Há instituições que nos surpreendem pela positiva. Mesmo aquelas para onde ligamos, mesmo tendo toda a vida acreditado que nunca seria necessário porque, lá está, há coisas que só acontecem aos outros.
Liguei na semana passada. Pedi ajuda. Gostei, muito, do atendimento ainda que apenas telefónico. “Vamos ver se pode ser aqui ou se terá que ser em Lisboa, prometo que lhe ligo amanhã”.
Ligaram no dia seguinte, 5ª feira, ao final da tarde. “Olá, Catarina. Tem mesmo que ser em Lisboa, não pode ser aqui. Mas vamos encaminhar o seu caso para lá, fale com a Dra. RC.” E lembrou-se a tempo de não me tratar por Dona, que abomino, e que tanto lhe tinha pedido na véspera.
Não liguei 6ª feira, por ser feriado em Lisboa. Não liguei ontem por ser um dia tão estranhamente em fuso horário diferente que quando me lembrei já passava das 18h. O atendimento encerra às 17h30.
Liguei há pouco. Pedi para falar com a Dra. RC. “A Dra. esta tarde não está.” Expliquei que liguei para o outro lado, que falei com o técnico PF, por causa de uma porcaria que aconteceu em Novembro. Sou imediatamente interrompida “É a Catarina!?” sim…sou eu…”Estávamos à espera do seu telefonema desde ontem…”
…e foi assim, sem precisar de contar muito, como teve que ser na semana passada, sem precisar de pedir permissão à ansiedade para respirar, foi assim que senti que sim, é uma instituição de apoio para onde ninguém quer ter que ligar mas que se ligar vai ser bem recebido. E bem tratado. Acarinhado, até.
Sim, tratarem-me pelo nome logo assim, e novamente sem Dona, e dizerem que sim, que estão à minha espera. Sim, consigo respirar. Apanhou-me de surpresa, respondi, mas consigo respirar.
Há instituições que nos surpreendem pela positiva. Mesmo aquelas que sempre achámos que nunca teríamos que contactar porque as merdas só acontecem aos outros. Mesmo aquelas que, só pelo nome, só pelo objectivo, já nos merecem tanto mas tanto respeito pelo trabalho que fazem. E que nos tratam assim, pelo nome, e nos dizem “estávamos à sua espera”.