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A fazer de conta desde 1977, porque não continuar…? Afinal, já sou especialista nisso…

…e esta noite, em que luto comigo mesma, faço de conta. Que não faz mal. Que entendo. Que aceito. Que não me dói. Que não me magoa. Que não previa já que o tempo, contado quase ao segundo, se iria esgotar rapidamente. Tão rapidamente que se torna visível a falta de esforço para fazer acontecer. Promessas que nunca o foram porque, na verdade, nunca existiram. Assim como o esforço. Inexistente quando tão necessário…

Faço de conta. Como não? Faço de conta que não engoli mais uma daquelas coisas que, noutros tempos, facilmente me fariam chorar. Faço de conta que não senti, como nunca pensei sentir neste caso, o gelo no estômago que matou todas as borboletas que tinha na barriga. Faço de conta que não senti aquele nó na garganta de quem só lhe resta engolir a frustração causada pela ausência de esforço. Faço de conta que consigo verter as lágrimas que, estupidamente!, teimam em não cair. “Explodir para não implodir“, diz-me quem sabe. Explodir é urgente, implodir é perigosamente grave, ou gravemente perigoso. Ou ambos. Mas continuo a engolir o que deveria ser chorado. Continuo a acumular a pressão que ameaça a implosão. E continuo a fazer de conta.

Faço de conta. Que está tudo bem mesmo que esteja em luta comigo mesma bem depois da 1h da manhã sabendo que o despertador toca demasiado cedo. Porque ir dormir não é solução. Porque as vozes na minha cabeça voltaram para se rir. De mim. Que continuo a fazer de conta.

Faço de conta que choro. Porque chorar implica verter as lágrimas que teimam em não cair. Por isso, faço de conta. Faço de conta que não aprendi a chorar sem lágrimas!

A ausência de esforço para fazer acontecer dói. Ou dói-ME! A mim! Que procuro alternativas a desfiles acompanhados, alternativas que não acontecem. Por ausência de esforço para fazer acontecer…

Faço de conta. Que está tudo bem. Que a noite existe para silenciar as vozes na minha cabeça que se riem. De mim. Faço de conta que não as oiço. Faço de conta que aceito ceder à noite. Faço de conta que estou tranquila.

A fazer de conta desde 1977. Especialista em fazer de conta

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