Há dias mais difíceis do que outros. Hoje foi um desses dias. Quando o corpo cansado e dorido me grita e me dói e me faz chorar. Chorar sem lágrimas. As lágrimas que insistem em não cair. Que estão presas não sei onde, não sei porquê…
Disse-me a Neuropsicóloga do Hospital que não conseguir chorar é um mecanismo de auto-protecção, que o meu subconsciente está a evitar o sofrimento que o chorar irá trazer. Mas também disse que não é saudável não chorar. Porque é demasiada pressão acumulada. É um grande desgaste psicológico. Que acaba sempre por se manifestar de alguma forma física. E não é bom continuar a não conseguir chorar. É urgente que as lágrimas caiam. É urgente aliviar a pressão que me consome…
Tenho trabalho de casa para a próxima consulta daqui a poucos dias. Pôr por escrito como seria o momento ideal para me permitir chorar. Já tenho o local perfeito. É longe, muito longe, não irá ser possível acontecer aí. Mas, e a julgar pelo que as fotografias que ele me enviou, aquela floresta composta por árvores de troncos finos, fáceis de abraçar, era o local perfeito.
Se o queria presente num momento de extrema vulnerabilidade, de extrema nudez emocional? Não. Sim. Não sei… Não por saber da frustração que lhe iria causar. Sim porque o abraço dele me iria permitir desabar sem cair totalmente. Não sei porque…não sei porque não sei…
As lágrimas teimam em não cair. Mas todos os dias choro. Choro sem lágrimas. Choro com as dores. Choro com as dificuldades. Choro de frustração, de raiva, de revolta. Choro de desesperança… Choro a seco…e sexta feira, na consulta com a Neuropsicóloga do Hospital, vou ter que ter por escrito o cenário programado para me permitir chorar…
Entendo que o meu subconsciente me esteja a proteger do sofrimento. Porque sei exactamente o quanto me vai doer nesse momento. Conheço perfeitamente a emoção que me vai invadir. Sinto o meu grito de dor a rasgar-me a voz. Sinto as minhas pernas a cederem ao peso do tanto que me dói. Sinto…sinto que não sou eu a permitir-me chorar quando não me permitem sequer falar…
Sim. Queria tê-lo comigo nesse momento. Ele que, todos os dias, me faz esquecer isto que me apanhou na curva. Ele que, todos os dias, me alivia do peso esmagador que engulo e carrego. Ele que, todos os dias, me seca as lágrimas que não caem. Ele que, todos os dias desde há 2 anos, caminha de mão dada comigo sem nunca largar…
Sim. Queria tê-lo comigo nesse momento. Não. Não quero expô-lo de tão perto à minha dor. Não sei…tenho medo de até eu própria não conseguir suportar a dor intensa que, todos os dias, numa espécie de trapézio sem rede!, me vai consumindo devagarinho…
Todos os dias, sem lágrimas, sem ele saber, choro. E, nos momentos de dor mais profunda, só posso recordar os presentes que a vida me tem dado. E ele é um desses presentes inesperados que aceitou, sem saber ao que ia, amar.
Todos os dias, eu e ele. Seguimos o caminho que nos foi apresentado sempre de mão dada…
