Daily Archives: 08/05/2024

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Há dias como o de ontem, onde nada parece fazer sentido, onde se acumulam todas as questões, todas as dúvidas, todas as inseguranças, todas as vozes na minha cabeça. E não tem mal nenhum ter tudo isso a estragar o final do dia. Faz parte. Porque, queira eu ou não, eu também sou isso. Mas não sou isso. Sou muito mais. Sou tanto mais do que só isso.

Admito que continuo à procura da totalidade do que sou, de quem sou. Mas acho que essa totalidade nunca será encontrada, porque estamos (todos!) em constante mudança, em constante evolução. É uma descoberta que se vai fazendo, todos os dias se descobre mais um bocadinho, todos os dias temos, em nós, mais alguma coisa nova. Também é verdade que, neste momento confuso, fica mais fácil de me perder. Mas, depois, há dias como o de hoje. Em que não se passou nada de especial, um dia normal de fisioterapia e Yoga Nidra. Mas também é em dias assim, em que aparentemente não se passou nada de especial, que se dá mais um pequeno passo em frente. Ia dizer que era mais um passo em frente para o regresso à normalidade, mas já não sei o que é isso de normalidade. É um conceito tão volátil, tão dependente de tantos factores externos (e até internos), tão ao sabor do vento que já não sei mesmo o que é isso de normalidade. O que é normal para uns pode não ser normal para outros. E isso é tão confuso e não me apetecem coisas confusas.

Apetecem-me, sim, coisas simples. Tão simples como ir sozinha para o Yoga e voltar para casa também sozinha. Coisa que não acontecia há muito tempo e que hoje vejo como uma pequena vitória, especialmente porque o tempo que demorei a fazer o percurso está muito próximo do tempo de há um ano, quando as dificuldades em caminhar ainda não eram tão grandes. É verdade que hoje caminho com o apoio de uma bengala. Mas, pelos vistos, de forma mais firme e segura.

É verdade que pode, a qualquer momento, voltar a piorar. A tendência será sempre essa. O título “progressiva” não engana. Os danos existem, estão cá para interferir com a minha vida, mas enquanto puder dar um passo de cada vez com firmeza e segurança, ainda que com o apoio da bengala, irei continuar a fazê-lo.

Sei que mexer-me, caminhar, ir do ponto A ao ponto B vai ter que fazer parte da minha rotina de trabalho físico. Para poder dizer a mim mesma que não baixei os braços nem desisti de mim. Vou voltar a ter dias menos bons, a roçar o maus, faz parte! Vou voltar a ter questões, dúvidas, inseguranças, vozes na minha cabeça. Faz parte! Eu sou assim. Todos nós somos assim. Se isso faz de mim fraca? Nem pensar! Se isso faz de mim instável? Quem é que tem 100% de dias sempre bons? Quem é que nunca tem questões, dúvidas, inseguranças, vozes na cabeça? Ninguém. Portanto, ter dias assim não faz de mim instável. Faz, isso sim, de mim um ser humano como qualquer outro.

Sim, o dia hoje ainda acordou com restos das nuvens cinzentas de ontem à noite. Mas foi abrindo. O transporte com os Bombeiros do costume até ao Hospital (e regresso) faz-me bem. Gosto (muito) da energia que se sente naquele veículo. Onde conversamos, rimos, brincamos. Eu e dois Bombeiros, mais nada. Não precisamos de mais nada. Ao ponto de, naquele dia em que fui calada o tempo todo, me terem dito “você hoje não está bem, pois não? Veio o caminho todo calada…”. E não estava, de facto. Era só mais uma dor de cabeça, mas intensa o suficiente para não me permitir conversar. Mas hoje não foi assim. Aliás, em todos os outros dias, não foi assim. Tal como hoje: conversar, rir, brincar. Sempre. Foi o suficiente para dissipar as nuvens cinzentas que amanheceram comigo.

Fisioterapia tranquila mas onde sinto a falta dos meus estagiários. Porque, com eles, também se juntavam esses três ingredientes: conversar, rir, brincar. Trabalhámos muito e a sério. Mas também brincámos muito. E rimos bastante. E, pelo meio, também conversámos. Agora, sem eles, trabalho sozinha. Dão-me os exercícios para fazer e as ferramentas necessárias e eu faço o que é para ser feito. Mas é diferente. Útil e necessário, claro que sim!, mas simplesmente diferente.

Já o final do dia, já depois de ter passado em casa, o Yoga. Que é sempre bom. Também conversamos, brincamos, rimos. E trabalhamos. Mesmo quando é difícil. E se não consigo à primeira, repito e insisto. Posso não conseguir hoje, mas sei que, não desistindo, vou conseguir. E o corpo e a mente agradecem. E ainda agradecem mais o Yoga Nidra. O relaxamento profundo. O sair daqui para um sítio que eu não sei dizer onde ou o que é, mas saio e vou. Voltar custa sempre tanto. E toda a experiência demora a recuperar. O ir e, principalmente, o voltar. Mas já não passo sem esse final de dia às quartas feiras. Ao sábado não temos o relaxamento profundo com meditação guiada, mas mesmo no relaxamento dito normal de final de aula, também vou. Não sei onde. Só sei que vou… E custa sempre tanto voltar…

É mais uma coisa minha a explorar. A conhecer. A entender. Mais uma coisa que faz parte de mim, de quem eu sou. E que, aos poucos, devagarinho, vou começando a conhecer. E, diz quem sabe e me guia nestes episódios, que tudo isto, especialmente aquilo que sinto quando volto, tem que ser analisado. Pois que seja! Estou muito curiosa com todas estas experiências que me sabem tão bem. E que me fazem tão bem também.

Sim, ontem o final do dia foi difícil. Mas já passou. Mantenho, no entanto, uma coisa que disse ontem: sempre Fénix. E todos os dias renasço depois das chamas e das cinzas. Agora é hora de dar descanso ao corpo. A mente, essa, está a mil. Mas hoje sem vozes a ecoar na minha cabeça. E amanhã? Encolho os ombros. Logo se vê. O que vier vem… E eu cá estarei para receber o que vier.