Uma espécie de efeito borboleta. Não um furacão no Pacífico provocado pelo bater das asas de uma borboleta em África. Mas quase.
Não um furacão porque os furacões são cinzentos e este momento é violeta.
A junção de duas cores primárias dá uma cor secundária. Magenta, também chamado cor de rosa, e azul resulta em violeta.
E os dias violeta, que resultam do encontro inesperado de duas cores, são tranquilos, de descoberta, de partilha.
Não sei o que é mais importante: se a descoberta, se a partilha. Mas não importa, porque ambos acontecem e é isso o mais importante.
Um sorriso cor de rosa encontra um sorriso azul. E o resultado violeta, inesperado porque não programado, resulta numa vontade de voltar a voar. Vôo baixinho, em segurança. Perto do chão. Dizia eu há não tanto tempo assim que não queria mais voltar a flutuar três palmos acima do chão. Que não queria mais a vertigem. Que não queria mais borboletas.
Aprendi, já devia ter aprendido, que tudo o que digo não querer acaba por acontecer exactamente ao contrário do que queria. Ou melhor, não queria. E a descoberta do violeta veio confirmar isso mesmo.
Parto à descoberta. Partilho magia. Recebo cor de volta. Azul. Azul que já de si vem carregado de pirilampos. E há tanto tempo que sentia falta dos pirilampos… E vem a Lua. As fadas. As cores. Todas. E vou descobrindo. E descobrindo-me. Não me descubro como quem se encontra. Descubro-me como quem vai deixando cair aos poucos a armadura.
A armadura está cá, no entanto. Provavelmente estará sempre. Como sempre. Mas permito-me ir deixando cair as peças como quem deixa que lhe dispam a alma: sem me dar conta.