Estou muito cansada. De ser tratada como uma máquina de trabalho, que não sou. De ser vista como um número, sou muito mais que isso. Que me exijam quantidade quando eu aposto na qualidade.
Sim, estou muito cansada. Quando tudo o que fazem é exigir sem dar nada em troca.
Soube-me bem ser cumprimentada pela responsável da qualidade do projecto depois daqueles 97%? Soube, não nego. Deixaram de me tratar como um número ou uma máquina de trabalho? Não.
Gosto do que faço, sem dúvida. Mas também gosto e, (oh espanto!,) preciso de respirar. Respirar entre chamadas. Se, quando iniciei ali há 19 meses ainda tínhamos 15 segundos entre chamadas que entravam, agora não temos nem um segundo. E, tantas vezes!, respirar é preciso. Ainda não acabei uma chamada e já está a entrar outra. Porque, lá está, é preciso atender o cliente o mais depressa possível. Porque está há algum tempo à espera que o telefone seja atendido. Porque somos muitos, mas não somos os suficientes para o volume de chamadas que nos chegam. Porque, para quem manda, para quem tem o diploma, nós, que somos quem põe a máquina a funcionar, não precisamos de respirar entre chamadas. Nem podemos parar um bocadinho para recuperar de uma chamada mais difícil. Não podemos nada. Mas tudo nos é exigido. Sem dar nada em troca.
Sim, estou cansada. Muito cansada. De ser tratada como uma máquina de trabalho, que não sou! De ser vista como um número. Quando sou muito mais do que isso.
Estou muito cansada. Gosto do que faço? Muito. Gosto das condições em que o faço? Nem um bocadinho…
E sim, estou muito cansada. Demasiado cansada. E o telefone ainda não tocou…
