Há muito tempo que não escrevo em papel. Já não o sei fazer. Porque escrever em papel é exorcizar demónios que já não me servem.
Não sei se algum dia terei coragem para ler o que ali fui escrevendo nos tempos mais escuros. Lembro-me que são palavras muito doídas, doridas e magoadas. Não sei se quero lê-las.
Quero, isso sim, pincelar os meus dias de todas as cores. Esquecer essa necessidade de outros tempos de pôr palavras em papel. Quero desenhar palavras bonitas e suaves em todos os suportes que for encontrando e até em postais ilustrados. Mas já não em cadernos que guardo sem ter coragem de os abrir.
Já não sei escrever em papel. Nem quero voltar a esse escape.
Hoje já não choro. Por isso já não tenho essa necessidade de deitar cá para fora o que em tempos não tão longínquos me fazia escrever no papel o que não tinha lugar no éter.
Vou escrevendo no éter e até relendo algumas coisas porque é tudo muito mais leve. Sim. Mantenho a escrita no éter enquanto fizer sentido.
E agora faz.