Daily Archives: 18/03/2025

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Deve ser a isto que chamam de “céu em degradé”…

À hora de almoço foi assim que fui recebida no caminho de casa. Quando saí do autocarro, a mancha cinzenta escura deixava o Mar, já ali ao fundo da rua, e dirigia-se para Almada, exactamente na direcção oposta. Antes de ir para casa, a paragem obrigatória na esplanada do costume para um café e, no caminho de casa, a breve descarga da nuvem cinzenta escura. Nuvem essa que se deslocou a uma velocidade impressionante para Almada.

Depois da passagem da nuvem cinzenta escura o céu limpou quase totalmente. Não voltou a haver sinais de chuva. E, antes do mergulho na linha do horizonte, o Sol ainda encontrou o caminho até à minha janela. Já começou aquela altura do ano em que finalmente o Sol entra pela minha janela. E hoje entrou também pelos meus olhos enquanto lhe sentia o calor no meu rosto.

E são estes pequenos momentos e pequenos pormenores que fazem o resto da tarde valer a pena. Assim como outros pequenos momentos e pequenos pormenores que se podem traduzir em sentir intensa e profundamente e que não têm lugar aqui para todos, à vista de todos.

Não serão momentos de céu degradé e de nuvens cinzentas escuras e fugidias, nem tampouco de dança do Sol antes do mergulho na linha do horizonte onde o céu se funde com o Mar. Não. São momentos e pormenores que não me atrevo a chamar de pequenos porque são imensos, intensos, sem tamanho. Gigantes. Nossos. Só nossos. Meus e dele. E são esses momentos e esses pormenores gigantes sem tamanho que fazem tudo o resto valer tão a pena. Porque é-me suficiente sabê-lo ali. Para mim. Por mim. Para nós. Por nós.

Hoje foi só um breve momento de céu degradé de uma nuvem fugidia. Amanhã? Martinho promete não ter pressa de ir embora e traz com ele uma coberta negra enorme que vem para se desfazer por aqui. Mas não me importo. Porque, e devo agradecer ao temperamento forte e intenso de Martinho, não vai haver pressa de horários a cumprir e o tempo que estiver disponível nas nossas mãos será para ser vivido e sentido intensamente a dois. Só eu e ele. Como aquele momento em que o céu se funde com o Mar…