Monthly Archives: June 2024

{#162.205.2024}

Esta tarde o Mar estava muito calmo, praticamente sem ondas. Mas, ainda assim, duas raparigas nas suas pranchas tentavam apanhar o que, de vez em quando, aparecia. Até que uma delas desistiu e voltou para terra. A outra, agora sozinha num Mar sem ondas, sentou-se com a prancha entre as pernas e deixou-se ficar. Simplesmente ali. Sozinha. Ela, o Mar e o que quer que fosse que se passasse naquela cabeça.

E é isto, precisamente ISTO que eu invejo nos surfistas. Este momento. De reflexão? Talvez. De relaxamento? Provavelmente. Mas é um momento que considero quase perfeito. Sei que, para mim, seria um momento doloroso, porque seria eu, a prancha e as vozes na minha cabeça…

Gostava que me dissesse, quem faz ou já fez surf, se neste momento as vozes se calam…
Para mim, já o disse, seria doloroso. Não só pelas vozes na minha cabeça mas também pela solidão. Porque NÃO está lá mais ninguém. E eu sei tão bem, bem demais!, o que é não estar lá mais ninguém… E é das coisas que mais me dói…

Independentemente de ser ou não um momento de solidão, é dos momentos mais bonitos do surf. Apanhar as ondas? Atravessar correntes e vir ter a terra? Equilibrar-se em cima de uma prancha enquanto esta rasga o Mar? Claro que tudo isso é bonito de assistir. Mas ficar a ver um surfista sentado na prancha, em silêncio, num Mar sem ondas, sem mais ninguém por perto…a simplesmente estar ali, a viver aquele momento…é único. E é lindo.

Tenho que voltar à praia rapidamente. E começar a controlar as marés. Para saber quando é que posso ir caminhar à beira mar. Tenho tantas saudades de o fazer. O ano passado já senti alguma dificuldade em caminhar na praia, especialmente na areia seca e, ao aproximar-me da beira da água, lembro-me que o movimento das ondas me desequilibrava. Muito. Mas este ano quero superar isso, quero poder caminhar na areia molhada e sentir a rebentação nas minhas pernas. Bem…pelo menos até aos joelhos. Não me sinto confiante para mergulhos. Mas quero sentir a água a molhar-me os pés, a cobri-los. E os pés a enterrarem na areia com a chegada das ondas…

Claro que, para caminhar à beira mar, tenho que contar com a presença da minha mãe, o meu grande, enorme!, apoio.

Esta semana já sei que, à tarde, a maré vai estar cheia. Por isso, aponto para as tardes da próxima semana voltar ao paredão e descer até à praia. Sei que não terei aquele momento de estar sozinha comigo mesma em cima da prancha num Mar sem ondas. Mas sei que me fará muito bem ir até lá abaixo e sentir o Mar a tocar-me a pele…

{#161.206.2024}

Diz o Google Maps, muito seriamente, que de minha casa à escola onde está a assembleia de voto, é uma caminhada de meros 20 minutos. Quando vi isto, claro que comecei a rir. Porque sabia que, para pessoas ditas normais, seriam 20 minutos. Ir, votar e voltar, qualquer meia horita e estava feito, certo? Pois…

Saí de casa às 12h40. Segui em direção à escola que fica DO OUTRO LADO da vila. Ao chegar ao centro da vila, ainda longe da escola, já os 20 minutos estavam esgotados.
Parei para beber um café e, claro, descansar um bocadinho. Não demorei mais de 10 minutos na esplanada. Queria despachar o voto rapidamente para voltar para casa e saborear o Domingo. Que, no fundo, é o mesmo que saborear o sofá.

