Daily Archives: 28/05/2014

No alarmes and no surprises

E dizia eu hoje que sim, No Surprises de Radiohead é uma boa música para uma pessoa se apaixonar (não são todas as músicas boas para uma pessoa se apaixonar?) mas que não sei o que é isso há muito tempo.

Mentira. Sei. Sei que me apaixono todos os dias. Pelos meus sobrinhos, pelos meus amigos, pelos meus bichos, pelos meus projectos, pelos dias de sol, pelos dias de chuva, pela Lua Cheia ou até mesmo hoje pela Lua Nova.

Mas sim, é verdade, assim sem alarmes nem surpresas, não me apaixono daquela paixão simplesmente porque não. Porque não sei? Porque não quero? Simplesmente porque não. Não sei. Sei que andaram aí borboletas na barriga que, conforme chegaram, esvoaçaram para longe. Sei que andou aí uma borboletagem que não sendo borboletas também ficou pouco tempo. Sei que andou aí um bicho qualquer que foi crescendo e que afinal era paixão, de mim por mim mesma quando percebi que oh bolas, afinal estou viva e mereço mais que isto. Que aquilo. Que…que…que sei lá eu.

{Bruises that won’t heal}

Sim, se calhar é isso, são marcas que não passam, cicatrizes que ficaram. Ou simplesmente cansada. Nem sei de quê ao certo, quando na verdade nem sei o que isso é. Isso o quê? A paixão? A paixão é carne! Sei, isso sei o que é. Não sei o que é estar cansada. Ou sei, bem demais, o que é e não o querer novamente.

{You look so tired and unhappy}

É isto. Não, não é isto, isto. É isto. Esta coisa. Do não querer voltar a estar tired and unhappy.

E percebo assim, de repente, que sou totó o suficiente para não ver o que está à frente dos meus olhos. Ou esteve. Já não sei. Normalmente só vejo mesmo o que não existe. Como os moinhos de vento. Que só eu via. E para além de só eu ver não passavam, não passaram, não passariam nunca disso mesmo: moinhos de vento. Isto se, sequer, existissem.

Mas continuo a gostar de surpresas e de alarmes, alguns. Afinal, são os alarmes que me dizem “estás cá”, cá seja lá onde for, estás aqui, estás agora.

{This is my final fit}

E as surpresas, essas, aparecem do nada. De uma frase, de uma visita, de um olá. De um nada que pode valer tanto e tão aparentemente pouco e que no fundo é tudo.

Não, há muito tempo que não me apaixono, daquelas paixões de arrebatar e de fazer flutuar pelo menos 2 palmos acima do chão, tal é a força das borboletas na barriga. E muito provavelmente não saberia reconhecer uma paixão do outro lado, porque, lá está, sou totó a esse ponto.

{my final bellyache with}

Mas sei que surpresas, surpresas boas, existem e aparecem todos os dias, com coisas tão pequeninas, que só de olhar para elas percebo que afinal me apaixono mesmo todos os dias. Sem nós na garganta, sem borboletas na barriga que fazem flutuar dois palmos acima do chão. Mas sim, apaixono-me sem carne, apaixono-me porque sim.

{No alarms and no surprises please}

Com alarmes, por favor. Com surpresas, por favor. Os alarmes recordam-me de mim mesma. As surpresas recordam-me dos outros para lá de mim.

Um dia, um dia quem sabe, já amanhã ou daqui a uns anos, um dia volto a apaixonar-me. Paixão de carne. Paixão de borboletas. Com ou sem música. Não, decididamente com música porque todas as grandes paixões trazem uma banda sonora associada. E esta, esta podia de facto ser uma boa música para alguém se apaixonar. Podia, não. Foi. Não eu. Nada teve que ver comigo. Mas sim, é uma boa música para uma pessoa se apaixonar. Ou para acompanhar uma paixão. De carne ou sem ela.

Um dia. E nesse dia, afinal, vou perceber que me apaixonei mesmo sem alarmes e sem surpresas. E sim, aí estarei surpreendida. Alarmada também. Mas aí, aí vai ser tarde. Ou vai ser cedo, não sei. Não quero saber. Vai ser a hora certa para me deixar ir, para me deixar levar. Porque há muito tempo, tanto tempo que não me lembro quanto, há demasiado tempo, 1 ano? 2 anos? 3 meses? 2 semanas? Há tanto tempo que não me apaixono.

Que venha a vida, o aqui e agora, os alarmes, as surpresas. Quero-os todos. Assim. Com tudo.

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