E hoje, por uns minutos, a miúda do sorriso fácil que não sorri há algum tempo, sorriu.
Tudo porque, inesperadamente, recebeu uma mensagem que se iniciou ainda nos anos 80 naquela escola preparatória que ainda hoje desperta memórias.
Perguntou o André, talvez meio a medo de não ser lembrado, se ainda me lembro. Claro que lembro! Como não?
Estivemos na mesma turma do quinto ao fim do nono ano. 5 anos. Naquela altura em que estamos a crescer e a tentar perceber o que é, afinal, essa coisa chamada vida.
Com o André aprendi mais do que ele sabe que me ensinou. Ele também não sabe, porque nunca lhe disse, foi o meu melhor amigo naqueles anos.
André Filipe porque havia outro André e era preciso distinguir de qual André se falava. Mas para mim ficou só O André.
Fez-me ganhar o dia no tempo de um intervalo de telejornal.
A vida foi correndo o seu caminho, cada um seguiu para seu lado. Mas é tão bom quando reencontramos alguém (de quem mais ou menos se foi sabendo por onde andava) de quem gostávamos há mais de 35 anos e de quem continuamos a gostar muito.
E, naquele intervalo de telejornal em que estivemos a conversar, tudo o resto desapareceu. A dor de cabeça desapareceu, o peso do meu Mundo às costas, a ansiedade permanente…e o sorriso apareceu.
O André sabe, porque desta vez lhe disse, que me fez ganhar o dia. E tudo só porque queria saber como estou, depois de se ir cruzando com o que escrevo.
E, às vezes, são estas coisas aparentemente pequeninas que fazem toda a diferença numa pessoa sozinha como eu.
Muito obrigada, André. E vou seguir a tua prescrição: ouvir Nosferatus 3 vezes ao dia! Mas, quando for o concerto aos 50, quero assistir! Nem que seja por vídeo!
(Isto à hora de almoço. Mas as memórias continuaram a surgir durante a tarde…)
A caminho de mais uma consulta, e continuam a chegar memórias do e com o André. Como naquela tarde em que não tínhamos aulas, reunimos o grupinho do costume e nos fomos sentar no topo de um monte de, oh espanto!, brita! Havia por ali obras e, sem nada mais interessante para fazer, foi ali que nos sentámos. E foi ali, com o André, que fumei o meu primeiro cigarro. Que idade tínhamos? Não sei, nem me interessa, não é importante.
Também me lembro do dia em que fomos ao Convento que havia perto da escola para irmos comprar bolachas às freiras. “Mántêga, avêia ou côcô?” Nunca mais me esqueci. E também não me esqueci que as bolachas de aveia que comprámos naquela manhã em que tivemos um furo no horário das aulas eram muito boas. Questiono-me muitas vezes se o Convento ainda estará activo. E se continuam a vender bolachas. De quê? De mántêga, avêia ou côcô, claro.
E ainda houve aquela tarde, já perto do final do ano, em que, depois de uma aula de Educação Física e ainda à porta do pavilhão dos vestiários, decidimos jogar à bola com a bola…do André, claro. Estava a ser uma jogatana simpática e interessante até que alguém, conhecida pelo pontapé forte na bola ainda que sempre desorientado, atirou com a bola para o telhado do pavilhão em frente. Um pavilhão de dois andares. Agora, se esse alguém do pontapé forte na bola ainda que sempre desorientado fui eu, não confirmo nem desminto…
Enfim, são muitas as recordações que tenho do André. Por isso me soube tão bem aquela mensagem no intervalo do telejornal. E assim, de forma tão simples, se ganha o dia inteiro!
