Sexta feira e mais um dia em casa. Apesar de estar muito melhor, ainda não estou totalmente recuperada. Ainda me arrasto por pouco. Mas sem dúvida que estou melhor. Já consigo comer, beber e falar. Sem esforço. E isso é bom sinal. A medicação é para manter até ao final, claro, para evitar regressos indesejados.
O que, apesar da infecção, nunca desligou foi a minha cabeça. E dei por mim a falar (ou a escrever…) de saúde mental e da (minha) necessidade de deixar tudo dito. Hoje ficou o apelo a que se recorra à ajuda quando é preciso, porque todos precisamos de ajuda num ou noutro momento. E não é vergonha nenhuma nem sinal de fraqueza. É, sim, sinal de uma força imensa de quem reconhece não estar bem. Força que muitas vezes só se percebe que existe quando mais achamos que não a temos. Não, a saúde mental não pode continuar a ser tabu. Como ainda é em tantos casos…
Não deixar nada por dizer… Aprendi a não deixar nada por dizer. Aprendi que, ao não dizer tudo, somos consumidos pelo que a nossa cabeça carrega. E isso é prejudicial para a saúde mental. E é por isso que decidi que amanhã, último dia do ano, em jeito de mensagem de Ano Novo, vou deixar sair uma parte de mim. De forma ponderada, cuidada e, apesar de tudo, brutalmente honesta. Porque não posso, não consigo e não quero guardar tudo para mim. Não quero ser consumida por isto. Continuo zangada e não quero continuar assim. E deixar sair tudo é uma forma de cura. Durante demasiado tempo guardei comigo o que sentia. E era bonito. Mas neste momento não é. E não quero isso para mim. Também não quero voltar atrás, voltar a ficar no limbo. Quero apenas colocar um ponto final naquilo que já não é nada. Se é que alguma vez foi alguma coisa. Vejo agora que o mais provável é nunca ter sido nada…mas para mim foi.
Estou cansada de ser como sou. Gostava de simplesmente deixar ir o que já se perdeu. Mas não consigo fazê-lo sem deitar cá para fora o que me magoa. Se é bom fazê-lo? Talvez não seja. Mas não consigo ser de outra forma. E é por isso que estou cansada de ser como sou… De sentir tudo de forma tão intensa, o bom e o mau. De deitar cá para fora tudo, doa a quem doer. De ser brutalmente honesta.
Se vai doer? A mim vai. Ao outro lado? É capaz de não fazer sequer uma ligeira mossa. Mas não vou guardar tudo para mim. Termina o ano, termina também aquilo que tenho guardado em mim, comigo.
Felizmente antes de o fazer vou ter consulta com o terapeuta fofinho de manhã. Vou falar sobre esta decisão. E vou confirmar que é só mais uma característica da minha personalidade borderline. Que ainda não entendo na totalidade, mas que começo a reconhecer.
Sou como sou. Sou quem sou. Se queria ser assim? Não. Mas não vou permitir que isto me consuma muito mais tempo. Porque em primeiro lugar estou eu. E está o bem estar da minha saúde mental. Não posso apelar a que todos se preocupem com a sua saúde mental e pôr a minha de lado…
Sim, eu em primeiro lugar. Depois o resto. Porque o resto é o resto. Primeiro estou eu. Depois os outros. Não me preocupa se vai doer aos outros. Continuo a achar que não vai fazer mossa. A mim dói há algum tempo. Mais tempo do que gostaria. Mas que tenho permitido. Talvez pelo medo da perda, do abandono. Tenho permitido manter-me no limbo. Sem rumo. Sem propósito. Sem razão…
Termino o ano e decido que o próximo será melhor. Sem este peso. Sem esta espécie de prisão que é o estar no limbo.
Sei que a única pessoa responsável por isto sou eu. Nunca fui levada ao engano. Fui eu que me enganei a mim mesma durante tanto tempo. E começo agora a tratar de mim como deve ser. Como tem que ser. É hora de soltar e deixar ir. Não é fugir. É não pôr pressão. É simplesmente não querer agarrar-me a algo que faz doer. E que (já) não faz sentido.
Está na altura certa para avançar por mim, para mim. Eu em primeiro lugar. Doa a quem doer. Não deixar nada por dizer.
Vai doer? A mim vai…mas amanhã logo se vê. E é continuar a encolher os ombros, sorrir e acenar…
Foi bom. Mas neste momento já não está a ser…
