Os dias sem fisioterapia são, também, aqueles dias de ver o tempo passar. E há muito tempo que não percebia que os meus dias se resumem precisamente a isso: ver o tempo passar…
É importante, claro que sim!, permitir que o corpo descanse e recupere. Mas aí fazia sentido se alguma coisa acontecesse que me consumisse energia e me exigisse descanso e recuperação. Mas essa coisa não existe…
Este ciclo de tratamentos acontece apenas 3 vezes por semana, só por aí a exigência física é menor. O tratamento, neste ciclo, está focado na recuperação de um joelho que passou por uma infiltração e que mantém as mesmas queixas e também numa tentativa de modelação dos nervos do braço esquerdo que me provocam aquela dor excruciante para a qual não encontro palavras para a descrever… Não consigo descrever o que sinto porque parecem várias coisas a acontecer em simultâneo e no mesmo ponto do meu braço, mesmo sabendo que o ponto de origem não é fixo e pode mover-se uns centímetros. Move-se o ponto de origem e a dor expande-se ao ombro, à clavícula subindo pela lateral do pescoço ou descendo pela omoplata prendendo qualquer eventual movimento do braço esquerdo…
Uma dor que não sei descrever, que sinto tantas coisas a acontecer ao mesmo tempo… Queima exactamente no mesmo sítio onde, durante horas, sentia uns dentes a morder para marcar presença de forma pouco profunda e que agora, ao mesmo tempo que me queima a carne até ao osso, me morde de forma profunda numa tentativa de me arrancar pelo osso a carne que sinto queimar…e que, como se tudo isto não fosse suficiente, ainda uma serra melhor corta sem dó e um ferro é espetado e forçadamente enterrado…e é TUDO ISTO AO MESMO TEMPO! E que, nos picos de dor, quase me faz gritar de dor! Porque é, de facto, uma dor excruciante, insuportável, impossível de descrever de forma simples quando o que sinto é uma imensa amálgama de coisas…
…a dor também cansa. E cansa muito… É importante ter estes dias de agenda vazia para descansar e recuperar. Mesmo que seja só para descansar da dor provocada por cabos nervosos descarnados que, ao tocarem-se, entram em curto-circuito e disparam a dor no meu braço ali perto do ombro que me consome…
Ao joelho que não melhorou com a infiltração junta-se então o braço com os nervos em curto-circuito, ambos para eléctrodos, massagem e ultrassons, tudo isto em dias alternados num calendário de tratamentos já alternado. Os eléctrodos são 10 minutos ali com a corrente eléctrica a percorrer um dia o joelho, no outro dia o braço. Se está a fazer efeito…? Não faço ideia. Mas ir à clínica 3 vezes por semana é importante. E faz-me bem a vários níveis. Mas não cansa tanto que os meus dias sejam tão parados…
Estou cansada de apenas ver o tempo passar…e digo cansada para não dizer logo que estou farta! Disto! Tudo! E, ao chegar a este ponto de exaustão emocional, prefiro retirar-me em silêncio e recolher à minha concha, o meu porto de abrigo…
