{#234.133.2024}

Desde que o filme de terror surreal iniciou no Sábado passado, ainda não tinha tido oportunidade de parar para respirar. Tão simplesmente respirar. Aquele respiração profunda, completa e consciente que ajuda, e muito!, a desligar a cabeça e relaxar. Porque enquanto estou concentrada na respiração completa, profunda e consciente não estou a pensar em mais nada. E eu precisava tanto disso! E hoje tive essa oportunidade na aula de Yoga, como tenho todas as quintas feiras e sábados.

É verdade que esse simples exercício que é respirar profundamente e de forma consciente posso (e devo!) fazer em casa todos os dias. Basta tirar uns minutos para isso. Mas esta semana ainda não tinha tido tempo para mim. para mim. Para respirar e tratar de mim. Mas a aula de Yoga estava lá, à minha espera, para parar e finalmente respirar.

O stress dos últimos dias tem sido demasiado intenso, quase extremo. Aquele tipo de stress negativo que não faz bem a ninguém mas que, na minha condição que continuo a não conseguir chamar de doença, não é nada recomendável, não traz nada de bom e ajuda à progressão do que se pretende travar. Mas hoje foi dia de parar para respirar fundo e parar. Tratar de mim.

Finalmente parece haver uma luz ao fundo do túnel para, de uma vez por todas, conseguir encerrar o capítulo, fechar a porta e deitar a chave fora. Segunda ou terça feira, algures por aí.

E, mais uma vez, a confirmação de que há amigos, e depois há Amigos. Não com A maiúsculo mas sim com A gigante. E se houver algo maior do que gigante é aí que estão classificados.

Custa, claro, pedir ajuda a alguém para encerrar um assunto que não lhe diz respeito de maneira nenhuma mesmo que esse alguém se tenha prontificado para ajudar desta forma “se for preciso”. E, efectivamente, foi preciso. É preciso. Tive que, obviamente, pôr o orgulho de lado e dizer “eu preciso dessa ajuda”. Não é fácil, claro que não. Mas, por outro lado, sem essa ajuda, não seria possível encerrar o assunto da forma que tem que ser encerrado: com dignidade.

Agora? Estou muito cansada. Demasiado cansada. De quê? De nada e de tudo em simultâneo. Está mais do que na hora de dar o dia por terminado e ir descansar e dormir. Eu preciso de dormir. As últimas noites têm sido miseráveis no que diz respeito ao número de horas dormidas e esse é outro factor que, juntando ao stress extremo e intenso, não me traz nada de bom. Por isso é hora de desligar.

Amanhã é mais um dia. Que se espera e deseja que seja mais tranquilo. Agora com luz ao fundo do túnel para finalmente conseguir encerrar o capítulo, já só peço mesmo um dia tranquilo. Que, acho eu, não é pedir muito.

Por isso, por hoje chega. E amanhã logo se vê como será…

{#233.134.2024}

Cansada. Demasiado cansada. A vários níveis: físico, mental e emocional. Desde Sábado que tem sido uma espécie de teste à minha resistência. E à minha resiliência.

Do cansaço físico ainda é o mais fácil de recuperar. É verdade que tenho adormecido muito para lá da hora que era suposto. Ontem, por exemplo, passava das 4h da manhã. E todos os dias tenho acordado cedo, ou porque tenho coisas marcadas a acontecer de manhã ou porque simplesmente acordo.

Hoje, depois de adormecer para lá das 4h da manhã, foi dia de acordar cedo. Junta Médica a meio da manhã, onde felizmente encontrei técnicos que provaram ser seres humanos e empáticos e deram o seu aval para continuar de baixa.

Depois, foi voltar para casa à hora de almoço. Um calor abrasador que não contribui em nada para o meu bem estar físico, um caminho doloroso a percorrer, devagar, devagarinho. E muito lentamente.

Almoçar e, pela primeira vez desde Sábado, ficar sozinha em casa. Um bocadinho de sossego e tempo para mim e que eu tanto estava a precisar. Foi esticar-me no sofá às 17h, apagar lá pelas 17h30 e só voltar a acordar já depois das 21h. Estava a precisar disto. Era urgente parar para descansar e tentar recuperar um pouco, pelo menos o lado físico. O mental e o emocional vão precisar de mais tempo. Mas, como sempre, é um dia de cada vez. E, acima de tudo, sem pressa e sem pressão. Porque, de outra forma, eu não aguento…

Está a custar-me horrores o peso do que está a cair em cima da minha mãe e tenho que conseguir poupá-la ao máximo. Mas todos os dias há mais uma surpresa ao virar da esquina à espera de nos cair em cima… Já bastava tudo o que se está a passar comigo desde que fui apanhada na curva. Já era peso mais do que suficiente para ela. Agora só faltava mesmo isto e todos os coelhos que todos os dias vão saindo de novas cartolas e que nunca trazem nada de bom. Quero mesmo muito poupá-la, mas às vezes não sei como…e sim, isso preocupa-me. Muito.

Amanhã é mais um dia. De preferência sem surpresas. Já sabia que tudo tem de ser levado um dia de cada vez. Mas, neste caso, acho que já é mesmo uma hora de cada vez…

A única coisa que quero, no meio disto tudo, é que acabe depressa! Preciso de fechar este capítulo rapidamente. Fechar a porta à chave e deitar a chave fora. De uma vez por todas! É o que eu quero! Mas parece que, com isto tudo, o filme vai ser uma extremamente longa metragem…

Já não posso ouvir a frase “Está quase!“. Porque, porra!, ainda falta o quase! Oiço muito essa frase quando estou a caminhar para algum sítio, normalmente no regresso, que é quando já estou com muitas dores e cansada. E depois dizem-me “Está quase!“…mesmo que o quase seja já ali, continua a faltar o quase! E esse quase custa-me demasiado. Dói a sério. Seja numa simples caminhada curta ou seja neste filme que eu ainda não sei qual é o escalão mas que anda ali entre o surreal e o terror. Ou, se calhar, e ainda é o mais provável, é uma mistura absurda dos dois.

Só quero fechar um capítulo e seguir em frente com a minha vida tal como ela é, mas de preferência de forma mais tranquila. Por favor!

Claro que, entretanto, o relógio continua a contar o tempo que passa. E eu já devia estar na cama a dormir, a descansar o corpo. Mas não vai acontecer tão cedo. Ainda tenho coisas para fazer hoje que têm que estar preparadas para amanhã. Mas, felizmente, amanhã não tenho nada a acontecer de manhã, portanto não preciso de acordar a horas pré-definidas.

Felizmente, amanhã é dia de Yoga. E aí a parte mental vai ser obrigada a, pelo menos, desacelerar. E vai fazer-me bem. Para desligar um bocadinho e recuperar do desgaste dos últimos dias. O corpo vai ser trabalhado, é um facto, mas de uma forma que, no final, também vai poder relaxar.

Enfim…é um dia de cada vez. E o de hoje já terminou. Agora é hora de fazer o que falta para amanhã (que é coisa rápida) e depois é dormir até quando for! E amanhã? Logo se vê. Um dia de cada vez. Só peço que, amanhã, seja mais sossegado e tranquilo.

{#232.135.2024}

O dia resume-se a isto: furacão de stress quando tudo podia ser tão simples e sem confusões. Mas não…

O stress intenso é daquelas coisas que o que aquilo que me apanhou na curva dispensa. Mas, vindo de quem vem, não seria de esperar nada de tranquilo. E o dia tudo menos tranquilo.

O dia todo em casa, a cabeça muito baralhada, muito confusa, sair de casa para acalmar e aclarar as ideias era obrigatório. Ter aquele que chamo de o meu momento. O café ao fim do dia na esplanada do costume, aquele tempo em que nada mais existe e em que estou só comigo mesma. Era o que estava desesperadamente a precisar. Mesmo sem ter ainda jantado e não tendo ainda parado um pouco, às 21h o café foi servido na minha mesa favorita da esplanada do costume. Nem 5 minutos depois e o telefone tocou…acabou-se o meu momento que não chegou, sequer, a começar.

Do outro lado da linha, a minha prima. E depois das questões normais sobre o funeral que tarda em acontecer, uma conversa que, eu sei, já podia ter acontecido há mais tempo. E uma espécie de puxão de orelhas em que ela tinha toda a razão no que me ia dizendo. Daqueles puxões de orelhas a que eu só podia mesmo responder “Eu sei…“. Porque, estupidamente, eu sei mesmo. Mas esse saber refere-se apenas à teoria porque, passar à prática, é a parte mais difícil e não sei mesmo como se faz e também não há manual de instruções. Mas a verdade é que ela tem toda a razão. E eu sei que sim! Perdi a conta ao número de vezes que repeti essa frase que parece tão simples de concretizar mas que consegue ser de uma dificuldade enorme: “Eu sei…

Se tiver que fazer um resumo da conversa, vindo de mim que não sei fazer resumos, faço-o desta forma: quatro horas e meia ao telefone…!

