Anda comigo ver a Lua, que como eu já não está cheia. Mas que brilha lá em cima, ainda tímida, envergonhada.
E dá-me a mão. E diz-me que também isto vai passar. Que ainda é cedo, mas vai passar. E que não, não “sou só parva”.
Encosta-te a mim, quando eu deitar a cabeça no teu ombro e te disser baixinho que dói cá dentro. Uma dor que vem do vazio que é visível, uma dor que é indizível.
E quando te disser que tenho saudades, saudades do que já não é, saudades do que já não tenho, saudades do que pouco ou nada tive e que foi tanto e foi tudo, quando te disser que tenho saudades abraça-me com força. E diz-me, mesmo que num sussurro, que amanhã vai ser melhor, mesmo que a saudade, essa, dure para sempre e doa todos os dias.
Ou então não digas nada. Não me abraces. Mas segura-me na mão, nas duas. Com força. Aquela que preciso para continuar a sobreviver.
E deixa-te ficar assim. Comigo. Porque sim, estou carente. E porque sim, preciso que me dês a mão.
“Não digas nada, dá-me só a mão. Palavra de honra que não é preciso dizer nada, a mão chega. Parece-te estranho que a mão chegue, não é, mas chega. Se calhar sou uma pessoa carente. Se calhar nem sequer sou carente, sou só parvo.”
António Lobo Antunes
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