E, esta tarde, em conversa fiz uma pequena viagem até ao Verão de 1994. Aquele Verão em que fui à praia duas vezes porque estava a passar férias em casa do meu pai com piscina à disposição no último piso do prédio. Praia cheia de gente para quê, se tinha a piscina?
Lembrei-me, também, daquela viagem às urgências de Santa Maria com o meu primeiro ataque de pânico, em que jurava que ia morrer. E lá, na urgência, sempre com o polícia atrás de mim porque o meu comportamento era “suspeito” (pudera! Para todos os efeitos estava a morrer!), a médica que me atende a primeira coisa que soube perguntar foi “então? O que é que meteste desta vez? Coca? Anfetaminas? Foi o quê?”
Simpática, portanto. Baseada no meu aspecto rebelde, apenas, e no comportamento de quem achava (mesmo!) que ia morrer. Passava largamente das 4h da manhã quando fui atendida. Perdi a conta ao número de murros e pontapés que dei naquelas paredes do corredor das urgências porque não sentia os pés e as mãos. E lembroo-me de arranhar os braços e a cara porque também não os sentia. Tudo era um formigueiro. E eu tinha que me sentir.
Não morri. Tinha um exame no dia seguinte e foi isso que fez disparar a ansiedade e disparatar para o ataque de pânico. Na consulta de urgência, depois daquela simpática pergunta, tudo passou e normalizou depois de responder “tenho um exame amanhã”. Deram-me um calmante de dose cavalar e alta. Eram 6h da manhã quando procurei por um táxi à porta do hospital. Táxis havia. Não havia era taxistas, que estavam mais preocupados em jogar à moeda (a dinheiro, claro) do que em apanhar passageiros. A falta que a Uber fazia naquele tempo e não sabíamos…
Fiz o exame. Não me lembro da nota. Mas, sendo um exame (prova global) de História do 10• ano, só pode ter corrido mal…🙄 não o suficiente para chumbar o ano, mas sei que História nunca foi o meu forte.
Começou assim aquele Verão de 1994. Em que a ansiedade e os ataques de pânico eram presença constante. Especialmente à noite, quando saía com a minha mãe para o meio da multidão. Ansiedade e ataques de pânico aos 17 anos em 1994? Quando ainda não se falava disso? Era todo um mundo novo desconhecido e assustador.
Mas depois havia a piscina. E foi lá, na piscina, que conheci aquele escocês de cabelo preto e olhos azuis por quem acabei por me apaixonar. E o resto do Verão foi tudo o que tinha que ser quando se tem 17 anos e uma piscina à disposição e as hormonas típicas da idade. E a rebeldia que me fez meter a mochila às costas e as Doc Martens nos pés uns meses mais tarde para cumprir as promessas desse Verão.
28 anos depois (como assim, 28 anos?), para variar não me esqueço de pormenor nenhum (a minha memória chega a ser assustadora…).
Gostava de saber dele (não, o Facebook não ajudou…🙄) e dos irmãos. Just because. Mas valem-me as memórias de um Verão adolescente com muito para contar.
E não, os ataques de pânico não me impediram de ir sozinha, de comboio aos 17 anos, até Bruxelas atrás de um escocês de cabelo preto e olhos azuis.
Se fosse hoje? Fazia tudo igual. Desde os murros e pontapés na urgência do hospital, passando pelo Verão na piscina até à viagem a Bruxelas. Mas desta vez (já) ia de avião.
Posso já não ter 17 anos no Cartão de Cidadão, mas não ando muito longe na minha cabeça.
Valem as memórias. E as histórias para contar. Essas ninguém mas tira. E isso é tão bom.