Com isto, jantar às 2h da manhã deve ser a hora certa para jantar num qualquer outro fuso horário…

Agora, quase 4h da manhã, está mais do que na hora de dar este estranho, confuso e stressante dia por terminado. E ir dormir a correr porque amanhã é dia de acordar cedo com Junta Médica a acontecer a meio da manhã…e o que tiver que ser, será. Mas só posso pedir que corra bem. Porque não, eu não estou bem. E a medicação para o que me apanhou na curva tarda em chegar até mim…

{#231.136.2024}

“É um processo.” É. E cada processo é individual, pessoal.

E, os próximos dias, serão dedicados ao meu processo.

E, já sei, terei ao meu lado, do meu lado, um P de Presença. Um Amigo, que eu já sabia que o era com A maiúsculo. E que, a partir de hoje, é um Amigo com um A gigante!

“Já sabes que está sempre tudo bem. E, quando não está, a malta empurra até estar novamente.”

É um processo. E, os próximos dias, serão o meu processo. Mas será um processo passado um dia de cada vez. Ou, se me vir muito aflita, uma hora de cada vez.

Faz parte. E os Amigos também.

{#230.137.2024}

Misto de emoções. Na verdade, uma verdadeira explosão de mixed feelings

Há muitos anos que dizia que era órfã de pai vivo. Hoje digo que sou órfã de pai morto.
O meu pai morreu. Não sei ainda se hoje de manhã, se durante a noite, não importa. O meu pai morreu. Ontem ou hoje? É indiferente.

Nunca foi um pai perfeito. E há mais de 30 anos, praticamente 40 na verdade, sempre foi um pai ausente. Distante. Daqueles que, a partir de determinado momento, só se aproximou porque queria alguma coisa em troca pelo seu papel de pai.

Soube há pouco tempo que estava muito ofendido comigo porque eu não uso o apelido dele. Na verdade, não uso apelido nenhum. Gosto muito da combinação dos meus dois nomes próprios. E ele nunca aceitou isso. Como também nunca aceitou tanta coisa…

Mas, mal ou bem, era meu pai. E o meu pai morreu hoje.

Estou num verdadeiro estado de mixed feelings. Acho que ainda não me caiu a ficha…

Se vou ao funeral? Como filha, devia ir. Mas já estava órfã há tantos anos, mesmo que com o meu pai vivo.

Mas hoje o meu pai morreu. E eu não sei o que sentir, nem o que pensar ou fazer…

Hoje o meu pai morreu. Fecha-se um ciclo. Depois? Logo se vê…

——-

Não, a ficha ainda não caiu. E não, ainda não consegui responder a todos os que, de alguma forma, me estenderam a mão.
A ficha há-de cair. Não sei como nem quando. Só sei que um dia vai cair.

Ainda irei agradecer a todos, um por um, o terem-me estendido a mão. Não sabem o valor que isso tem para mim.

Já decidi que quero estar presente no funeral. Nem que seja a única dos 4 filhos a lá estar. Nem que seja a única pessoa a lá estar. Não sei, ainda, quando vai ser. Nem onde vai ser. E, mais importante!, seja lá onde for o funeral COMO é que vou para lá…não tenho carro, não sei se tenho boleia (o que duvido), se for para ir de transportes públicos como é que vou fazer para conseguir. Mas é preciso fechar um capítulo. EU preciso fechar um capítulo.


De resto, continuo a dizer: a ficha ainda não caiu. Um dia acabará por cair. E, nesse dia, logo se vê. A única coisa que eu sei é que o meu pai morreu hoje. E a ficha teima em não cair… E, percebi esta tarde, tenho 2 processos de luto para fazer. O luto referente ao período em que eu era órfã de pai vivo. Luto que nunca fiz. E, agora, o verdadeiro luto de uma filha a quem o pai morreu hoje. Eu, oficialmente órfã de pai. E o meu pai, que morreu hoje

——-

E as horas vão passando, nem sei se rápido ou devagar. Sei apenas que estou muito confusa. Não sei o que sinto, nem sequer sei se sinto alguma coisa. E não percebo este vazio que subitamente se instalou em mim. E o sentir-me perdida e sem chão… E só me ocorre perguntar “como assim, perdida e sem chão por causa de alguém que me deixou para trás há mais de 30 anos e que, quando se reaproximou, foi apenas e só para pedir algo em troca do seu papel de pai, que nunca soube cumprir!, e prejudicar tanta gente à sua volta, incluindo eu?!

Confusa. Muito confusa. Tão demasiado confusa. E em luta comigo mesma porque teimo em não querer ir para a cama. São 3h da manhã, acordei às 7h, caiu-me isto no colo. E a única coisa que eu precisava agora era de um colo para deitar a cabeça e respirar fundo para organizar as ideias. O colo dele onde eu pudesse deitar a cabeça, ficar em silêncio, respirar fundo e sentir os dedos dele pelo meu cabelo. Era só isso que eu precisava neste momento para serenar e aceitar que tenho que descansar, tenho que ir dormir. Mas ele não está aqui…está sempre comigo, é verdade, sinto-lhe a presença quando aninho e enrosco para dormir. Mas ele não está aqui. E tudo seria tão mais fácil de enfrentar nos próximos dias com ele a caminhar de mão dada comigo.

Não está aqui. Está a 135km. Ou à distância de um clique. Mas, não estando aqui, o importante é que está sempre lá.

Mas, o que fica do dia de hoje, é só isto: o meu pai morreu hoje

{#229.138.2024}

Sexta feira que me soube demasiado a Sábado (sem Yoga) ou Domingo. Ou até a feriado que, afinal, foi ontem. Mas soube demasiado a um dia que não útil.

Ao mesmo tempo não soube nada bem. Calor. Demasiado calor. Mesmo dentro de casa com a ventoinha ligada. Sair de casa? Durante o dia, impensável. Eu e o calor? It’s a no-no. Já passa das 23h e agora sim, estou na esplanada do costume. Vale-nos o vento fresco para refrescar depois de um dia fechada em casa para escapar ao imenso calor. Mas o barulho que aqui está a esta hora está a dizer-me que está mais do que na hora de voltar para casa. Até porque amanhã é dia de acordar cedo, há Yoga às 9h e a boleia chega pouco depois das 8h30.

Por isso, o dia de hoje pode resumir-se a duas simples palavras: demasiado calor.

Amanhã as temperaturas vão continuar muito altas. Mas, depois de voltar do Yoga, volto a fechar-me em casa com a ventoinha a dar o seu melhor.

Por hoje chega. Vou para casa, preparar as coisas para amanhã e ainda tentar um tempo de Viparita Karani. Que, já sei, devia fazer todos os dias. Mas todos os dias encontro um motivo (uma desculpa?) para não fazer.

Amanhã logo se vê como será o dia. Que vai ser em casa depois do Yoga já sei. O resto logo se vê.

{#228.139.2024}

Quinta feira, dia de Yoga. Sendo feriado, e com um Festival a gerar o caos nos trânsito (como se não fosse suficiente o tradicional trânsito rumo à praia em pleno Agosto…), a aula foi antecipada para as 9h. Nem que fosse às 8h como muitas vezes, na brincadeira, o professor Pedro sugere! Não, faltar ao Yoga não está nos meus planos. Mas, sendo feriado, o autocarro que agora preciso de apanhar para percorrer a vila até à outra ponta não tem horário para mim… Na aula de sábado, quando se marcaram as 9h da manhã para hoje, verifiquei de imediato o horário, vi que não havia autocarro, referi esse ponto na aula e de imediato se resolveu: quem me dá boleia em dias de aula de regresso a casa de imediato se ofereceu para me vir buscar. E assim foi.

Ontem à noite, por causa das dores nas pernas, ainda pensei em dispender de uns minutos para o Yoga: Viparita Karani, ou deitar-me no chão com as pernas na parede. Não aconteceu. Estava demasiado cansada, já era muito tarde, tinha muito sono e hoje era dia de acordar cedo. Todos os dias o despertador toca às 7h da manhã para tomar o antibiótico, a minha boleia estava prevista para as 8h40, só posso tomar o pequeno almoço uma hora depois do antibiótico, tinha ali uma boa janela temporal para pôr as pernas na parede 15 minutos.

Às 7h da manhã o despertador tocou, acordei, tomei o antibiótico e preparei tudo para aqueles 15 minutos que tinha prometido a mim mesma. Tapete estendido, encostado à parede, telemóvel prestes a começar a contar os 15 minutos. A custo, não nego, sentei-me no chão em cima do tapete, pus-me em posição para me deitar de costas no chão e levantar as pernas…

Ainda me deitei e foi ao deitar as costas no chão que percebi o quanto as costas me doíam! Não estive deitada mais do que três minutos. Dores impossíveis de aguentar, daquelas que só não me trouxeram lágrimas aos olhos porque eu não consigo chorar, mas que me puseram a transpirar como se tivesse feito uma aula completa.

