Domingo, novo dia de consulta. Implica ter hora para acordar, dar uso ao despertador naquele dia em que toda a gente o tem desligado. Mas vale a pena. Como sempre, correu bem e foi bom. É sempre bom conversar com alguém que, de facto, nos ouve. Mesmo que esse ouvir seja profissional, que devolva respostas terapêuticas. O momento da consulta é, provavelmente, o melhor momento da semana. Porque dá para tudo, dá para falar, dá para ouvir também porque todas as semanas há momento de partilha, dá para rir, rir muito, dá também para chorar se for caso disso. E há muito, muito, muito tempo que não choro, nem em consulta nem fora dela. E isso é tão importante para mim. Porque ainda me lembro daquele tempo em que chorava todos os dias. Ou, não chorando, tinha sempre o nó na garganta.
Não choro há muito, muito, muito tempo. Nem tenho saudades. Nem vontade ou necessidade de o fazer. E isso é tão importante…saber que ultrapassei aquela fase que julguei que não conseguiria ultrapassar. Foi preciso muito trabalho. Meu, é certo, mas não exclusivamente meu. Tive, e tenho, ao meu lado, do meu lado, o profissional certo. Que se tornou em mais do que apenas o profissional que é. Tornou-se um amigo também. Alguém em que confio plenamente. Curiosamente desde o primeiro dia. E ainda me lembro desse primeiro dia. Em que lhe cheguei em pedaços, disse directa e abertamente o que me levava até ele, contei tudo de uma vez, chorei muito como chorava tanto naquele tempo e no final recebi um abraço. Que não esperava mas que me fez voltar para casa um bocadinho menos despedaçada.
Já lá vão 5 anos e meio. Em que todas as semanas conversamos. Porque não é só falar. É, de facto, conversar. Já passámos muito, porque ele passou comigo e não acredito que nos meus piores momentos ele não tenha sofrido também pelo que tinha à frente. E foi também com ele que consegui ir bem fundo ao que me doía para conseguir deitar tudo cá para fora para exorcizar o que me consumia.
Domingo…e com ele já não choro. Mas sei que, se um dia precisar, ele está lá. Como está mesmo agora que já não choro.
Sim, foi o ponto alto do meu Domingo, a hora da consulta. Ainda que tenha saído de casa à tarde, depois de tantos dias de cama. Ainda que me tenha sentido perdida ao abrir o ficheiro de trabalho de Domingo por ver o trabalho perdido por ter sido mexido por alguém novo na equipa. Mas que será para manter e continuar.
Enfim, foi quase um Domingo com sabor a Domingo. Não houve tempo para mantas, sofá e televisão, mas soube bem ter um dia que não foi mau. Amanhã? Dia de regresso ao trabalho depois de estar doente. Dia de madrugar e avançar. Por hoje chega. Ainda vou ao ritual nocturno, claro, mas é preciso dormir. Sem sono…
Amanhã será melhor. E hoje não foi mau.