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O Mar lá ao fundo. Aquele que, à noite, não se vê. Não à primeira vista. Mas sabemos que está lá. Tal como as sombras de cada um. As que escondem o nosso lado mais escuro, tantas vezes negro!, o nosso lado mais difícil. De entender, às vezes até de aceitar mesmo não sendo inaceitável.

O Mar lá ao fundo. Na Maré Baixa de uma noite de Lua Nova. Nenhum dos dois se vê. Mas sabemos que ambos estão . A Lua mais distante, quase inalcançável, o Mar à beira do areal logo ali.

Alcançar um ou outro requer trabalho. Coragem. Persistência. Antes de tudo: aceitação. Porque só avança quem aceita a Lua ou Mar tal como são. Com tanto para descobrir mesmo quando pensamos que já sabemos tanto.

Alcançar a Lua está destinado a outros caminhos. Mas alcançar a Maré Baixa numa noite de Lua Nova requer apenas descer ao areal e seguir em frente, em passo tão firme quanto a areia o permitir até sentir o toque das ondas desfeitas.

Caminhar no escuro requer sempre coragem, quase audácia. Acima de tudo vontade. De ir sem saber muito bem por onde, para onde. Mas sabendo sendo o porquê: o querer, de facto, conhecer. Conhecer cada pormenor do que já se aceitou como é, sem saber ainda todos os pormenores. Todas as ondas. Todas as correntes.

O Mar, tal como a Lua e sempre influenciado por ela, também tem fases. A Maré que sobe, as correntes de arrasto, as ondas tantas vezes gigantes com capacidade de destruição. Tudo isto e, também, o seu contrário. E ainda tanto mais.

Numa noite de Lua Nova a Lua não se vê. E o Mar apenas se encontra quando se desce o areal. A medo? Quando a vontade de seguir em frente é imensa, não há medo que pare a descoberta. E a cada passo no areal às escuras se fica mais próximo da aceitação do Mar no seu todo, tal como é.

Numa relação, acontece exactamente o mesmo. Sem coragem não há descoberta. Para haver descoberta tem que haver aceitação. Aceitação do outro no seu todo, tal como é. Com as suas Marés, as suas correntes, as suas ondas e tudo o mais que habita esse Mar. Principalmente na Maré Baixa de uma noite de Lua Nova.

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