E esta manhã fomos à praia. Eu e os meus dois apoios: Maria Hermengarda à esquerda como habitualmente, a minha Mãe à direita, à frente ou atrás, mas sempre sempre sempre por perto, de braço dado quando não me sinto tão segura apesar da presença da Maria Hermengarda ou sempre ali à mão ou à distância de um braço para eu me conseguir agarrar.
Hoje decidi seguir a recomendação do neurologista e aproveitei para dar uma folga à Maria Hermengarda e ao braço da minha Mãe. E arrisquei caminhar a solo na areia. Na seca e na molhada. Se caísse, tal como disse o neurologista, não fazia mal porque já estava na areia.
A bengala e as mochilas mais o saco do tapete de Yoga ficaram num monte, atirados para a areia da minha praia da adolescência. Deixei tudo para trás, até a minha Mãe, e segui até ao Mar. Um passo de cada vez. Com cuidado. Com alguma dificuldade em manter o equilíbrio, claro. Mas nem o Mar me derrubou ou fez parar! Já tinha TANTAS saudades de ir até à água, sentir as ondas nas pernas. Dar pulinhos ou pontapés nas ondas já sei que não é possível. Mas caminhar Mar a dentro? Bem, sozinha só o faço enquanto a água não passa dos joelhos. Mas vou! E hoje percebi que ainda o consigo fazer! Devagar, devagarinho. Um passo de cada vez. Sem pressa e sem pressão. Mas bolas!, sou capaz de o fazer! E sabe tão bem!
Se há vídeos disso? Claro que sim! A minha Mãe fez questão de registar o meu progresso. O meu sucesso! Tal e qual como os pais filmam orgulhosos os primeiros passos dos seus bebés, a minha Mãe fez questão de registar, para que eu não me esqueça nunca!, do que eu SOU CAPAZ! Ela orgulhosa a filmar. E eu tão contente, tão feliz!, a bater palminhas de contente e a RIR MUITO por conseguir fazer uma coisa aparentemente tão simples como caminhar na areia e ir até ao Mar SEM QUALQUER APOIO! E sem cair!
Claro que para sair é mais difícil porque olhar para baixo e ver o movimento do Mar a recuar é algo que o meu cérebro não consegue processar facilmente. Mas faz-se! EU faço! EU consigo! Devagar, devagarinho, sem pressa e sem pressão, mas CONSIGO! E ninguém imagina como fiquei FELIZ por conseguir caminhar dentro de água, sair do Mar apesar das ondas, voltar a entrar…!!
E se tivesse que escolher uma única foto entre tantas que a minha Mãe tirou para resumir esta manhã na praia, escolhia esta que está aqui em baixo…
Aquele momento em que o Mar me toca as pernas pela primeira vez ao fim de tantos meses. Pernas ligeiramente afastadas para não perder o meu ponto de equilíbrio. A olhar para baixo, para o Mar a receber-me.
E é, também, um momento de concentração, força, coragem, resiliência e muita determinação. Estava, finalmente!, onde há tantos meses queria estar: à beira do Mar, com os pés dentro de água e a sentir as ondas, ali já tão pequenas e desfeitas mas com a energia que me estava a faltar há tanto tempo.
Sim, foi um final de manhã muito bom. E há muito tempo que não me sentia como me senti esta manhã na praia: a excitação, o entusiasmo, a alegria genuína do reencontro com o Mar e o reencontro com uma parte de mim que receava não reencontrar.
Foi tão bom. Mas tão bom! E será para repetir brevemente e tantas vezes quantas forem possíveis! Afinal, a minha praia da adolescência até tem um autocarro que apanho perto de casa e saio na paragem a menos de 200 metros do areal.
