Daily Archives: 26/12/2014

#day130

Há precisamente 20 anos, os painéis não eram estes, de aeroporto. Eram painéis de estações de comboios. Tantas que nunca lhes fiz a conta.
Há precisamente 20 anos, podia ter demorado pouco mais de duas horas para chegar ao destino. De forma quase fria e impessoal tal a rapidez da viagem. Optei por algo mais quente, mais carregado de experiências e memórias, a um ritmo mais meu. O do aqui e agora.Ritmo de comboios, três, que em muitas horas, vinte e sete, me levaram ao destino.

Há precisamente 20 anos, como assim já 20 anos?!, a esta hora estava algures talvez ainda em Portugal, talvez já em Espanha, sozinha na loucura dos 17 anos, de mochila às costas e DocMartens nos pés, a bordo do Sud Express.

Uma loucura, diriam hoje uns, ir assim, sozinha. Uma loucura, disseram-me na altura tantos, ir assim, sozinha. Uma aventura, disseram outros, poucos, na altura e hoje, ir assim, sozinha. Atrás de um Amor de Verão.

Há precisamente 20 anos acreditava que, se o Amor não move montanhas, faz pelo menos deslocar pessoas milhares de quilómetros por uma semana de Amor adolescente.

Há precisamente 20 anos fui, assim, sozinha, de mochila às costas e DocMartens nos pés, de coração cheio e apaixonado. E olho para trás e sorrio. Porque aqueles 8 dias, dos quais 54 horas foram passadas em comboios, sozinha, de mochila às costas e DocMartens nos pés valeram cada segundo.

Hoje? Faria o mesmo. Pelo mesmo motivo. Talvez mudasse apenas de comboios para aviões, embora o comboio continue a ser o meu transporte favorito. Mas o Tempo…já não tenho Tempo aos 37 para perder Tempo como tinha aos 17.

Não, hoje não foi um dia bom. Mas também não foi um dia mau. Foi um dia cansado. Demasiado. E com neura e mau feitio porque, novamente, os outros primeiro. Eu só quando puder ser. Ainda que os outros primeiro signifique, também, irresponsabilidade. E estupidez. Mas, novamente, os outros primeiro. Porque é mesmo assim. Porque é sempre assim. Eu é quando puder ser.

Mas há precisamente 20 anos era eu. Primeiro. E as memórias, a experiência, a aventura, fazem-me sorrir mesmo quando tudo o que me apetece hoje, 20 anos depois, seja chorar de cansaço.

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