Segui caminho até à escola. Para variar, na minha mesa de voto, a fila era pequena. À minha frente apenas uma pessoa à espera enquanto, lá dentro, outra votava. Chegou a minha vez (prioridade? Yeah, right…talvez se levasse muleta como em Março quando me mandaram passar à frente de toda a gente. Agora, com uma bengala, ainda por cima gira e florida? Não acontece. Em lado nenhum…). Entrei, votei, saí. Às 13h55 estava despachada. Mas, mais uma vez, antes de seguir caminho, tive que me sentar para recuperar e descansar. Estas pernas já viram melhores dias e menos dores.

Hora de voltar para casa. Dever cumprido.
O caminho para casa fez-se ao mesmo ritmo que o caminho até à escola: devagar, muito devagar, mesmo devagarinho.

Regressar ao centro da vila, encontrar um banco de jardim (coisa rara nesta terra! Muito rara mesmo!), descansar mais um pouco e dizer às minhas pernas “aguentem-se só mais um bocadinho, estamos quase lá”, sabendo perfeitamente que ainda faltava o quase!

14h55 e faltavam “só” 900 metros até casa. Bora! Siga caminho! E as minhas pernas a dizerem “ir a direito? Não nos apetece…” Eram só 900 metros. Mas houve muitas paragens pelo caminho. Porque as dores já eram muitas…

15h50 e finalmente entro em casa! TRÊS HORAS depois entro em casa! Já passava largamente das 16h e ainda não tinha almoçado! Mas porra! FUI votar! Não assino cheques em branco!

Agora pergunto: se eu, com tantas dificuldades e limitações em andar, FUI votar, porque é que TU não foste?!

E, um dia, deixas de lutar contra o óbvio e aceitas que está na hora de começar a usar a bengala em casa. E esse dia foi ontem.

Apoiar-me nas paredes e nos móveis já não era suficiente nem para ir da sala à cozinha, ao quarto ou até à casa de banho… Já não me bastava andar de bengala na rua. E agora na rua só a bengala já não me chega. A bengala apoia-me à esquerda, a minha mãe apoia-me de braço dado à direita…

Já tinha passado esta fase. Depois das 30 sessões de fisioterapia no hospital já caminhava muito melhor, tendo chegado a fazer 3 km de caminho sem qualquer tipo de apoio. Mas depois acabou a fisioterapia no hospital… Começou em clínica com um trabalho muito diferente, mas com o mesmo objectivo.

Depois veio o calor. Que, já me confirmaram, é um grande inimigo desta coisa que me apanhou na curva e cujo nome ainda não consigo pronunciar, nem sequer escrever. Ainda estou em negação…

Depois veio uma infecção com direito a um acessório médico que não me permitiu voltar à fisioterapia. E uma semana e meia sem fisioterapia, especialmente já tendo havido regressão por causa do calor, faz muita diferença. E hoje, quando fui votar, percebi bem o quanto piorei em tão pouco tempo. Por isso não me admira que, ontem, tenha cedido à bengala em casa…

Se eu queria isto tudo? Claro que não. Nunca procurei nada disto. Mas, numa qualquer dessas curvas da vida, fui apanhada no caminho.

Por isso, não!, não estou nada animada. Nem com espírito positivo. Adorava poder andar um ano para trás, quando tudo ainda era o dito normal. Infelizmente não posso. Por isso, para já, há que aceitar o novo normal.

Aceitar a doença, essa, vai ter que esperar mais um bocadinho. Continuo em negação… Não sei quando é que começarei a aceitá-la, mas sei que vai doer! Muito! E, neste momento, ainda em negação, estou a tentar proteger-me daquilo que, já sei, vai doer e para quem ninguém está preparado……eu sei que eu não estou…

Quando regressava para casa, depois de votar, disse à minha mãe “apetece-me desligar-me do Mundo”. “Só desligas do Mundo se fores dormir”, respondeu-me ela. Expliquei melhor: não é desligar-me do Mundo nesse sentido. É continuar a fazer as minhas coisas, mas sem OUVIR o que se passa no Mundo ou à minha volta.

