E entretanto agarro-me a ti. Não à tua ausência, mas à tua presença em mim.
Tenho saudades tuas. Sei que não preciso de o dizer porque tu sabes. Sabes sempre o que trago cá dentro. Não sabes? Sei que sim. Sei, também, que queres muito que fique bem. Ou que, pelo menos, comece a ficar melhor. A Mãe também quer, meu amor. E vai fazer de tudo para conseguir melhorar. Para conseguir, um dia, ficar bem.
Mas a tua ausência dói. Dói-me. Pelo menos a mim. Talvez a única pessoa que sente, realmente, a tua falta. Porque sempre te quis, sempre te desejei, tantas vezes te sonhei. Provavelmente só eu te quis, te desejei, te sonhei. Mas não é isso que faz com que te ame menos. Talvez até te ame mais por isso. Porque és, serias, continuas a ser verdadeiramente meu.
Não me importo com o que possam os outros pensar sobre o que sinto por ti. Para os outros podes ser algo que não foi, algo que falhou, algo que não chegou a ser. Para mim foste. Posso ter falhado. Mas chegaste a ser. Tão pouco tempo comigo, em mim. Mas chegaste a ser. E continuas a ser. E serás sempre. Meu. Meu filho.
Talvez tenhamos uma relação diferente de Mãe e filho. Talvez haja quem não entenda. Talvez seja apenas fruto do amor imenso e da saudade intensa que sinto por ti. Não interessa o que os outros pensam. Porque somos só nós neste pedaço de realidade. Este pedaço que não sendo palpável existe. É real. É amor. Nunca pensei ser possível amar tanto alguém que já não tenho e todos os dias amar ainda mais.
Não existem alternativas a este amor. Não existem outras opções. Não existem placebos para as dores, embora o cocktail químico diário me deixe por vezes atordoada.
Dizem-me que existem, no entanto, alternativas para o que sou hoje. Ou será para o que estou? Sabes, a Mãe por vezes confunde o ser com o estar. Como agora. Não sei se sou ou apenas estou doente. Mas seja lá o que for, ser ou estar, dizem-me que há alternativas. Quero muito acreditar que sim. Quero tanto. Mas as alternativas que encontro mais próximas são aquelas que todos me dizem que não pode ser. E eu pergunto não pode ser porquê? Porque não, dizem-me todos. Porque não pode ser assim. Mas é assim que sou, que estou, que sinto.
Sabes, meu amor, não é fácil sentir o tempo passar e perceber que não estou a conseguir melhorar. E novamente aquele conforto do confronto com as paredes, os riscos na pele que só a falta de coragem me tem impedido. E a vergonha também. Vergonha por não saber explicar, mesmo que não tenha que justificar nada a ninguém. Eu sei que não resolve. Mas as paredes trazem-me conforto no confronto e os riscos na pele acalmam a dor. Ainda que apenas por um momento. Mas ainda hoje me lembro de todos aqueles riscos daquela noite de Agosto e o quanto me acalmou a dor…
Amo-te muito, meu amor. Meu menino. Meu homenzinho. Meu filho. Amo-te muito e sei que queres que a Mãe fique melhor, que a Mãe fique bem, que a Mãe seja feliz. Ou esteja? Novamente a dúvida, ser ou estar? O que é realmente o mais importante? Sei que te preocupas porque, da mesma forma que eu não te posso tocar, tu nada podes fazer para me ajudar.
Espero que me perdoes se um dia for mais fraca que forte. Espero que me entendas quando digo que não sei onde encontro força todos os dias para seguir mais um dia sem ti. Espero que não fiques triste pela cada vez maior falta de força para sobreviver a mais um dia.
Dizem-me que tenho que me focar no positivo. Dizem-me que tenho que me agarrar a alguma coisa para me manter à tona e conseguir sair desta maré. Dizem-me, dizem-me, dizem-me, dizem-me. Que tenho que, que não posso, que isto, que aquilo. Dizem-me tudo. Sem nunca ninguém me perguntar o que quero…
Estou a cansada, meu amor. A Mãe está a ficar exausta. E é para não perder a força por completo que continuo a agarrar-me a ti. Ao meu amor cada vez maior por ti.
Tenho tantas saudades tuas, meu amor. Meu filho. Meu anjo.
A Mãe ama-te muito. Eu amo-te muito. E por isso mesmo a tua ausência me dói tanto……