Desfazer a postura, iniciar a compensação e as dores nas costas a dizerem-me “não!“… Ainda tentei a postura que a fisioterapeuta chama “do gatinho”, cujo nome original em sânscrito desconheço mas que em português é a postura do Gato-Vaca e que o professor Pedro garante ser uma óptima massagem para as costas. E é, de facto. Mas não foi o suficiente para acalmar as dores.

Sei que cheguei à aula muito aflita com dores. De imediato expliquei ao professor Pedro o que se passava e ele, também de imediato, encontrou a solução certa para mim. Não iria fazer nada da aula como as minhas colegas, mas com bolsters, blocos e algumas mantas teria o sítio certo para o exercício certo: alongar e relaxar as costas. E assim foi durante duas horas. De vez em quando ele vinha ver como eu me estava a sentir, ajustar a posição e relembrar-me de respirar. De forma profunda e consciente como em qualquer aula de Yoga, respiração que eu me habituei a levar sempre comigo para todo o lado.

Duas horas depois, desfazer a postura, com a ajuda dele, claro. Mas a verdade é que as dores de costas tinham passado, com excepção da lombar de que me estou sempre a queixar há muito tempo. E o que ficou combinado foi que as próximas aulas serão novamente para alongar e relaxar a coluna, com incidência na lombar, e também tratar pernas na mesma base que as costas.

Senti logo no primeiro dia, já há mais de um ano, que estava bem entregue ao professor Pedro. E já há muito tempo que o tinha confirmado. Hoje? Reforcei essa confirmação e a confiança que, desde o primeiro dia, depositei nele. As aulas são sempre um desafio, sejam mais ou menos suaves, mas sempre muito boas. E, desde o primeiro momento em que eu soube daquilo que, inicialmente, era só uma suspeita, ele está a par do que me apanhou na curva e vai-me acompanhando na progressão das minhas dificuldades. Está, inclusivamente, a preparar um plano de posturas para eu ir fazendo nas aulas quando não consigo fazer as outras. E o tratamento de hoje foi muito bom. Sábado lá estaremos novamente às 9h da manhã, novamente com boleia para lá e regresso. Até porque o próprio professor Pedro faz questão de garantir que eu tenho sempre transporte.

Enfim…eu sabia que o Yoga me ia fazer bem. Mas nunca pensei que dali iria nascer uma rede de apoio daquelas que eu preciso tanto. Mas a rede está lá. E eu sou tão grata por ela.

Depois do Yoga foi chegar a casa, almoçar e aterrar no sofá. Sozinha em casa depois do almoço, sem rigorosamente nada para fazer, cansada sei lá eu do quê, rapidamente adormeci. De óculos, claro, provavelmente para ver melhor os sonhos. Mas a verdade é que durante três horas não estive acessível para ninguém. E o acordar foi muito estranho ao ponto de pensar que já estava a acordar amanhã. E, a primeira dúvida que tive ao acordar, a primeira pergunta que quis fazer: já tomei o antibiótico? Percebi pouco depois que, afinal, ainda era hoje, quinta feira, feriado.

E, no telemóvel, mensagens dele à minha espera. E acordar com mensagens dele, seja logo de manhã cedo como hoje com mensagens que ainda eram de ontem à noite, “hoje vou tomar conta do teu sono” para me deixar saber que estava de serviço e me aconchegar antes de adormecer mas que já só vi esta manhã, ou seja acordar à tarde e saber que também ele apagou no sofá, ou foi fazer uma caminhada, ou outra coisa qualquer, não importa, sabe sempre tão bem.

Assim como também sabe bem ler a poesia que sai daquela alma que reconheci de outras vidas, de outros tempos, sabe-se lá como, aquela poesia, aquelas palavras onde, de vez em quando, me encontro. E hoje…hoje não só me soube bem ler, como me encontrei nas palavras, como me reconheci como destinatária daquela mensagem que me confirmou o que eu já sabia: meu por inteiro.

Por momentos a respiração falhou-me, o ar faltou-me. Li. Reli. Voltei a ler. Não sei quantas vezes o fiz. Mas não é importante o número de vezes que li, reli e voltei a ler. O importante é que, a cada nova leitura, a respiração falhava-me, o ar faltava-me e tudo o resto se confirmava e reforçava.

E só me saía uma palavra para tentar descrever o que aquelas palavras provocaram em mim: FODA-SE! Porque não encontro nenhuma palavra bonita que tenha tanto impacto ou demonstre tanta força como esta. Desta forma. Toda em maiúsculas. Com o respectivo ponto de exclamação! Porque…FODA-SE! Já o leio há mais de um ano, já me encontrei nas palavras dele algumas vezes, mas nunca me tinha falhado a respiração com as palavras dele, nunca o ar me tinha faltado ao lê-lo. Nunca nada do que ele tinha escrito até hoje tinha tido o impacto que teve hoje.

Assusta quando a respiração nos falha? Assusta. Assusta quando nos falta o ar? Claro que sim. Mas não assusta ler aquelas palavras, que tanta gente acha que simplesmente nascem da alma de um poeta, mais ou menos inquieto, sabendo a quem se destinam porque está lá tudo o que é preciso saber.

Teu por inteiro“. E eu sei que sim. E é por saber que sim que volto ao poema todas as vezes que sentir a tua falta, todas as vezes que sentir saudades tuas. E é também por saber que sim que o meu sorriso está sempre presente desde há mais de um ano e os meus olhos brilham de outra forma. Mesmo nos meus momentos mais difíceis. Porque contigo aí eu sei, desde muito cedo, que não me vais deixar cair e o caminho vai ser feito de mão dada contigo. Sempre. E é também por isso, mas nunca exclusivamente por isso, que te amo de uma forma e com uma força e uma intensidade que não sei, não consigo!, explicar. Até porque isto que sinto não é para ser explicado. Apenas sentido. Vivido. Por mim. E, claro, por ti.

O resto não interessa. Porque o resto é só isso mesmo: o resto.

Amo-te. E também eu sou tua por inteiro.

{#227.140.2024}

A fisioterapeuta já me tinha dito: “o calor é o maior inimigo do que tu tens”.
O médico especialista já me tinha dito: “não, o maior inimigo é mesmo a doença, mas o calor de facto exacerba os sintomas, até mesmo os que estão adormecidos”.
E hoje confirmei que o calor não é para mim.

Nunca me dei muito bem com ele, costumo dizer que temperaturas acima dos 27• deviam ser inconstitucionais e, depois de hoje, prefiro mesmo passar o Verão dentro de casa. Ou, se por acaso tiver que sair (e vou ter que sair!), vestir saias, calções ou calças curtas e frescas. Sarja como hoje? Eh pah, não, obrigada!

Fui “só ali“, de um edifício ao outro que fica exactamente ao lado. Mas, claro, fui à torreira do Sol porque, ali, não há uma única sombra. E, se fui, também tive que voltar. Novamente à torreira do Sol. E, no regresso, já muitas dores e a dúvida se conseguiria ou não chegar ao destino. Claro que tinha que voltar, não podia ficar ali perdida no meio do caminho, à torreira do Sol, porque o destino era “já ali“. Mas as dores…o calor a fazer aumentar as dores…e eu a pensar que não ia conseguir chegar ao “já ali“.

No total, entre o ir “só ali” e o voltar ao “ ali” foram 1.500 metros. Um kilometro e meio. 750 metros para cada lado. O que não é nada. Porque, de facto, o tal edifício ao lado daquele onde está, é já ali. Já tinha feito este caminho antes. Com Sol, com chuva. Nunca me custou. Até hoje…

O que sei é que, a esta hora que já passa das 23h30, ainda não aguento as dores que tenho nas pernas. E já cheguei a casa às 15h30, já despi aquelas calças que só voltarei a vestir lá para Outubro, vesti os calções, estiquei as pernas no sofá, já fui ao banho e pus água fria nas pernas e continuam a doer. Muito. Faz parte do que me apanhou na curva e que com o calor, pelos vistos, agrava… Vivendo e aprendendo.

Decididamente, o Verão não é para mim

Agora, antes de dormir e para aliviar as dores, vou recorrer ao Yoga. Viparita Karani ou pernas para cima encostadas à parede. E, diz-me a experiência, ajuda MUITO.

Mas, daqui para a frente, só aceito vestidos, saias, calções ou calças curtas. As dores? Quem quiser que as leve, porque nem à base de comprimidos as dores passam…e eu já estou farta disto. Só não tenho é como escapar…

{#226.141.2024}

Primeiro dia sem Fisioterapia…sem Yoga…sem consultas ou análises…ou seja, primeiro dia sem rigorosamente nada para fazer.