Estávamos, nessa altura, a chegar à rotunda da entrada da Costa, e aquele ruído do trânsito (e não era dos piores dias!) estava a incomodar-me. Assim como o som dos aviões que iam passando lá em cima. Ou até as vozes das pessoas que passavam por nós.

Tudo me estava a incomodar, a fazer-me uma grande confusão na cabeça. Como, nos últimos tempos, tudo me incomoda. O Mundo incomoda-me…

Disse-lhe que sabia como desligar do Mundo e continuar a fazer as minhas coisas: pondo os phones e ligando a música. Sempre abafa um bocadinho o ruído na minha cabeça e o desconforto que o Mundo me provoca.

Normalmente ligo a app da rádio. Sempre vou ouvindo as notícias, pessoas a falar e música. Mas, ultimamente, até isso me incomoda. Por isso opto pelo Spotify. Tem anúncios de tempos a tempos, tem a música que eu escolhi e tem sugestões. Não incomoda tanto, mas…

O ruído na minha cabeça continua e desligar o do Mundo, pelos vistos, só vai mesmo acontecer quando for dormir…

Por isso agora, tenho ali mensagens para responder. Desde manhã. Que ainda não respondi por medo. Medo que este nó no estômago se desfaça e as lágrimas comecem a cair. Porque, um dia, elas VÃO ter de cair. Ando há mais de um ano a dizer que não consigo chorar…e vou ter que conseguir. Um dia…

Vou responder às mensagens. De phones postos. Mas sem música. Sem nada. Talvez assim consiga desligar um bocadinho do Mundo enquanto respondo e digo como estou. Spoiler alert: estou tudo menos bem. But who cares anyway?

{#160.207.2024}

Dizem-me, na sequência do post de ontem, que devia começar a minha rede de apoio por amigos que estão perto, para o caso de um dia eu vir a precisar de ajuda e não ter a minha mãe por perto. Faz sentido. Mas o pior é que também não tenho amigos por perto. A que mora mais perto está quase a 10km daqui.

Depois há a amiga da minha mãe que, ou foram as duas às compras ao supermercado, ou está sempre ocupada e não por aqui. Por isso, sim, estou aqui sozinha…

O resto? São muito raros os que querem saber. Fui à urgência na semana passada, apenas UMA pessoa, que nem mora perto, me perguntou o que se passou. E que, durante a semana, me perguntou se já estava melhor. A ela agradeço, claro que sim. Mas falta o resto. Falta o “vamos beber um café, eu vou-te buscar e conversamos um bocadinho”.

Tenho muitas saudades de ter com quem conversar sem ser sobre esta merda que me apanhou. Ter uma simples conversa normal.
Converso muito com a minha mãe, claro que sim, mas acaba sempre por ir dar ao mesmo: o meu estado. Sei que para ela também não está a ser fácil, mas ainda é a única pessoa que ainda me vai dando a mão. E o braço para me apoiar quando caminho. Porque estou outra vez a caminhar com dois apoios: de um lado a bengala (que hoje, pela primeira vez, comecei a usar EM CASA) e do outro lado de braço dado com a minha mãe.

Já estive MUITO melhor. Já ia (e voltava) ao Yoga sozinha. Já não consigo novamente…Dizem-me que o calor faz regredir os sintomas e foi com os dias quentes que estiveram que perdi a independência que tinha ganho ao fim de 30 sessões de fisioterapia.

Eu não quero falar desta merda. Eu quero ir beber um café com alguém. Ou jantar fora. Ou ver o pôr do Sol. O que for! O que eu quero é passar por um momento de normalidade com alguém que faça parte daquilo a que eu um dia chamei “a minha rede”.

Estou zangada. Muito zangada. Acima de tudo comigo mesma! Porque foi a mim que apareceu esta porcaria que eu não procurei. Mas, bolas!, não deixo de ser eu!

