Escrevia eu há uns meses, largos como se tivesse sido escrito ontem, que bebia para esquecer. Nunca esquecendo, claro, porque não se esquece. Mas esquece-se para beber. Ou esquecia-me, na altura, quando tanto precisava de parar um bocadinho o Mundo lá fora e esquecer-me dele.
Hoje apetece-me, muito, um copo de vinho. Tinto. Forte. Intenso. Não para esquecer. Nem para esquecer-me. Mas o contrário.
Hoje apetece-me, muito, um copo de vinho. Tinto. Forte. Intenso. Para me lembrar.
Para me lembrar de todos estes meses, longos que parecem ontem, e simplesmente comemorar. Celebrar. O simples facto de estar cá. E quantas vezes nos esquecemos de celebrar o facto, tão simples mas nunca garantido, de estarmos cá?
É aquela coisa do aqui e agora. Porque o ontem já foi e o amanhã…o amanhã quem sabe, sequer, se chega. E também por isso deixei de ter Tempo para perder Tempo. É o aqui e agora. Novamente. Sempre.
E hoje, hoje apetece-me, tanto, um copo de vinho pelo aqui e agora. E por estar cá. E por mim, simplesmente porque sim.
Mas não se bebe sozinho. Bebe-se a dois. Ou três. Ou tantos. Mas não sozinho. Porque o copo de vinho que me apetece faz-me soltar e conversar. Abertamente. Sobre tudo, sobre nada, sobre o que não tem importância, sobre o que é importante, ainda, conversar.
Hoje apetece-me, muito, tanto, um copo de vinho. Mas não se bebe sozinho para não continuar a guardar o que teimo em deixar por dizer.
Celebro, ainda assim, o facto de estar cá. O aqui e agora. O não ter Tempo para perder Tempo.
Porque o ontem já foi e o amanhã…não sei, não sabe ninguém, se sequer chego lá.