Um dos meus problemas é lembrar-me de tudo o que é dito…
Hoje não foi fácil olhar para cima. Os efeitos do murro no estômago de ontem fizeram sentir-se hoje em força. Ao ponto de precisar de socorro e ter uma mini consulta com o terapeuta fofinho à hora de almoço para acalmar a somatização. Porque o murro no estômago de ontem foi o atropelamento por um camião hoje.
Há muito tempo que não me sentia assim. Mal. Na merda. E à beira do abismo. E sei que é tão fácil simplesmente deixar-me cair. Afinal, é um lugar que já conheço e pode ser confortável. Não é agradável. Mas sabe ser confortável. Por já ser conhecido. Se quero voltar a esse lugar escuro? Neste momento já não sei o que quero. Mas a vertigem do abismo chama por mim, como se me dissesse que é ali que pertenço.
Não está fácil tirar os olhos do chão… Sei que devia tirar os olhos do chão. Tenho que tirar. Mas antes de o fazer tenho que sentir tudo o que neste momento me dói. Porque perdi algo que me era demasiado importante. Sim, perdi. E essa perda dói muito. Tanto como há muito tempo não sentia. E já não sei como se lida com isso.
Dizem-me que vou sair mais forte disto. Talvez. Mas não queria estar a passar por isto. Não assim nem de maneira nenhuma.
Sei que me dói o corpo todo, tornando física aquela dor que não se explica. Apenas se sente. E tenho tanto medo de cair… De cair com o peso da dor. Porque é um peso enorme. Uma dor enorme.
Não quero isto… Não merecia isto… Muito menos assim, um murro no estômago.
Preciso de chorar. E não consigo. Sei que um dia vai acontecer e vai ser positivo para me ajudar a aliviar a dor. Mas simplesmente não consigo chorar. Estou demasiado triste para isso. E preocupa-me, muito, o estado em que estou e aquele em que ainda posso vir a estar.
É uma merda, é o que é. E eu não quero sentir isto por muito tempo. Mas sei que vai ser difícil lidar com a perda, com a dor, com a frustração. São 4 anos e meio deitados ao lixo. E eu não merecia isto…não um murro no estômago desta maneira.