Sempre fui muito dada a estar/ficar sozinha. A minha mãe sempre me disse que eu me isolava demais. Mas, neste momento, esse isolamento, esse afastamento, está a ser-me imposto por quem, pelos vistos, NÃO QUER estar presente.

Sim! Sinto-me MUITO sozinha. E não é só por causa da porcaria que me apanhou na curva. Eu só quero ir beber um café. Jantar. Ver o pôr do Sol. O que seja! E ter uma conversa de pessoas normais! Nem que seja só sobre o estado do tempo!

Eu preciso de pessoas. Das minhas pessoas. Daquelas de quem eu gosto e que achava que gostavam de mim. Preciso de interacção com essas pessoas! Porque sim!, fui apanhada na curva por uma merda de uma doença, mas caramba!, eu continuo a ser EU!

Não está fácil. Lidar com a solidão nunca foi fácil. Mas acho que também nunca foi tão difícil…

{#159.208.2024}

Mais um dia de tempo instável e com trovoada. Mais um dia de muito mau humor.

Diz quem sabe mais e melhor que eu que, também isto, faz parte. O calor é o maior inimigo desta coisa que me apanhou na curva, agrava os sintomas, faz regredir os processos de recuperação. Essa parte já tinha aprendido. Agora, ao que parece, dias de trovoada influenciam negativamente o humor. E nos últimos dias tenho sentido isso. Por isso é bom que o tempo estabilize rapidamente porque eu já não tenho paciência para me aturar a mim mesma…

Também me dizem, directamente e sem rodeios: “Não tenho frases inspiradoras, Catarina. É uma merda. É. Há dias em que até parece que não é e depois noutros é uma merda desde que acordamos até que deitamos. Nesses dias dormir, se possível, é uma boa opção.” Deve ser por isso que tenho optado por dormir sempre que me é possível. Claro que depois fico a sentir-me completamente inútil, que também não ajuda em nada. Mas, na verdade, acho que o sono no sofá é, neste momento, o meu melhor amigo.

E, por falar em amigos: as redes de apoio deveriam ser constituídas por amigos. Aqueles que nos conhecem. Nos aceitam. Nos querem ver bem. E que, nestas alturas mais difíceis e complicadas, se deveriam fazer presentes. Não está a acontecer…a última vez que vi quem diz que me quer bem foi no 29 de Março…não querendo fazer contas, mas já fazendo, já se passaram mais de dois meses. E os telefones, o Messenger, o Instagram e o Whatsapp funcionam nos dois sentidos. Mas, quando percebo que as mensagens simples que envio ficam sem sequer serem abertas para ler, desisto. Eu não sou de desistir, muito menos quando gosto realmente das pessoas a quem ainda tento enviar simples mensagens. Mas, quando percebo que o meu esforço é inglório, desisto.

Continuo a dizer: os telefones, o Messenger, o Instagram e o Whatsapp funcionam nos dois sentidos.

E depois não me digam que não estou sozinha. Porque, está visto, estou cada vez mais sozinha. E tudo o que preciso neste momento é de uma rede de apoio. De preferência de quem me conhece. Como essa rede não existe nem, pelos vistos, virá a existir, vou ter que procurá-la e criá-la noutro lado…e não era isso que eu queria. Achava que tinha tudo o que precisava por perto. Já percebi que não. Portanto, siga! Vou construir uma rede de apoio noutro sítio. É mais fácil e mais confiável.

O resto? O resto é só isso mesmo: o resto. Afinal, os Pinguins de Madagáscar têm razão: sorrir e acenar. Eu vou continuar no mesmo sítio, fácil de encontrar e alcançar. Só não o faz quem, de facto, não o quiser fazer.

{#158.209.2024}

A tão desejada quinta feira chegou. E, com ela, logo de manhã, a ainda mais desejada retirada dos acessórios médicos indesejados que me acompanharam desde Sábado. E a confirmação, após a retirada, que tudo está 100% funcional. Foi um peso que me tiraram de cima. Senti-me verdadeiramente livre e quase normal.

