O extremo cansaço de ontem, exacerbado pela agressão violenta da infusão de 600ml de químicos que invadiram o meu corpo, levou a uma noite que terminou relativamente mais cedo do que o normal.
Antes disso, ainda a habitual troca de mensagens com ele. E ser comparada com Kal-El, originário de Krypton, com super poderes para suportar tudo. E cada palavra dele a relembrar-me que já passei por muita coisa, mas sobrevivi a todas. Algumas que me vergaram o suficiente para ameaçar quebrar mas que, de alguma forma, recuperei e reergui-me. E provavelmente mais forte, quem sabe mais sábia, talvez.
Kal-El ou não, não sei. Quero, muito, manter a minha visão sobre mim mesma: reajo porque não há outra opção viável. A alternativa, em cada tempestade que me vergou, era desistir e permitir(-me) a minha quebra. Mas, para mim, essa nunca foi uma alternativa viável. Nunca foi, sequer!, opção. Por isso, sim!, posso ter vergado muitas vezes a muitas tempestades, mas optei sempre por reagir. Reagir enfrentando os fantasmas que cada tempestade acabou por me deixar. Conhecer cada um deles, aprender a conviver com a sua presença, viver sem permitir a sua intervenção a cada novo capítulo.
Não, não sei se é possível ser comparada a Kal-El. Mas entendo quando ele o faz. Entendo cada palavra que ele me diz do que vê em mim que eu não vejo. Ou não quero ver, talvez. E, agora que penso nisso, talvez o não ver em mim ou não querer ver o que os outros vêem seja a minha Kryptonite. A minha grande fraqueza. O que eventualmente me poderá, um dia, derrubar.
Mas, assim como Kal-El tinha Lois Lane para o fortalecer e, de alguma forma, o proteger da Kryptonite, eu tenho-o a ele, que me protege, que me fortalece, que acredita em mim, na pessoa sou, na força que tenho, na coragem que me impede de parar, na vontade de conseguir alcançar um bocadinho mais de cada vez.
Afinal, eu e Kal-El temos mais em comum do que eu pensei de início. Mas, mais uma vez!, não fui capaz, ou não quis!, ver isso em mim mesma. Foi ele que me apontou nessa direcção. E talvez seja essa a minha Kryptonite: não ser capaz de, ou não querer!, ver em mim o que os outros vêem…
