{wake me up if I’m sleeping}

Acordar não vai acontecer. Não de repente, pelo menos. Acordo devagar, vou acordando. Vou percebendo que é mesmo assim, que não é um sonho, que é realidade.

Que há faltas inesperadas que não voltam a ser preenchidas. São faltas provocadas por ausências, são faltas provocadas por actos absurdos, são faltas provocadas por distâncias inultrapassáveis, são faltas provocadas por mal entendidos, são faltas, apenas. E são faltas que não se preenchem.

Faltam-me pessoas, faltam-me gestos, faltam-me palavras. Não minhas, que essas tenho tantas. Sobre tanta coisa. Ou sobre coisa nenhuma. Palavras, dizem-me, nunca me faltam. Mentira, faltam-me tantas vezes as palavras certas, no tom certo, no momento certo. Ditas e ouvidas. Mas, neste momento, mais propriamente ouvidas. Porque ditas tenho-as dito à medida que me permitem dizer. Tudo o que aqui vai, o que não vai. O que é e o que não é.

Falta-me o vinho, novamente. Para me soltar as palavras e para me soltar o sorriso fácil e para me soltar a mente e para me soltar o corpo rendido ao peso do vinho nos joelhos. E faltam-me os cafezinhos para falar de tudo e de coisa nenhuma. E faltam-me os abraços, daqueles apertados, que confortam, que energizam, que recarregam baterias, que acalmam, que transmitem a segurança que, também ela, me falta agora.

Mas…

Mas não me faltam surpresas. Daquelas boas. Visitas pela manhã em pleno caos de mau humor, visitas que relaxam, que me fazem acreditar que sim, que há pessoas grandes, que apaziguam maus humores simplesmente porque se dão ao trabalho de atravessar toda uma cidade numa temperatura de Inferno para estar ali um pouco e falar e ouvir e, lá está, simplesmente estar. E no final de um dia enorme, pesado, infernal de tão quente, deserto de pessoas que não nos sendo nada são quem nos faz continuar a fazer pela vidinha, no final de um dia de desânimo quase absoluto, um convite para jantar “com algumas pessoas que conheces e outras que não conheces mas ficas a conhecer” e cair de paraquedas num jantar de aniversário de quem não conheço em casa de quem não conheço mas que “vou só para dar um beijinho” e saio de lá com beijinhos e abraços. Os tais abraços que me faltam. Tanto. E que surgem quando menos se espera de onde menos se esperam.

Mas continua a faltar o vinho, o cafezinho, as conversas fáceis de tudo e de nada. Os mimos, o colo, o aninhar, o enroscar, sem sim nem não nem porquê nem porque não. Só porque sim. Só porque mexem com as inas, as endorfinas, as serotoninas, até mesmo as dopaminas. E tudo isso acelera a estamina e tudo isso me faz conseguir dar mais um passo em frente.

E esta semana, a semana quase toda, mentira, os 3 primeiros dias da semana, esta semana, são para recolher onde puder, como puder, com quem puder, todas essas inas. Porque dia 19 está ao virar da esquina, e até lá quero, mentira, preciso, de vinho, de café, de pessoas, de toques, de abraços, de beijos, de colos, de mimos, de tudo.

E, se por acaso estiver a dormir, acordem-me. Acordem-me para viver e para voltar ao aqui e agora que anda adormecido, esquecido, trocado por uma ansiedade que hoje anda camuflada mas que, percebo, está cá instalada, mansa, prestes a fazer das suas.

Aqui e agora. Com ou sem vinho, com ou sem café. Mas aqui e agora. Com ou sem colo, com ou sem abraços, com ou sem mimos, com ou sem beijos. Mas aqui e agora. Aqui e agora. Acordem-me se estiver a dormir, porque o importante é aqui e agora. E já.

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