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A dúvida:

– o que foi não sendo, ou que não foi sendo, que não era para ser, que não podia ser, existe mesmo assim ou faz parte apenas de uma realidade alternativa, uma realidade paralela, uma realidade irreal…? 

Começo a duvidar da minha própria realidade. 

Começo a duvidar da minha própria percepção. 

Começo a duvidar das minhas próprias memórias… 

……e se não passar tudo de uma fantasia, de uma construção de falsas memórias? 

Aconteceu mesmo ou a minha mente atraiçoou-me de uma forma demasiado cruel, demasiado sórdida? 

Nunca tinha posto em causa a minha percepção, a minha memória. O que senti. O que vivi. Vivi? Quero, apesar de tudo, acreditar que sim, que o vivi de facto. Que aconteceu. Que foi real. Que não foi uma fantasia trazida à flor da pele por um qualquer desequilíbrio mental que perturba a realidade e transforma a vontade de realizar um desejo numa realidade que existe apenas na mente de quem sente demais. 

Faz sentido tudo isto? Ao fim deste tempo todo? Faz sentido a dúvida sobre a fantasia e a realidade? Faz sentido não perceber a diferença entre uma memória real de uma falsa memória implantada por uma mente perturbada? 

Não sei hoje onde estou no meu caminho, nem se estou de facto a caminhar para algum lado ou se apenas estarei a enlouquecer… As vozes sussurram baixinho que não é verdade, que não é real, que não existe. Mas existiu… Ou não? Existiu. Eu sei que existiu. Eu lembro-me! Ou não?! Ou será apenas uma construção da minha mente? 

Sinto-me perdida neste momento. Perdida. Sem distinguir o que é real e o que não é. Ou melhor, o que foi real e o que não foi. Não sei que dúvida é esta que não me faz sentido. Mas instalou-se devagar e não a consigo afastar. Foi ou não verdade?! E como é que eu sei que não foi apenas uma partida de mau gosto da minha cabeça?! Como é que eu sei distinguir uma memória real de uma falsa memória?! 

Porquê isto? Porquê isto agora? Porquê a dúvida? Porquê?! Não entendo. Como é possível ao fim de todo este tempo, quase três anos, ter dúvidas sobre o que aconteceu…? Como é possível agora duvidar de mim mesma?! 

Aconteceu. Foi real. Foi tudo real. Mesmo que nada reste, foi real. Aconteceu! 

Mas as vozes sussurram-me ao ouvido ao mesmo tempo que riem trocistas: não existe. 

Parem, por favor. Parem de me sussurrar. Parem de me atormentar. Parem de me fazer duvidar! Por favor…

…por favor… 

{comentários}

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