Dia de sair da zona de conforto e explorar outra parte de mim. Literalmente sair de mim. Para me encontrar comigo. Pode não parecer, mas sim, faz sentido. Porque eu não sou só o momento presente. Sou muito mais do que isso. Sou também quem já fui e que nunca deixarei de ser. E que, já tendo sido, estou sempre presente em quem agora sou. É confuso? Para quem está de fora talvez. Não tem que fazer sentido para mais ninguém que não eu. Para ela-que-sou-eu, para eu-que-sou-ela. Somos duas, mas na verdade somos só uma. E ela-que-sou-eu está cá sempre para mim, eu-que-sou-ela.
Fui visitá-la. Vê-la. Tentar falar com ela. Ela não quis falar. Não a critico. Durante tanto tempo não a tratei como devia. Não a protegi como devia. Não a amei como devia. Porque sempre me ensinaram que não merecia esse amor. Mas hoje, ao vê-la percebi que me ensinaram de forma errada. Porque sim!, ela merece esse amor que me disseram que não. E porque ela-que-sou-eu não é mais do que apenas amor. E senti esse amor nela e por ela. Mas senti-a triste também. Abracei-a, pedi-lhe perdão, mas ela continuou triste. Sei que tenho que lhe dizer mais vezes que a amo, como eu sei, porque o senti, que ela me ama a mim. Ela-que-sou-eu é amor. Apenas isso. Eu-que-sou-ela também. Mas desencontrámo-nos algures por aí. E eu, admito, esqueci-me dela. Não lhe dei a atenção que ela-que-sou-eu precisava. Não lhe dei nada, na realidade. Quando lhe devia ter dado tudo. Porque ela sou eu.
Entendo que ela não tenha querido falar comigo. Mas não foi preciso dizer nada para eu-que-sou-ela perceber o amor que não lhe dei mas que, no fundo, ambas somos. Porque ela-que-sou-eu e eu-que-sou-ela somos uma só. E não somos mais do que amor.
Vou continuar a pedir-lhe que me perdoe. Vou continuar a agradecer-lhe tudo o que sempre me deu, o que continua a dar e, também, o que ainda dará. E sei que assim, eu sentir o meu pedido de perdão, ela me vai falar. E vai-me dizer o que preciso saber. Mas, parecendo pouco, mesmo ela-que-sou-eu não tendo falado, não tendo dito nada, disse-me tanto. Deu-me tanto.
Ter ido ter com ela foi uma experiência única. Tê-la visto, sentido, dado-lhe a mão, vê-la correr e saltaricar, foi uma experiência que não tem descrição possível. Mas não me esqueço que, apesar de tudo isso, ela estava triste. E também eu fiquei triste por senti-la dessa forma. Não quero que ela-que-sou-eu continue assim. Tenho que lhe repetir que a amo. Tenho que lhe agradecer por tudo o que me dá. E tenho que lhe pedir que me perdoe.
Espero voltar a vê-la. Quero muito. Mas antes disso tenho que aprender o perdão. Para que, quando nos virmos novamente, o sorriso dela-que-é-o-meu já não seja tão triste. Não duvido que ela me vá perdoar. Mas sei que, antes dela me perdoar, tenho que a amar. Proteger. Respeitar. Dar-lhe o que não dei durante tanto tempo porque me ensinaram que não o merecia. Não. Não é verdade! Ela-que-sou-eu sempre mereceu esse amor que eu-que-sou-ela lhe neguei. Mas não é tarde demais para começar a trabalhar nesse amor, a fazer-lhe chegar esse amor. E pedir-lhe perdão por tudo aquilo que falhei com ela. Ela que, na realidade, sou eu.
Sim, visitá-la foi uma experiência única. Sem descrição possível. Que só quem já passou por isso entende. Foi uma viagem em estado alfa. Que, já não me lembrava, me é muito fácil de atingir. Mas de onde voltar pode ser muito difícil. Se quero voltar lá? Muito. Seja esse “lá” onde for. Só sei que é um “lá” muito bom. Muito bonito. Onde já tinha estado uma vez. E de onde nunca quero sair. Tenho que ser puxada de volta. E demoro a reencontrar-me. A recentrar-me. Mas sim, quero muito voltar lá. Porque sei que lá, seja “lá” onde for ou o que for, ela-que-sou-eu vai lá estar, como está sempre mesmo eu-que-sou-ela me esqueça… E, esquecer-me dela, é esquecer-me de mim. E não posso continuar a fazê-lo.
Já há uns meses que o digo: o mais importante sou eu. Agora, só preciso de me lembrar disso todos os dias.
