O dia de ontem não foi bom. O de hoje foi mais sereno, mas nem por isso fácil. Mais uma vez a ver o tempo passar. Com excepção daquele encontro virtual com pessoas iguais a mim na doença guiadas por especialistas.
Conhecer mais um bocadinho do que é isto que me apanhou na curva. Saber um pouco mais. E dizer “eu também tenho”.
É importante neste turbilhão saber que não estou sozinha, não sou caso único, que há mais pessoas iguais a mim. Vou começando a conhecer. Poucas. Um conhecimento superficial. Talvez não um conhecimento mas um reconhecimento. É diferente. É reconhecer no outro o mesmo que se passa comigo na doença. Dei um passo para deixar de me sentir tão sozinha nesta viagem. Mas, e apesar de já fazer parte de um grupo grande de pessoas iguais a mim, ainda me escondo na minha concha. Como sempre fiz, aliás. Em todas as áreas, em todas as situações. Ainda hoje, quando tive boleia do Yoga para casa, a minha colega me disse: “acho que estás melhor, mais leve. Ao início não eras assim”. Pois…ao início era eu na minha concha. Mas, ao fim de um ano, é normal já me sentir mais integrada. O mesmo acabará por acontecer no grupo de pessoas iguais a mim. Eu preciso sempre de tempo.
E hoje, mais uma vez, me disseram: um dia de cada vez. E tem mesmo que ser assim. Não posso ter pressa. Não adianta de nada.
No entanto, a parede de que falei ontem, continua presente. Continuo a existir apenas a ver o tempo passar. Uma espécie de existência precária. Mas é o que é. E eu aprendi a detestar esta frase. Mas vejo-me obrigada a dar-lhe uso.
Amanhã? Mais uma voltinha no carrossel das consultas. Seja. Tão cedo não me livro das viagens ao Hospital. Se é que algum dia me vou livrar de lá ir (já sei que não…).
Agora é tentar desligar a cabeça. Especialmente aquela parte que dói. Porque continua a doer muito. É tentar desligar e enroscar para descansar e dormir. Amanhã é dia de acordar muito cedo. E, já sei, vai ser um longo dia… Mais uma vez a ver o tempo passar, independentemente de haver mais uma consulta médica pelo meio…
Amanhã será melhor. Repito isto a mim mesma todas as noites. Não quer dizer que, depois, realmente o seja mas tenho que me forçar a acreditar em alguma coisa positiva. Certo?
