Daily Archives: 28/05/2024

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Dia que começou muito cedo, que era só para tomar a medicação e voltar a dormir. Não aconteceu. A medicação foi tomada, mas já não havia sono. Por algum motivo que desconheço, já não voltei a dormir…

Lá fora, um dia lindo. Que, percebi mais tarde, estava demasiado quente.

O plano era ir à vila aos Correios e voltar pelo paredão com passagem pela areia para molhar os pés e regressar a casa pelo parque. A ida aos Correios ainda aconteceu. O resto não. Porque, aprendi, isto que me apanhou na curva não se dá bem com o calor. Exacerbação de sintomas existentes, fadiga extrema, não estava preparada para nada disto. Nem estou…

Regressar a casa a pé? As minhas pernas simplesmente disseram “Não!”…por 3,60€ fiz 930 metros de Uber. Mas que não iria conseguir fazer de outra forma. Não com aquele calor, aquele Sol, por aquele caminho sem sombras, o único caminho.

Ainda se falou em ir até ao paredão ao fim da tarde. Mas nem isso aconteceu. Porque, depois de almoço, foi aninhar no sofá e, simplesmente, apagar a tarde toda até às 19h…

Cada vez mais acho que não nasci para esta nova condição, para esta doença. Mas, já sei, esta doença não escolhe alvos, simplesmente aparece e qualquer um pode estar sujeito a ela. Ainda nos estamos a conhecer, embora ache que ela já me conhece melhor a mim do que eu a ela. E nada disso é bom.

Sinto que existe uma espécie de regressão na evolução que tive com a fisioterapia. Não sei sequer se isso é uma possibilidade, mas é o que sinto. As pernas voltaram a não querer obedecer, o equilíbrio é muito precário. E eu não sei o que fazer a não ser insistir com a fisioterapia diária (que hoje não aconteceu), o Yoga duas vezes por semana e ir caminhar até ao parque, tendo como objectivo o paredão.

Não posso parar. Parar é desistir de mim. E desistir de mim é algo que não quero. Porque sou eu que importo. Já sei que muita coisa acaba por mudar, já começou a mudar. Dizem-me para esquecer o que antes conseguia fazer e agora já não consigo. Não sou capaz. Não de esquecer. Guardar numa daquelas gavetas da memória, isso sim. Guardar e aceitar que o que agora já não consigo fazer fica ali, nas recordações e nas experiências que também fizeram de mim quem eu sou. E que vou continuar a ser. Porque, bolas!, eu não morri! Dizem que irá nascer uma nova eu. Não! Eu serei sempre EU! Com limitações, com condicionantes, mas não é isso que faz de mim EU! A mesma pessoa.

Não me matem se a própria doença não o faz. Eu vou continuar ! A ser sempre EU!

Estou cansada disto. Sei que ainda tenho muito para aprender, reaprender e reajustar. Mas dêem-me, acima de tudo, tempo. Também me podem dar uma mão. Mas, acima de tudo, dêem-me tempo. Eu não vou a lado nenhum. E eu não vou deixar de ser EU!

Amanhã vai estar calor. Vai ser dia de percorrer o caminho do Inferno ao Sol, sem sombra, até à paragem do autocarro que me irá levar à fisioterapia. A perna esquerda não está a querer colaborar. Vai ser uma longa caminhada de 1200 metros. Devagar, não pode ser como foi ontem na correria. Não tenho boleia. Não tenho bombeiros que me levem e tragam. Tem tudo para não correr bem…e, neste momento, sentindo o que sinto e imaginando como vai ser amanhã, só me apetece chorar…

Não, decididamente eu não nasci para esta nova condição. Mas é a ela que tenho que me adaptar e reajustar. E está a ser tudo menos fácil…

Mas amanhã logo se vê…