Já não sei quantos dias depois, hoje foi dia de voltar à Fisioterapia. Que é o mesmo que dizer que, depois de umas curtas férias, estou de regresso à rotina, que só não é de novo diária porque repetimos mais um ciclo dedicado ao joelho e ao ombro/braço. E, para já, mantenho apenas as segundas, quartas e sextas feiras de manhã ocupadas com os tratamentos.
Foi muito bom e muito importante regressar à clínica. Rever aquelas caras habituais da minha nova rotina, ser bem recebida de volta como sempre fui desde o primeiro dia há quase um ano e meio. E, claro, voltar ao Fisioterapeuta que me acompanha há quase um ano e que tem sido uma pessoa que ganhou um estatuto especial nos meus dias. É alguém que sabe o que está a fazer, sabe da importância que a fisioterapia neurológica tem para um quadro como o meu. É alguém que eu aprendi a ouvir e a seguir as recomendações.
Há já alguns meses que repito para quem me quiser ouvir que tenho que organizar o meu tempo e o meu espaço para fazer, em casa, o trabalho físico que faço também na clínica mas onde posso também incluir exercícios neurológicos, que me são muito necessários. E hoje, ao regressar à clínica, não tive como não reter uma frase do Zé, o meu fisioterapeuta: “agora tem tanto trabalho que precisa mesmo de fazer em casa…”. Foi a forma como o disse, foi a expressão facial ao dizê-lo, foi tudo…foi não só uma recomendação mas também um aviso. Que não nego a importância. Mas que, como disse ao Zé relativamente ao levar os exercícios para casa, “ainda estou na fase da recusa, já nem é da negação…”…
Não posso continuar a negar ou a recusar aquilo que já me alcançou e já começou a fazer alterações ao meu normal habitual. Insisto que sou exactamente a mesma pessoa que sempre fui. Mas talvez já não seja… Para além das novas rotinas que ganhei e das dificuldades físicas que já tenho e que podem piorar, se calhar já não sou exactamente a mesma pessoa que sempre fui…só não sei ainda quem é exactamente essa novidade que sou Eu.
Convivo com esta nova eu há quase 2 anos, mas não me atrevo a dizer que sei exactamente quem é esta pessoa. Não é muito diferente do que sempre foi, é verdade. Mas tem ali um ou outro ponto em crescimento que não me atrevo ainda a apontar. Mas hoje…hoje ouvi, em resposta à leitura do relatório do neurologista, algo que me fez bem: “li tudo, entendi todas as coisas que lá estão escritas, mas quando olho para ti vejo mais do que lá está…!”.
Eu sei, um relatório médico vem descrever a evolução e o ponto de situação de um diagnóstico. No meu caso, é um diagnóstico de algo que veio para ficar o resto da vida com previsão de progressão neuro-degenerativa com resultados que nem eu ainda sei muito bem. Só sei que não quero…ainda que seja uma progressão negativa maioritariamente física, é algo que não quero e contra o que tenho que lutar. Um relatório médico não traça as características do doente e muito menos as capacidades. E é a essas capacidades que eu quero, e preciso!, tanto agarrar-me. Porque eu sei que sou muito mais do que apenas um relatório médico ou um diagnóstico. E não posso, de maneira nenhuma!, negar a importância da validação pelos outros do tanto que eu sou e do imenso de que sou capaz, mesmo que um diagnóstico me tente rotular de menos do que na verdade sou…
Continuo a seguir em frente um dia de cada vez. Sem pressa, claro. E sem pressão, muito menos auto-imposta. Mas não é por isso que não penso em projectos de coisas que gostava muito de fazer. Para mais nada que não seja provar a mim mesma que sou capaz. Mas, já sei, para alcançar todos os objectivos que tenho vindo a traçar, é preciso começar a fazer o trabalho de casa que o Zé me relembrou. E ontem já era tarde…
Amanhã não há Fisioterapia. Assim como também não há Yoga. E o Yoga tem sido um desafio que me tem trazido resultados tão positivos e que me fazem sentir tão bem por conseguir ir tão longe como tenho ido. Amanhã dizem que deve estar de chuva o dia todo. Já não tenho desculpa para não começar a organizar tempo e espaço para o meu “plano de acção de combate às dificuldades físicas limitadoras”. É tempo de tratar unicamente de mim!

