“Tu és instável. Sempre foste.”
Um dia hei-de conseguir não me lembrar disto que me disseste. Não digo esquecer, apenas não me lembrar. Por agora, todos os dias me lembro e todos os dias dias são um disco riscado na minha cabeça. “Tu és instável.”…”Tu és instável.”…”Tu és instável.”…”Tu és instável.”…”Tu és instável.”…”Tu és instável. Sempre foste.”…”Sempre foste.”…”Sempre foste.”…”Tu és instável. Sempre foste.”
…pára! Desliga-te na minha cabeça. Assim como tento desligar-te na minha vida, desliga-te na minha cabeça. Sei que apenas depende de mim. Desligar-te na minha vida e na minha cabeça. Sei que tu, por ti, já me desligaste há muito. E só tenho pena que não te ressoe nada na tua cabeça como ressoa na minha. Mas um dia conseguirei desligar-te. Desligar-te de mim, desligar-me de ti.
Tudo o que sobrou daquilo que nunca foi mais do que nada para ti e sei lá eu o quê para mim, tudo o que sobrou trago riscado na pele. Num desenho que saiu de mim tal como o meu filho, que também era teu, saiu: de dentro. Não sobrou respeito, que te tive tanto durante tanto tempo e que nunca me soubeste ter. Sobrou um desenho na pele que fica comigo para sempre e rancor e raiva e mágoa e……… De mim para ti não sobrou nada de bom. Mas, como tu mesmo dizes, eu sou instável. Por isso se calhar amanhã já não é nada disto e sim o seu contrário.
Não. Não é verdade. Porque amanhã ainda é cedo para fazer as pazes. Não contigo! Porque não se faz as pazes com quem não está presente e menos ainda com quem não quer estar presente. Farei as pazes um dia, sim. Mas comigo mesma. E com o Mundo. O Mundo que desprezo quase tanto quanto te desprezo a ti. Não. Também não é verdade… Não desprezo o Mundo. A ti, neste momento, sim. Mas eu sou instável, não é? Por isso posso oscilar entre a indiferença e o desprezo, não posso? Entre a raiva e a mágoa… Instável, dizes-me que sou…
Serei sempre. Para ti, para o Mundo, serei sempre instável. “Sempre foste.” Mas será nessa instabilidade que continuarei a crescer, que continuarei a aprender a silenciar as vozes, até a tua!, que continuarei a caminhar em frente. Mesmo que, tantas vezes, em frente me leve até à beira do abismo. Porque eu sou instável, sempre fui.
Posso ser tudo aquilo que me quiseres rotular. Mas serei sempre, como sempre fui, muito melhor do que tu alguma vez ousarás sequer pensar ser.
“Tu és instável. Sempre foste.”. Mas nunca deixei de ser eu, igual a mim própria.