É verdade que, entre ciclos de Fisioterapia, já tive vários dias assim: completamente vazios e sem rigorosamente nada para fazer, portanto este não é exactamente o primeiro dia sem rigorosamente nada para fazer. Mas parece… Entrei de tal forma no ritmo diário de sair de casa de manhã que agora sinto-lhe a falta.

Para o dia de hoje havia, de facto, algo previsto que, infelizmente, não foi possível realizar. Mas não duvido que venha a ser remarcado.

E agora é aquela parte em que digo que aproveitei o dia para descansar. E vocês perguntam: mas descansar do quê se há 11 meses que estás sem trabalhar e não fazes nada o dia todo, todos os dias? Pois…Eu própria pergunto o mesmo. Não sei. Apenas sei que, apesar de tudo, me sinto cansada. Se é consequência do que me apanhou na curva? Aquela questão da fadiga? Não sei…ainda não me ensinaram a reconhecer a fadiga, a distingui-la do normal cansaço ou da simples preguiça. Não sei, de facto. Só sei que todos os dias me sinto cansada. Faça o que fizer. Ou mesmo que não faça nada.

Há um cansaço que conheço bem. Que é este cansaço que sinto por causa da (ainda) surpresa do que me apanhou na curva, das dificuldades que (já) me trouxe, da (ainda) falta de tratamento em jeito de medicação. Sim, disto eu sei que estou cansada. E ainda estou no início desta aventura que veio para ficar sem possibilidade de, um dia, passar.

Tento desligar do assunto. Tento esquecer-me. Tento fazer de conta. É só um sonho mau demasiado longo do qual um dia vou acordar. Só que, já sei, não é um sonho mau demasiado longo do qual um dia vou acordar. É a realidade que me bateu à porta. Porta essa que, de alguma forma, foi aberta sem eu saber como e permitiu que essa realidade entrasse na minha vida.

Um dia, sabe-se lá quando, pode ser que aceite. E que aprenda a ver o lado positivo disto, se é que existe. E, com tempo, sem pressa e sem pressão, gostava mesmo muito de mudar o discurso de “porquê eu?” para “e porque não eu?”. Fazer diferente, fazer a diferença, fazer alguma coisa que nem eu sei se posso fazer e, em podendo, como fazê-lo ou o que fazer.

Não sei. Estou muito cansada. Muito confusa. Muito nem eu sei bem o quê. Mas, segundo o que o psiquiatra deixou registado no meu processo clínico a que tanto a médica de família como a Segurança Social têm acesso, “a Catarina está bem da Depressão“. Só que não, não está! Sair de casa todos os dias para ir à Fisioterapia não é sinónimo de não estar deprimida. É tratar de mim, de uma condição que me afecta fisicamente e que eu quero travar ou até reverter, se é que é possível reverter e eu já sei que não é! Ainda sem medicação, resta-me a Fisioterapia e é isso que me obriga a sair de casa todos os dias. E o obrigar-me a sair de casa ao fim do dia para ir à rua apanhar ar, ver o resto da luz do Sol e beber um café também não é sinónimo de não estar deprimida. É, sim, uma ferramenta que aprendi com o terapeuta fofinho para evitar o isolamento. Por isso não!, a Catarina não está bem da Depressão!

E o isolamento, mesmo saindo de casa todos os dias, existe. Não que eu o procure. Porque eu procuro exactamente o oposto. Mas poucos, muito poucos, são os que se fazem presente.

Deprimida. Isolada. Sem rigorosamente nada para fazer. Sem ver ninguém. Sem conversar com (praticamente) ninguém. Sozinha. Completamente sozinha. Mas, se o psiquiatra diz que “a Catarina está bem”…encolho os ombros e penso que depois logo se vê.

Não sei quando será a próxima consulta. Sei, sim, que este psiquiatra, aquele que dispensa título de Doutor e o apelido, só regressa no próximo ano e já encaminhou o meu processo para um colega me acompanhar até lá. Mas quando é que será a próxima consulta? Ninguém sabe…

Sei, sim, que estou cansada. E, mais uma vez, falhei o objetivo de me deitar cedo. A noite já começa a roçar a madrugada e eu, que achava que não tinha nada para escrever hoje, deixei correr a pena e ainda aqui estou…

Mas não por muito mais tempo. O sono começa a apertar. Por isso dou o dia por terminado por hoje. Amanhã, já sei, não tenho rigorosamente nada para fazer, por isso logo se vê como será…

{#225.142.2024}

Segunda feira. E, para já, a semana promete ser longa.

Último dia deste ciclo de Fisioterapia, consulta de avaliação com o Fisiatra. Dia de lhe dizer que não, não estou melhor e que o foco do tratamento não pode ser (só) o reforço do tónus muscular das pernas e alguma marcha, que acho sempre pouca. O foco principal tem que ser o equilíbrio. Foi com foco no trabalho de equilíbrio que saí da Fisioterapia hospitalar a conseguir andar mais a direito e sem necessidade de me apoiar à direita para além da bengala à esquerda. Lembro-me das palavras do Miguel, o último estagiário que apanhei e que trabalhou muito comigo e puxou pelo meu equilíbrio, quando me disse “Catarina, não precisa da bengala para nada!” Treinámos equilíbrio, subida e descida de escadas, marcha de várias formas e velocidades no corredor do Hospital, chegámos a experimentar a marcha no exterior, onde o piso de calçada mais me atrapalha, especialmente quando existe inclinação como houve nessa experiência. E foi depois desse exercício que me disse que não preciso da bengala…

No dia seguinte, curiosa com o que ele me tinha dito, eu e a minha mãe decidimos atravessar o parque até ao paredão. E foi ainda no parque, longe do paredão que lhe disse “hoje levas tu a bengala, vou experimentar ir até ao paredão sem qualquer apoio…”. E consegui! Atravessei o parque sem bengala e sem me apoiar a ela. Atravessei a estrada. Subi a rampa de acesso ao paredão. Andei um pouco por lá para ver como me sentia e como corria caminhar sem bengala e sem apoio. E correu bem.

Na hora de regressar a casa, fazer novamente o percurso até ao parque, atravessar o parque, atravessar a avenida, vir pela rua de sempre e rumar até casa. Sempre sem qualquer apoio. Foram 3 km que me deixaram cheia de orgulho pelo resultado do trabalho de muitas sessões, de muitas horas de trabalho intenso e sempre focado no equilíbrio. No dia seguinte o Miguel já não estava no Hospital, já tinha terminado o estágio. Mas estava a fisioterapeuta responsável pelos estagiários e que me acompanhou nas últimas sessões. E partilhei com ela os 3 km de sucesso e orgulho. Porque também foi ela que me ajudou no processo, também por ser ela a responsável pelos estagiários. Foi, no fundo, um bom trabalho de equipa. E eu estava feliz com a possibilidade de largar de vez a bengala. Mas também me lembro de, quando fui à última consulta de avaliação com a Fisiatra do Hospital, ela me ter dito que, com as lesões que apresento, largar de vez a bengala vai ser praticamente impossível…

Ouvi e, calada, aceitei. Mas sempre a pensar que, se calhar, com muito trabalho, talvez pudesse largar a bengala. Por muito difícil que pareça dado o desequilíbrio que sinto e, pelos vistos, dada também a lesão que tenho, de facto, no cérebro.

Duas ou três semanas de pausa, sem qualquer trabalho de natureza nenhuma à espera de uma vaga na Clínica de Fisioterapia. E, logo depois de ter iniciado o primeiro ciclo, o calor abrasador à hora de almoço, à torreira do Sol no caminho até ao autocarro. 1,5km sem qualquer sombra nem ponto de repouso. E comecei a sentir-me a regredir. Não só pelo calor mas também por perceber que não havia qualquer trabalho de marcha ou equilíbrio… No ciclo seguinte a mesma coisa. Tónus muscular das pernas e movimentação dos membros inferiores. Até que o ciclo foi interrompido porque o meu corpo decidiu pregar-me uma partida de dia da criança num sábado aborrecido e sem planos.

Mais um período de tempo à espera de nova vaga, noutro horário agora já com autocarro a 450 metros de casa. Mas o trabalho? Igual…

Em nova consulta com o Fisiatra falei na questão da marcha e do equilíbrio. Continuou o tónus muscular como trabalho principal, mas inserindo agora (algum) trabalho de marcha. Equilíbrio? Nada

Esse último ciclo terminou hoje e na consulta de avaliação com o Fisiatra reforcei a urgência de trabalhar o equilíbrio. Já sei que vou ter que esperar uma a duas semanas até ter nova vaga para tratamento. E estou muito curiosa com o que vai acontecer com o trabalho de equilíbrio…

Hoje saí de casa mais cedo para chegar a casa mais tarde do que o habitual. Sozinha, fui a todos os sítios que tinha que ir depois da Fisioterapia e da consulta de avaliação. Caminhar custou-me horrores. As dores nas pernas, com o calor infernal que está, intensificam-se e caminhar é doloroso. Mesmo agora, tantas horas depois de chegar finalmente a casa, as dores nas pernas estão presentes e incomodam bastante.

