muito abertos e, ao começar a correr de braços abertos para abraçar as minhas pernas, aquela vozinha trapalhona de quem, aos três anos, tem pressa em dizer tudo exclama alto: “quero brincar contigo!!”.

…❤️

image

#day77 out of 365plus1

Cansada de pessoas. Mal formadas, mal criadas, mal intencionadas. Ou aqueles que só dão sinal quando lhes é conveniente, quando trazem segundas intenções num discurso quase banal.

Cansada de pessoas. Que moem, algumas. Que doem, outras.

Cansada do ser humano e da sua capacidade umbiguista de fazer tropeçar o outro.

Ainda assim, no meio de tanta gente que não sabe ser Gente, consigo encontrar os outros. Os que não fazem tropeçar e ainda ajudam a levantar. Os que não carregam maldade em si por não suportarem a maldade nos outros. Os que me recordam da importância de saber {e} conseguir sorrir mesmo que por dentro se chore.

Cansada de pessoas. Cansada de gente. Também por isso cada vez me afaste mais. Cada vez me feche mais. E peço a quem pensa aproximar-se que o faça de forma sincera, honesta. Sem segundas intenções.

Amanhã o Sol volta. O calor também. E com eles o meu sorriso. Ainda que não visível para todos. Porque nem todos merecem o meu sorriso. Seja ele de menina, miúda ou mulher.

image

{demasiadamente ingénua}

Sim, eu sou ingénua. Muito ingénua. Demasiado ingénua. Ao ponto de acreditar que não é possível as pessoas serem tão más como acabam por se revelar. Ao ponto de acreditar que não é possível alguém se mover apenas por maldade, doa a quem doer. Doa a quem doer. Seja quem for. Mesmo que sejam os próprios filhos.

Sim, sou tão demasiadamente ingénua que acredito, piamente, que não é possível carregar-se tanta maldade. Jogar com a maldade. Usar a maldade.

Sim, sou assim tão ingénua. Ainda assim, apesar de me tirarem do sério, apesar de barafustar, apesar de vomitar palavras de algo que não quero chamar raiva, apesar de tudo isso a única coisa que consigo desejar a quem carrega tanta maldade é isto: mais Amor. Porque sou ingénua, tão demasiadamente ingénua, que acredito que um dia irão perceber o que é isso do Amor. Aquele do A maiúsculo.

image

#day76 out of 365plus1

Dia desfocado. Um turbilhão de sensações, sentimentos, dúvidas, questões, confusões, correria, argumentações que não discussões.

Os meus erros assumo-os todos. As minhas falhas, os meus defeitos, também. Não assumo quando a falha não é, comprovadamente, minha. Mas relevo. Deixo passar. Dou uma oportunidade. E outra. Dou o braço quando não sou obrigada sequer a dar a mão. Em troca apenas peço clareza. Nas palavras e nas acções. Honestidade. Sinceridade. E respeito. Acima de tudo respeito. Por mim, pelo que sou, por quem sou. Pelo meu trabalho, pelo que faço, pelo que alcanço muitas vezes a pulso.

Não. Hoje não foi um dia bom. Foi um dia de vertigem. Pessoal e profissional. Um dia como há muito tempo não tinha. Respeito pelo meu trabalho, não peço mais profissionalmente. Respeito por mim, não peço mais pessoalmente.

E percebo que se o lado profissional me tira do sério quando a falha não é, comprovadamente, minha, o lado pessoal tem ainda tanto para trabalhar quando a voz perde a firmeza demasiado rapidamente, quando as palavras disparam a uma velocidade estonteante, quando os olhos se molham sem dar por isso.

Não. Hoje não foi um dia bom. Profissional e pessoalmente. E tanto num campo como no outro apenas peço isto: respeito.

image

#day75 out of 365plus1

Pergunto-me, por vezes, de que cor se pinta a correria da contagem dos dias para lá da minha janela. Do lado de cá vou pintando cada dia de sua cor, cada dia com um número próprio como um código cromático. E do lado de lá? De que cor se pintam os dias? Se forem sequer pintados. Ou serão apenas contados? Ou nem isso e apenas passados, corridos, um atrás do outro mas não atrás do um, apenas atrás de tantos ou até mesmo nenhum. Qual será a cor predominante do outro lado da minha janela marcada pela poeira dos pinheiros e pelos risos e sorrisos da chuva?

Pergunto-me, por vezes, se os dias de cores existem realmente ou se são invenção minha, da minha cabeça que de tantas vezes andar no ar já não sabe ao certo se os dias são realmente preenchidos de cor. Ou será tudo cinzento do outro lado da minha janela? Como num desenho a lápis de carvão que não é carvão mas sim grafite, como num desenho de um cenário do lado de lá da minha janela. E se for realmente a preto e branco, a vários tons de cinzento? A grafite ou até carvão?

Se for realmente a preto e branco, a vários tons de cinzento, a grafite ou até carvão, a minha cabeça diz-me que posso usar os meus lápis de cor e até os de cera. Diz-me, também, que posso arriscar a aguarela mesmo que a técnica seja precisamente o meu oposto. A delicadeza da aguarela contra a robustez do pastel. Arrisco o meu oposto, aposto na aguarela. Mantenho os lápis de cor. Preencho de cor cada um dos espaços em branco dos dias de grafite do outro lado da minha janela. Porque, diz-me a minha cabeça numa voz que suavemente se repete, todos os dias são de cor. E o cinzento tem cor própria e tantos tons como o arco-iris.

image