Quase normal porque, fiquei mais tarde a saber, as infecções afectam grandemente os sintomas disto que me apanhou na curva. Sintomas que, já tinha percebido, estavam piores. Como os desequilíbrios. Caminhar, mesmo com o apoio da bengala, tem sido difícil. Muito difícil de fazer equilibrada.

Com o que sucedeu no Sábado passado a fisioterapia teve que ser interrompida, claro. Será retomada na próxima semana, quarta feira logo de manhã. E está a fazer-me muita falta voltar a trabalhar o equilíbrio.

Entretanto, chegar a casa, almoçar e simplesmente apagar no sofá. Estava, claro, muito cansada e o corpo pediu-me para dormir. Obedeci-lhe. Foram 2 horas de sono profundo. Mas o acordar…

Acordar sem saber onde estava. Se em casa de uma amiga da minha mãe ou na minha. Por momentos, não saber sequer quem eu era. O que se tinha passado. Em que dia estava… Muita confusão na minha cabeça até que as peças, lentamente, começaram a encaixar como peças de Lego.

Intolerância ao ruído. Impossível ouvir o som da televisão. A confusão na minha cabeça, apesar das peças terem encaixado, continuava.

Ir à rua. A medo, confesso. O desequilíbrio mesmo com a bengala e eu sozinha na rua, a grande confusão na minha cabeça. Ida pacífica à mercearia e rumar à esplanada do costume. Impossível ficar no interior da esplanada. Demasiadas pessoas a conversar demasiado alto e a minha cabeça, ainda muito confusa, a dizer-me “aí não”.

Fiquei do lado de fora. Menos ruído, menos confusão, mas não necessariamente sossegado.

Vontade de conversar. Mas sem coragem de enfiar os phones nos ouvidos para ouvir pessoas a falar directamente para mim dentro da minha cabeça. A música, baixinha e escolhida numa Playlist de Spotify mais sossegada ainda tolerava. Mas só de pensar em conversar com alguém com aquela enorme confusão mental era impossível…

Liguei à minha mãe. Não (só) para me ajudar no caminho para casa mas para ficar um pouco comigo na esplanada e conversar comigo. Já não me lembro do que falámos para além do meu estado actual. Mas era preciso estar ali por um bocadinho, a descomprimir. Estou cansada de estar em casa. E farta de estar doente, sem acompanhamento nem medicação. Nada…

Para amanhã quero ir ou até ao parque ou até à vila. Mas o grande, enorme objectivo é ir até ao paredão ver o Mar. Duvido que consiga ir até lá. As pernas, porque as sinto, estão cada vez mais fracas e o desequilíbrio cada vez mais presente e acentuado.

Mas eu quero superar tudo isto! Sei que não tem cura. É uma doença neuro-degenerativa progressiva. Mas não vou permitir que o meu corpo desista. Não já! Por isso, amanhã vou andar. E o pouco que conseguir andar, vai ser muito para mim! E eu quero todos os dias ir um bocadinho mais longe. Porque eu não quero nem posso desistir de mim!

Agora só me apetece chorar. Claro que não choro. Não consigo. Continuo sem saber porquê, mas simplesmente não consigo chorar. Provavelmente por ainda me dizer a mim mesma que estou em negação. Que há aqui um engano qualquer. Que isto não me está a acontecer. Que é tudo um sonho mau. Mentiras que digo a mim mesma. E que, talvez por isso, não consiga chorar…

Não, hoje não quero pensar mais. Em nada que não em tratar de mim. Amanhã? Logo se vê…mas por hoje não quero pensar em mais nada.

E, por hoje, termino com algo que já disse antes: ESTOU FARTA DISTO!

{#157.210.2024}

Quarta feira e a quinta feira de manhã que nunca mais chega…!