Mas, com ou sem dores, com mais ou menos desequilíbrios, está na hora de descansar. Dar o dia por terminado e ir dormir. Amanhã, ao contrário do que estava previsto, vai ser mais um dia igual aos outros. Quem sabe não vá até à praia. Não aquela que me obriga a atravessar o parque, mas outra onde o autocarro me pode levar e onde não existe escadaria de acesso à praia. Vamos ver. Agora o urgente é ir descansar. Amanhã? Logo se vê. Por hoje o dia está dado como terminado. E foi longo, difícil e doloroso

{#224.143.2024}

Domingo. Aquele dia de dormir até mais tarde e não fazer nada. Dormir até mais tarde não aconteceu, muito pelo contrário. Afinal, todos os dias dos próximos meses o despertador toca às 7h da manhã para tomar o antibiótico em jejum. Hoje já não me recordo a que horas acordei para, de facto, tomar o antibiótico, sei que foi mais tarde do que era suposto, mas este não obriga a hora certa, só obriga ao jejum. E assim foi.

Uma hora depois, o pequeno almoço. E, mais uma vez, a constatação de não ter absolutamente nada para fazer…e é isso que me tem custado mais nos últimos meses. É ficar a ver o tempo passar sem ter nada para fazer. É verdade que nos últimos meses tenho tido diariamente a fisioterapia a meio da manhã. Que à hora de almoço está terminada. E o resto do dia? Tirando o Yoga à quinta feira ao final do dia e ao Sábado de manhã, nada

Tenho noção de que deveria encontrar alguma coisa para fazer. Mas não faço ideia do quê. Ler não é opção, ou porque estou em fase de visão dupla ou porque simplesmente não consigo concentrar-me para o fazer. Tenho um desafio que aceitei e que foi designado de projecto por Ele: escrever, à mão, uma carta. Mas não uma carta qualquer. Uma carta daquelas especiais que se escrevem para pessoas especiais. Uma carta de amor.

Não me lembro de alguma vez ter escrito uma carta declaradamente de amor. Sei que já escrevi muita coisa mais ou menos apaixonada, mas raras foram as que chegaram às mãos de alguém. Provavelmente por não serem, de facto, cartas. Apenas desabafos meus, registos de algo que sentia no momento e que não sei dizer se era amor ou outra coisa qualquer. Mas agora, neste momento, sei. Sei que é amor e que escrever essa carta faz todo o sentido.

Ainda não comecei a escrever no papel, mas na minha cabeça a carta todos os dias se desenvolve mais um bocadinho. Todos os dias há mais alguma coisa a acrescentar, a dizer, a querer deixar registado. Porque, e já lhe disse hoje, o que está escrito fica para sempre. Mas o que é dito de viva voz tem outro peso embora também fique para sempre guardado na memória…

Voltei para a cama depois do pequeno almoço. Nada para fazer, uma carta de amor para escrever e sem saber por onde ou mesmo como começar, corpo cansado sei lá do quê, voltei para a cama. Adormeci rapidamente e, como já começa a ser hábito, com o telemóvel na mão… Este é aquele escape de quem não quer ficar de braços cruzados a ver o tempo passar. Ou seja, é o meu escape. E o tempo passou e eu não me preocupei em simplesmente vê-lo passar. Fiz o que o meu corpo pediu: dormi.

Acordei com a gata a chamar por mim. Estávamos as duas sozinhas em casa. Não sei ao certo o que ela queria. Mas, ao acordar e pegar no telemóvel, vi que tinha uma mensagem de voz. Dele. E, mais uma vez digo, o que é dito de viva voz tem outro peso. E, nessa mensagem de voz, com o peso que uma mensagem de viva voz tem, lá estavam as palavras todas, as palavras certas. As palavras que eu queria tanto ouvir mesmo já as tendo sentido todas, todos os dias, a todas as horas…

Domingo é o dia de não fazer nada. E eu não fiz, de facto, grande coisa. Ao final da tarde ainda fui à rua beber um café, andar um pouco, apanhar ar, ver o céu azul, encontrar a Lua que olha por mim e que conhece todos os meus segredos e a quem peço que entregue um beijo meu a quem me desafia a escrever uma carta de amor e que está a 135km daqui ou à distância de um clique. Sim, Domingo é dia de não fazer nada e eu não fiz grande coisa. Apenas me apaixonei mais um bocadinho depois daquela mensagem de voz que esperava por mim quando acordei. E só isso já é tanto e tão bom.

A esta hora já tardia em que a noite começa a roçar a madrugada está mais do que na hora de ir descansar. Ir dormir. Amanhã é o último dia deste ciclo de fisioterapia, portanto é dia de acordar cedo e sair de casa cedo. Por isso dou o dia por terminado. Mas é um dia que termina com um sorriso no rosto porque o que é dito de viva voz, as palavras todas, as palavras certas, tudo isso tem outro peso. E esse peso é o do sorriso que trago no rosto e no olhar. E amanhã o sorriso continuará presente para quem o quiser ver. O resto? Logo se vê, como sempre.

{#223.144.2024}

Das coisas que fui aprendendo nos últimos meses: enquanto for a bengala a cair e não eu, está tudo bem. E todos os dias a bengala cai. Várias vezes. Por vários motivos. Em sítios vários. Mas, lá está, enquanto for ela a cair e não eu, está tudo bem.

Mas hoje de manhã, na aula de Yoga e sem perceber muito bem como, ia dando um grande trambolhão de cara no chão. Sei que estava a mudar de posição, de deitada de barriga no bolster para sentada de pernas cruzadas. Não sei bem o que aconteceu, mas acho que as pernas ficaram presas algures, já cruzadas e, se não fosse ter ainda o bolster pôr baixo de mim, o trambolhão seria jeitoso.

Mas no Yoga já sei que, às vezes, vou ao chão. Nunca grandes quedas, mas sempre por falta de equilíbrio. Mas, mesmo prevendo as quedas no Yoga, tento sempre os asanas propostos e, se cair, já aprendi a não ficar muito chateada. Fico mais frustrada por não conseguir alcançar ou manter a postura do que com a queda, da qual me rio sempre mesmo que me sinta frustrada. E, se as eventuais quedas no Yoga continuarem a ser ligeiras e sem me magoar, está tudo bem.

O medo grande das quedas é na rua. Uma queda na rua pode provocar estragos. E não me apetece. Por isso é que, todos os dias, à noite, sinto como uma pequena grande vitória o facto de (ainda) não ter caído.

Se for para haver quedas, que sejam então as da bengala. Se já lá por que motivo for. Desde que não seja eu, está tudo bem.

{#222.145.2024}

Sexta feira e mais um dia igual a tantos outros. Acordar cedo, sair para a Fisioterapia, chegar a casa e almoçar. E, depois do almoço, aquilo que andava a prometer a mim mesma há vários dias: aterrar no sofá e, no caso de adormecer, não ter horas para acordar. E assim se passaram três horas. Há, de certeza, quem diga que assim se perderam três horas. Eu já fui uma dessas pessoas. E acho que ainda sou. Mas, quando não se tem absolutamente nada para fazer, a melhor forma de passar as horas sem entrar em conflito comigo mesma é dormir. Especialmente quando é o corpo que assim o pede, quase o exige.

E hoje pediu. Já sei que o dia a seguir ao Yoga Nidra é um dia muito lento e que, por algum motivo que ainda desconheço, me faz parar para dormir. E ontem, depois do Nidra, sentia-me profundamente relaxada. Ao ponto de, quando me deitei, mais uma vez adormecer com o telemóvel na mão após escrever uma mensagem que não enviei. E, claro, ligar o telemóvel ao carregador não aconteceu. Nem sei como acordei com a minha mãe a chamar-me ainda a horas de ir para a Fisioterapia…

Dormi a tarde toda? Dormi. Mas não é por isso que agora deixo de ter sono. Estou cansada (de nada, na verdade) e com sono. Já é tarde e amanhã é dia de acordar cedo para o Yoga. E eu cada vez gosto mais daquilo…

Por isso, dia terminado por hoje. E, amanhã, logo se vê como será.

{#221.146.2024}

Não esperamos nada dos nossos amigos, e essa franqueza é fundamental. Mas, não esperando nada, esperamos tudo, na medida em que a sua existência nos permite existir.” – José Tolentino Mendonça in ‘O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas’

Cruzei-me com esta (chamemos-lhe) reflexão sobre a amizade sem a procurar. Quase posso dizer que me caiu no colo. E, de imediato, me fez tanto sentido. Porque realmente “não esperando nada, esperamos tudo”. Para o bom e para o mau. E também porque a existência de amigos permite-nos, de facto, existir. E os meus últimos dias têm sido de pura solidão, e (já) não sou só eu quem o afirma. A minha mãe já percebeu que estou demasiado sozinha. Só comigo mesma e não por opção minha.

