O braço esquerdo esticado em direcção ao Céu. Podia estar a fazer um qualquer alongamento relaxante ou uma qualquer postura de Yoga que, acompanhada pela respiração profunda e consciente, também me permitiria relaxar. Mas não...neste momento e neste caso não é nada disso. E era tão bom que fosse simplesmente só isso…
Ainda não é meia noite mas já é a hora habitual para a primeira ronda da noite de dor neuropática excruciante no braço esquerdo. O paracetamol, que às vezes parece surtir efeito, já foi tomado. Para já resta-me esticar o braço o máximo que consigo para tentar aliviar a dor até o comprimido começar a eventualmente fazer efeito. A próxima ronda, já se sabe, tem horário marcado para as 5h da manhã…Isto, claro, se isto me permitir tapar o braço com o lençol quando, daqui a pouco, me deitar. E tenho as minhas sérias dúvidas que permita. Diz-me a experiência que mudanças de temperatura no braço, ainda que provocadas apenas pelo toque de um lençol, é sinónimo de aumento substancial da violência da dor…
Olhando para o meu braço esquerdo, as minhas duas tatuagens recordam o que já passei até aqui chegar. Não foi fácil chegar aqui. Mas cheguei. Com maior ou menor dificuldade, mas o facto é que não tinha outra escolha senão seguir em frente… E se, em 2018, gravei uma libelinha na pele foi para nunca me esquecer do meu papel neste meu percurso: o papel da resiliência. E é através desse meu papel que vou resistindo e me adapto a tudo o que (me) surge. Como esta dor neuropática excruciante que me visita todos os dias, ou todas as noites!, que me faz esticar o braço para cima e alongar o máximo que consigo só para aliviar a dor.
Desta vez, alongo o braço esquerdo porque me dói. Muito. O Yoga regressa amanhã, onde também irei alongar, mas desta vez os dois braços em simultâneo. E, mais uma vez, esta noite driblo a dor para poder descansar. E amanhã, no Yoga, volto a superar desafios que tanta gente, onde até eu às vezes me incluo, torce o nariz a achar que não vou conseguir.
Mas, seja no Yoga ou na vida lá fora, uma coisa é certa: não é um diagnóstico que vai dizer se eu sou ou não capaz de seja o que for! Porque eu só não faço alguma coisa porque não quero, nunca porque não consigo! E, se tiver que continuar a alongar o braço para driblar a dor, seja!

