Ainda do vinho

Beber para esquecer, dizia eu há dias. Percebi depois que, afinal, é mais esquecer para beber. Porque quem bebe não esquece, mas por vezes para se beber em paz é preciso esquecermo-nos. Nunca de nós. Mas do mundo lá fora. Dos problemas. Dos horários. Das obrigações. Estar apenas ali e logo. Ou, como sempre, no aqui e agora.

Porque, diziam-me em resposta, não se bebe para esquecer. Porque simplesmente não se esquece. Mesmo que bebas para além do limite, no dia seguinte volta a estar lá tudo. E, por vezes, até algo mais. No strings attached, sem compromissos, mas marcado na memória. Claro, está lá sempre tudo para lembrar porque nunca se esquece. Não existe o beber para esquecer. Nem eu quero isso.

Ou quero. Pelo menos por uns momentos. Umas horas. Uma noite, vá. Sempre with no strings attached porque é mesmo assim, porque é o aqui e agora que faço questão de agarrar com unhas e dentes. E, tal como um copo de vinho, ou dois, ou mesmo três, saborear o que o aqui e agora me traz, o que o aqui e agora me dá. Mesmo que aparentemente sem sentido. Sempre sem obrigações. Se calhar até sem objectivo que não o de viver o momento. E sobreviver a todos os outros momentos que vieram antes e aos que acabam, invariavelmente, por vir depois.

Não se bebe para esquecer. Assim como não se bebe sozinho. Porque beber só faz sentido se com companhia. Para falar. Sobre tudo e sobre nada. E ouvir. Ouvir tudo e responder, sempre. Eu, pelo menos. Já pouco me importa se me ouvem a mim ou não. Já não quero saber. Já quis. Não quero mais. Mas oiço. E falo. E respondo. E reajo. Com ou sem vinho. Mas mais com vinho. Porque o vinho me solta e só faz sentido se bebido a dois. A três ou até mais se calhar também faz sentido, não sei. Nunca experimentei. Por outro lado tenho a sensação que as conversas se dispersam ainda mais. E estou cansada de conversas dispersas. Estou cansada de tanta coisa, na verdade.

A dois, um copo de vinho a dois, é tão mais produtivo, tão mais positivo. Bebe-se para esquecer não esquecendo. Esquece-se bebendo também não esquecendo. Mas, por umas horas, esqueço-me. E preciso tanto de me esquecer. Porque estou cansada de me lembrar.

{e disto do beber…falo como se fosse frequente, como se fosse hábito, como se fosse meu costume. Eu não bebo. Por norma. E vinho, bebi-o duas vezes. Mas sim, tenho vontade de repetir. O vinho. E tudo o que vinho me trouxer.}

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One thought on “Ainda do vinho

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