Eu sei que tenho amigos, que tenho pessoas que gostam de mim. Mas também sei que me estão a faltar. Não me atrevo a dizer falhar, embora seja o que sinto…

Mas também sei que tenho quem me diga “vou levar-te a passear”. E não é a primeira vez que se faz presente desta forma. Esse já entrou na categoria de Amigo com A maiúsculo, sem qualquer dúvida. Podemos nem conversar por aí além nas aplicações de mensagens privadas, mas vamos falando nas caixas de comentários. E, de uma forma ou de outra, vamos sabendo um do outro. E isso não só é bom como é tão importante.

……pausa para respirar……porque as emoções, às vezes, tiram-nos o ar. E o assunto acima é-me caro……

Apesar de os últimos dias terem sido pesados, mental e emocionalmente difíceis, o dia hoje passou a correr de forma mais serena. Até que, ao final da tarde, chegou a hora do Yoga seguida de Nidra. E cada vez gosto mais. Gosto do grupo (que é pequeno), gosto do novo espaço, gosto do professor e gosto muito e acima de tudo dos efeitos das aulas e do Nidra. E a aula de hoje e o Nidra de hoje quase podiam ter acontecido por encomenda porque foram exactamente o que estava a precisar tanto.

O Yoga faz muito bem a todos os níveis, e hoje acalmou-me o turbilhão da minha mente que há demasiados dias me incomodava. E, parecendo que não, o estado mental influencia o estado emocional. E agora, já tão tarde quando a noite começa a roçar a madrugada, posso dizer que me sinto serena, tranquila e plenamente relaxada.

O dia hoje foi mais sereno. A todos os níveis. E eu já estava a precisar de um dia assim. Agora, que já passa muito da hora em que já devia estar a dormir, dou o dia por terminado. Amanhã de manhã repete-se a rotina da Fisioterapia, mas a tarde fica por conta do sofá. Porque, nos últimos dias, não tenho dormido o suficiente tal é a agitação dentro de mim e não tenho descansado o corpo que me exige descanso.

Amanhã? É um novo dia. E depois logo se vê. Não me vou preocupar com ele agora. Agora vou aproveitar o efeito do Nidra de hoje e vou facilmente dormir a noite toda.

{#220.147.2024}

A minha cabeça está, sem dúvida, muito confusa numa luta constante para manter o que me resta da minha sanidade mental.

Fora de brincadeiras: cabeça muito confusa, baralhada com datas e dias da semana, tarefas que quero obrigar-me a fazer e não consigo. A Depressão também é isto, mas o médico que dispensa título e apelido mas que me acompanha na especialidade certa (uma delas…) disse-me, no final da consulta, que não via sinais de agravamento da Depressão porque, afinal, eu continuo a sair de casa todos os dias e isso, para ele, é um bom indicador. Mas, apesar de sair de casa todos os dias, saio de manhã pela obrigação de ir à Fisioterapia e ao fim da tarde por OBRIGAÇÃO PARA COMIGO MESMA.

Obrigo-me a ir à rua beber café, apanhar ar e um pouco de luz do dia. Mas a vontade é sempre a mesma: zero! E porquê? Porque apesar de sair de casa todos os dias, não vou além do rectângulo de todos os dias desde há meses.

Não estou a cumprir nenhuma pena de prisão domiciliária controlada por pulseira electrónica, mas por vezes parece porque o rectângulo está demasiadamente bem delineado e é como se fosse cercado por uma qualquer vedação de segurança que não me permite afastar.

Sim, a minha cabeça está demasiado cansada, confusa e profundamente deprimida. E, na próxima consulta, sempre posso dizer ao médico que dispensa título e apelido para ler o que escrevo. Diariamente. Porque sim!, a Depressão está a agravar-se. E eu estou cansada, frustrada, revoltada, zangada, isolada e muito sozinha.

Mas posso garantir que não estou a cumprir nenhuma pena de prisão domiciliária. Embora todos os dias pareça que sim. TODOS OS DIAS.

…mas, já sei, “isso um dia passa”. Só que não…(não sozinha e não a atingir o meu limite…)

{#219.148.2024}

Cansada. Tão cansada. E não é o tradicional cansaço físico que me afecta. Ou que mais me afecta. É o cansaço mental. Psicológico. Emocional. É o sentir-me isolada. O não sair de um rectângulo pré-definido. Aquele rectângulo onde está a minha casa, o Hospital, a Fisioterapia e o CDP. Os únicos sítios onde vou. E, ao Hospital, correndo tudo bem e não havendo nenhuma urgência, só regresso a 30 de Agosto. Ao CDP a 27 de Setembro. O último dia de Fisioterapia é já na próxima segunda feira, dia 12 e, muito provavelmente, só volto a ter vaga duas ou três semanas depois, portanto dificilmente antes do fim do mês. E, a partir daí, o rectângulo diminui significativamente para o meu bairro e (muito) pouco mais…

Sinto-me presa. Como se, à minha volta, houvesse uma qualquer vedação de segurança que me impede de sair. Como se estivesse agrilhoada para não me afastar.

Não vejo ninguém das minhas pessoas. Aquelas de quem eu gosto, aquelas que eu sei que gostam de mim. Raros, muito raros são os contactos feitos por telefone e, quando existem, é sempre com a mesma pessoa. A única que ainda dispende do seu tempo para conversar. Seja sobre o que for.

Ontem o psiquiatra disse-me que não achava que a minha Depressão tivesse agravado. Isto porque eu saio de casa todos os dias para a Fisioterapia e depois ao final do dia para beber café. Mas, desconfio, não deve ter ouvido quando lhe disse que, para além da Fisioterapia, se saio de casa todos os dias é porque me obrigo a isso. Aprendi com o terapeuta fofinho há alguns anos que é importante sair de casa. E é aos ensinamentos dele que tenho recorrido. Mas, na verdade, quando saio de casa para ir beber um café, vou sempre ao mesmo sítio, porque é o mais próximo e é, correndo o risco de exagerar um pouco, como se estivesse em casa. Porque é sempre no mesmo sítio. Como em casa. Onde não está ninguém das minhas pessoas. Como em casa, tendo como excepção a minha mãe. Onde não converso com ninguém. Como em casa, onde falamos mas não conversamos. Onde vejo sempre a mesma coisa. Como em casa. Por isso, obrigar-me a sair de casa todos os dias para beber um café não é, necessariamente, sinal de ânimo, motivação, o que for. É, sim, uma regra que impus a mim própria para apanhar um pouco de ar, ainda ver a luz do dia e mexer um pouco as pernas, mesmo que cada vez custe mais.

Não, nada disto diz que a Depressão não agravou. A solidão é cada vez maior, tal como o silêncio que me rodeia e a ausência de interacção. E a vontade de chorar também passa por aí. Não é apenas pelo que me apanhou na curva e que eu continuo a recusar, ou a negar, ou seja lá o que for! Passa também por cada vez me sentir mais sozinha. Mais presa. Mais isolada do Mundo!

Há umas semanas disseram-me que eu também tinha que fazer a minha parte, a de chamar as pessoas. E na semana passada foi o que tentei fazer. Com quem me chamou a atenção para isso. Até ver, sem sucesso. Provavelmente até já esquecido…sei lá eu.

Eu sei que toda a gente tem a sua vida. O seu trabalho. Os seus afazeres do dia-a-dia. Também sei que Agosto é sinónimo de férias para muita gente. E também sei que chamar alguém para vir até aqui, terra à beira da praia, é pedir que percam horas intermináveis no trânsito de acesso à ponte na vinda para cá e outras tantas horas intermináveis no acesso à portagem no regresso a Lisboa. E, se alguém quiser vir até cá recorrendo aos transportes públicos, é garantida a enorme dificuldade de conseguir entrar num autocarro no regresso. Por isso, não!, não me atrevo a chamar ninguém da outra margem para vir até cá, seja ao fim de semana (que é impensável!) ou seja durante a semana porque Agosto tem trânsito igual todos os dias. E nesta margem, que eu tantas vezes chamo de Margem Cool, são poucas, muito poucas as minhas pessoas.

E também a solidão dói. E deprime. E corrói cá por dentro. E é como se eu me transformasse num saco de pancada agredido por mim própria. Porque é isso que faço todos os dias de diversas formas. Daquelas que poucos, muito poucos, interpretam como uma auto-agressão. Mas é. Porque, estando sozinha, não há quem me pegue na mão e me puxe de volta à Terra, à realidade (por muito negativa que esteja a ser neste momento), que me diga “eu estou aqui“. Porque, na realidade, não está. Ninguém. E eu, sozinha, já o sei: não aguento.

