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Sábado. Hoje, sim, é Sábado. Não foi ontem, como tantas vezes me pareceu ontem. Sábado que é, por norma, o dia mais aborrecido da semana. Hoje foi só longo. Muito longo.

Acordar às 5h da manhã com dores de barriga nunca é bom. É, no entanto, normal que aconteça todos os meses. Faz parte de ser mulher. Um comprimido, voltar para a cama, esperar pelo efeito do comprimido, voltar a dormir.

Acordar para lá do meio da manhã. Ainda o desconforto na barriga. Enroscar-me no sofá. Deixar-me ficar assim, quieta e sossegada. Não só pelas dores de barriga mas também pelo cansaço ainda.

O dia de ontem foi puxado. Intenso. E não páro de pensar nela. Ela-que-sou-eu. E sei que tem ainda tanto para me dizer. Ontem não quis falar. Não a censuro. Afinal, eu-que-sou-ela também só falo quando me sinto confortável, mas acima de tudo quando me sinto segura. E ela-que-sou-eu não se sentiu assim. Eu-que-sou-ela também não. Ela-que-sou-eu teve medo que eu-que-sou-ela a magoasse novamente, como fiz tantas vezes antes. E entendo. E aceito. Porque ela-que-sou-eu tem razão. Eu-que-sou-ela magoei-a demasiado e demasiadas vezes. Acho, até, que continuo a fazê-lo. Não de forma intencional. Mas, talvez para me proteger do Mundo lá fora, eu-que-sou-ela acabo por a magoar a ela-que-sou-eu.

Não me esqueço, não há como!, do que senti ontem quando me encontrei com ela-que-sou-eu. A vontade foi protegê-la. Mimá-la. Amá-la. Porque ela-que-sou-eu não é mais do que amor. E, ao perceber isso, ambas quisemos chorar. Nenhuma conseguiu fazê-lo. Ou, pelo menos, as lágrimas não caíram. Chorámos como choramos sempre: por dentro. Mas as lágrimas, essas, teimaram em não cair.

É um bloqueio. É uma forma de nos protegermos. Mas é importante que essas lágrimas, um dia, caiam. E, no dia em que isso acontecer, é sinal que ela-que-sou-eu confia em mim, eu-que-sou-ela. Mas, para que isso aconteça, é preciso que eu-que-sou-ela primeiro lhe peça perdão. Por tudo. E mostrar-lhe que a amo. Porque amo, de facto. E ninguém pode voltar a fazer-me acreditar que eu-que-sou-ela e ela-que-sou-eu não merecemos ser amadas. Merecemos!

Não, ainda não deixei de processar o que se passou ontem. Vai levar demasiado tempo até ser esquecido, se é que algum dia o vou esquecer. Se quero repetir? Se quero voltar a vê-la? A dar-lhe a mão? Quero! Muito! Porque ela sou eu. E eu sou ela. E o meu caminho também passa por me reencontrar. E sei que ela-que-sou-eu é parte fundamental nesse reencontro. Mas primeiro eu-que-sou-ela tenho que lhe pedir perdão por tudo a ela-que-sou-eu.

Se o caminho é fácil? Não, nem por isso. Mas é possível de ser feito. Especialmente sabendo que não estou, de todo, sozinha.

Um dia de cada vez. Em primeiro lugar estou eu. Depois? Logo se vê. Mas amanhã será um dia bom. Porque ela-que-sou-eu está comigo, sempre. E eu-que-sou-ela estou sempre lá também, mesmo que já a tenha magoado muito.

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