E hoje, por algum motivo que não identifico a razão, o dia termina com muito mau humor

Mas são 366 dias. Que, num ano bissexto como este, significa 1 ano. Um ano desde aquele Olá que deixei numa rede social para quem o quisesse receber. E houve quem quisesse. E mantém-se presente um ano depois. Um ano de partilhas. De descobertas. De reciprocidade. De tudo. E, nesses 366 dias, também tive dias de humor menos recomendável. Também tive dias de grande desânimo. Também tive dias perdida por aí. Mas, mesmo com tudo isso, 366 dias depois, um ano depois!, quem chegou nesse dia mantém-se. Sempre presente à distância de um clique. Apesar de tudo o resto.

Nunca pensei que pudesse ganhar tanto num ano. E não falo de ganhar coisas tangíveis, palpáveis, visíveis. Mas ganhei. Tanto. Se tenho medo de perder? Todos os dias tenho medo de perder. Mas tento não pensar nessa possibilidade e levo tudo um dia de cada vez. Como tudo o resto, afinal.

O que é certo é que o que já ganhei, o que já tenho, as histórias, a História, as memórias, as tatuagens na memória, isso ninguém me pode tirar. E já se contam 366 dias. Um ano. Que passou devagar. Que passou a correr. Nem sei como passou. Só sei que passou. Um ano.

Continua a ser à distância de um clique. Falta-me o toque. O cheiro. O beijo. A pele com pele. Mas tudo o resto está cá, aconteceu sem nada disso. Existe. É real. E só isso importa.

Um polvinho. Uma corujinha. E o resto não interessa. Porque para eles é inegável o que existe.

366 dias. Um ano. E será até quando tiver que ser. Sempre um dia de cada vez.

E, o muito mau humor que se tinha instalado ao final do dia, parece ter-se desvanecido só por relembrar estes 366 dias que são um ano. E se isso não é algo mágico, bonito e positivo, então não sei o que será.

Amanhã? É a tão desejada quinta feira. Onde espero voltar ao normal, ao que era antes de sábado passado. Por isso, não vou pensar no que de menos bom possa acontecer. Vou acreditar que o pior já passou. E que amanhã vai ser um bom dia.

{#156.211.2024}

Terça feira. E nunca mais é quinta! Para ir ao Centro de Saúde logo de manhã e voltar ao normal, sem acessórios que nunca pensei em usar. E que, neste momento, só me dão vontade de gritar bem alto que ESTOU FARTA DISTO! Espero que seja uma vez sem exemplo e que, depois de retirado o acessório, o meu corpo volte ao normal e não repita o episódio de sábado! Não me vejo capaz de suportar tamanha mudança. Ao todo, vão ser praticamente 6 dias desta experiência surreal que não quero para mim. E o medo do que pode vir depois é grande.

Dizem-me para não pensar nisso. Mas não me dizem como é que não se pensa em algo que pode, efectivamente, acontecer.

Os últimos meses têm sido uma aventura atrás da outra. E eu preciso de ajuda para aguentar tudo isto. Porque, sozinha com a minha cabeça, eu sei que não vou conseguir suportar tudo.

E se até quinta feira que é já depois de amanhã, até Julho, primeira consulta com o psicólogo, falta uma eternidade… Até lá ainda irei dizer muitas vezes que ESTOU FARTA DISTO!

E volto a perguntar: porquê eu?! Já sei que não há resposta para isso, mas a pergunta vai existir sempre…e a vontade já nem sei qual é! Se é gritar, chorar, baixar os braços, desistir, sei lá eu qual é a minha vontade! Só sei que ESTOU FARTA DISTO!

E depois há quem me diga “vais ficar boa!”. Não! Não vou! Já lhes disse que não vou. Mas insistem. Até entendo que o façam, mas não me ajuda em nada. Porque, quando uma doença não tem cura, dizerem-nos que vamos ficar bem é quase como se gozassem connosco…

Eu tenho que conhecer pessoas na mesma situação que eu. Disso não tenho dúvidas. Para poder partilhar experiências, vivências, conhecer esta nova realidade. E saber com que contar.