Apoio psicoterapêutico, sugeriram-me há umas semanas. Confirmei que já tinha consulta marcada para o psicólogo para iniciar o apoio psicológico e a consulta de Psiquiatria também estava marcada. Portanto, à partida, o apoio psicoterapêutico já estaria assegurado. E eu sei a importância que tem o apoio especializado. Psicoterapêutico. Com psicólogo. Com psiquiatra. Mas também sei a importância que tem o apoio voluntário de quem gosta de nós e nos quer ver bem. E se tenho o apoio especializado de psicólogo e psiquiatra, só me fica a faltar o apoio voluntário de quem gosta de mim e me quer ver bem

Porque não!, eu não estou bem. Todos os dias me viro do avesso para encontrar coragem para enfrentar o dia. E descobri a forma mais fácil, que não é necessariamente a melhor: chegar a casa depois da Fisioterapia, almoçar, passar pelo cadeirão enquanto bebo café e faço de conta que o dia já não vai só a meio para depois aninhar no sofá e simplesmente dormir…nunca menos de três horas. Que passam por mim sem eu dar por elas, sem me sentir presa, sem me sentir isolada, sem me sentir sozinha. Sem ter rigorosamente nada para fazer, para me enganar a mim mesma vou pelo atalho do sono e morro para o Mundo por umas horas, só para perceber que, durante esse tempo, também não fiz falta a ninguém, também ninguém deu pela minha falta

Por isso não me digam que eu não estou sozinha. Porque estou! Cada vez mais presa. Cada vez mais isolada. Cada vez mais sozinha! E eu sozinha não aguento

{#218.149.2024}

Falar dói. Falar sobre o que nos dói ainda dói mais. E hoje foi dia de falar.

De manhã acordar a horas por acaso, sem bateria no telemóvel, sem o despertador tocar, claro. Mas ainda assim acordar a tempo de fazer tudo o que era preciso fazer antes de sair de casa e, mesmo assim, chegar a tempo de apanhar o autocarro à hora de sempre. Tinha dado a fisioterapia por perdida quando, ao acordar sem despertador e sem saber que horas eram, olhei para a janela e, a julgar pela luz lá fora, acreditava que já seria meio dia e meia. Não eram. Eram 8h35. Foi fazer tudo a correr, sair de casa às 9h30 sabendo que o autocarro passa às 9h30 e, apesar de a paragem ficar a 500 metros, eu não consigo andar (muito) depressa. Mas hoje consegui provar a mim mesma que, afinal, quando é preciso até consigo. Muitos desequilíbrios pelo caminho, alguns tropeções, mas consegui chegar à paragem do autocarro 30 segundos antes do autocarro. Foi uma pequena (grande) vitória. Que me custou horrores. Por causa das dores, por causa dos desequilíbrios, por não gostar de começar o dia a correr. Mas o que importa é que consegui!

Depois da fisioterapia, seguir para onde queria ir almoçar hoje em Almada. Um calor insuportável. E aquele sítio que nunca fecha, hoje estava fechado para obras de remodelação… Seja! Na cafetaria do Hospital também se come bem e havia consulta marcada para as 15h30.

Seguir (sempre) pela sombra até à paragem de autocarro e, ainda, um calor insuportável. Apanhar o autocarro, seguir para a cafetaria e, naquele corredor, ficar a conhecer a sensação de estar numa fornalha, tal era o calor.

Almoçar, beber café e seguir para a consulta. Um calor mais do que insuportável, infernal! E a consulta naquele edifício fora do corpo principal do Hospital, com uma rampa para subir à torreira do Sol. Bem-vindos ao edifício dedicado às consultas de Saúde Mental do Hospital Garcia de Orta…

Chegar lá e perceber que a sala de espera não tem ar condicionado e a única ventoinha de serviço não era suficiente para acalmar o calor…

Foi dia de voltar à consulta de Psiquiatria. Com aquele psiquiatra que, na primeira consulta em Abril, se apresentou pelo primeiro nome deixando de parte o título de Doutor e o apelido. E que, nesse exacto momento e com essa exacta atitude me conquistou.

A primeira pergunta que me fez eu já sabia qual seria: como é que vai a Depressão? A minha resposta não podia ter sido mais simples: “quanto tempo é que temos?” e, claro, rimos os dois. Porque ambos sabemos que, nas consultas, seja de que especialidade for, o tempo é contado ao segundo. E, da mesma forma que eu sabia que tinha muita coisa para dizer, ele percebeu que havia essa necessidade.

Falei de tudo: do querer chorar e não conseguir, das faltas de resposta concretas e verdadeiras do meu médico de especialidade, do sentimento de solidão e o porquê de me sentir assim, da minha necessidade de falar com alguém que esteja a passar ou já tenha passado pela mesma fase que eu, da minha negação e do ainda não aceitar o que tenho, do desconhecer sequer em que ponto estou para, posteriormente, poder definir o meu mapa. Do não conseguir ainda assumir que não é uma simples condição mas sim uma doença. Que eu não procurei, não desejei, nunca pensei sequer que me fosse acontecer. A mim. E ainda estar na fase do “porquê eu?”…

Disse-lhe que estou frustrada, zangada, revoltada, magoada. E sem respostas do médico especialista. “Acho que é preciso acordarmos o Dr. Miguel”, disse-me ele. E eu disse-lhe que sim!, está mais do que na hora! Só não sei o que fazer mais. Disse-lhe que entendo perfeitamente o caos que deve estar naquele serviço neste momento com a saída de sete médicos mais três de baixa. Mas eu preciso de resposta às minhas questões, e que sejam respostas coerentes, verdadeiras e que não sejam só de dizer por dizer.

No final da consulta fiquei com a sensação de que sim!, o médico de nome próprio que dispensa título de Doutor e o apelido, me entendeu e realmente me ouviu. Decidiu não mexer na medicação porque, afinal, eu até saio de casa todos os dias, para a fisioterapia e para beber um café e, para ele, é sinal de que a Depressão está estabilizada. Mas, para mim que a sinto todos os dias, ela está a agravar-se. Porque, desta vez, omiti pormenores que até de mim tento esconder…

A próxima consulta ainda não foi marcada. Mas já sei que não será com ele. Vai-se ausentar “por uns meses” mas vou continuar a ser acompanhada pelo Dr. Nuno, seja ele quem for. E quando me disse que se ia ausentar “por uns meses” não nego que tremi. Contei-lhe da experiência da psiquiatra anterior com quem só tive uma consulta e que logo de seguida deixou de trabalhar no Hospital. E, muito desanimada fiz-lhe um pedido. “Dr. posso pedir-lhe uma coisa…?” Claro, foi a resposta.”Prometa-me que volta…” Nem um segundo depois, a resposta: “Prometo que volto! Vão ser só uns meses, mas para o ano volto!” Não sei para onde vai, o que vai fazer, mas quero muito que volte! Porque com o médico de nome próprio que dispensa título de Doutor e o apelido houve empatia desde o primeiro dia! E isso é tão importante!

A conversa durante a consulta correu ligeira, mas falar doeu-me. Sobretudo falar sobre aquilo que me apanhou na curva. Pareceu fácil, mas não foi. Tinha (e tenho!) uma grande necessidade de falar sobre isso…

E hoje, já em casa, o telefone tocou. E desta vez houve retorno à minha tentativa de contacto de sexta feira. E, sem darmos muito por isso, assim se passaram duas horas ao telefone. A falar do quê? De mim. Do que se passa comigo. Disto que me apanhou na curva. E, pela primeira vez, foram abordados todos os assuntos relacionados com isto e com o como estou a lidar, o facto de ainda não ter encaixado, de a ficha ainda não ter caído, de ainda estar em negação. Do não pronunciar facilmente o que tenho. Nem com médicos que me acompanham nem com o fisiatra ou as fisioterapeutas. E, agora que penso nisso, nem com a médica de família eu sou capaz de chamar os bois pelos nomes…

E foi então que me caiu uma ficha… Desde sábado que digo que não me lembro da sessão de massagem na fisioterapia de sexta feira. Recordo-me do momento em que a massagista começou a espalhar o creme. Mas não me lembro de mais nada até ela tirar de cima de mim os cobertores quentes. Durante todo o fim de semana me fez confusão não me lembrar de rigorosamente nada da massagem. Foi como se não tivesse acontecido. Mas aconteceu. E hoje, quando começámos a massagem comentei isso com ela. “Como assim? Não se lembra? Estivemos a falar do seu diagnóstico…” e foi aqui que, ao telefone, quando falávamos sobre o não chamar os bois pelos nomes, me caiu esta ficha: simplesmente bloqueei essa conversa da minha memória… Continuo a não recordar os pormenores da massagem em si, mas agora já me recordo do que falámos.

