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De Janeiro a Junho. São apenas 5 meses. Não chega a meio ano. Não parece muito tempo. Mas é. É até demasiado tempo. Faz 5 meses que esta encomenda chegou. Faz 5 meses que a caixa por baixo que contém algo que me vai ajudar a trabalhar o equilíbrio em casa ainda não foi aberta. Faz 5 meses que aquelas bolas compradas para me ajudar em alguns exercícios neurológicos estão por encher…

Durante 5 meses estiveram na sala em cima da minha mesa do computador, aquela mesa que eu uso em teletrabalho e que desde Setembro de 2023 não é utilizada para trabalhar e que não sei quando voltarei a usar. Mas algum dia terá que ser…

Tudo isto está há 5 meses à espera. À minha espera. À espera que eu lhes mexa. Há 2 dias trouxe tudo isto para a varanda. Menti a mim própria e convenci-me que estou preparada para isto. E percebo agora essa mentira que contei a mim mesma. Não estou preparada para isto…

Abrir estas caixas, encher estas bolas, confrontar-me com o “antes” e o “depois“. Antes e depois do diagnóstico. Aquele que eu faço de conta que já aceitei. Aquele que justifica tudo aquilo que me é difícil de fazer e que sempre dei por garantido. Aquele diagnóstico que me faz querer chorar de revolta e frustração. E que não consigo chorar…tão simples e tão complicado quanto isso: não consigo chorar…!

Diz-me a Neuropsicóloga que eu preciso muito de chorar. Percebeu isso nos meus olhos em 5 minutos de consulta quando a máscara, da qual não abdico, escondia a minha expressão.

Tenho medo de abrir estas caixas, de encher estas bolas. Por tudo o que representam e por tudo o que me fazem sentir. Da mesma forma que tenho medo de chorar

Diz-me a Neuropsicóloga que eu não consigo chorar porque estou, inconscientemente, a proteger-me e a bloquear o sofrimento que esse acto de chorar me irá trazer. E o mesmo se passa com a abertura destas caixas, o encher destas bolas. É auto-protecção. E medo. Muito medo.

Tenho medo de chorar. E, por muita vontade que tenha de chorar, não consigo fazê-lo.

Preciso de alguém fisicamente ao meu lado. Que me dê a mão e me garanta a segurança que preciso para conseguir soltar toda a revolta e toda a frustração

Isto que me apanhou na curva atingiu-me onde me dói mais: na minha confiança em mim mesma. Aquela que nunca tive muita mas que, mesmo não sendo muita, nunca me impediu de, pelo menos, tentar. Perceber até onde conseguia ir. E quando percebia que me faltava algo, voltava ao ponto de partida e seguia outro caminho. E neste momento não há sequer como voltar ao ponto de partida. Porque aquilo que sempre dei por garantido começa a fugir-me e não tenho como o recuperar…

Abrir estas caixas, encher estas bolas, aquele encontro comigo mesma numa nova realidade que não aceito. E, por não aceitar, acredito que consigo atingir objectivos irreais que proponho a mim mesma como sendo um acto de superação. Não consigo. O meu corpo não me permite alcançar essa superação que procuro. Essa superação que procuro e que, neste momento, já não sei onde encontrar.

5 meses de caixas à espera de serem abertas. Que não aceito que sejam abertas por mais ninguém. Serei eu a abri-las e a confrontar-me com a minha nova realidade que ninguém sabe nem imagina como me dói. Dói. Muito. E preciso de deixar sair essa dor. Dor composta por raiva. Revolta. Frustração. E mil perguntas sem resposta…!

PORQUÊ EU?!……não há resposta, dizem-me. E eu preciso de respostas! Preciso de respostas para passar do “Porquê eu?!” ao “Porque não eu?”!

5 meses…5 meses de um confronto com a realidade em 2 caixas por abrir e 3 bolas por encher! E, apesar de todas as dificuldades com que já me deparo, continuo a não conseguir abrir as caixas, continuo a não conseguir encher as bolas, continuo a não conseguir chorar

Chorar. Preciso muito de chorar. Mas o medo é do tamanho da necessidade que é enorme, imensa e o medo toma proporções de tal forma assustadoras que o meu inconsciente já sabe que vou sofrer e por isso bloqueia a minha capacidade de chorar. Mas eu preciso tanto de chorar

Não conseguirei fazê-lo sozinha. Não conseguirei desbloquear esta raiva, esta revolta, esta frustração. Não conseguirei fazê-lo sem ter ao meu lado alguém que me dê a mão, que me garanta segurança para quando eu me permitir ceder à dor da descarga emocional. Preciso de ter ao meu lado quem acredite que sou capaz de ultrapassar este bloqueio e que me possa agarrar quando cair. Porque eu sei que, nesse momento, vou cair. E tenho medo, muito medo!, de não ter força suficiente para me reerguer..,

Medo. Estes 5 meses de Janeiro a Junho, de caixas por abrir, de bolas por encher, são o sinal mais do que evidente do muito medo que sinto por não conseguir chorar…e só não vê quem não quer ver…

…e eu opto por continuar a fazer o que sei fazer melhor: continuo a fazer de conta…!

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