Não sei se o episódio de Sábado está ou não relacionado com isto que me apanhou na curva. Mas acredito que sim. E, se assim for, não é bom sinal. E eu não quero passar por isto novamente.

Neste momento sinto-me muito perdida. A médica que me poderia dar algumas respostas está de férias, só regressa dia 25. A médica de família não sei se vai poder ver-me na quinta feira. O especialista que espero desde Fevereiro nunca mais me marca consulta. O psicólogo só está marcado para 17 de Julho. O psiquiatra para 5 de Agosto. E eu, no meio disto tudo, sozinha sem saber o que fazer, o que pensar, o que sentir, o que esperar…

ESTOU

FARTA

DISTO!

Posso voltar ser quem era antes disto? O pior é que sei que não posso…

Enfim. Hoje é terça feira. Faltam 10 minutos para ser quarta feira. O que quer dizer que quinta feira está quase aí!

…mas ainda falta o quase…

{#155.212.2024}

Segunda feira. Que, até quinta, vai parecer Domingo. É muito tempo. São muitos dias. Na realidade já só faltam 2 dias, mas que vão parecer uma eternidade sair de casa, apesar de não ser impossível, quando se anda a passear alguns acessórios (médicos) é coisa que não apetece fazer.

E como é que passo o tempo? A dormir. Tão simplesmente a dormir. Não quero. Não quero continuar assim. Mas também não encontro alternativa para este momento.

Gostava de perceber o que aconteceu com o meu corpo no sábado. Liguei para o hospital para tentar falar com a Fisiatra. Melhor do que ninguém, ela poderia explicar-me. Só que a resposta foi “a Doutora está de férias, só regressa dia 25 de Junho”. Está bem…

Quinta feira, quando for ao Centro de Saúde, vou tentar chegar à fala com a médica de família. Pode ser que tenha sorte e consiga. Só quero que alguém me explique o que aconteceu… E, sim!, tenho muito medo que se repita ou que continue igual ao que estava Sábado antes deste novo acessório que trago comigo…

Tenho medo do que está a acontecer. Não nego. E, por isso mesmo, preciso que alguém me explique…

Até quinta feira de manhã logo se vê. Mas espero voltar à normalidade quase no imediato…

Vamos ver. Amanhã, terça, vais ser mais um dia entre o sofá e o cadeirão, com eventual regresso à cama depois do pequeno almoço às 8h. De resto? O que me aconchega é poder comunicar com quem está longe, à distância de um clique. Caso contrário, era caso para enlouquecer…

{#154.213.2024}

Domingo e hoje o meu corpo disse-me: “hoje vais ter que parar e descansar”.

E, desta vez e depois de ontem, ouvi-o e obedeci-lhe.

Amanhã não deverá ser muito diferente, já que não posso ir à fisioterapia e à rua só a muito custo. Por isso, já sei: os próximos dias serão ainda mais lentos e aborrecidos do que o habitual.

Seja! O meu corpo é que sabe o que é melhor para mim. E eu só tenho que o ouvir e obedecer. Nada mais importa neste momento. Só eu.

{#153.214.2024}

Mais uma voltinha, mais uma viagem. No carrossel da urgência hospitalar. Alguma coisa no meu corpo deixou de funcionar. Não sei porquê. E não entendo que uma simples infecção urinária tenha resultado no que resultou. Não, não foi de todo uma situação normal. Durante a semana tentarei entrar em contacto com a médica especialista para tentar perceber o que aconteceu.

Posso dizer que foi uma experiência surreal. E, até quinta feira, vai continuar a ser. Ganhei um novo acessório, felizmente temporário, para o qual ninguém está preparado. Eu sei que não estou.

S

U

R

R

E

A

L

Vamos esperar para ver o que vai sair daqui…