Sei que a mente tem o poder de nos proteger. E não duvido que foi isso que aconteceu… Porque eu não falo do meu diagnóstico, ou do processo até ele, muitas vezes. E, mesmo na fisioterapia, seja com o fisiatra ou as fisioterapeutas, raramente tenho chamado os bois pelos nomes…

Não consigo pronunciar o nome daquilo que tenho, que me apanhou na curva, que eu não procurei mas que me encontrou e veio para ficar para sempre. Nem aqui consigo escrever o nome. Porque, sempre que tenho que o referir por algum motivo, dói. Muito!

E sim, falar dói. Falar sobre isto dói. Mas, se há umas semanas dizia que queria ter uma conversa normal, agora tenho muita necessidade de falar sobre isto. Não sei se me vai ajudar a aceitar. Mas preciso de ter alguém do outro lado da mesa da esplanada, da mesa do restaurante, do banco do jardim, seja lá onde for!, com disponibilidade para me ouvir. E fazer perguntas. E obrigar-me a responder. Pensar, ponderar e responder. Mesmo sabendo que falar dói.

E se chorar óptimo! Afinal, e como foi hoje dito ao telefone, é preciso fazer o luto! Porque quem eu era há 2 anos já não é a mesma que escreve aqui hoje. E o luto tem que ser feito… E por isso escrevo. Mas, o que eu preciso mesmo é de falar, ouvir e ser ouvida. Só assim consigo avançar neste luto que tem que ser feito…

{#217.150.2024}

Domingo com demasiado calor na rua? É sinónimo de ficar em casa, ouvir o meu corpo, obedecer-lhe e simplesmente dormir para descansar (nem eu sei bem do quê…) e recuperar para enfrentar mais uma semana de calor.

Podia dizer que seria para enfrentar mais uma semana de trabalho, mas ainda não. Não me sinto em condições para isso, não só a nível físico como também mental e psicológico.

Amanhã é dia de consulta com o psiquiatra. Admitir que não estou bem. Que a depressão continua presente. Aliás, cada vez mais presente e mais intensa. Sinto-me, na verdade, profundamente deprimida. E com tantas razões para isso. Desde isto que me apanhou na curva e que eu ainda não quis aceitar nem enfrentar continuando à espera de acordar de um longo sonho muito mau, até tudo o que anda à volta disto. A falta de suporte médico, de informação clara e honesta e, muito importante, a falta de acesso à medicação que me vai ajudar a pôr um travão na progressão desta coisa.

E a solidão. Que não mata, mas mói, dói e corrói. Demasiado…

Tudo isto está a contribuir para que me afunde todos os dias mais um bocadinho. E não posso afundar-me outra vez naquele buraco escuro de onde me custou tanto a sair. E não só não posso como também não quero. Por isso, sim!, preciso de ajuda. Mas uma ajuda persistente, correctamente direccionada. Já sei que, de certeza, vai mexer na medicação. Como se o que tomo diariamente ainda fosse pouco…não é. Mas, mesmo tomando toda a medicação, que não é pouca nem ligeira, pelos vistos não está a ser suficiente para eu me aguentar. Aguentar-me a mim e ao peso que carrego às costas à espera que haja um qualquer desenvolvimento nesta história que não escolhi para mim.

Vai ser duro enfrentar o calor previsto para amanhã. Ter que andar na rua para ir à fisioterapia de manhã, almoçar algures no caminho, ir até ao Hospital para enfrentar aquele longo caminho ao Sol até ao serviço de psiquiatria. E, terminada a consulta, enfrentar novamente essa longa distância, novamente ao Sol, para depois regressar a casa e entregar-me ao sofá. Porque, já sei, na minha situação actual, o calor não é nada recomendado. Mas eu preciso desta consulta. Porque preciso de ajuda… Tão simples como isso: preciso de ajuda. Urgente

{#216.151.2024}

E hoje ela bateu palminhas de contente porque foi à praia! E caminhou à beira mar. Em alguns momentos, em algumas ondas, a água chegou aos joelhos. Caminhou. Chapinhou. Deixou os pés serem enterrados na areia a cada nova onda. Confirmou que dar pontapés nas ondas não é boa ideia, mas é uma excelente forma de dar mergulhos de rabo no chão. E só não aconteceu porque ia de muleta à esquerda (a bengala ficou em casa para não se estragar) e apoio à direita.

Já tinha muitas saudades disto. Que é uma coisa tão pequenina para tanta gente e dada por garantida por praticamente toda a gente que consegue ir à praia, mas para mim é um grande feito especialmente por todos os obstáculos que existem para conseguir ir à praia e chegar à beira mar.

Foi a visita dos meus sobrinhos para almoçar que me permitiu ir até ao paredão de carro com o meu irmão.
As escadas de acesso à praia não foram fáceis de descer. E subir de volta ao paredão não foi melhor. Mas fui até lá abaixo! Molhei os pés! Caminhei na areia molhada e à beira mar! Senti as ondas!

Não dei melhor uso ao bikini (novo e giro que dói!) por causa do vento forte e frio. Mas hei-de voltar à praia em breve. E, o que fiz hoje ao final da tarde, foi (para mim) uma vitória!

O acesso ao paredão tem rampas para além das escadas, e a malta agradece.
Já o acesso à praia…? Quem quiser, puder, conseguir!, vai de escadas se fizer muita questão de descer até ao areal!
E eu hoje fiz questão de descer!

Dores horríveis num joelho a descer não prometem nada de bom para subir, mas ou é assim ou não tenho como ir até à praia.
E hoje fui! Desci as escadas, sem pressa, degrau a degrau no meu já habitual devagar, devagarinho. Para subir, será igual. Muito devagar. Muito devagarinho. Mas já posso dizer que sim!, vim à praia este Verão!

{#215.152.2024}

Sexta feira e o total desânimo

E ter medo de desapontar aqueles que ainda apostam em mim. Ele, que mesmo à distância de um clique, me dá força todos os dias só por estar , do outro lado, mesmo a 135 km de distância. E o professor Pedro que, depois de ler o que lhe escrevi ontem sobre a minha frustração, me responde hoje com a indicação de que vai traçar um plano de asanas específico para mim e me indica uma modalidade do Yoga que eu não conhecia e que é específico para quem tem determinadas dificuldades. Como eu, neste momento… É o Iyengar Yoga.

A fisioterapia continua, mas os exercícios não me convencem. Não sinto que me ajudem por aí além. Mas, se tenho que continuar, seja! Acredito que o Yoga me irá ajudar mais (e melhor) com as questões do equilíbrio do que a fisioterapia, mas que raio sei eu? Sei como estou, como me sinto e comparo com o trabalho realizado no Hospital…

30 minutos de Viparita Karani hoje ao final do dia. Que passaram rapidamente. Que souberam muito bem. Que podiam perfeitamente ter sido muitos mais minutos. O professor Pedro sugeriu 15 minutos de manhã depois do pequeno almoço, 15 minutos ao final do dia antes de jantar. Ainda não consegui organizar os meus horários para encaixar os 15 minutos de manhã, mas vou ter que conseguir. Porque me alivia as dores nas pernas, me relaxa, me sabe bem, me faz bem.

Mas o desânimo é total… Só me apetece chorar. Mas, como sempre, não consigo

Já devia estar a dormir? Já. Vontade de ir para a cama? Não tenho. A vontade é apenas uma: chorar.

Segunda feira tenho consulta com o psiquiatra. E vou ter que lhe dizer que estou profundamente deprimida e a precisar de ajuda. E que preciso de chorar e NÃO CONSIGO! Eu sei que é sexta feira à noite, mas segunda feira à tarde ainda parece estar tão longe…e eu não sei até quando e como vou continuar a aguentar tudo isto.

Recordo-me das palavras do psiquiatra quando lhe disse, em Abril, que me sentia sozinha e andava ao sabor do vento. Disse-me: “não está sozinha, Catarina, tem uma vasta equipa de médicos à sua volta a tratar do seu caso”. Passados quase quatro meses, não houve avanços e sinto-me cada vez mais sozinha, cada vez mais ao sabor do vento. E não aguento muito mais

Sim, eu preciso de ajuda. Urgente. E não quero desapontar ninguém: ele, que está sempre lá mesmo que à distância de um clique e o professor Pedro que continua a apostar em mim e a encontrar alternativas para que eu não desista do Yoga, que seria o mesmo que desistir de mim. Mas, acima de tudo e mais importante, não quero nem posso desapontar-me a mim mesma! Mas está cada vez mais difícil…

Já é tarde. Já devia estar a dormir há muito tempo. Amanhã é dia de Yoga no horário habitual mas em local mais distante. Vai mexer com os meus horários e fazê-los corresponder com os horários dos autocarros. E eu não quero ir dormir…quero chorar. E não consigo

Mas, o dia de amanhã, logo se vê. E mesmo esta noite será assim: logo se vê.